sexta-feira, 9 de abril de 2010

Programa Espacial no Correio Popular

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Brasil quer conquistar o seu lugar no espaço

09/04/2010

O governo brasileiro vai dar o primeiro passo para entrar no mercado de lançamento comercial de satélites, com a construção de um segundo sítio para o lançamento de foguetes de médio porte no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, previsto para ser entregue em 2011. Até agora, os lançamentos feitos a partir do CLA eram de equipamentos de teste e pesquisa. O plano prevê que o foguete Cyclone 4, um veículo lançador de satélite (VLS), construído pela empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), que tem a Ucrânia como parceira, esteja pronto no ano que vem, quando inicia os testes necessários para os lançamentos comerciais.

O governo mostrou que os setores nuclear, espacial e de tecnologia da informação estão sendo tratados como estratégia nacional. Se continuar assim, em pouco tempo o Brasil terá dois sítios com condições favoráveis para lançar foguetes , diz o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem.

O segundo sítio será erguido em uma área da base cedida pela Aeronáutica e a construção vai consumir recursos de US$ 247 milhões. Esperamos que tudo esteja pronto em 2011 , prevê.

O Brasil também está construindo o Veículo Lançador de Satélite (VLS)1 para substituir o VLS, que explodiu em 2003 e matou 21 pessoas. O Cyclone 4 coloca em órbita satélites de médio e grande porte, com cargas de até 5 mil quilos. A família de foguetes Cyclone tem uma história de sucesso no lançamento de satélites. Foram lançados 223 satélites sem falhas, diz Ganem.

Vários cientistas brasileiros e de outros países trabalham na construção do VLS 1. A previsão da agência é de que ele fique pronto em 2011. O veículo começará a ser testado em 2012 e no ano seguinte está previsto um voo com carga em caráter experimental. Somente em 2014 é que os lançamentos poderão ser feitos. O foguete terá capacidade para colocar em órbita objetos de até 400kg.

O mercado mundial de lançamento de satélites movimentou US$ 280 bilhões em 2008 [nota do blog: este valor não condiz com a realidade. Grosso modo, o mercado de lançamento de satélites movimenta pouco mais de US$ 2 bilhões por ano]. Se o Brasil trabalhar pensando também no lado comercial, poderá conquistar até 10% desse mercado, avalia Ganem. Apesar de ainda engatinhar no setor de tecnologia espacial, o País pode ocupar posição de destaque. Os centros de lançamento daqui estão em posição privilegiada e têm uma vantagem geográfica porque estão próximos da linha do Equador e ao lado do oceano , explica.

Essas vantagens se traduzem em qualidade de lançamento e uma economia de até 30% no uso de combustível. Cada lançamento feito com o VLS 1 pode render ao Brasil US$ 10 milhões, estima o presidente da AEB. Os lançamentos feitos pelo Cyclone 4 podem chegar a US$ 50 milhões , diz.

No último ano, o governo brasileiro intensificou os investimentos no setor espacial.

Em 2009 foram investidos R$ 85 milhões no CLA e reforma do Centro de Lançamento Barreira do Inferno. Este ano, os investimentos serão de R$ 160 milhões , diz Ganem. No ano passado, foi construída uma moderna sala de controle para o lançamento, a pista de aviação da base foi recuperada e a estrada que leva ao centro foi reformada. Ainda serão feitos investimentos em hotelaria para hospedar as pessoas que vierem à cidade para o lançamento , comenta.

Estratégia e desenvolvimento

Ganem destaca a importância do investimento no programa espacial para o desenvolvimento do Brasil. Quando uma criança é operada num local distante do Acre via satélite, estamos falando do espaço. O tráfego aéreo, as comunicações de uma forma geral e a previsão do tempo, necessária para evitar tragédias como a que ocorreu no Rio de Janeiro, são algumas das infinitas aplicações , comenta.

Segundo o presidente da AEB, o programa espacial brasileiro é essencial para a população brasileira.

Ele é importante para a saúde, educação, dá suporte para várias pesquisas e para a rede de pesquisas nacional. É a única maneira de olhar o Brasil por inteiro, o que é vital para um país com as dimensões do nosso , diz.

Pnae investe na reforma do Centro Barreira do Inferno

Parte da verba destinada ao Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae) foi aplicada na reforma e modernização do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), localizado em Parnamirim, no Rio Grande do Norte. Este ano, serão investidos R$ 6 milhões em projetos de modernização dos sistemas de preparação, lançamento e rastreio. As melhorias já realizadas incluem reformas de equipamentos e novas instalações. Segundo a Agência Espacial Brasileira (AEB), estão previstas reformas no Lançador Universal, ampliação da casamata e construção do prédio de montagem de motores, de um laboratório para experimentos científicos e de outro prédio de apoio. O Lançador Universal atende à grande maioria dos foguetes suborbitais espalhados pelo mundo, com capacidade para lançamentos de até 12 toneladas. A sua reforma abre portas para que a comunidade internacional utilize o sítio. As obras devem estar concluídas este ano, quando está previsto o lançamento do VSB-30.

SAIBA MAIS

O Brasil tem três satélites em órbita. O SCD 1 e SCD captam informações ambientais de centenas de estações espalhadas pelo País. O CBERS-2B, fabricado em parceria com a China, ajuda a monitorar o desmatamento da Amazônia.

Outros satélites estão sendo desenvolvidos no programa espacial. O Amazônia-1, explica o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem, terá uma câmera com maior ângulo de visão do que o CBERS. O outro equipamento, denominado Lattes, irá analisar partículas nocivas do espaço.

O NÚMERO: 440 FOGUETES

Foram lançados a partir do Centro de Lançamento de Alcântara desde a sua inauguração, em 1989.

Estudantes de universidades desenvolvem projeto Itasat

O Brasil deve lançar em 2012 o primeiro satélite produzido com participação de estudantes. Batizado de Itasat, o equipamento ajudará na transmissão de dados ambientais e está sendo desenvolvido por estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O projeto é coordenado pela Agência Espacial Brasileira (AEB) e tem como objetivo formar profissionais habilitados a desenvolver tecnologia aeroespacial.

O equipamento fornecerá informações para diversos fins, como meteorologia, telecomunicações, meio ambiente e operação de sistemas. Com um orçamento de R$ 5 milhões, o Itasat deve pesar cerca de 85 kg e será colocado em órbita baixa (até 600km de altitude). Ele deve ficar em órbita por cerca de um ano e a cada 90 minutos dará uma volta completa no planeta.

Uma equipe de cinco cientistas da Unicamp, coordenada pelo professor Yuzo Iano, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), trabalha com processamento digital de sinais e definição de codificação no projeto Itasat. Do satélite para os receptores brasileiros, as imagens precisam ser protegidas dos ruídos gerados termicamente. Otimizar o tempo de transmissão das imagens é um dos desafios do grupo.

Os pesquisadores trabalham com a codificação do canal, o percurso da imagem a partir do satélite até alcançar a antena de recepção, e da fonte, o transmissor instalado no Itasat. A codificação é usada para preservar o conteúdo do sinal. (AAN) Pesquisa avalia uso de etanol como combustível Cientistas do IAE estudam e testam propulsores de foguetes que utilizam propelentes líquidos Além das pesquisas para a construção de satélites e de veículos lançadores, cientistas do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) desenvolvem um programa de pesquisa em propulsão líquida, que tem como base o etanol nacional. O objetivo é desenvolver combustível para foguetes mais seguro que o combustível à base de hidrazina empregado atualmente. Liderado pelo engenheiro José Miraglia, professor da Faculdade de Tecnologia da Informação (FIAP), o grupo de cientistas se uniu para desenvolver propulsores de foguetes que utilizem propelentes líquidos e testar tais combustíveis.

Os propelentes líquidos usados atualmente no Brasil estão restritos à aplicação no controle de altitude de satélites e à injeção orbital. Eles têm como base a hidrazina e o tetróxido de nitrogênio, ambos importados, caros e tóxicos , disse Miraglia.

Na primeira fase do projeto, o grupo testou motores e foguetes de propulsão líquida com impulso de 10 newtons (N), com o objetivo de avaliar propelentes líquidos pré-misturados à base de peróxido de hidrogênio combinado com etanol ou querosene. Cada newton equivale a um quilo acelerado a um metro por segundo ao quadrado. Os testes mostraram que o projeto é viável tecnicamente. Os propulsores movidos com uma mistura de peróxido de hidrogênio e etanol, ambos produzidos em larga escala no Brasil e a baixo custo, apresentaram o melhor rendimento , disse.

Segundo Miraglia, a mistura apresenta algumas vantagens em relação à hidrazina e ao tetróxido de nitrogênio, usados atualmente. O peróxido de hidrogênio misturado com etanol apresenta densidade maior do que a maioria dos propelentes líquidos, necessitando de menor volume de reservatório e, consequentemente, de menor massa de satélite ou do veículo lançador, além de ser compatível com materiais como alumínio e aço inox , explicou.

Na segunda fase do projeto, o grupo pretende construir dois motores para foguetes de maior porte, com 100N e 1.000N. Nossa intenção é construir um foguete suborbital de sondagem que atinja os 100 quilômetros de altitude e sirva para demonstrar a tecnologia , disse.

O grupo também pretende produzir motores para foguetes de sondagem que tenham baixo custo.

Eles seriam importantes para as universidades, com aplicações em estudos em microgravidade e pesquisas atmosféricas, por exemplo , disse Miraglia.

Fonte: Correio Popular (Campinas, SP), via website da AEB.

Comentários: alguns pontos nesta reportagem que chamam mais a atenção. É curiosa a insistência de autoridades em afirmar que até 2011 o sítio de lançamentos da ACS em Alcântara estará pronto. A reportagem menciona o valor do investimento (US$ 247 milhões) para a construção do novo sítio, que, aliás, nem sequer foi iniciada. Apenas a título de exemplo, a infraestrutura necessária para a operação do lançador russo Soyuz ST em Kourou, na vizinha Guiana Francesa (centro espacial bem maior e mais moderno que o CLA), está em construção há vários anos.

Outro ponto também curioso da matéria é a afirmação, atribuída a Carlos Ganem, presidente da AEB, de que a família Cyclone colocou 223 satélites em órbita sem falhas ("Foram lançados 223 satélites sem falhas"). Seria conveniente saber a base desta afirmação, uma vez que segundo a "Encyclopedia Astronautica", fonte de referência em matéria de veículos e artefatos espaciais, foram executados mais de 400 lançamentos da família Cyclone (Tsyklon), com dezenas de falhas. Diga-se de passagem, falhas com foguetes são bastante naturais, sendo raros os lançadores que acumulam um elevado número de missões sem falhas em seus históricos. Importa ressaltar que o número inclui todas as diferentes versões do Cyclone, inclusive aquelas desenvolvidas como mísseis intercontinentais da época da Guerra Fria, que diferem bastante do Cyclone 4, que será uma nova versão, mais moderna e capaz. A versão mais próxima do 4, o Cyclone 3, já realizou 121 lançamentos, com 10 falhas.

Afirma-se também que o frete de lançamento de um VLS-1 pode chegar a US$ 10 milhões, o que é, de fato, preço de mercado para esta categoria de foguete. O ponto crítico desta afirmação, porém, é tentar considerar o VLS-1, por si só, como apto a disputar o mercado comercial, algo que definitivamente, por razões inclusive técnicas, não reflete a realidade.
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Um comentário:

phobus disse...

Nossos administradores continuam a pensar pequeno e com falta de civismo para uma Nação Continental que nos foi legada dos nossos antepassados, imigrantes das diversas partes do mundo, com ousadia, muita luta e sangue.Politicas equivocadas de discriminações de nacionais conforme suas origens antepassadas, enfraquecendo a formação da Nação Brasileira, seguindo subservientemente a cartilha das potencias. O Brasil já deveria estar em seu lugar de direito dentre as quatro grandes potencias nucleares soberanas,as quais investem bilhões nas areas de tecnologias de interesse e segurança de Estado Soberano. As relações internacionais são entre lobos e hienas sendentos de poder e riquezas,e administradores cordeiros cedo ou tarde cedem aos interesses, que já causaram conflitos, invasões e fragmentações de nações que não possuiam força psersuasiva e que acreditavam em flores enfretando canhões.