quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Coréia do Sul e Europa: notícias de lançadores


Coréia do Sul se junta ao clube espacial?

A Coréia do Sul realizou com sucesso nesta quarta-feira (30) o primeiro voo bem sucedido de seu foguete KSLV-1 (Korea Space Launch Vehicle), desenvolvido e fabricado com parcial tecnologia local, após duas tentativas mal-sucedidas em 2009 e 2010, levando a bordo o satélite científico STSAT-2C.

Muito embora seja considerado sul-coreano, o KSLV-1 tem um primeiro estágio de ordem russa, desenvolvido e construído pela companhia estatal Krunichev. Por este motivo, há certos questionamentos entre especialistas se o país asiático deve entrar para o restrito clube de potências espaciais com capacidade de colocar cargas úteis em órbita a partir de seu próprio território por meio de lançadores com tecnologias locais.

Na Europa, contratos para o desenvolvimento do Ariane 5 ME e Ariane 6

Em 30 de janeiro, a Astrium, do grupo europeu EADS, anunciou a assinatura de dois contratos com a Agência Espacial Europeia (ESA, sigla em inglês) para atuar como contratante principal no desenvolvimento dos lançadores Ariane 5 ME (Midlife Evolution) e Ariane 6, negócios avaliados em 108 milhões de euros. Os contratos se seguem às decisões do conselho de ministros da ESA em reunião realizada em Nápoles, na Itália, em novembro de 2012, e têm grande significado para a indústria de lançamentos, uma vez que dão indicativos de tendências.

A Astrium será responsável pela elaboração da definição inicial e estudos de viabilidade para o futuro lançador europeu Ariane 6. Esta fase de estudos, que deve levar cerca de seis meses, identificará o conceito e a arquitetura do Ariane 6, assim como suas principais especificações técnicas. De fato, o conceito inicial já está praticamente definido: o futuro lançador será modular, com capacidade de lançar em órbita de transferência geoestacionária cargas de 3 a 6,5 toneladas. Terá dois estágios sólidos e o estágio superior Vinci, desenvolvido pela Snecma, do grupo Safran. O orçamento alvo para cada missão do Ariane 6 é de 70 milhões de euros, e sua confiabilidade deverá ser comparável a do Ariane 5.

Juntamente com seus parceiros industriais, a Astrium também continuará o desenvolvimento do Ariane 5 ME, que ampliará a capacidade de satelitização do lançador, com o mesmo custo de operação, resultando uma redução de 20% do preço de lançamento por quilograma. A expectativa é que o primeiro lançamento da versão modernizada aconteça entre 2017 e 2018.
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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

SpaceX de olho no Brasil


DIRETORA DA SPACE X VISITA AEB

Brasília, 28 de janeiro de 2013 – O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho, recebeu a diretora de negócios da empresa americana Space X, Stella Guillen, na manhã desta segunda-feira (28).

Stella veio ao Brasil apresentar a Space X, conhecer os programas desenvolvidos pelo país e avaliar possíveis parcerias. “É interessante conhecer mais sobre o que as empresas privadas estão fazendo no setor. Podemos aprender com elas e também vislumbrar futuras parcerias”, destaca o presidente da AEB.

Depois da visita à AEB, Stella ministrou palestra para alunos e professores da Universidade de Brasília. Ainda esta semana, ela visita o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Visiona, ambos localizados em São José dos Campos (SP).

Space X – A empresa foi criada em 2002, por Elon Musk, com o objetivo de fornecer transporte espacial, para cargas e pessoas, a um custo baixo. Sediada em Los Angeles, Califórnia (EUA), a empresa conta, atualmente, com 2.500 funcionários, dois centros de lançamento – um em Cabo Canaveral, na Flórida, e outro em Vandenberg, na Califórnia -, e um centro de testes localizado no Texas (EUA).

Em seus dez anos de existência, a empresa conseguiu mais de US$ 4 bilhões em contratos. Aproximadamente 40% de seus voos são realizados para a Agência Espacial Americana (Nasa). O restante é de contratos comerciais.

Em 2012, a Space X fez história como a primeira empresa de capital privado do mundo a enviar carga para a Estação Espacial Internacional. Segundo Stella, a Space X deve crescer 20% só em 2013.

Fonte: AEB

Comentários: a visita de representantes da SpaceX ao Brasil é bastante interessante e, em certa medida, mostra a agressividade comercial da companhia norte-americana para acessar o mercado de lançamentos comerciais. A agenda de visitas de Stella Guillen revela os principais projetos de interesse: o lançamento do satélite de observação Amazônia-1 (há expectativa de que a AEB em breve inicie um processo de escolha de lançador) e, principalmente, do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), projeto sob responsabilidade da Visiona Tecnologia Espacial, joint-venture entre a Telebras e a Embraer. 

Quanto ao SGDC, merece também destaque o interesse da europeia Arianespace, até hoje a responsável pela colocação em órbita de todos os satélites da Embratel / Star One, inclusive daqueles que servem o Sistema de Comunicações Militares por Satélite (SISCOMIS), do Ministério da Defesa. No lançamento do Star One C3, em novembro do ano passado, esteve presente uma comitiva do governo brasileiro, incluindo os ministros da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, das Comunicações, Paulo Bernardo, e o presidente da AEB, além de oficiais do Ministério da Defesa.

Da América do Sul, a SpaceX já tem em sua carteira de clientes a Comisión Nacional de Actividades Espaciales (CONAE), da Argentina, que em abril de 2009 firmou contrato para o lançamento dos satélites radares SAOCOM 1A e 1B a bordo de lançadores do modelo Falcon 9.
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Astrium em 2012: um ano de sucesso e transformações


A Astrium, unidade espacial do grupo europeu EADS, divulgou hoje (28) os seus resultados referentes ao ano de 2012. A companhia obteve receitas estimadas em 5,8 bilhões de euros, aumento de 7% em relação a 2011, com novas encomendas totalizando 3,8 bilhões de euros.

A empresa destacou em nota a realização de sete lançamentos bem sucedidos do Ariane 5, lançador cujo projeto é a contratante principal, e a colocação em órbita de nove satélites por ela construídos, sendo quatro de comunicações, dois de posicionamento (Galileo) e três de observação terrestre (Metop B, SPOT 6 e a segunda unidade da constelação Pléiades). Em termos de contratos, destaques para a construção de dois satélites de comunicações para a companhia russa RSCC, duas missões científicas para a NASA, além de estudos para a próxima geração de satélites de comunicações militares das forças armadas francesas (projeto Comsat NG).

Outro ponto destacado foi a criação de subsidiárias no exterior, como na América do Norte, em Cingapura e também no Brasil. No País, aliás, a Astrium está presente com a Equatorial Sistemas, de São José dos Campos (SP), e com a Astrium GEO-Information Services (antiga Spot Image).
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domingo, 27 de janeiro de 2013

Avanços no Projeto SARA


Projeto SARA Segue Sem Interrupção

Campo Montenegro, 25/01/2013

Após a pausa entre Natal e Ano Novo, os integrantes do Projeto SARA retornaram ao trabalho já na primeira semana de janeiro em regime integral com o objetivo de cumprir o cronograma de lançamento de 2013.

Atualmente, as equipes do IAE e da empresa CENIC estão empenhadas na integração do Modelo de Voo das Redes Elétricas. A principal atividade relacionada a este modelo é a integração da cablagem do veículo. São cerca de 4000 origens e destinos de sinais que têm que ser corretamente organizados. Para que isso ocorra sem prejudicar os equipamentos de voo, foram construídos modelos “dummies” dos equipamentos para avaliar corretamente o caminho das conexões, apesar do projeto de integração já ter sido feito em CAD.

Após o correto estabelecimento do caminho da cablagem, os sinais serão testados um a um e, posteriormente, serão objeto de um teste automático. Só então começarão a ser integrados os equipamentos e, mesmo assim, serão os equipamentos de qualificação.

Os equipamentos de voo só serão integrados quando os testes de continuidade com os equipamentos de qualificação forem concluídos.

Para que os inúmeros detalhes que surgem durante uma tarefa tão complexa como esta sejam resolvidos, as equipes envolvidas na integração do SARA estão realizando uma reunião geral semanal. Esta reunião procura cuidar de todos os detalhes relativos à integração e resolver pendências. A reunião desdobra-se em diversos itens de ação e reuniões de assuntos específicos. Uma das reuniões de assuntos específicos mais importante refere-se ao desenvolvimento do Banco de Controle para o veículo. Este assunto tomou forma no final de 2012 com implementação pela AEB do contrato para o desenvolvimento deste vital meio eletro-eletrônico de solo (EGSE). As atividades relativas a este EGSE estão sendo iniciadas sem maiores problemas.

Nas próximas semanas serão intensificadas as discussões de preparação da campanha entre o grupo do SARA, a empresa CENIC, o sistema veículo VS-40M e o centro de lançamento, o que permitirá consolidar um cronograma do lançamento.

Fonte: IAE/DCTA
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Cooperação Argentina - Emirados Árabes Unidos


Em 14 de janeiro, durante uma visita oficial aos Emirados Árabes Unidos de comitiva argentina chefiada pela presidente Cristina Kirchner, foi firmado um memorando de entendimentos entre a Comisión Nacional de Actividades Espaciales (CONAE) e a Emirates Institution for Advanced Science and Technology (EIAST), prevendo a realização de projetos espaciais conjuntos, como o intercâmbio de especialistas e de dados de missões satelitais, o desenvolvimento de programas industriais e comerciais, e a organização de simpósios e reuniões científicas conjuntas.

O memorando prevê uma série de iniciativas de cooperação, entre as quais o desenvolvimento de aplicações de informações satelitais para a gestão e resposta a emergências; a operação de estações terrenas e gestão de missões satelitais; a organização de programas e instalações para treinamento; e o estudo da viabilidade de uma aliança de estações terrenas para possibilitar uma cobertura global e serviços avançados do segmento terrestre.

O EIAST é uma entidade espacial de Dubai, sendo responsável pelas atividades espaciais dos Emirados Árabes Unidos. A entidade opera os satélites DUBAISAT-1 (sensor ótico com 5 m de resolução), construído pela Satrec Initiative, da Coréia do Sul, e colocado em órbita em 2009, e aguarda o lançamento do DUBAISAT-2 (4 m de resolução), previsto para este ano.
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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

AEB lança PNAE 2012-2021


AEB lança novo Programa Nacional de Atividades Espaciais

Documento estabelece diretrizes e ações do Programa Espacial Brasileiro entre 2012 e 2021

21/01/2013

O novo Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae) está pronto. O documento estabelece as diretrizes e ações do Programa Espacial Brasileiro entre 2012 e 2021. No novo PNAE, o aumento da participação da indústria nacional e a implantação de um programa de domínio de tecnologias críticas são as principais metas. A formação e capacitação de pessoal e a ampliação da cooperação internacional também são temas prioritários no documento.

Segundo o presidente Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho, o documento é produto de estudos realizados pela AEB. “Avaliamos os resultados dos três PNAEs anteriores (1996, 1998 e 2005) e também recebemos contribuições de importantes instituições governamentais e privadas em anos recentes”, conta. Além disso, foi feita uma análise da organização e do funcionamento do Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (SINDAE).

“Acreditamos que o documento servirá como apelo à inventividade e ao empreendedorismo no Brasil”, afirma o presidente da AEB. De acordo com José Raimundo Coelho, é preciso atender às crescentes necessidades e demandas espaciais do país. “Precisamos ser capazes de usufruir, soberanamente e em grande escala, dos benefícios das tecnologias, da inovação, da indústria e das aplicações do setor em prol da sociedade brasileira”. Para isso, ele acredita ser necessário priorizar o desenvolvimento e o domínio das tecnologias críticas, “indispensáveis ao avanço industrial e à conquista da necessária autonomia nacional em atividade tão estratégica”. Para José Raimundo, esse domínio só será alcançado com intensa e efetiva participação sinérgica do governo, centros de pesquisa, universidades e indústrias.

No novo documento busca-se, até 2016, concluir e consolidar diversos projetos em andamento, destacando-se os projetos dos Satélites Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres CBERS-3 e CBERS-4, o foguete Cyclone-4, que será lançado a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (MA), o Veículo Lançador de Satélites (VLS), o Veículo Lançador de Microssatélites (VLM), do satélite Amazônia-1 e o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC).

No período de 2016 a 2021, denominado como fase de expansão, busca-se o desenvolvimento de novos projetos de maior complexidade tecnológica, compreendendo a continuidade do programa Amazônia (AMZ-1B, AMZ-2), o desenvolvimento de um satélite meteorológico geoestacionário, o lançamento do segundo satélite de comunicação e o desenvolvimento do satélite radar de abertura sintética.

2013 - Este ano será importante para o Programa Espacial Brasileiro. O quarto satélite da série CBERS, o CBERS-3 será lançado. O satélite é importante no monitoramento e na gestão territoriais.

Ainda em 2013, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), localizado em Alcântara (MA), deverá ficar pronto para os lançamentos do VLS e do Cyclone-4. O Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, localizado em Parnamirim (RN) também passará por reformas.  “Estamos propondo a modernização de boa parte da infraestrutura do CLBI e a recomposição de outra, utilizando a experiência que adquirimos no CLA. Os dois centros de lançamentos são considerados estratégicos”, conta o presidente da AEB.

A formação de recursos humanos para o Programa Espacial Brasileiro será fortalecida em 2013. “Queremos, por meio do programa Ciências sem Fronteiras, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação levar estudantes brasileiros para se especializarem em países já desenvolvidos na área espacial e, também, trazer especialistas desses países para o Brasil. Dessa forma, um dos grandes gargalos de nosso programa espacial, a falta de mão de obra especializada, começará a ser sanado”, completa o presidente da AEB, José Raimundo Coelho.

Fonte: AEB

Comentários: para acessar o novo PNAE, clique aqui (em português), ou aqui (em inglês). Em breve, o blog Panorama Espacial fará uma análise sobre a PNAE 2012-2021.
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domingo, 20 de janeiro de 2013

DCTA aproxima jovens da área espacial


17/01/2013

A história do cearense Ricardo Oliveira tinha todos os ingredientes para ser igual à de milhares de pessoas que desistiram de um sonho. Filho de agricultores, nasceu com amiotrofia espinhal, doença genética que limita os movimentos. Alfabetizado em casa pela mãe, somente aos 17 anos ingressou na 5ª série do Ensino Fundamental e não tardou para o jovem dar sinais da sua força de vontade: conquistou quatro medalhas na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, premiação que o credenciou a participar da Jornada Espacial, evento realizado anualmente pela Agência Espacial Brasileira (AEB) em parceria com o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). “Realizar eventos que despertem nos jovens o interesse pela área espacial é como iluminar (ainda que com uma lanterna) os caminhos alternativos que eles têm ao seu dispor”, explica José Bezerra Filho, um dos mentores do projeto.

Casos como o do cearense Ricardo Oliveira mostram como a determinação é elemento essencial para transformar vidas e que a realização de eventos que sirvam como palco para jovens talentos mostrarem suas habilidades é imprescindível. Criada em 2005, a Jornada Espacial dá oportunidade aos alunos com melhores desempenhos na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica de conhecer o universo da tecnologia aeroespacial e ter contato direto com profissionais que atuam na área. O sucesso do evento reflete-se nas marcas alcançadas: ao todo, 444 alunos dos 26 estados brasileiros participaram das oito edições realizadas até agora. Desses, 169 são oriundos de escolas públicas. “É imperativo mostrar aos jovens que existe um Brasil e brasileiros que não aparecem nas revistas semanais, nem no noticiário televisivo, mas que fazem uma diferença enorme para o bem desse país”, explica Bezerra.

Exemplos positivos que brotaram da Jornada Espacial não param por aí. A estudante Indhyara Dhânddara, 17 anos, tornou-se a primeira aluna do pequeno município de Paraupebas, no Pará, a participar – e sair vitoriosa – de um torneio com enfoque nas questões espaciais. Entre um acesso e outro ao facebook, rede social que frequenta assiduamente, Indhyara relembra a experiência gratificante que foi participar da Jornada Espacial, conhecer o DCTA e assistir à palestra do astronauta Marcos Pontes, do qual se intitula fã de carteirinha. “Cada palestra fazia com que meu interesse só aumentasse. Os professores e doutores que tive contato foram grandes exemplos de onde se pode chegar com estudo e trabalho”, revela a jovem, que tem como espelho nos estudos a mãe, Nubethânia Matos, aprovada em 2º lugar na primeira turma do curso de Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Após participar da Jornada Espacial e conhecer as dependências do DCTA, Indhyara descobriu um novo mundo, do qual ela não quer mais se afastar. “Antes da Jornada, eu não sabia ainda que carreira profissional seguir. Acredito que o evento cumpriu seu papel na minha vida. Talvez eu nunca tivesse descoberto esse interesse ou possibilidade de trabalhar para o Brasil se não fosse esse evento”, acrescenta a estudante, que agora sonha em ingressar no curso de Engenharia Aeroespacial do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), lugar ao qual se refere, encantada, como “templo do conhecimento”.

Eventos como a Jornada Espacial objetivam plantar a primeira semente em busca da conscientização no que toca à área espacial e, como consequência, ajudam na formação de futuros profissionais. Esse foi o caso de Danilo José Franzim Miranda, que participava, em 2005, da primeira edição do projeto. Então aluno do primeiro ano do ensino médio do Colégio Militar de Brasília, Danilo voltou à jornada também no ano seguinte. Na oportunidade, desenvolveu um foguete, movido a álcool, feito de garrafa PET com as bases de PVC. “Considero a área espacial a verdadeira fronteira do conhecimento do ser humano, é o que mais comove o meu coração”, disse ele à época, dando prenúncio do que mais tarde estava por vir. Em 2008, Danilo ingressou na 1ª turma de Engenharia Aeroespacial do ITA, curso que concluiu em 2012 com um trabalho sobre o Veículo Lançador de Satélites (VLS). A semente plantada lá atrás, em 2005, na primeira edição da Jornada Espacial, trouxe bons frutos à sociedade: Danilo hoje é engenheiro da Visiona, empresa nascida a partir de uma parceria entre a Telebrás e Embraer, que será responsável pelo lançamento do primeiro satélite geoestacionário brasileiro.

A realização de eventos como a Olimpíada Brasileira de Astronomia e a Jornada Espacial, que servem de plataforma para que jovens como Ricardo, Indhyara e Danilo aprimorem seus interesses sobre foguetes, satélites e aplicações, temáticas ainda pouco conhecidas pela sociedade em geral, significa um importante passo para a valorização dos talentos brasileiros – coisa que países emergentes como China e Índia já têm se empenhado em fazer.

Para José Bezerra Filho, os projetos voltados à área educacional aos quais é ligado se justificam por mostrar aos estudantes que existe um caminho a trilhar dentro do Brasil: “temos o dever para com o país de levantarmos a bandeira do conhecimento. No fundo, no fundo, eu sinto a obrigação de fazer o que faço”.

Fonte: ITA/DCTA.
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"Star One C3, Amazonas 3, Telespazio e Anik G1..."


Reproduzimos abaixo uma nota publicada na coluna "Defesa & Negócios" da edição n.º 131 da revista Tecnologia & Defesa, que se encontra nas bancas:

Star One C3, Amazonas 3, Telespazio e Anik G1...

No início de novembro, foi lançado com sucesso a partir de Kourou, na Guiana Francesa, por um foguete Ariane 5, o Star One C3, o novo satélite de comunicações da Star One, subsidiária da brasileira Embratel. Construído pela estadunidense Orbital Sciences Corporation, o satélite dispõe de capacidade nas bandas C e Ku, com cobertura de toda a região sul-americana. Este foi o nono lançamento de um satélite da Embratel realizado pela Arianespace, todos com sucesso. O Star One C4, em construção pela Space Systems Loral, dos EUA, também será lançado por um Ariane 5, em 2014. Com significativa presença na América do Sul, a Arianespace cuidará em fevereiro de 2013 do lançamento de outro satélite que ocupará uma posição orbital brasileira: o Amazonas 3, da Hispasat.

O mercado sul-americano está bem aquecido, com vários projetos de desenvolvimento e aquisição de sistemas próprios por governos e empresas da região. A subsidiária brasileira do grupo italiano Telespazio espera concluir no primeiro trimestre de 2013 seus estudos sobre um satélite, que deve contar com capacidade em banda Ka, para atender o Brasil. O satélite poderá ser exclusivamente da Telespazio, ou adquirido em parceria com outra empresa. "As várias opções estão sendo analisadas e estamos progredindo", afirmou Marzio Laurenti, presidente da Telespazio Brasil, à T&D.

Também no início de 2013, o satélite Anik G1, da canadense Telesat, com cobertura das Américas e oceano Pacífico, deve ser levado ao espaço. Um aspecto interessante deste satélite é que ele contará com capacidade em banda X, para fins militares, a ser comercializada pela Astrium Services por um período de quinze anos desde a sua colocação em órbita. Esta capacidade pode vir a ser uma alternativa para cobrir uma eventual necessidade adicional para o Sistema de Comunicações Militares por Satélite (SISCOMIS), do Ministério da Defesa, hoje atendo pela Star One, tendo em vista que o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), a ser contratado pela Visiona, joint-venture da Embraer com a Telebras, dificilmente estará em órbita antes de 2015. Outro potencial interessado seriam as forças armadas do Chile, que demonstram há algum tempo em dispor de comunicações em banda X.

Fonte: Tecnologia & Defesa n.º 131.
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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Notícias dos Amazonas 3 e 4A


Chegou esta semana ao centro espacial de Kourou, na Guiana Francesa, o satélite Amazonas 3, encomendado pela espanhola Hispasat junto a norte-americana Space Systems Loral.

O satélite de comunicações, que será operado a partir de uma posição orbital brasileira (61º Oeste) e oferecerá cobertura do continente sul-americano em bandas C e Ku, deve ser lançado ao espaço em 7 de fevereiro. A missão ficará a cargo do do foguete europeu Ariane 5, em sua primeira missão de 2013, de um total de seis planejadas.

Amazonas 4A

Enquanto ocorrem os preparativos para o voo do Amazonas 3, a construção do Amazonas 4A, outro satélite da Hispasat, a cargo da Orbital Sciences Corporation, avança. Seu lançamento está previsto para 2014, devendo operar na mesma posição orbital do Amazonas 3.

Em 10 de janeiro, a Hispasat anunciou a contratação do grupo espanhol Indra para o desenvolvimento e fabricação do segmento terreno para a operação e controle do Amazonas 4A. No Brasil, a Hispasat opera principalmente por meio da Hispamar Satélites, que tem como sócio o grupo brasileiro de comunicações Oi.

A Hispamar dispõe de uma estação terrena de controle e telemetria em Guaratiba, no Rio de Janeiro, de onde opera os satélites que ocupam posições orbitais nacionais.
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Cooperação Brasil - EUA


AEB RECEBE VISITA DA EMBAIXADA DOS ESTADOS UNIDOS

Brasília, 16 de janeiro de 2013 - O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho, recebeu, na terça-feira (15), o Ministro Conselheiro da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, Todd Chapman. “Foi uma visita de cortesia em agradecimento à visita da embaixada ao Centro de Lançamento de Alcântara (CLA)”, conta José Raimundo.

Durante o encontro, o Conselheiro colocou a embaixada à disposição da AEB para o encaminhamento de qualquer questão relativa ao Programa Espacial Brasileiro (PEB) junto aos Estados Unidos. Chapman mencionou, ainda, o grande interesse na aproximação e alinhamento do governo americano às iniciativas e intenções do PEB. Segundo o conselheiro, várias empresas americanas que atuam na área espacial desejam vir ao Brasil para visitar as instalações e as indústrias nacionais e também discutir o desenvolvimento de ações de interesse comum.

Também participaram do encontro a conselheira da embaixada Kirsten Schulz, o funcionário de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Saúde da embaixada, Aamir Alavi, e a assessora para assuntos internacionais de AEB, Meireluce Fernandes.

Visita ao CLA – Uma comitiva composta por oito americanos esteve no CLA, em 8 de novembro do ano passado com o objetivo de conhecer in loco a hitória do centro de lançamento, os avanços e o papel do programa espacial no processo de desenvolvimento do País.

Após a visita ao CLA, a delegação se reuniu com os governadores do Maranhão e do Pará.

Fonte: AEB

Comentário: como pano de fundo da visita da delegação norte-americana ao CLA e à sede da AEB está a negociação de um novo acordo de salvaguardas tecnológicas (AST) entre o Brasil e os EUA, algo visto como essencial para que a binacional Alcântara Cyclone Space possa acessar o mercado comercial de lançamentos de satélites. 
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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Satélite Skynet 5D em órbita



Astrium lança satélite Skynet 5D

Brasília, 14 de janeiro de 2013 - O quarto satélite militar Skynet 5, construído pela Astrium para o programa operacional dos serviços de comunicação para o Ministério da Defesa do Reino Unido, foi lançado no dia 20 de dezembro da base de Kourou, na Guiana Francesa, pelo lançador Ariane 5.

Por meio da concessão do Skynet, assinada com o governo do Reino-Unido em 2003, a Astrium Services opera com sucesso a constelação de satélites militares Skynet e a rede terrestre que fornece todas as comunicações Beyond Line of Sight (além do horizonte) para o Ministério da Defesa britânico e o Gabinete do Governo. Essa concessão permite também que a Astrium forneça serviços de comunicações seguras para outras forças armadas, como dos Estados-Unidos, de Portugal ou da Austrália.

Com o lançamento do satélite Skynet 5D, a Astrium Services vai agora operar uma frota de oito satélites de alta potência em UHF e na banda-X. Serão quatro Skynet 5, três Skynet 4 e o satélite NATO IVB. Estes satélites são desenhados para cumprir as mais críticas missões militares e estão em plena conformidade com as exigentes normas da NSA e da OTAN.

O satélite Skynet 5D será posicionado sobre o Oriente Médio (53° Leste), e se tornará o mais ativo dos satélites militares de comunicação da Astrium Services. Os tanques de combustível do Skynet 5D são maiores e permitem que o satélite possa ser reposicionado mais frequentemente para atender às necessidades operacionais.

O Skynet 5D vai estender consideravelmente o total de banda-X (Super High Frequency) comercializável em todo o mundo. No início deste ano, a Astrium Services assinou um contrato de vários milhões de dólares com a Harris CapRock para fornecer capacidade adicional em UHF no Skynet 5D para clientes militares e governamentais em todo o mundo.

Sobre a Astrium

Astrium é a empresa número um em tecnologias espaciais na Europa e a terceira no mundo. Em 2011, a Astrium obteve uma rotatividade de quase EUR5 bilhões e 18.000 funcionários no mundo inteiro, especialmente na França, Alemanha, Reino Unido, Espanha e Holanda.

A Astrium é a única empresa europeia que cobre toda a gama de serviços e sistemas civis e de defesa. Seus três principais negócios são: a Astrium Space Transportation de lançadores e infraestruturas orbitais; a Astrium Satellites de foguetes e segmento terrestre; a Astrium Services de soluções abrangentes do começo ao fim, fixas e móveis, cobrindo redes e satélites de comunicações seguros e comerciais, equipamento e sistemas de transmissão de comunicação via satélite de alta segurança, e serviços personalizados de informações geográficas, no mundo inteiro.

A Astrium é uma subsidiária de propriedade exclusiva da EADS, líder global em serviços relacionados à defesa e espaços aéreos. Em 2011, o Grupo formado pela Airbus, Astrium, Cassidian e Eurocopter gerou receitas de € 49,1 bilhões de euros e empregou uma força de trabalho de mais de 133.000 pessoas.

Fonte: Astrium.

Comentários: o Skynet 5D foi colocado em órbita pelo sétimo lançamento do foguete Ariane 5, conforme noticiamos no blog Panorama Espacial em dezembro (vejam a postagem "Ariane 5: sétima missão do ano"). Sobre a oferta de capacidade em banda X para comunicações militares, na edição de Tecnologia & Defesa que está nas bancas, publicamos uma nota que aborda, dentre outros satélites, o Anik G1, que deve ser lançado ao espaço no primeiro semestre deste ano. O satélite pertence ao grupo canadense Telesat, mas sua capacidade em banda X, de uso exclusivo para comunicações militares, foi adquirida pela Astrium Services. Sua área de cobertura inclui toda a América do Sul e grande parte do oceano Pacífico, podendo interessar algumas forças armadas sul-americanas, como a brasileira e a chilena.
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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

"Espaço e atitudes", editorial de T&D n.º 131


Este número [131] tem como reportagem de capa a matéria “Lançadores – onde o Brasil quer chegar”, que busca abordar os principais projetos e perspectivas nacionais nesse domínio. O tema é de extrema relevância e atrai muito interesse. Não é incomum recebermos de leitores sugestões de pautas ou questões sobre o Veículo Lançador de Satélites (VLS), seja por meio da redação ou pelo blog Panorama Espacial, ligado à revista.

Desde a sua fundação, há quase trinta anos, Tecnologia & Defesa tem sido a única publicação especializada brasileira que sistematicamente cobre o setor espacial nacional. Ao longo desse tempo todo, foram várias as reportagens e edições especiais sobre o Programa Espacial Brasileiro (PEB) e projetos específicos, como o da malfadada participação brasileira na Estação Espacial Internacional, o programa VLS, satélites, entre outros. Entrevistamos dirigentes de praticamente todas as entidades relacionadas ao setor, como a Agência Espacial Brasileira (AEB), o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e seus institutos subordinados e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Em 2012, por exemplo, publicamos reportagens sobre satélites de observação terrestre, e o projeto do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), assuntos não abordados em nenhum outro veículo desta área editorial.

Este posicionamento de Tecnologia & Defesa sempre foi motivado por entendermos o setor espacial como vital para os objetivos do País. E isso não significa, em absoluto, que ajudamos a “reinventar a roda”. Trata-se, apenas, de se observar o que acontece em países mais avançados e ter muita seriedade em pensar as grandes e reais vocações do Brasil. O lamentável, porém, é que todo o trabalho efetuado, as páginas disponibilizadas para a divulgação do tema, debate e mesmo críticas (no sentido de contribuir) parece não sensibilizar algumas pessoas, as quais deveriam ser as mais interessadas em que assim seja, como nesta oportunidade, quando permanecemos aguardando uma entrevista acordada com um alto dirigente da AEB (atrasando, inclusive, a publicação da própria edição – e com os prejuízos que disso decorrem) para, na última hora (já ultrapassada) sermos informados que não teríamos, este ano (2012), as respostas às questões formuladas por nossa equipe. Realmente, muito desagradável e deselegante, até. Bem, mas vamos em frente.

Por outro lado, ultimamente, as esperanças parecem ter sido renovadas para o Programa Espacial Brasileiro que, em sua história, citando palavras do atual ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, “tem como marca o atraso”. Há expectativas com a edição de uma nova versão do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), certamente mais realístico, com o projeto do SGDC, anteriormente conhecido como SGB, o início do desenvolvimento do Veículo Lançador de Microssatélites – VLM, entre outras iniciativas igualmente relevantes. É importante mencionar o papel que a Estratégia Nacional de Defesa (END), lançada no final de 2008, tem nesta reformulação. A END elenca o setor espacial como um domínio estratégico - ao lado do nuclear e cibernético. Hoje, frequentemente, dirigentes de institutos civis envolvidos com o PEB mencionam a END e as necessidades na área de defesa, de projetos como o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) e o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), como demandas que devem ser atendidas pelo PEB, o que era bastante incomum, para muitos até temerário, não muitos anos atrás. Esperamos que venha a ser muito mais que um bom sinal.

Contudo, o fato é que ainda faltam ações mais concretas no PEB e, principalmente, resultados. O Brasil não lança um satélite próprio, desenvolvido localmente, desde 1998, portanto, há praticamente quinze anos, algo inaceitável para um país que deseja ocupar posição de destaque no cenário geopolítico em âmbito global, e mesmo para satisfazer as suas diversas demandas internas. O programa CBERS (China-Brasil Earth Resources Satellite – Satélite Sino Brasileiro de Recursos Terrestres), desenvolvido em parceria com o governo de Pequim e considerado um dos maiores projetos atuais do PEB, enfrenta mais uma dificuldade com problemas em componentes do CBERS 3, o que veio a ocasionar a postergação do seu lançamento, que estava inicialmente previsto para novembro de 2012, confirmando a “marca do atraso”, seguindo o raciocínio de Marco Antonio Raupp.

Ao mesmo tempo, há também muita esperança em que todas as promessas, estudos e planos envolvendo o PEB sejam verdadeiramente concretizadas em médio prazo, e o momento para isso, talvez, jamais tenha sido tão favorável como agora.

Editorial da edição n.º 131 da revista Tecnologia & Defesa.
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"A Governança Espacial na Terra Hoje", artigo de José Monserrat Filho


A Governança Espacial na Terra Hoje

José Monserrat Filho *

“A paz e o desenvolvimento cada vez mais terão que ser globais ¨C ou simplesmente não serão.” Celso Amorim¹

O mundo está globalizado como nunca, liderado por alguma grandes potências, que tratam de tirar disso o máximo proveito. Mas ainda não há um governo global, situado acima dos Estados, para resolver os problemas que afetam a todos ou a um grande número de países e povos. Quem se ocupa dessas tarefas são as organizações internacionais, constituídas pelos países e deles dependentes. Por isso, não se fala em governo mundial, mas em governança das áreas e assuntos mundiais de interesse comum de muitos países, se não de todos eles.

É uma gestão coordenada, onde, claro, as potências mais fortes econômica, política, militar, científica e tecnologicamente exercem maior influência e até certo controle.

O espaço exterior e as atividades espaciais, que hoje afetam e interessam a todos os países, merecem e exigem uma governança cada vez mais firme, acurada e competente.

Quando o Sputnik I, primeiro satélite artificial da Terra, foi lançado pela ex-União Soviética, em 4 de outubro de 1957, uma das questões mais comuns à época, sobretudo entre governantes, diplomatas e juristas era definir a quem pertencia aquele espaço por onde voava o estranho objeto. Como nenhum país protestou contra a passagem do Sputnik I, deu-se como certo que ele não invadia o espaço aéreo de nenhum país. Logo, era outro espaço, o espaço exterior, como diziam os norte-americanos, ou espaço cósmico, como afirmavam os soviéticos.

Em nossos dias, não há mais dúvida: o espaço exterior é um bem comum da humanidade. Ou “res communis omnium”, coisa comum a todos, como rezava o Direito Romano. Algo que todos podem usar livremente. Mas o espaço exterior não está só nesta condição.

O alto mar ¨C as zonas marítimas situadas fora da jurisdição dos países ¨C também é um bem comum, segundo a Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar, de 1982.² Qualquer tentativa de estabelecer e exercer soberania sobre o alto mar por parte de um país é ato ilícito, ilegítimo, fora da lei. Essa é a base da governança dos oceanos hoje.

Nem sempre foi assim. Para os fenícios e depois os romanos, o Mediterrâneo lhes pertencia, era “mare nostrum”, nosso mar. Mais tarde, a ideia do “mare clausum”, mar fechado, privado, foi defendida pelas grandes potências navais ¨C Portugal, Espanha, Inglaterra, repúblicas marítimas da península itálica e países escandinavos, que dividiam, ainda que de modo instável, soberania e/ou simples domínio sobre as rotas marítimas de comércio e, por conseguinte, de mares.

Mas a ideia da liberdade dos mares não tardou a surgir. No século XVII, a Holanda (Países Baixos), potência marítima emergente, ergueu essa bandeira, para ter seu lugar ao sol. Hugo Grócio (1583-1645), jurista e filósofo holandês ¨C autor da notável obra “As leis da Guerra e da Paz” (1625) ¨C decidiu ajudar seu país a romper com o monopólio comercial das grandes potências de então, Espanha e Portugal. Precursor do Direito Internacional, ao lado de Francisco Vitória, Grócio publicou, anonimamente, em 1606, “Mare Liberum” (Mar Livre), parecer em defesa da liberdade dos mares. Ele via nesta liberdade uma necessidade essencial para a comunicação entre os povos e os países. Daí que, a seu ver, país algum tinha o direito de monopolizar o controle dos mares.

Nascia o princípio do pleno e indiscriminado acesso aos mares ¨C, que se tornou norma absolutamente comum e corrente no mundo. Mas, no início do século XIX, a Inglaterra, ao derrotar Napoleão Bonaparte, começou um período de total domínio dos mares. Já não era, porém, um domínio territorial. Era militar e comercial. Para compensar a liberdade dos mares, os países foram estabelecendo sua soberania no chamado “mar territorial”, que agora inclue a zona contígua, a zona econômica exclusiva, a plataforma continental. O alto mar ¨C o território marítimo de interesse comum ¨C ficou menor. Mas a governança dos mares é de suma relevância, em especial pelas recursos pesqueiros e pelas riquezas do seu solo e subsolo que envolve. Não por acaso, além da Convenção de 1982, ela dispõe de um competente tribunal internacional, ligado às Nações Unidas, inaugurado em 1996, com sede em Hamburgo, na Alemanha. Entre seus 21 juízes, há um brasileiro, Vicente Marotta Rangel, ex-professor da USP.

A governança do espaço exterior e das atividades espaciais também se desenvolveu nos quadros das Nações Unidas. EUA e URSS, os pioneiros na área, poderiam ter decidido a questão por acordo bilateral, pois eram, à época, as duas maiores potências do mundo e as únicas que realizavam atividades espaciais. Um arranjo bilateral fechado entre os dois países mais empenhados na corrida armamentista, que acumulavam arsenais de armas de destruição em massa cada vez mais letais, repercutiria muito mal junto à opinião pública mundial. Pesou, e muito, a necessidade de acalmar o mundo com a promessa de um espaço voltado a propósitos exclusivamente pacíficos, livre do então crescente perigo nuclear.

Antes do Sputnik I, houve quem pensasse em se adonar do espaço, pois “quem dominasse o espaço dominaria a Terra”. Afinal, o primeiro uso prático pensado para o espaço foi militar, visão que continua existindo. A primeira atividade espacial mobilizou o V2, o foguete-bomba mortífero criado pela Alemanha nazista já no final da 2ª Guerra Mundial e lançado contra Londres e outras cidades do Reino Unido, causando grande número de baixas, sobretudo entre a população civil. Hoje, pensa-se em instalar armas no espaço, o que o transformaria em mais um “teatro de guerra” ou “campo de batalha”, como já são há muito tempo a Terra, os mares e o espaço aéreo.

O COPUOS foi o passo inicial. Em 1958, apenas um ano após o voo inaugural do Sputnik I, a Assembleia Geral das Nações Unidas criou o Comitê para o Uso Pacífico do Espaço Exterior, conhecido pela sigla em inglês COPUOS, o primeiro órgão internacional incumbido de promover a governança do espaço e das atividades espaciais. No início, esse comitê tinha 24 países membros. Hoje tem 71, o que demonstra como aumentou o interesse pelo assunto. O COPUOS começou a funcionar, de fato, em 1961, com dois Subcomitês, o Jurídico e o Científico-Técnico, Para tanto, teve que resolver sérios problemas de composição e adotar a regra da votação por consenso de todos os temas substanciais, para garantir a igualdade de direitos e deveres entre EUA, URSS e seus respectivos aliados. A partir de então, em “velocidade cósmica”, precisou apenas de 18 anos (1961-1979, para lançar as bases do Direito Espacial, aprovando os cinco tratados ainda hoje em vigor: o Tratado do Espaço, de 1967, o código maior do setor; o Acordo de Salvamento de Astronautas, de 1968, a Convenção de Responsabilidade por Danos causados por Objetos Espaciais, de 1972; o Acordo de Registro de Objetos lançados ao Espaço, de 1976; e o Acordo da Lua, de 1979.³

Hoje, há muitos outros acordos ligados às atividades espaciais, mas os citrados seguem sendo os básicos. Eles precisariam ser devidamente atualizados. Também seria necessário criar novos acordos sobre áreas cruciais hoje não reguladas ou subreguladas, como as atividades militares e comerciais, a sustentabilidade a longo prazo das atividades espaciais, além de outras. Mas algumas grandes potências se valem da regra do consenso para se oporem a tais medidas, embora haja amplo reconhecimento de que são vitais para melhorar e ampliar a governança espacial em benefício geral. Na realidade, o ordenamento do espaço e das atividades espaciais jamais teve perfil tão acanhado quanto o de hoje, em contraste com a acelerada intensificação dessas atividades, hoje simplesmente indispensáveis ao desenvolvimento de todos os países.

O Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior, com sede em Viena, Áustria, também integra o sistema de governança espacial, secretariando o COPUOS, e executando programas de enorme utilidade para os países em desenvolvimento. O escritório é dirigido hoje pela astrofísica e astronauta Mazlan Othman, que encabeçou a Agência Espacial da Malásia e tem plena consciência dos interesses e necessidades dos países em desenvolvimento no espaço.

A Quarta Comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas é, igualmente, peça de relevo da governança espacial. Criada para cuidar da descolonização no pós-2ª Guerra Mundial, essa é uma das mais dinâmicas e versáteis das seis comissões centrais da Assembleia Geral, de que participam todos 192 Estados Membros das Nações Unidas.

Com a independência da maioria das colônias, a Quarta Comissão assumiu novas funções, nos anos 90, tratando da agenda de “política especial”, onde se agrupam as questões dos refugiados palestinos, direitos humanos, manutenção da paz, desativação de minas, informação pública, radiação atômica, a Universidade Para a Paz e espaço exterior.

Os documentos e decisões aprovados pelo COPUOS são remetidos à Quarta Comissão, que, por sua vez, discute e prepara o que será votado pela Assembleia Geral, inclusive as resoluções anuais sobre os rumos da cooperação internacional para o uso pacífico do espaço exterior.

Por que não criar uma Organização Mundial do Espaço? No mundo atual, saúde, alimentação, meteorologia, comunicações, meio ambiente, aviação civil, comércio e finanças são esferas dotadas de governança global exercida por meio de organizações e programas internacionais de grande porte da ONU. O espaço não goza do mesmo privilégio, embora só em 2010 tenha movimentado mais de 276 bilhões de dólares ¨C número que tem crescido sem cessar.

Razão tinha Simone Courteix, ex-diretora do Centro de Estudos e Pesquisa sobre Direito Espacial da França, para escrever, ainda em 1992, que “em razão do grande desenvolvimento que as atividades espaciais deverão alcançar no século XXI, e mesmo levando em conta as crescentes restrições orçamentárias, um reforço dos recursos destinados à cooperação internacional parece inevitável e, aparentemente, afirma-se a necessidade de uma organização universal”.4

A ideia de criação de uma Organização Mundial do Espaço foi lançada pela primeira vez na I Conferência da ONU sobre a Exploração e Uso do Espaço Exterior UNISPACE-I), realizada em 1968, em Viena, Áustria, e reiterada na UNISPACE-II, reunida em 1982, também em Viena.

A partir de 1978, França, URSS e Canadá, em diferentes ocasiões, formularam propostas de criação de uma Agência Internacional de Controle de Armamentos por Satélites.

Em 1986, a proposta de uma Organização Mundial do Espaço foi apresentada à ONU pelo Governo da ex-URSS, liderado por Mikhail Gorbachev, o pai da abertura soviética.

Em 1988, a França sugere a criação de uma agência internacional de tratamento e interpretação de imagens de satélites. Desenvolvendo a sugestão francesa, a URSS propôs a criação de uma Agência Internacional de Vigilância Espacial. Ambas as agências, de caráter universal, se encarregariam de verificar o cumprimento dos acordos de desarmamento, de monitorar as crises mundiais, bem como de prevenir e minimizar desastres naturais.

Mas, por diversas razões, a começar pela recusa de revelar as tecnologias nacionais de sensoriamento remoto, todas essas ideias ficaram no papel e hoje já não são nem lembradas, ainda que os perigos e situações que as geraram tenham se tornado ainda mais ameaçadores.

Se tivéssemos criado uma dessas organizações de governança espacial, provavelmente muitos males ocorridos teriam sido evitados ou, no mínimo, reduzidos em seus impactos.

A boa governança é sempre preventiva. Vale aqui a recomendação de Manfred Lachs (1914-1993), ex-presidente da Corte Internacional de Justiça, de Haia, e ex-presidente do Instituto Internacional de Direito Espacial: “No mundo de hoje, (...) a função preventiva do direito é de importância mais vital que nunca antes. É preciso fazer com que os homens do mundo inteiro percebam isso, para incitá-los a abandonarem um pouco a estreiteza de espírito, a incutir neles o sentimento de existência do interesse comum e de responsabilidade pela aplicação do direito na vida cotidiana das nações e a levá-los a compreender que, como se diz, é melhor agir com sabedoria juntos do que cometer loucuras separados.”5

* Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB)

Referências

1) Amorim, Celso, Conversas com jovens diplomatas, São Paulo: Benvirá, 2011, p. 275.
2) Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar, concluída na Conferência de Montego Bay, Jamaica, 10 de dezembro de 1982, em vigor desde 16 de novembro de 1994. Ver em .
3) Ver . Cabe citar também as oito declarações adotadas depois pela Asembleia Geral da ONU, entre elas a dos Princípios sobre Sensoramento Remoto, de 1986, e a dos Benefícios da Cooperação Espacial, de 1996.
4) Faut-il créer une organization mondiale de l'espace?, Rapport preparé par M. Bourely, S. Courteix, Ph. Cristelli, G. Lafferranderie, Y. Rebillard, D. Ruzie et O. De Saint-Lager, Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) et Centre d'Etudes et de Recherches sur le Droit de l'Espace, La Documentation française, Pris, 1992, p. 4.
5) Lachs, Manfred, Le Monde de la pensée en droit international ¨C Theories et pratique, Paris: Economica, 1989, p. 230.
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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Cooperação Brasil - Japão


Brasil e Japão discutem cooperação na área de desastres naturais

07/01/2013 - 18:44

Fortalecer a Estratégia Nacional em Gestão Integrada de Riscos em Desastres Naturais. Esse é o objetivo do projeto que vem sendo alinhavado pelo Brasil e pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) para melhorar a capacidade brasileira de avaliar e reduzir riscos, aperfeiçoar o monitoramento e conduzir pesquisa e desenvolvimento (P&D) sobre desastres naturais. As possíveis cooperações na área foram discutidas nesta segunda-feira (7) pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, e pelo presidente da Jica, Akihiko Tanaka.

Questões como a possibilidade de criação de um sistema de observação da terra voltado para os desastres naturais, além do intercâmbio entre estudantes e pesquisadores pelo programa Ciência sem Fronteiras (CsF), do governo federal, e de oportunidade de estágio em empresas para bolsistas fizeram parte das discussões. “Esse programa vai até 2015 e é um instrumento que podemos utilizar na nossa cooperação tanto para enviar esses estudantes como para realizar intercâmbio entre especialistas de alto nível”, frisou o ministro Raupp.

Em seu pronunciamento, Akihiko informou que a área de desastres naturais e a cooperação com o Brasil são consideradas prioridades para o governo japonês e reforçou a intenção em ampliar a relação com o Brasil nesse campo. “Já temos cooperação com o país e queremos ampliar e estreitar ainda mais”, disse.

Participaram do encontro o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do ministério, Carlos Nobre, a chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais da pasta, embaixadora Carmem Moura, o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB/MCTI), José Raimundo Coelho, o diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden/MCTI), Agostinho Ogura, o chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério de Relações Exteriores, Ademar Seabra, e o embaixador do Japão no Brasil, Akira Miwa, entre outros.

Modelo

O secretário Carlos Nobre ressaltou a histórica relação com a Jica na área de mudanças do clima, estudos em florestas tropicais e, recentemente, em desastres naturais. A própria criação do Cemaden, comentou ele, segue modelo implantado pelo Japão ao adotar uma estrutura técnico-científica à parte e de suporte ao sistema de defesa civil.

“Hoje o Cemaden conta com 100 funcionários e 30 doutores e cientistas”, informou Nobre aos japoneses ao destacar o esforço do governo brasileiro, que desenvolveu programas e ações específicas para a área, e a nova percepção da sociedade sobre a vulnerabilidade do país, diante da seca e das chuvas –especialmente, após a maior tragédia natural, ocorrida há dois anos, na região serrana do Rio de Janeiro, que resultou na morte de mais de 900 pessoas.

Agostinho Ogura falou da trajetória do Cemaden, que foi criado por decreto presidencial em julho de 2011 e passou a operar 24 horas por dia, monitorando 56 municípios em áreas de risco, em dezembro. “Foi um recorde técnico-científico”, avaliou. Ogura também ressaltou o interesse em firmar parcerias com instituições de outros países.

Para o diretor do centro, o Japão é um país de referência na gestão de risco de desastres naturais, onde se montou uma estrutura de obras de proteção, prevenção, redução de riscos, monitoramento e alertas em função da ocorrência em seu território dos principais desastres naturais – tanto de natureza geológica (como terremotos, tsunamis e erupções vulcânicas) quanto de natureza meteorológica (chuvas torrenciais, deslizamentos e enxurradas).

“Então essa cultura japonesa é milenar. É um país consolidado sob o ponto de vista de como lhe dar com os desastres, tanto na área técnico-científica e no entendimento dos cenários de risco, quanto na possibilidade de uso de tecnologias e de organização do sistema público para atuar na questão do desastre”, frisou. “Eles têm muito a contribuir com o Brasil.”

Cooperação Brasil-Japão

Em 2008, o governo japonês instituiu o programa Parceria em Pesquisa Científica e Tecnológica para o Desenvolvimento Sustentável, iniciativa de apoio a pesquisas conjuntas de ponta com instituições congêneres de países em desenvolvimento. O Programa de Cooperação Técnica do Japão no Brasil é conduzido pela Jica e tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do país, por meio da transferência de conhecimento e tecnologia japoneses a instituições brasileiras.

Entre as parcerias estão atividades nas áreas de biocombustíveis, produção de soja, estudo sobre a dinâmica do carbono na região amazônica, para o desenvolvimento de tecnologia na área agrícola e para diagnóstico de infecções por fungos em pacientes com Aids e para o estudo de cenários futuros de mudança do clima. O projeto para Fortalecimento da Estratégica Nacional em Gestão Integrada de Riscos em Desastres Naturais prevê a parceria, além do MCTI, com o Ministério das Cidades e com o Ministério da Interação Nacional.

Fonte: MCTI
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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

ACS em xeque: reportagem do O Globo


Projeto de meio bilhão de reais para lançamento comercial de satélites está em xeque

Com sucessivos adiamentos, mercado se fecha a programa em parceria com a Ucrânia

Roberto Maltchik

Publicado: 6/01/13 - 22h45 / Atualizado: 6/01/13 - 23h06

RIO - Depois de irrigar com R$ 391,5 milhões ao longo dos últimos seis anos o mais audacioso projeto de lançamento comercial de satélites em solo brasileiro, o governo federal concluiu que é elevado o risco de o negócio simplesmente não se viabilizar e, agora, busca uma saída “estratégica” para justificar o investimento. Além do descompasso orçamentário, a ausência de um acordo tecnológico com os Estados Unidos, a inexistência de data de lançamento e a administração errática da Alcântara Cyclone Space (ACS) no governo Lula levaram o empreendimento — cujo investimento mínimo, para cada país, alcançará R$ 500 milhões — a um ponto crítico, que obrigou o Palácio do Planalto a revisar silenciosamente seu objetivo.

Tratado assinado entre Brasil e Ucrânia, em 2006, previa objetivamente que a ACS seria criada para que o Brasil entrasse no restrito e altamente qualificado mercado internacional de lançamento de satélites, que renderia aos dois países US$ 50 milhões, por lançamento. Seis anos depois, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) informa que a “transferência de tecnologia”, integrada à construção do Centro Espacial de Alcântara (MA), em área cedida pela Aeronáutica, “por si só, justifica o investimento”. Ocorre que o tratado que criou a binacional, aprovado pelos Parlamentos ucraniano e brasileiro, não prevê transferência tecnológica.

“A Alcântara Cyclone Space tem por missão o desenvolvimento do Sítio de Lançamento do veículo lançador Cyclone-4 no Centro de Lançamento de Alcântara e a execução, a partir do mesmo sítio, de lançamentos comerciais, bem como aqueles de interesse da República Federativa do Brasil ou da Ucrânia”, diz, textualmente, o enunciado da “missão” da Alcântara Cyclone Space, disponível no site da empresa. Funcionários da empresa e técnicos do MCTI asseguram: não há transferência de tecnologia na fabricação do equipamento.

Trunfo do Brasil

O trunfo do Brasil para desenvolver o programa de lançadores é a localização geográfica de Alcântara, encravada na Linha do Equador. Isso significa não só economia de propelente (combustível) como também mais capacidade para transportar cargas úteis. Porém, lançar comercialmente o foguete Cyclone-4, em construção na cidade ucraniana de Dnipropetrovsk, envolve muito mais que ter um sítio pronto e um foguete construído, o que ainda não existe. Se antes a meta era fazer o primeiro lançamento em 2010, agora passou para 2014.

Entre analistas do mercado espacial consultados pelo GLOBO ao longo de dezembro, o uso comercial do Cyclone-4 não passa de um “projeto”, repleto de incertezas nos campos técnico e geopolítico. E — em tais condições — os grandes clientes deste multibilionário nicho não apostam um centavo.

No campo geopolítico, a ACS não está autorizada a lançar sequer um artefato ao espaço com componente fabricado nos Estados Unidos, pela ausência de um acordo de salvaguarda tecnológica entre Brasil e EUA, barrado no Congresso em 2002, principalmente por força do PT, à época o principal partido de oposição ao governo Fernando Henrique. E cerca de 90% de todos os satélites em operação, hoje, têm componentes americanos.

Até o fim do governo George W. Bush (2001-2009), a doutrina da Casa Branca era não permitir o acordo. Historicamente, os EUA apresentam profundas restrições ao programa de lançadores do Brasil, uma vez que seus componentes têm uso duplo: civil e militar, ou seja, servem a foguetes e mísseis. Paradoxalmente, os EUA reconhecem Alcântara como excelente local para lançamentos, inclusive, de seus próprios foguetes. Mas Alcântara convive com um impasse que envolve comunidades quilombolas remanescentes que vivem na região, e que, ao longo da década passada, literalmente expulsaram a ACS da área previamente reservada à instalação de inúmeros sítios de lançamento: ou seja, falta área disponível para transformar Alcântara num centro internacional de lançamento comercial de satélites.

Neste momento, o Itamaraty negocia o acordo, em caráter sigiloso, com o governo Obama. O MCTI classifica o assunto como “de grande relevância”. O Ministério de Relações Exteriores (MRE), a ACS e a embaixada dos EUA não comentam o assunto especificamente. Até agora, não há solução à vista.

— Precisamos muito disso (o acordo com os EUA) para tornar comercial o sítio de lançamento de Alcântara. O acordo é super importante. Esse assunto é objeto de discussão no Itamaraty, que o analisa com muito cuidado — afirmou ao GLOBO o presidente da Agência Espacial Brasileira, José Raimundo Braga Coelho, que nega a mudança de rumo no projeto Cyclone-4, apesar de inúmeras confirmações no sentido contrário:

— O objetivo não mudou. O objetivo é comercial e estratégico.

Em abril do ano passado, de acordo com a embaixada americana, Brasil e Estados Unidos realizaram um debate “positivo” sobre segurança espacial. Em dezembro, o Ministério da Defesa e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos fizeram nova rodada de negociações, um mês depois de uma delegação dos Estados Unidos visitar Alcântara.

Oficialmente, a ACS não quis se pronunciar. Porém, funcionários da empresa pública binacional reconheceram ao GLOBO que, sem acordo de salvaguardas ou data de lançamento estabelecida e apresentada aos operadores do mercado, não há condições de atrair clientela, que atualmente contrata lançadores nos EUA, na Europa e na Ásia. Ou seja, a cada dia que passa as opções de mercado do sistema ucraniano-brasileiro ficam mais restritas. Restrições que se ampliam considerando a desconfiança do mercado quanto às limitações ucranianas - país descapitalizado depois da crise financeira de 2008 - para o desenvolvimento de novas tecnologias de segurança de voo.

Entraves administrativos

Um analista do mercado, sob a condição do anonimato, afirma que os grandes fornecedores de Europa e Estados Unidos, eventuais concorrentes da ACS, recebem suporte de suas nações para vender lançamentos para clientes desses países, os principais do mercado mundial. A essas nações, portanto, não interessa a presença de um novo concorrente, em condições geográficas vantajosas.

O governo brasileiro também convive com entraves administrativos para “adaptar os projetos inéditos e complexos em desenvolvimento na Ucrânia às normas construtivas
brasileiras”, informa o Ministério da Ciência e Tecnologia.

O que há hoje é um empreendimento em franca expansão no município de Alcântara, com maquinário pesado ucraniano desembarcando no porto da cidade. Também há cooperação técnica Brasil-Ucrânia na implementação de itens no centro de lançamento, comprados na Ucrânia com dinheiro brasileiro. Há, sim, chance de o Cyclone-4 só mandar ao espaço satélites brasileiros e ucranianos. Mas nem o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que opera o programa de satélites do Brasil, tem planos para contratar o foguete, que oferece mais capacidade do que a exigida pelos projetos de satélites desenvolvidos no país.

Fonte: O Globo.
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domingo, 6 de janeiro de 2013

Tecnologia & Defesa n.º 131



Está chegando às bancas o número 131 da revista Tecnologia & Defesa, com várias reportagens e conteúdos exclusivos. Destacamos abaixo os principais:

- Lançadores Espaciais, os objetivos do Brasil
- Navios de Propósitos Múltiplos
- A modernização dos blindados M-113 do Exército Brasileiro
- Novidades da Taurus
- Cobertura da Euronaval 2012
- Esquadrilha da Fumaça: do T-27 ao A-29
- I-Mast, inovação para navios de combate
- Operação Atlântico III
- Coluna Defesa & Negócios

Das recentes edições de Tecnologia & Defesa, esta é a de conteúdo mais espacial. A matéria de capa (a arte - um VLS-1 - foi produzida especialmente para a capa) é sobre os planos brasileiros no campo de lançadores, abordando os programas do Veículo Lançador de Satélites - VLS e do Veículo Lançador de Microssatélites - VLM, o programa Cruzeiro do Sul, dentre outras iniciativas. Na coluna Defesa & Negócios, assinada por este que vos escreve, há ainda uma nota sobre o lançamento do Star One C3 e o mercado de comunicações por satélite na América do Sul.
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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

GPS chinês: artigo de José Monserrat Filho


China lança GPS próprio e avança como potência espacial

José Monserrat Filho *

O Sistema de Navegação e Posicionamento da China, batizado de Beidou – Ursa Maior, em chinês – e de Compass, em inglês (bússola, em português), entrou em operação no dia 27 de dezembro, com serviços públicos e comerciais para a região Ásia-Pacífico, inclusive a Austrália.

O Beidou começou a ser construído no ano 2000 e tem hoje 16 satélites de navegação e quatro satélites experimentais. Oferece precisão de posicionamento de 10 metros e velocidade de 0,2 metros por segundo. Sincroniza os relógios com precisão de 50 nano-segundos. Isso é fundamental para guiar mísseis, dando-lhe vantagem sobre os outros sistemas existentes.

Definido oficialmente como uma das “indústrias estratégicas emergentes” da China, sua meta para 2020 é prestar serviços globais de posicionamento, navegação e cronometragem, com 35 satélites. Quer dizer, disputar o mercado global com os outros sistemas.

Por enquanto, porém, abocanhar os 95% do mercado nacional, hoje dominados pelo GPS (Global Positioning System – Sistema Global de Posicionamento) dos Estados Unidos, já está de bom tamanho. “A China tem grande mercado interno, para onde o sistema Beidou pode levar benefícios  tanto a militares quanto a civis”, afirmou o jornal China Daily.

Aqui, vale o depoimento de Cao Hongjie, vice-presidente da UniStrong, empresa prestadora de serviços globais de navegação por satélite. Ele contou que sua empresa, quando usava o GPS, embora o serviço fosse bom, não se arriscava a desenvolver chips com base nesse sistema, por temer que, de repente, os EUA o desligassem”. E lembrou que os investimentos para se desenvolver um chip são consideráveis. Agora com o Beidou, disse Cao, poderemos desenvolver mais serviços com total segurança. Isso explica muito do sucesso interno do Beidou na China.

Só um caso de rivalidade? – A mídia ocidental tornou a repetir: o Beidou, controlado pelas Forças Armadas chinesas, vem rivalizar com o GPS – criado em 1973 como instrumento militar até hoje operado pelo Pentágono, o Departamento de Defesa norte-americano.

Morris Jones, analista australiano de questões espaciais, considera “improvável” que a China realize “incursões significativas” com seu Beidou em qualquer lugar fora do país. Ele disse à AFP que “o GPS está disponível de graça, é grandemente utilizado, bem conhecido e confiável para o mundo em geral; tem o reconhecimento da marca e, com sucesso, já lutou contra outros desafios”. Para Morris, qualquer ganho comercial do Beidou será para a China como “a cereja do bolo”, pois o novo sistema foi desenvolvido principalmente para proteger a segurança nacional.

Pode até ser. Mas entra pelos olhos a realidade de um mercado para produtos e serviços de navegação e posicionamento de satélites (GNSS) estimado em 124 bilhões de euros (164 bilhões de dólares), em 2008, segundo avaliação de impacto elaborada por um grupo do trabalho da Comissão Europeia, publicado em junho de 2010. Com a agravante de que esse valor poderá dobrar até 2030.

De olho no mercado global dos próximos dez anos, a China tenciona aplicar mais de 40 bilhões de yuans (6,4 bilhões de dólares) no desenvolvimento do Beidou, investimento bem maior que o feito até hoje, frisou o diretor do Escritório Chinês de Navegação por Satélite Ran Chengqi.

O GPS custou 10 bilhões de dólares e só começou a operar por inteiro em 1995. É uma constelação de 24 satélites. Cada um circunda a Terra duas vezes por dia, a uma altura de 20.200km. Assim, a qualquer momento, pelo menos quatro deles são visíveis de qualquer ponto da Terra. Sua precisão de posicionamento é de 20 metros (enquanto a do Beidou é de 10 metros, como vimos).

Antes do Beidou, o GPS já tinha dois outros rivais: o GLONASS, da ex-União Soviética e depois Federação Russa, e o Galileo, da União Europeia. O uso do GPS generalizou-se pelo mundo, mas receia-se que o sistema norte-americano seja, de repente, desligado por decisão militar unilateral, como aconteceu durante as guerras no Iraque. As outras grandes potências tendem a não aceitar essa situação de insegurança e dependência numa área tão estratégica.

Cabe citar mais dois sistemas nacionais, o da Índia (IRNSS) e o do Japão (QZSS), ambos de atuação apenas doméstica.

O GLONASS (Globalnaya Navigatsionnaya Sputnikovaya Sistema, em russo) começou a ser criado em 1976 pela então URSS e teve sua constelação concluída pela Federação Russa, em 1995, mesmo ano em que o GPS passou a funcionar a todo o vapor. Hoje, o GLONASS consome um terço do orçamento espacial russo. Já assinou acordo e se instalou na Universidade de Brasília, e atua no Brasil, sobretudo em São Paulo, com notória agilidade comercial.

A cooperação Brasil-Rússia em torno do GLONASS ganhou destaque nos atos assinados durante a visita da Presidenta Dilma Rousseff a Moscou, em 14 de dezembro de 2012. Ficou lavrado que os Presidentes dos dois países “estimularão (…) suas agências governamentais e institutos de pesquisa a estudar a possível ampliação da participação brasileira no desenvolvimento e uso do sistema de navegação por satélites GLONASS, tal como estabelecido no Programa de Cooperação entre a Agência Espacial da Federação da Rússia (Roskosmos) e a Agência Espacial Brasileira (AEB), firmado em 15 de fevereiro de 2012.

O GPS e o GLONASS são, claro, filhos da Guerra Fria, ou seja, têm origem e controle militar. Ambos dispõem de 24 satélites, mas os do GLONASS são distribuídos de modo equidistante em três níveis orbitais com oito satélites em cada um. A mais recente versão, o GLONASS K, completou a necessária cobertura global só em outubro de 2011. Sua vantagem, na comparação com os outros sistemas, é de ser gratuito na resolução máxima, em decímetros. O Galileo deverá cobrar tarifa de precisão ao iniciar suas operações, previstas para o  ano de 2017.

O Galileo foi idealizado como projeto civil, ao contrário do GPS, GLONASS e Beidou. E acena com vantagens relevantes: maior precisão (a confirmar em testes), maior segurança (poderá transmitir e confirmar pedidos de ajuda em emergências) e menos propensão a problemas (pode testar automaticamente sua própria integridade). E mais: poderá operar em conjunto com os outros dois sistemas já existentes, o GPS e o GLONASS, ampliando a cobertura de satélites.

O Galileo terá 30 satélites. Na realidade, 27, pois três deles ficarão em reserva para casos de necessidade. Quando estiver em ação, o sistema terá dois centros de controle, um perto de Munique, na Alemanha, e outro em Fucino, na Itália. Só para tornar o Galileo operacional, agora em 2013, foi requerida a verba adicional de 1,9 bilhão de euros (2,51 bilhões dólares). Isso significa que o sistema europeu, no final das contas, deverá custar algumas vezes essa quantia.

As oportunidades de mercado parecem amplas e variadas. A Comissão Europeia trabalha em seis áreas prioritárias identificadas na já referida avaliação de impacto que acompanha seu Plano de Ação sobre aplicações dos sistemas globais de navegação por satélites: aplicativos para celulares e telefones móveis; transporte rodoviário; aviação; transporte marítimo; agricultura de precisão e proteção do meio ambiente; proteção civil e vigilância.

O Beidou, em verdade, é capítulo essencial de um programa espacial bem maior e mais ambicioso, que inclui a construção de uma estação espacial até o final da década e ainda o plano eventual de enviar uma missão tripulada à Lua.

A China, país mais populoso do mundo, ainda tem cerca de 400 milhões de habitantes para retirar da pobreza e da miséria, e incluir no mercado interno, como já fez com outros 300 milhões. O país cresceu como nenhum outro nos últimos 20/30 anos e hoje cresce a um ritmo menor, mas ainda invejável. Continua atrás dos EUA e da Rússia em campos estratégicos como o espacial, mas deles se aproxima rapidamente.

De quantos GNSS o planeta precisa? “Logicamente, apenas um único GNSS é preciso. Vários provedores utilizam desnecessariamente o espectro de radiofrequência, seus satélites ocupam posições orbitais e seus lançamentos podem muito bem aumentar o problema do lixo espacial. Mas defender o funcionamento de apenas um sistema é ignorar realidades históricas, políticas e econômicas. Há razões militares para a existência do GPS, do GLONASS e do Beidou mas a economia e a política também são relevantes e certamente estão presentes no Galileo civil. No entanto, à medida que cresce a dependência do GNSS, há vantagens na multiplicidade de sistemas. Em havendo interoperabilidade, ou podendo os usuários acessarem mais de um sistema, cria-se uma redundância útil. O GNSS é inerentemente frágil. O lixo espacial pode abater satélites, assim como podem fazê-lo as tempestades solares. Essas últimas, junto com interferências terrestres, naturais ou artificiais, também podem desintegrar um GNSS ou um sinal ampliado,” escrevem o escocês Francis Lyal e o norte-americano Paul B. Larsen.¹

Dilema do século XXI – Ocorre que uma coisa é haver vários sistemas interligados em redes parceiras, capazes de ser acessados e operados simultaneamente em benefício geral; outra coisa é haver, como hoje, sistemas prontos para entrarem em ação num conflito militar de consequências imprevisíveis, movimentando até armas de destruição em massa – de que ainda temos em quantidade demencial (19 mil ogivas nucleares existem atualmente no mundo, sem falar nos estoques de armas químicas).

A crescente e já imensa utilidade pacífica da navegação e posicionamento por satélite permite supor que ainda neste século poderemos alcançar um nível de cooperação internacional capaz de nos livrar das guerras e catástrofes de extermínio em massa. Ou será que só nos resta o 21 de dezembro de 2012 da previsão maia, apenas adiado para um futuro “mais favorável”?

* Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB)

1) Lyall, Francis, and Larsen, Paul B, Space Law – A Treatise, England: Ashgate, 2009, p. 401
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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Cooperação Brasil - Eslovênia


Eslovênia planeja cooperar com Brasil em CT&I e Espaço

José Monserrat Filho *

A Eslovênia é um pequeno grande país no Leste da Europa, vizinho da Áustria ao norte, da Hungria à leste, da Croácia à leste e ao sul, e da Itália e do Mar Adriático a oeste. Tem 20.273 km², mais de dois milhões de habitantes, um PIB estimado em US$ 48 milhões e um PIB per capita de cerca de US$ 25,6 mil, o que lhe confere o confortável 29º lugar neste ranking.

De história milenar, a Eslovênia já fez parte do Império Romano, do Império Bizantino, da República de Veneza, do Ducado da Carantania, do Sacro Império Romano-Germânico, da Monarquia de Habsburgo, do Império Austríaco, do Império Áustro-Húngaro, do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, do Reino da Iugoslávia e da República Socialista Federativa da Iugoslávia. Em 1991, conseguiu, enfim, tornar-se independente.

Sua capital, a bela Liubliana, com 272 mil habitantes, é a maior cidade do país. A Eslovênia é membro da União Europeia (UE) desde 2004, da Zona do Euro, da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), do Conselho da Europa e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A maior parte da população fala esloveno, do grupo de línguas eslavas. O húngaro e o italiano também são reconhecidas como línguas oficiais em áreas de fronteira.

Desenvolvimento científico e tecnológico – O avanço da Eslovênia em CT&I é destaque na Europa. O país conta com apreciável malha de Centros de Excelência (CEs), constituídos em sua maior parte com recursos da UE. Os CEs coordenam redes de pesquisa apoiadas nas mais renomadas instituições e em numerosas empresas eslovenas, tendo em vista a relevância conferida à orientação industrial e comercial das pesquisas científicas.

Os Centros de Excelência são nada menos de oito:

1) CE Materiais Polímeros (POLIMAT);

2) CE para Ciências e Tecnologias Espaciais (SPACE-SI);

3) CE para Nanociência e Nanotecnologia (Nanocenter);

4) CE para Materiais Avançados e Tecnologias do Futuro (NAMASTE);

5) CE para Abordagens Integradas em Química e Biologia das Proteínas (CIPKeBiP);

6) CE para Biosensores, Instrumentalização e Controle de Processos (COBIK);

7) CE para ressonância magnética e biologia sintética (EN-FIST); e

8) CE para Tecnologias de Baixo Carbono (CO NOT).

Apresentação dos Centros de Exclência – Recentemente, em 17 de dezembro, a Diretoria-Geral para a Diplomacia Econômica da Chancelaria da Eslovênia, promoveu, no Parque Tecnológico de Liubliana, uma grande apresentação de todos os Centros de Excelência, de suas avanços e os problemas que eles enfrentam hoje.

O evento foi presidido pelo Ministro da Educação, Ciência, Cultura e Esportes, Ziga Turk, e teve a presença do Conselheiro do Primeiro Ministro para a Diplomacia Econômica, Tone Kajzer. O Encarregado de Negócios do Brasil na Eslovênia, André Makarenko, participou do encontro e preparou um informe a respeito, que serviu de base para este texto

O Ministro Turk enfatizou a competitividade da área científica e tecnológica do país e o grau de excelência atingido em vários nichos de pesquisa. Elogiou o alto nível de produtividade dos pesquisadores eslovenos, que têm uma das maiores taxas per capita de publicações de artigos científicos em todo o mundo. Mencionou também o caráter inovador das propostas da comunidade acadêmica e louvou a criação dos CEs que hoje reúnem a elite da C&T.

Eslovênia quer 3% do PIB para CT&I – O titular da Pasta da Ciência e Educação destacou ainda os esforços do atual governo para aumentar os investimentos em P&D, a fim de alcançarem 3% do PIB esloveno anual. A meta oficial é cobrir um terço desses investimentos com recursos públicos e promover, via inventivos fiscais, a participação de empresas privadas para responderem pelos dois terços restantes. As medidas de atração de investimentos para o setor compensariam, segundo o Ministro Turk, a relativa estagnação das verbas estatais, resultante da política de austeridade orçamentária defendida pelo Governo. A estratégia, além disso, contribuiria para aumentar a integração entre a ciência e a indústria.

O Ministro Turk reconheceu uma das falhas da política científica eslovena: o tímido impacto econômico dos investimentos em C&T. O fato é visível em muitos países, inclusive no Brasil, onde se tem feito um grande esforço para mudar a situação,

Incrementar a integração entre ciência e indústria – Ainda que a qualidade dos CEs da Eslovênia seja reconhecida mundialmente, essa conquista  ainda não se materializou em ganhos de competitividade industrial. Daí a prioridade atribuída pelo Ministro Turk à maior interação entre as comunidades científica e industrial. Os CEs seriam o  passo decisivo nessa direção. Comprovariam a viabilidade da ideia de converter a pequena e brava Eslovênia numa importante plataforma industrial de alta tecnologia bem no coração da Europa.

Internacionalização – Para tanto, disse o Ministro, é preciso ampliar o grau de internacionalização dos CEs. Ele lamentou que ainda são baixos os índices de baixos índices de mobilidade internacional dos cientistas eslovenos e de participação do capital estrangeiro em projetos de pesquisa na Eslovênia. E prometeu priorizar a criação de parcerias com centros de pesquisas no exterior e a formação de equipes científicas internacionais no país.

Além disso, considerando que os projetos com parceiros da UE já recebem financiamento da comunidade europeia, ele anunciou que passará a enfatizar o uso dos recursos próprios da Eslovenia no processo de internacionalização dos meios científicos dando prioridade a projetos desenvolvidos com instituições não-europeias.

Interesse pelo Brasil – Após as intervenções do Ministro Turk e dos dirigentes dos CEs, muitos deles procuraram o Encarregado de Negócios do Brasil para expressar interesse em cooperar com instituições brasileiras ou em estimular empresas “spin-offs” a atuarem no mercado nacional.

Representantes do NAMASTE (materiais polímeros) e do POLIMAT (materiais avançados e tecnologias do Futuro) integraram a missão eslovena de CT&I e de empresas que visitou São Paulo em junho passado. O NAMASTE já contatou a USP e busca aprofundar laços com institutos de química no Brasil. A POLIMAT está interessada em possível cooperação com a EMBRAPA. Seu primeiro “spin-off” seria um fertilizante de longa duração, a ser introduzido no mercado brasileiro.

Cooperação espacial – O Diretor do SPACE-SI contou ao Encarregado de Negócios do Brasil ter visitado várias vezes o Brasil, tendo encontros no INPE e na empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS). E sublinhou de seu interesse de lançar micro satélites eslovenos a partir do Centro de Alcântara (CLA), no Maranhão, de envolver as instituições eslovenas em projetos binacionais com o setor espacial brasileiro, além de passar a receber, no centro esloveno de recepção de dados de satélites, imagens do novo Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS-3), a ser lançado em 2013. Por tudo isso, é recomendável estabelecer um contato entre o SPACE-SI e a Agência Espacial Brasileia (AEB), visando um possível processo de cooperação.

Boas perspectivas Brasil-Eslovênia – A quantidade de patentes e projetos inovadores produzidos pelos CEs, em áreas prioritárias para o Brasil, como as listadas no Programa Ciência sem Fronteiras, reforça, segundo o Encarregado de Negócios André Makarenko, a percepção da Embaixada do Brasil em Liubliana de que parecem oportunas e importantes as iniciativas no sentido de ampliar e aprofundar os laços científicos, tecnológicos e industriais entre o Brasil e a Eslovênia.

* Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB)
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