segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

"Visiona se prepara para o futuro"

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Visiona se prepara para o futuro

André M. Mileski

Criada em maio de 2012, a Visiona Tecnologia Espacial, joint-venture entre a Embraer e a estatal de telecomunicações Telebras, está prestes a concluir o projeto que lhe deu origem, o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), programado para lançamento ao espaço no início de 2017.

Eduardo Bonini, engenheiro de carreira na Embraer e presidente da Visiona desde fevereiro de 2014, recebeu a reportagem de Tecnologia & Defesa para uma conversa sobre o momento da companhia e projetos para o futuro, como novas missões de satélites e serviços de imagens.

SGDC

Dotado de cargas úteis para atender as demandas em comunicações do Ministério da Defesa e do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), o SGDC já foi concluído por seu fabricante e tem lançamento para o 1º trimestre de 2017. No momento, a Visiona trabalha nos preparativos da campanha de lançamento, que será realizada a partir de Kourou, na Guiana Francesa - de fato, no dia da entrevista para T&D, Bonini receberia uma equipe da Arianespace, responsável pelo lançamento, para tratar de aspectos logísticos da campanha.

Nesse meio tempo, a empresa já visualiza futuras unidades do SGDC. Segundo Bonini, o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) para o período de 2012 – 2021 considera três satélites geoestacionários de comunicações, mas decisão sobre a contratação de novos satélites, porém, é sempre do cliente, frisou. “Quem define a necessidade é o nosso cliente final. Qual é a demanda, quando satura a demanda”, algo a ser definido de acordo com o plano de negócios da Telebras. Levando-se em conta um ciclo médio de cerca de três anos para a definição da missão e sua colocação em órbita, Bonini tem a expectativa de que o processo de discussões com o cliente seja iniciado em breve, já em 2017.

O programa SGDC proporcionou a capacitação de uma equipe de Engenharia, com idade média de 29 anos, formada por um mix de engenheiros experientes, egressos principalmente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e por jovens recém-formados em universidades brasileiras e capacitados pela Thales Alenia Space, fabricante do satélite, na França. Com a proximidade da operação do SGDC, esse contingente estará disponível para novos projetos.

Novas missões de satélites

No aguardo de decisões do governo e consequentes viabilizações orçamentárias, a equipe de Engenharia da Visiona tem trabalhado na concepção de novas missões de satélites, com enfoque em coleta de dados e observação terrestre, em iniciativas inseridas no PNAE, no Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), do Ministério da Defesa, e noutras demandas governamentais.

A empresa planeja ter uma plataforma multiuso para satélites de pequeno porte, que traria ganhos de escala, e que poderia ser utilizada para missões como de observação, coleta de dados, entre outras. “Nossa ideia é, em parceria, adquirir tecnologia para fabricar algo localmente.”

Dentre as missões consideradas estão a do SCD-HIDRO, na qual a empresa trabalha desde 2013, visando atender o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCDA), do INPE, e o TERRASat, anteriormente conhecido como Incrasat. O TERRASat envolve o desenvolvimento de um satélite de resolução bastante alta, submétrica (0,5 metro), para atender as demandas por imagens do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). O plano inicial era ter um contrato assinado em meados de 2016, mas por conta da crise política e instabilidade financeira, houve atraso e necessidade de se atrair outros clientes governamentais para a viabilização da missão. Segundo o executivo, há no momento um grupo de trabalho com representantes de vários ministérios e da Agência Espacial Brasileira (AEB) atuando na concepção do projeto.

Questionado sobre o segmento de meteorologia, talvez uma das maiores dependências e vulnerabilidades em espaço do Brasil hoje, Eduardo Bonini disse que a Visiona já foi estimulada a desenvolver uma solução de satélite para atender essa necessidade, tendo concebido a ideia de um satélite com órbita de 20 mil km, dotado de um sensor radar meteorológico que poderia ser desenvolvido e construído no País pela BRADAR, empresa do grupo Embraer especializada em tecnologia de radares.

Em matéria de tecnologias críticas, parte da equipe de Engenharia da Visiona trabalha com discrição no desenvolvimento de capacidades em sistemas de controle de atitude e órbita, conhecidos pela sigla AOCS (em inglês, Attitude and Orbit Control System), campo em que o Brasil está bastante atrasado. De acordo com Bonini, há alguns anos houve a decisão da empresa de investir parte dos seus resultados no desenvolvimento de uma solução local, criada com base na tecnologia de um parceiro internacional. O desenvolvimento do software, crítico para o controle da posição e movimentos de satélites, encontra-se em fase avançada, com testes de bancada e mesmo no espaço já no horizonte. Existe a possibilidade de ter um software embarcado no cubesat SERPENS-3, para testes, em 2018. “Trabalhamos em uma solução que já existe e está funcionando, minimizando riscos.”

Serviços de imagens

Além das missões de satélites, a Visiona tem também explorado outros mercados, como o de serviços de imagens de satélites (ver reportagem em T&D n.º 143). “Investimos na área de serviços para manter competências”, afirma Bonini.

Para desenvolver a nova área, a empresa firmou acordos de distribuição de imagens com alguns dos principais operadores de satélites de observação da Terra, como a Airbus Defence and Space, a norte-americana DigitalGlobe, a japonesa Restec, a sul-coreana SI Imaging Services e a canadense UrtheCast, o que lhe permite oferecer um amplo leque de imagens, óticas e radar, em diferentes resoluções, inclusive submétricas, para os mercados governamental e privado.

Em agosto de 2016, a empresa realizou um projeto piloto durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, oferecendo às Forças Armadas e de segurança o acesso a dados gerados por uma rede de onze satélites. Ainda no segmento governamental, outro programa de interesse é o Amazônia SAR, executado pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM), para monitoramento do desmatamento em determinadas regiões da Amazônia. O projeto, que atraiu interesse dos principais fornecedores de imagens radar do mundo, teve sua concorrência paralisada recentemente, mas espera-se que seja retomado. “A Visiona está disposta a participar e apresentar uma proposta”, diz.

Passa também nos planos da Visiona a instalação de uma antena terrena para captação da telemetria, ampliando suas capacidades. Estima-se o mercado local, incluindo clientes públicos e privados, movimente receitas de cerca de R$100 milhões por ano. Conforme Bonini, desde o início de 2016, quando a Visiona começou a comercializar imagens, a empresa já obteve receitas de R$8 milhões, havendo muito espaço para crescimento.

Projetos e interesses da Visiona

SGDC: com o lançamento do primeiro satélite de comunicações previsto para março de 2017, a Visiona tem a expectativa de que novos satélites serão contratados no futuro.

Projeto SCD-HIDRO: satélites de pequeno porte para atender o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCDA), operado pelo INPE, com coleta de dados ambientais e hidrometeorológicos para monitoramento do volume de água e do balanço hidrológico de reservatórios.

Projeto Carponis: concebida no âmbito do PESE, consiste em sistema de observação da Terra com sensor ótico de alta resolução espacial e possível inclusão de banda infravermelha. Órbita otimizada para observação dezenas de interesse do Brasil.

Projeto Lessônia/SAR: também integrante do PESE, missão de satélite radar (SAR) para observação da Terra, com uso e monitoramento e fiscalização de desmatamentos, análise de interferometria para movimentação de superfície e segurança de barragens, e monitoramento ambiental da costa, entre outras.

Projeto TERRASat: satélite ótico submétrico para atender a demanda do INCRA e de outros órgãos governamentais e ministérios.

Sistema de controle de atitude (AOCS): desenvolvimento de software para controle de posição e movimento de futuros satélites brasileiros.

Projeto Amazônia SAR: sob responsabilidade do CENSIPAM, projeto compreende a futura instalação no Brasil de estação de recepção de dados gerados por satélites SAR para monitoramento da região amazônica.

Meteorologia: atendendo a estímulos do governo, a Visiona concebeu o conceito de um satélite com radar meteorológico com órbita a 20 mil km de altitude, que poderia ter forte participação da indústria nacional.

Fonte: Tecnologia & Defesa n.º 147, dezembro de 2016.
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