sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Notícias da ACS e do Cyclone 4

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O blog "On Space", da publicação Aviation Week & Space Technology, recentemente publicou uma pequena nota ("Ukraine, Brazil Prepare for 2015 Cyclone 4 Launch") sobre o projeto binacional da Alcântara Cyclone Space (ACS), que tem por objetivo explorar comercialmente o foguete Cyclone 4 a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão.

Em sua maioria, as informações citadas na postagem não são novas, mas há algumas interessantes. O texto, que cita o diretor comercial da ACS, Sergiy Gunchenkov, fala sobre a ideia de, gradualmente, aumentar a performance do Cyclone 4 para 2.200 kg (hoje, próxima de 1.700 kg) em órbita de transferência geoestacionária (GTO), a um custo por lançamento entre 50 e 55 milhões de dólares. Não há, porém, qualquer comentário sobre como esta performance poderia ser aprimorada. No passado, foi considerada a ideia da utilização de propulsores de combustível sólido S43, que equipam o VLS-1, como strap-on boosters no primeiro estágio do lançador ucraniano (ver a postagem "Booster S43 para o Cyclone 4: uma possibilidade", de maio de 2010). Obviamente, tal aprimoramento teria um custo nada desprezível.

Missões em órbita baixa como nicho?

"Originalmente, nós estávamos planejando enfocar em LEO [low earth orbit, órbita baixa) apenas. Mas agora, como estamos vendo o crescimento dos satélites de propulsão elétrica, estamos trabalhando para aumentar a capacidade de carga,", disse Gunchenkov. A afirmação é, no mínimo, curiosa.

Muito embora o plano de negócios da binacional jamais tenha sido divulgado ao público, a origem da ACS levou em especial consideração o segmento de satélites geoestacionários. Considerou também missões no segmento MEO (medium earth orbit), particularmente por causa de constelações como das redes Iridium, Globalstar e, mais recentemente, O3b. Fato é que, se realmente a ACS tivesse considerado desde o início o nicho LEO, teria havido, no mínimo, uma falha de marketing ao se enfatizar sua capacidade em missões GTO (1.600 a 1.800 kg), e não no segmento LEO (5.500 kg em órbita circular a 500 km de altitude).

Aliás, se o nicho de lançamentos geoestacionários já é bastante complicado, não se pode afirmar algo diferente do segmento de órbita baixa. De fato, há muito mais concorrência neste nicho, com operadores europeus (Vega), russos (Dnepr, Rockot), chineses (Longa Marcha), americanos (SpaceX, Orbital, etc.), indianos (PSLV), entre outros. E algo que conta desfavoravelmente ao Cyclone 4 é sua capacidade para missões LEO, superior a 5.000 kg, exigindo satélites de grande porte nesta faixa de órbita (algo ultimamente bastante raro), ou voos com múltiplas cargas úteis.

Voo em 2015?

Ainda, de acordo com a nota, a infraestrutura para a operação do Cyclone 4 em Alcântara encontra-se 48% completa. A expectativa da ACS é que a construção do sítio espacial seja finalizada no ano que vem, com testes em solo com o lançador previstos para o início de 2015, e um lançamento no final do mesmo ano. O desenvolvimento do veículo lançador, aliás, já teria atingido 76% de execução, com 73% do total de testes já realizados.

Segundo as últimas notícias publicadas, as obras civis no CLA continuam paralisadas e, ao menos, publicamente, não há informações sobre sua retomada. Ainda, havia expectativa de que na visita de Estado da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos, programada para outubro e cancelada em razão do imbróglio de espionagem, seria finalmente assinado um acordo de salvaguardas tecnológicas entre os dois países. Este acordo, em tese, viabilizaria que satélites norte-americanos ou com componentes de origem americana pudessem ser lançados a partir do centro brasileiro.
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