segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cooperação Brasil - Argentina

.
Hoje (31), por ocasião da visita da presidente brasileira, Dilma Rousseff à Argentina, foi divulgada uma declaração conjunta preparada pela chancelaria dos dois governos. Um dos tópicos apontados destaca a cooperação espacial entre os países, nomeadamente quanto ao projeto do Satélite Argentino-Brasileiro de Observação dos Oceanos, conhecido como SABIA-MAR. Reproduzimos abaixo o referido tópico:

"4. Cooperação Espacial: Satélite Argentino–Brasileiro de Observação dos Oceanos

Reafirmar o comprometimento com o projeto SABIA-MAR e tomar nota do avanço dos trabalhos relacionados à distribuição de tarefas técnicas da missão e à distribuição de dados satelitais entre os países.

Reiterar a importância que os recursos financeiros para todas as fases do Projeto SABIA-MAR estejam garantidos nos orçamentos dos dois Governos nos próximos anos."

.

Workshop do GEO sobre mudanças climáticas

.
Workshop discute uso de dados de observação da Terra em relatórios do IPCC

31/01/2011

Em Genebra, de 1º a 4 de fevereiro, workshop organizado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e pelo Grupo de Observação da Terra (GEO) discute a necessidade de dados de satélites e outras tecnologias para estudo das mudanças ambientais causadas pelo aquecimento global.

O Brasil, por meio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), integra o Comitê Executivo do GEO, organização intergovernamental que congrega 80 países, a Comissão Européia e ainda 58 organizações internacionais em prol do fornecimento de observações detalhadas da Terra.

O IPCC é o painel da Organização das Nações Unidas (ONU) encarregado de avaliar a informação científica sobre os efeitos das mudanças climáticas, destacar seus impactos ambientais e socioeconômicos e traçar estratégias de mitigação.

O workshop irá levantar dados de observação da Terra para subsidiar o IPPC em análises de vulnerabilidade e adaptação às mudanças do clima, em especial nas áreas de uso do solo, recursos hídricos e eventos extremos. Os dados devem integrar as publicações do quinto Relatório de Avaliação do IPPC, a ser lançado entre 2013 e 2014.

O diretor do INPE, Gilberto Câmara, participa de sessão sobre os recursos e informações disponíveis para o estudo do uso do solo e detecção de mudanças na sua cobertura causadas por desmatamentos. Também participa do workshop José Marengo, climatologista do INPE e membro do IPCC.

É objetivo do workshop orientar como o Global Earth Observation System of Systems (GEOSS) pode melhorar o fornecimento de dados multidisciplinares para o uso da comunidade científica que se dedica aos estudos do clima. Este “sistema de sistemas”, uma das mais importantes iniciativas lideradas pelo GEO, amplia a capacidade de monitoramento ambiental do planeta ao mesmo tempo em que facilita o acesso aos dados.

A ideia do GEOSS é conectar os produtores de dados ambientais aos usuários finais desses produtos, otimizando seu uso por meio de uma infraestrutura pública global e de acesso gratuito às informações. Assim, serão compartilhadas informações dos diversos sistemas de monitoramento de tendências globais, para acompanhamento de níveis de carbono, mudanças climáticas, perda de biodiversidade, desmatamento, recursos hídricos, temperaturas do oceano e outros indicadores.

Mais informações sobre o GEO e o GEOSS no site www.earthobservations.org
.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Anatel e satélites meteorológicos

.
Agência aprova destinação de faixa de freqüências para satélites ambientais

27 de Janeiro de 2011

O Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou hoje a destinação da faixa de radiofrequências de 26,55 GHz a 26,85 GHz ao Serviço Limitado Privado (SLP) em aplicações de exploração da Terra por satélite, para viabilizar a operação do Sistema NPOESS no País. As informações oferecidas pelo Sistema e disponibilizadas ao Brasil serão úteis para monitorar dados climáticos e meteorológicos, possibilitando às autoridades tomar ações de forma a evitar os efeitos de catástrofes naturais como as ocorridas recentemente no Brasil.

O Projeto NPOESS (National Polar-Orbiting Operational Environmental Satellite System) utiliza a nova geração de satélites ambientais de órbita polar dos Estados Unidos e foi desenvolvido para prover capacidade operacional de sensoriamento remoto a fim de obter, armazenar e disseminar dados meteorológicos, climáticos, terrestres, oceanográficos e geofísico-solares específicos aos centros de processamento de imagens global e regional.

O Sistema pertence à NOAA (National Oceanic & Atmospheric Administration), do Departamento de Comércio do governo dos Estados Unidos. O receptor no Brasil será operado pela Raytheon Espectro Serviços de Telecomunicações Ltda em colaboração com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais).

Atualmente, existe acordo entre INPE e NOAA com validade por 10 anos, podendo ser renovado, para acesso aos dados coletados pelo NOAA. O escopo do acordo compreende o compartilhamento de dados ambientais e produtos, a análise e disseminação de dados ambientais, a cooperação e utilização de infra-estrutura e o desenvolvimento de aplicações e pesquisa científica.

O Sistema prevê, inicialmente, a utilização de dois satélites NPOESS mais dois satélites por meio de cooperação internacional com a Europa e Japão. O primeiro satélite NPOESS tem lançamento previsto para 2014. Os satélites europeu e japonês já se encontram em órbita.

O projeto é composto por diversos receptores distribuídos globalmente (16 receptores em 15 localidades). Os dados são recebidos automaticamente e direcionados dos receptores para as centrais de alto desempenho. Após processados, os dados obtidos serão disponibilizados para a comunidade internacional de meteorologistas, cientistas e pesquisadores.

Os estudos sugeriram a localização de uma das estações no Brasil e, em discussões com a Anatel, foi promovida a localização da estação em Euzébio (Ceará), em centro de pesquisa do INPE, que conta com estação de radiomonitoragem da Agência, devido à alta disponibilidade de dados e baixa latência exigidos pelo sistema. De acordo com os estudos, "a estação no Brasil fornecerá cobertura sobre a área do Oceano Atlântico, onde os furacões costumam se formar, e provê a melhor conectividade a partir do Nordeste do Brasil, cuja capacidade atenda aos valores de latência de dados exigidos".

O Sistema NPOESS se propõe a trazer informações para as seguintes áreas:

* monitoramento de tempestades e planejamento mais eficaz de evacuações;

* monitoramento da qualidade do ar, com observação da poluição em áreas urbanas e de partículas decorrentes de incêndios;

* monitoramento de ozônio, a fim de atender os requisitos do Protocolo de Montreal;

* suporte ambiental à agricultura;

* indústria de pesca e transporte marítimo (cor e temperatura do oceano, altura das ondas, medidas atmosféricas sobre o mar);

* observação ambiental, com medidas de áreas de seca e de precipitação e de vegetação;

* preservação de ecossistemas.

Durante o processo de elaboração da proposta de regulamentação, ficou assegurado o acesso dos dados do sistema pelo INPE, Marinha do Brasil e demais membros da comunidade científica brasileira.

Fonte: Anatel
.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Aquisições no setor de defesa? - Parte II

.
No início de janeiro, fizemos comentários sobre rumores relacionados a aquisições de indústrias brasileiras dos setores aeroespacial e de defesa ("Aquisições no setor de defesa?"). Hoje (27), o que era rumor tomou um caráter mais definitivo, com a Mectron, de São José dos Campos (SP), divulgando nota acerca de negociações privadas (ver nota do website Defesanet). O mercado inteiro afirma que a compradora seria a gigante Odebrecht.

Colocando mais "combustível" a esses rumores, reproduzimos abaixo um relato de conversa
mantida com uma pessoa conhecida do setor, no início de janeiro:

Eu: "Olá, tudo bem?"
Interlocutor: "Tudo bem, e com você?"
Eu: "Tudo bem."
Interlocutor: "Legal. Viu, vocês precisam escrever alguma coisa sobre as compras de empresas brasileiras por estrangeiras..."
Eu: "Ah, é? Teve o lance da Ares e Periscópio com a Elbit, né? Ouvi falar também da A falando com a E, e da Mectron com a Odebrecht."
Interlocutor: "Sim, e a O também."
Eu: "A O?! [Surpreso] Mas, para quem!?"
Interlocutor: "Não posso dizer."
Eu: "Poxa, conte aí, quem é?"
Interlocutor: "Sério, não posso dizer, mas não é tão ruim assim..."

Pensava que o assédio sobre O poderia ser de T, pois realmente faria sentido (tanto em defesa como espaço), mas alguns minutos após a conversa, falando com a pessoa certa, descobri que o interessado era, na verdade, E. Algo, aliás, condizente com o final da frase do interlocutor ("não é tão ruim assim..."), apesar disso sempre ser uma questão de ponto de vista.

Desde então, é claro, o tema é sempre pauta das conversas com pessoas relacionadas ao ramo. De acordo com as últimas informações colhidas, a situação atual seria a seguinte: A e O estariam em fase de auditoria ("due diligence") por E. Especificamente no caso de O (não temos a informação em relação à A), haveria um memorando de entendimentos já assinado, inclusive definindo valores (o número que nos foi dito: R$ 77 milhões). Em ambos os casos, trata-se de operação de compra de controle. No caso de O, haveria uma cisão da parte (unidade no estado do Amazonas) não relacionada à defesa e que ficaria com os atuais sócios.

Segundo o blog pode apurar, a transação entre Odebrecht e Mectron também deve envolver transferência de controle. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio de seu braço de participações, deve continuar na empresa. A Mectron, diga-se de passagem, sempre foi considerada uma "noiva" no mercado, para alguns meio problemática, em busca de marido.

As transações em negociação, segundo rumores, teriam múltiplos em torno de 1,5 vez o faturamento.
.

Peru: cubesat em órbita no final de 2011

.
Segundo notícias divulgadas na imprensa peruana, o cubesat peruano Chasqui I deve ser lançado ao espaço até o final deste ano. Segundo Aurelio Padilla Ríos, reitor da Universidad Nacional de Ingeniería (UNI), entidade responsável pela construção do artefato, o lançamento estaria atrasado em razão da espera de permissão da agência espacial russa (Roscosmos) para o lançamento.

O Chasqui I deve ocupar uma posição orbital a 650 km de altitude, e será equipado com duas câmeras digitais para o imageamento terrestre, com seus dados servindo para aplicações em estudos climáticos, florestais e arqueológicos.

Para saber mais sobre o nanossatélite peruano, acessem a postagem "Chasqui I: o cubesat peruano".
.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Licenciamento da AEB para a ACS

.
AEB aprova licenciamento para atividades da Alcântara Cyclone Space

A Agência Espacial Brasileira (AEB) aprovou, por meio de portaria publicada na edição desta quarta-feira (26/1) do Diário Oficial da União, licenciamento para a execução de atividades espaciais para empresa binacional Alcântara Cyclone Space - ACS em seu sítio de lançamento situado na península de Alcântara - MA, nas dependências do Centro de Lançamento de Alcântara. As atividades estão permitidas pelo período de um ano.

Segundo a portaria, a AEB designará equipe de acompanhamento das Atividades Espaciais de Lançamento do Projeto Cyclone 4 com incumbência de elaborar relatórios técnicos.

A íntegra da portaria pode ser consultada clicando aqui.

Fonte: JC E-mail, editado pelo blog.
.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

WikiLeaks: EUA e o acordo espacial Brasil-Ucrânia

.
Demorou, mas o WikiLeaks, fenômeno mundial para as relações internacionais, finalmente chegou até o Programa Espacial Brasileiro. É que mostra reportagens publicadas hoje (25) nos jornais "Folha de S. Paulo" e "O Globo".

Basicamente, as reportagens fazem referência a um telegrama vazado que contém uma resposta do Departamento de Estado norte-americano sobre um apelo feito pela Ucrânia para os EUA reconsiderassem sua decisão de não apoiar a parceria espacial Brasil-Ucrânia.

Trata-se da velha, porém sempre presente, questão do acordo de salvaguardas tecnológicas (TSA, sigla em inglês) que um estado-lançador precisa deter com os países de origem dos satélites (ou de componentes de satélites) para a execução dos lançamentos. Um acordo com os EUA, que responde por significativa fatia do mercado de satélites, é essencial para o sucesso de qualquer empreitada de lançamento espacial.

As duas reportagens, porém, devem ser lidas com cautela. Parece haver certa confusão entre iniciativas de transferência de tecnologia e esforços comerciais, sendo este último o caso da binacional Alcântara Cyclone Space (ACS). Isto é, a parceria espacial Brasil-Ucrânia, de início, não envolveria transferência tecnológica, mas tão somente uma empreitada para a exploração comercial de lançamentos espaciais. O AST com os EUA não saiu por que o Brasil não quis ratificá-lo, o que não condiz com a afirmação de que os americanos tentaram impedir o acordo Brasil-Ucrânia.

Curioso também observar que os EUA podem ser a "tábua de salvação" da ACS, ao menos da parcela ucraniana (ver a postagem "Tensão na Alcântara Cyclone Space").

O blog aguardará maiores desdobramentos sobre o caso da ACS, que podem acontecer dentro dos próximos dias, para analisar mais profundamente a questão.

Para ler as reportagens, clique sobre os títulos abaixo:

"EUA tentaram impedir programa brasileiro de foguetes, revela WikiLeaks"

"Ucrânia recorreu aos EUA por foguete com o Brasil"
.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

As ambições bolivianas

.
Mal assinou o contrato para a construção do primeiro satélite boliviano, o Tupac Katari (TKSat-1), em dezembro de 2010, o governo boliviano já fala num segundo, desta vez para observação terrestre, especialmente de recursos minerais. É o que disse no último sábado (22), na assembleia legislativa, o presidente Evo Morales.

Morales confirmou ainda que viajará à China em março para acompanhar o início da construção do satélite de comunicações, e também destacou que 70 jovens bolivianos serão treinados pelo fabricante para o gerenciamento do sistema.

E as ambições peruanas

Na América do Sul, o Peru é outro país que considera seriamente adquirir um satélite de observação. No final do ano, circularam notícias na imprensa peruana dando conta de que em 2011, o governo daria início a uma licitação, num investimento estimado entre 80 a 100 milhões de dólares.
.

"Space zone" na LAAD 2011

.
Entre os dias 12 e 15 de abril, acontecerá na capital carioca a feira LAAD - Defence & Security 2011, evento internacional organizado a cada dois anos e focado nos setores de defesa e segurança. Pela primeira vez desde a sua criação, em 1997, a feira contará com uma área específica para indústrias e órgãos envolvidos com tecnologia espacial, chamada "space zone".

Algumas empresas já estão confirmadas para a nova área, dentre as quais a Opto Eletrônica, de São Carlos (SP), e a binacional ucraniano-brasileira Alcântara Cyclone Space (ACS). Outras também já fizeram reservas, além de dezenas empresas nacionais e estrangeiras atuantes tanto em defesa como espaço, que estarão presentes em diferentes áreas do salão.

Paralelamente à LAAD, será realizado o III Seminário de Defesa, que abordará as soluções tecnológicas e inovações para o setor no Brasil, que vive um momento de mudanças importantes decorrentes da Estratégia Nacional de Defesa. Um dos dias do seminário será totalmente dedicado ao setor espacial.

A revista Tecnologia & Defesa, publicação a qual o blog está vinculado, será pela quinta vez consecutiva o veículo oficial nacional do evento, e também a responsável pela edição do LAAD 2011 show daily, um boletim diário bilíngue (português e inglês) que circulará durante os quatro dias da feira.
.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Reportagem sobre a visita à Kourou

.
Na última semana de dezembro, entre os dias 27 e 29, a reportagem de Tecnologia & Defesa esteve no Centre Spatial Guyanais - CSG, em Kourou, na Guiana Francesa, para acompanhar uma missão de lançamento do foguete europeu Ariane 5, da Arianespace.

No início desse mês, publicamos no blog uma entrevista com o presidente da empresa, Jean-Yves Le Gall, e agora divulgamos uma reportagem sobre a missão V199, abordando ainda as evoluções dos projetos envolvendo os lançadores Soyuz e Vega, e também as perspectivas para o ano de 2011.

Para ler o texto e ver fotos exclusivas, clique aqui.
.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

INPE atua nos desastres naturais no Rio de Janeiro

.
INPE obtém dados de satélites para avaliar desastre no Rio de Janeiro

19/01/2011

O International Charter Space and Major Disasters, que distribui dados orbitais para auxiliar países afetados por desastres naturais, fornecerá ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) imagens e informações de satélites que poderão ser utilizadas nos trabalhos de recuperação e prevenção na região serrana do Rio de Janeiro.

“Produtos de satélites podem ajudar a identificar e gerenciar as ações necessárias em áreas atingidas por desastres. Com o International Charter, além de nossas próprias imagens – como as do CBERS -, contamos com dados fornecidos sem custo pelas agências internacionais que também fazem parte do programa”, diz Ivan Márcio Barbosa, chefe da Divisão de Geração de Imagens do INPE.

Enchentes no Peru e na Bolívia, um ciclone nas ilhas do Pacífico, o terremoto no Chile, a erupção vulcânica na Islândia e o derrame de petróleo do Golfo do México estão entre os episódios que contaram com o auxílio do International Charter, como ocorrerá agora nos deslizamentos e inundações no Rio do Janeiro.

As imagens serão entregues à Defesa Civil, usuária autorizada no Brasil. A aquisição e liberação gratuita de dados espaciais pelo International Charter acontece em situações de emergências.

“Diferente do que ocorre no INPE, que distribuiu a qualquer tempo e sem custo algum seus dados a todo usuário, o International Charter reúne agências que normalmente comercializam suas imagens e produtos de sensores ópticos e de radar. Portanto, essas imagens do Charter somente poderão ser utilizadas pelos destinatários diretos envolvidos nos desastres e para os fins específicos nas missões de auxílio”, explica Ivan Barbosa.

Além do Brasil, por meio do INPE, integram o International Charter para fornecimento de dados instituições e agências espaciais do Canadá, França, Japão, Argentina, China, Índia, Inglaterra e Estados Unidos. Diante de um desastre, tão logo o International Charter seja acionado, os membros mobilizam-se na aquisição prioritária de dados de satélite com foco na região atingida. Há um esforço concentrado para geração de produtos que possam auxiliar as autoridades e agentes locais, como a Defesa Civil.

Desde 2000, quando foi criado, o International Charter Space and Major Disasters beneficiou aproximadamente uma centena de países, em cerca de 300 episódios como terremotos, furacões, ciclones, inundações e incêndios, entre outros. Em 2010 o Brasil passou a fazer parte do International Charter. A partir do lançamento do CBERS 3, em 2012, o Brasil poderá ser também um ativo fornecedor de dados de satélites para essas ocasiões de calamidade.

Mais informações no site www.disasterscharter.org

Dados adicionais

Além de acionar o International Charter, a Coordenação de Observação da Terra do INPE está adquirindo imagens de outros satélites das regiões atingidas pelas chuvas. Estes dados poderão ser utilizados sem custo por órgãos de Defesa Civil e, também, pelos pesquisadores do instituto.

Fonte: INPE
.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

"Rico mercado de transporte de satélites mundial"?

.
O artigo de Roberto Amaral, reproduzido no blog ontem (17) (veja aqui), tem um trecho que merece ser comentado: "A ACS é uma empresa de transporte espacial que pode, além de atender aos interesses diretos dos dois países, concorrer, com vantagens, no rico mercado de transporte de satélites mundial."

Embora envolva substancial volume financeiro, existem reais dúvidas quanto à suposta "riqueza" do mercado comercial de lançamentos, além de ser reconhecidamente um mercado de altos riscos. A presença do Estado no setor é tida como obrigatória, fato, aliás, comentado semana passada pelo experiente executivo François Auque, CEO da Astrium (fabricante do Ariane 5), em reportagem publicada na Space News:

"Em todo o lugar, lançadores são financiados 100% por governos, embora na Rússia seja talvez 75%, a preços que deixam os fabricantes de lançadores extremamente felizes. Você vê a Boeing ou a Lockheed Martin nos Estados Unidos reclamando dos preços que obtêm para os lançamentos governamentais? Não. Somente na Europa existe esta ideia bizarra de que o setor de lançamentos pode sobreviver com o mercado comercial apenas."
.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Alcântara Cyclone Space, artigo de Roberto Amaral

.
O projeto Cyclone-4 da Alcântara Cyclone Space e a crise das políticas estratégicas

Roberto Amaral

O desafio da conquista espacial, se é apaixonante, na mesma medida é espinhoso, porque, entre o sonho indispensável para o fazer e a realidade objetiva, inafastável, não são poucos os obstáculos pontuando nossa caminhada, que exige esforço e exige humildade para enfrentar incompreensões e até mesmo resistências, umas claras, outras dissimuladas, mas ambas difíceis de vencer.

Não posso falar de flores, porque relativamente ao Programa Espacial, no que diz respeito a foguetes e a sítios de lançamento de veículos espaciais, não fomos condecorados com as facilidades que, parece-nos, estão prestigiando outros empreendimentos. Portanto, se não posso falar de grandes sucessos, relatarei muitas dificuldades, pensando estar contribuindo para a tomada de consciência da necessidade de mudar a política espacial brasileira, e, principalmente, sua gestão.

A experiência que recolho do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e a experiência atual que resulta do esforço de constituir a bi-nacional Alcântara Cyclone Space-ACS, levam-me a reflexão pouco animadora quando me deparo com o inventário de óbices (na sua maioria criados dentro da própria estrutura estatal) que enfrentamos nesses três anos e pouco de vida, severina, da ACS. Essa reflexão diz-me que se há um Estado apto a fazer, há outro Estado, olímpico, cuja única tarefa é dificultar o trabalho dos que têm a missão do fazer. Esse Estado, assim esquizofrênico, não é fruto de si mesmo, pois é o resultado de uma série de deformações que remontam à sua própria formação. De um lado, questões de ordem cultural, condizentes com nossa visão atacanhada de país; de outro lado, questões de ordem estrutural, que dizem respeito à fragilidade instrumental do próprio Estado pós neoliberalismo, convenientemente desaparelhado para administrar seus interesses estratégicos. O fato objetivo é que o estado idespreparado para o mister estratégico jaz sem condições de eleger suas prioridades e novos ritos administrativos, a elas adequados. O pano de fundo pode ser um certo viés ideológico, nos dizendo que determinados projetos, curiais entre os desenvolvidos, estão interditados aos países em desenvolvimento ou emergentes. Essa cultura remonta à nossa formação de país e povo, assim, lamentavelmente nessa ordem, com as alienadas classes dirigentes nos impondo uma visão colonizada do mundo. É evidente que sabemos organizar o Carnaval carioca, a queima de fogos de Copacabana no réveillon, talvez tenhamos até -- mas há quem duvide!-- condições para organizar uma Copa do Mundo de futebol e uma Olimpíada. Mas envolver-se com energia nuclear ou com programas espaciais, ah! não, isso não é para nós, que nascemos e fomos criados como exportadores de comodites primárias (do café à soja), alimento em grão e minério in natura.

Daí, pensar em projeto nacional com fundamento em nossas próprias forças, cogitar da possibilidade de desenvolvimento econômico, ansiar pelo progresso, tornar-se mesmo uma potência (a não ser no futebol), ah! isso nos foi sempre interditado. Ainda há os que, mesmo em funções de Estado, não entendem o esforço nacional visando à construção de nossos próprios satélites e nossos próprios foguetes, como há os que não entendem a insistência brasileira em desenvolver seu programa nuclear com tecnologia própria, fabricar seu submarino, fabricar seus aviões.

Pois há, igualmente, os que não compreendem (ou fingem não compreender) que segurança e autonomia estejam no eixo de nossas políticas de defesa nacional.

A Estratégia Nacional de Desenvolvimento, confunde-se com a Estratégia Nacional de Defesa e desse encontro resulta o projeto de independência nacional, assentado no tripé (i) mobilização de recursos físicos, econômicos e humanos, para o investimento no potencial produtivo do país; (ii) "capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial, cibernético1 e nuclear", e (iii) "democratização de oportunidades educativas e econômicas e pelas oportunidades para ampliar a participação popular nos processos decisórios da vida política e econômica do país"2.

E qual é o nosso projeto?

O 'caso' ACS configura-se na convergência de interesses estratégicos de dois países. Como todos sabemos, dispomos, não apenas em Alcântara, mas em todo o Norte e Nordeste brasileiro, da melhor área do Planeta para lançamentos de foguetes. Por duas razões muito simples:

(i) na região de Alcântara (Maranhão), por exemplo, estamos a 2,2 graus e no litoral do Ceará a 3,8 graus ao sul do Equador (Kourou, na Guiana, onde se localiza o centro de lançamentos europeu, a segunda melhor colocação, está 5 graus ao Norte) o que confere, a qualquer objeto na superfície, uma velocidade tangencial elevada, ou seja, um impulso inicial muito favorável aos lançamentos equatoriais, como é o caso dos satélites de comunicação. Isso se traduz em aumento da capacidade de transporte dos lançadores, tornando-os mais competitivos em comparação com lançamentos em latitudes mais elevadas, isto é, mais distantes do equador.

(ii) frente ao nosso litoral, temos ampla e desabitada área marítima, o que é essencial para fins de segurança. Assim, os lançamentos podem percorrer trajetórias mais simples, “planas”, e colocar diretamente satélites em órbita, praticamente sem necessidade de manobras, ao contrário de todos os outros centros de lançamento. Por força disso, pensou-se, pensam alguns visionários, que detemos todas as condições de montar um grande complexo espacial-científico. A ideia inicial era ter ao lado do atual Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), operado pela Força Aérea e destinado ao VLS, mais três sítios de lançamento espacial, capazes de operar com outros veículos, além daqueles já em desenvolvimento pelo programa autônomo. Um deles seria o Cyclone-4, da ACS. E teríamos, como retaguarda desses sítios, e em função deles, um parque de empresas de apoio às atividades espaciais, assim como instituições de ensino e pesquisa de tecnologia pura e de tecnologia de ponta. Ainda como efeito dessa revolução técnica na região, as atividades industriais e de serviços favoreceriam, substancialmente, o desenvolvimento do potencial turístico da região alcantarense e ludovicense.

Lembremo-nos que, em 1980, a concepção do CLA previa a implantação em uma vasta área de 62 mil hectares, dos quais apenas 20 mil seriam propriamente utilizados para fins operacionais (o restante seria para realocação de pessoas, para reservas naturais e para a fixação do parque de apoio industrial). As vastas extensões de terra são um imperativo de segurança, como sói ocorrer nos principais centros de lançamento mundiais. Dentro dessa área operacional do CLA, foi alocada para a ACS uma área de 1.298 hectares e um futuro porto.

Daqui em diante, o ideal começa afastar-se da realidade. Uma entidade do Estado brasileiro, o INCRA, decidiu que, no município de Alcântara, havia um gigantesco território quilombola. Cerca de 90% do território do atual município. Ficaram de fora a pequena sede com sua arquitetura colonial ameaçada pelo desamparo, e a área atualmente ocupada pelo CLA da Aeronáutica. Quais as consequências disso? Primeira: a ACS foi despojada de sua área. Segunda: o CLA, cuja concepção original previa dezenas de milhares de hectares, viu-se reduzido a menos de uma dezena de milhar e perdeu toda e qualquer possibilidade de expansão.

Entre outras muitas questões que poderiam ser tratadas, cito algumas poucas que bem demonstram as dificuldades antepostas aos projetos estratégicos brasileiros. As condições de acesso configuram um caso exemplar. A área do CLA (onde se está instalando a ACS em terreno alugado à Aeronáutica) está encravada no assim chamado território quilombola, de que resulta o acesso às áreas operacionais estar condicionado ao trânsito por esse território, trânsito de pessoas, de equipamentos e de materiais, algumas vezes substâncias perigosas (como, os componentes de propelente, hidrazina e tetróxido) circulando por áreas povoadas. Além disso, o Ministério dos Transportes, que administrava a construção do porto, se esqueceu de alocar a respectiva verba3. Por essa e incrível razão, seremos obrigados, para poder garantir a chegada e desembarque de materiais e equipamentos, a utilizar um atracadouro rudimentar, localizado a mais de 50 quilômetros do sítio da ACS. Para tanto, vimo-nos na contingência de melhorar todo esse caminho. Estamos reconstruindo, com recursos da AEB, a estrada que liga Cujupe a Alcântara.

E o foguete (de 24,5 a 35ton) quando não carregado) virá de Dnepropetrouvsk (Ucrânia) a Alcântara de avião, a um preço hoje estimado de 1.700 mil dólares.

Antes, nosso maior adversário, ao lado de algumas ONGs estrangeiras, era um órgão brasileiro chamado Fundação Palmares (Ministério da Cultura). Munida de argumentos que, em princípio, visariam a defesa das populações remanescentes de quilombos e a preservação de valores culturais, muitos foram os obstáculos apresentados à implantação da ACS. As poucas cem famílias que seriam diretamente afetadas pela implantação do sítio da ACS, mas que viam nisso uma perspectiva de melhoria das condições locais, acabaram sendo mobilizadas para impedir os primeiros estudos de campo. (Refiro-me ao bloqueio de fevereiro de 2008) E como se não bastasse isso, não nos foi permitido permanecer na área antes cedida pelo governo federal. O juiz da 5ª Vara Federal do Maranhão nos deu 24 horas para sairmos dali, da área anteriormente cedida pelo Estado brasileiro, daí a necessidade de nos instalarmos no seio do CLA, o que demandou largos meses de negociações. Ao todo, nessa operação foram consumidos 14 meses, entre o bloqueio de nossa área e a liberação pela justiça e cerca de um ano gastamos em negociações com o Ministério da Defesa, negociações levadas a bom termo, o que nos possibilitou a disponibilidade de uma área, nossa atual área, de 462 ha ( a original era de 1298 ha).

Ainda assim, estamos muito gratos à Força Aérea, pois nos acolheu no pouco espaço que lhe resta. Foi ela que salvou o projeto, mas saímos de uma área em que dispúnhamos de acesso livre para uma área em que o acesso é subordinado a lógicas, normas e regras militares, muitas vezes incompatíveis com projetos industriais. Inclusive agora estamos nos reunindo com os companheiros do CLA, porque, finalmente!, tiveram início as obras e temos de fazer um cadastramento de todos os técnicos, todos os empregados da ACS transferidos e os operários (estimados 1.500 no pique das obras) das empresas contratadas para a construção do sítio, bem como temos de definir sistemáticas de controle que conciliem nossas necessidades de acesso com os ditames de segurança daquele Centro militar.

Quando nos voltamos para a gênese da corrida espacial, vemos quão distintas foram as ações que viabilizaram o sonho, as necessidades e a realização das aspirações estratégicas. A Rússia começou seu programa espacial em 1950, o Brasil em 1961. Chegamos em 1988 com a Rússia lançando veículos reutilizáveis. Os Estados Unidos, que começaram também na mesma década, de há muito operam naves e estações espaciais tripuladas, além de um vasto leque de sondas que exploram o Sistema Solar e o espaço profundo. Os avanços desses países protagonistas, motivados pela Guerra Fria e por suas necessidades econômicas, foram cumulativos e espetaculares. Mas foram somente eles, além de Japão e países Europa, como a França, os únicos atores no cenário espacial?

Há outros programas espaciais que também despertam a atenção. A China, por exemplo, começa em 1956. E em 2003 já levava o homem ao espaço. A Índia já lançou satélites e sondas, o mesmo ocorrendo com Israel. A Coréia, após o insucesso com seu primeiro lançamento em 2010, está na iminência de ser o mais recente país a adentrar no “clube os lançadores”. Até a Coréia do Norte e o Irã estão à nossa frente. Nossa primeira atividade como lançadores de foguete data de 1965. Avançamos com uma família de veículos de sondagem suborbitais. Produzimos e operamos satélites de pequeno e médio portes. Nosso lançador de satélites, no entanto, ainda não vingou, após nada menos de 30 anos de esforços despendidos. Por que isso? Somos incompetentes, ou Deus não gosta dos brasileiros? A resposta é simples: somos o 23º investidor em programa espacial se considerarmos o PIB de cada país. Os recursos alocados para investimento no programa espacial brasileiro não passam de 0,010% do nosso PIB, ou seja, cerca de dez vezes menos que a França, que a Rússia e que a China.

Vejamos nossa situação em face dos BRICs. A Rússia investiu, em 2009, dois bilhões e quatrocentos milhões de dólares estadunidenses em seu programa espacial, e estamos com apenas cento e sessenta e quatro milhões. Ainda é muito pouco, mas temos que reconhecer: os investimentos, que vinham em linha decrescente, foram retomados no início desta década, uma inversão conduzida pelo governo do Presidente Lula. Quando do acidente do VLS, dei entrevista como ministro de Ciência e Tecnologia, afirmando que o projeto de VLS havia sido atingido mortalmente pela dieta de recursos. Fui criticado por todo mundo, inclusive por colegas de governo. Neste texto repito aquela afirmação, agora respaldado em dados irrespondíveis, a saber, o quadro de distribuição dos recursos de 1980 a 2009 (o acidente, como sabemos, foi em 2003) e as conclusões a que chegou a Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados, convocada para apurar as causas do acidente.

Somente no período 1985-1989, os investimentos se concentraram nos três segmentos de atividade - satélites, veículos e centros de lançamento - com uma média anual de 100 milhões de dólares. Daí em diante, penúria! Em 1990 os investimentos caíram para 57 milhões e em 1999 não passaram de 9,9 milhões. Ao todo, o País gastou, de 1980 a 2002 (véspera do lançamento do VLS), apenas US$ 530,2 milhões. Como pensar seriamente em lançar nosso VLS se, a cada ano, o governo reduzia os investimentos? De US$ 27,5 milhões em 1995, caímos para 18,7 em 96, para 11,271 em 97, para 10,408 em 98 e, finalmente, para US$ 3,7 milhões em 2002. Em 1999, o governo havia tido o desplante de só aplicar US$ 1,6 milhão!

Eis o resumo da atenção que estamos dando aos projetos estratégicos. Em 26 anos de desenvolvimento do VLS, que seria o nosso primeiro veículo satelizador, fizemos três tentativas, três insucessos. O esforço terá sido inútil? De certo que não, pois muito se aprendeu e se avançou. Mas o acidente comprometeu o ritmo e lançou dúvidas sobre diversos aspectos do projeto. E como temos reagido? Qual a massa crítica de pesquisadores, engenheiros e técnicos que possuímos para aprender com as falhas, revisar projetos, divisar soluções? Qual o efetivo envolvimento sustentável da indústria que conseguimos realizar? A inanição a que os projetos estratégicos são submetidos leva a esse arrastar de poucos resultados e ao abandono de profissionais e empresas. Veja-se, também, o caso do submarino de propulsão nuclear: estamos há 21 anos desenvolvendo e agora, dependendo de uma cooperação com a França, devemos esperar por mais uma década, pelo menos. Certamente, há que se repensar a forma e a firmeza com que devem ser conduzidos os projetos estratégicos, algo que suplanta os períodos governamentais e requer décadas de investimentos em gerações de profissionais, em entidades de formação e pesquisa, em infraestrutura laboratorial, em parque de indústrias com continuidade de demanda.

O que é encontro do Brasil com a Ucrânia?

A Ucrânia tem um dos melhores foguetes do mundo, mas, por questões geográficas, não dispõe de sítio de lançamento e não pode ter sítio de lançamento, porque não tem como fazer lançamentos sem que seu foguete sobrevoe outros países, descartando-se de seus diversos estágios. A Ucrânia, então, presentemente, é obrigada a lançar seus foguetes dos sítios da Rússia e do Casaquistão, Plesetsk e Baikonur. De nossa parte, temos excelentes áreas (como vimos em linhas passadas) para localização de sítios de lançamentos, mas não temos foguete. Eis o que se chama de encontro de interesses. A ACS é uma empresa de transporte espacial que pode, além de atender aos interesses diretos dos dois países, concorrer, com vantagens, no rico mercado de transporte de satélites mundial.

É óbvia a importância de satélites, mas satélite não é neutro, não é para uso apenas civil, não é apenas para uso meteorológico, é para quase tudo. Inclusive para levantamento de informações estratégicas, para vigiar fronteiras, para vigiar nossos mares e nossas plataformas de petróleo, para orientar movimentação de polícia e de exército, para orientar ações militares e armas teleguiadas, para garantir o funcionamento do novo sistema de controle de tráfego aéreo CNS/ATM.

O Programa Espacial em qualquer parte do mundo é dual, daí a dificuldade de a burocracia compreender o verdadeiro desafio. A questão não se reduz ao uso unicamente comercial de nossos lançadores, mas, sim, que já somos objeto da espionagem satelital. Se não tivermos capacidade de lançar de solo brasileiro, com foguete brasileiro, nossos satélites, sejam eles quais forem, não teremos condições de garantir a soberania do nosso País.

* Roberto Amaral é ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Diretor-geral brasileiro da Alcântara Cyclone Space e Vice-presidente do Partido Socialista Brasileiro.

Fonte: PSB
.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

EXCLUSIVO: Tensão na Alcântara Cyclone Space

.
O posicionamento do atual ministro de Ciência e Tecnologia (MCT), Aloizio Mercadante, de analisar profundamente o acordo espacial com a Ucrânia para o lançamento de foguetes a partir de Alcântara (MA) está causando tensões na Alcântara Cyclone Space (ACS), particularmente no lado ucraniano. A preocupação teria, inclusive, motivado o telefonema do presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, para Dilma Rousseff no último dia 10.

De acordo com informações apuradas pelo blog Panorama Espacial, duas semanas após a posse do novo governo, o diretor-geral da ACS, Roberto Amaral, e Aloizio Mercadante, não se reuniram e nem conversaram sobre o projeto da binacional.

A direção da ACS encaminhou um ofício ao MCT comunicando a necessidade de integralização do restante do capital subscrito na empresa pelo governo brasileiro para a continuidade das atividades, como a construção da infraestrutura terrestre no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Embora o contrato com as empreiteiras já tenha sido assinado, as obras não foram iniciadas justamente pela falta dos recursos necessários no caixa da binacional.

A dificuldade (ou desinteresse) do lado ucraniano em integralizar a sua parte do capital social na ACS também tem gerado certo desconforto e até mesmo desconfianças. Cerca de 60 milhões de dólares já deveriam ter sido aportados pela Ucrânia, e desde a sua constituição, em agosto de 2006, as atividades da binacional têm sido tocadas principalmente com recursos oriundos do governo brasileiro.

Flórida Cyclone Space?

Esta semana, uma informação surpreendente chegou ao conhecimento do blog Panorama Espacial. Os sócios ucranianos estariam negociando com uma empresa norte-americana a possível instalação de um sítio de lançamento do Cyclone 4 na costa leste dos EUA, no estado da Flórida [onde está situado o centro espacial de Cabo Canaveral]. Um protocolo já teria, inclusive, sido assinado com a empresa, a ATK, que atua nos setores aeroespacial e de defesa.

Embora não tenhamos conseguido maiores detalhes até o fechamento desta nota, um comentário feito por pessoa familiarizada com o assunto chamou muito a atenção. Considerando-se a instalação de dois sítios do Cyclone 4 - em Alcântara e na Flórida, caberia aos técnicos ucranianos a definição sobre de onde o foguete seria lançado em cada missão, o que conflitaria com o espírito do tratado firmado entre o Brasil e a Ucrânia em outubro de 2003, isto é, a operação do lançador a partir de solo brasileiro, no CLA.

Em outubro de 2010, revelamos alguns dos contatos comerciais feitos pela ACS, tendo por referência uma apresentação de Roberto Amaral realizada na Câmara dos Deputados em outubro de 2009. Uma das empresas mencionadas foi justamente a ATK - Space Systems Tyokol, com o escopo “lançamento do Cyclone-4 no mercado norte-americano”.

O blog acredita que a estratégia ucraniana de procurar um parceiro nos EUA tem um racional mercadológico, pois ao executar os lançamentos a partir de território americano, os ucranianos e ATK teriam mais facilidades para obter financiamentos e também disputar contratos governamentais, possivelmente de órbita baixa. Além do mais, neste cenário, o estado-lançador seria os EUA, o que dispensaria a necessidade de um acordo de salvaguardas tecnológicas do Brasil com os Estados Unidos, um dos grandes problemas do binômio Cyclone 4 / Alcântara.
.

UnB e Alcântara Cyclone Space

.
UnB vai formar engenheiros para Alcântra Cyclone Space

14-01-2011

A Universidade de Brasília (UnB) será responsável pela formação do futuro corpo de engenheiros da empresa binacional Alcântra Cyclone Space (ACS), fruto da parceria Brasil-Ucrânia para o desenvolvimento de foguetes espaciais. Dez alunos que terminarão a graduação em Engenharia Mecânica neste semestre serão selecionados para a especialização aeroespacial, voltada para as atividades da empresa. "Vamos procurar alunos com perfil aeroespacial", diz o professor Carlos Alberto Gurgel, chefe do Departamento de Engenharia Mecânica da UnB. A próxima seleção do mestrado é em março.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) aprovou a concessão de bolsas para o programa especial e vai destinar R$ 324 mil. Os alunos vão passar seis dos 18 meses do mestrado na Ucrânia. “É uma espécie de mestrado sanduíche e contou com o apoio do CNPq que julgou importante para a formação desses engenheiros", explica Gurgel. Na UnB, os alunos cursarão disciplinas das Ciências Mecânicas e da Engenharia de Sistemas Eletrônicos e de Automação. Além disso, serão coorientados por cientistas ucranianos. Durante a estadia lá, terão contato com três grandes instituições da área aeroespacial.

Na UnB, os alunos cursarão disciplinas das Ciências Mecânicas e da Engenharia de Sistemas Eletrônicos e de Automação. Além disso, serão coorientados por cientistas ucranianos. "Eles precisam se familiarizar com a atividade. Os alunos estarão em um centro de lançamento e vão conhecer o lançador que será utilizado no Brasil", explica Wagner Santilli, gerente de relações corporativas da ACS. Os alunos serão recebidos na universidade Dnipropetrovsk.

Gurgel conta que a relação entre a UnB e a Ucrânia contribuiu para que o comitê aeroespacial da ACS procurasse a universidade para gerir o curso. “Nós somos a única universidade brasileira que tem acordo com o país. Além disso, somos uma das melhores universidades na área”, afirma. “A aprovação desse programa trará benefícios incalculáveis para a engenharia brasileira”, comemora o Gurgel.

Glaucius Oliva, diretor de Engenharias, Ciências Exatas e Humanas e Sociais do CNPq, destaca a relevância do programa para o país. "A área aeroespacial é estratégica para o Brasil, e há grande carência de especialistas necessários ao crescimento das atividades comerciais esperadas para o futuro. O CNPq não podia deixar de investir na formação de jovens engenheiros na área", afirma.

O mestrado já tem candidato. Aos 22 anos, Pedro Kaled cursa o último semestre de Engenharia Mecânica e está animado para tentar uma das dez vagas para o novo curso. Ele quer participar da primeira experiência brasileira em lançamento de foguetes. “Daqui a alguns anos, quando se falar de espaço, não será algo tão distante para nós brasileiros”, afirma. “Vamos poder fazer como em outros países. É só viajar até o Maranhão para assistir a um lançamento”, completa.

O primeiro lançamento está previsto para fevereiro de 2012, mas deverá ser prorrogado em quatro meses devido ao atraso do início das obras do centro de lançamento no Maranhão. "Queremos que esses engenheiros já estejam na ACS no dia do primeiro lançamento", afirma Santilli.

UnB GAMA – A atuação da UnB na área aeroespacial está apenas começando. A ideia é montar um Centro Aeroespacial em Brasília para abrigar cerca de 100 cientistas, no campus da UnB Gama. “Pensamos no Gama para contribuir com a expansão da UnB. Lá temos excelentes professores que trabalham com robótica, propulsão elétrica e estruturas aeroespaciais, são habilidades importantes para nós”, conta o professor José Leonardo Ferreira, membro da Comissão Aeroespacial da UnB.

O objetivo do centro é focar em nichos que ainda não são explorados no Brasil. “A propulsão híbrida, propulsão elétricae desenvolvimento de motores de mísseis são exemplos. Se trabalharmos com o que já estão estudando será um desperdício de dinheiro e tempo”, explica Gurgel. A ideia de montar um centro em Brasília surgiu com presença de duas entidades da área com sede na cidade, a ACS e a Agência Espacial Brasileira (AEB).

O professor José Leonardo conta que as instituições já haviam procurado a UnB para fazer gestão de recursos humanos para o programa espacial brasileiro. “Muita gente da área está se aposentando. É preciso renovar o quadro para que o Brasil se torne independente”, explica. A explosão de um foguete brasileiro em agosto de 2003 também contribuiu para o baixo contingente. No acidente 21 técnicos civis morreram.

A participação de dois projetos da UnB no programa Uniespaço da AEB - que aproxima as universidades às atividades espaciais - rendeu a parceria com os ucranianos. Os projetos sobre foguetes híbridos, propulsão elétrica e propulsão a plasma, foi a porta para o convênio com a universidade Dnipropetrovsk, onde os alunos do mestrado serão recebidos. “Estamos entusiasmados porque vamos contar com o apoio dos ucranianos. Sem a ajuda deles nós demoraríamos 20 anos para construir um foguete igual ao Cyclone 4 que será utilizado pela ACS, por exemplo”, comemora Gurgel.

Fonte: Agência UnB
.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"O bom momento da Thales"

.
Reproduzimos abaixo uma reportagem publicada em dezembro de 2010 sobre o grupo francês Thales, atuante nos segmentos aeroespacial e de defesa, dentre outros. O texto traz algumas informações interessantes sobre o envolvimento do grupo em atividades espaciais no Brasil:

O bom momento da Thales

André M. Mileski

No início de novembro, Laurent Mourre, diretor-geral da Thales no Brasil gentilmente recebeu a reportagem de Tecnologia & Defesa para um bate-papo sobre as atividades e perspectivas do grupo francês no País.

Um dos maiores conglomerados mundiais nos setores de defesa, segurança e espaço, encontra-se numa fase de investimento e fortalecimento de sua presença local e tem se beneficiado da parceria estratégica firmada entre os governos do Brasil e da França no final de 2008. Sua participação foi essencial para a conquista pela DCNS, da qual é sócio, dos contratos para construção e transferência de tecnologia dos submarinos para a Marinha do Brasil.

Segundo Mourre, em 2005, ao adquirir o controle da Omnisys, de São Bernardo do Campo (SP), a Thales se antecipou à Estratégia Nacional de Defesa (END). Hoje, a Omnisys tem mais de 300 funcionários, atividades de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e também uma importante capacidade industrial. A empresa atua em três setores principais: radares, guerra eletrônica e espaço.

Recentemente, a Omnisys, em parceria com a Thales, conquistou um contrato da Délégation Générale pour l’Armement (DGA), do Ministério da Defesa francês, para a modernização de radares de trajetografia localizados na França. Conforme disse Laurent, a experiência da empresa brasileira ao modernizar os radares de trajetografia dos Centros de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, e da Barreira do Inferno (CLBI), no Rio Grande do Norte, foram muito importantes para a conquista do negócio na Europa.

Ainda no campo de radares, o objetivo do controlador é tornar a Omnisys um dos centros de especialização de radares do grupo, inclusive como plataforma de exportação de produtos e serviços. E não apenas radares de controle de tráfego aéreo, mercado em que a Thales tem destacada atuação no Brasil e América do Sul, mas também em sistemas de vigilância. O objetivo é transferir à Omnisys a tecnologia do radar de vigilância aérea Ground Master 400 (ver T&D nº 120). Existe uma expectativa do mercado, aliás, de que o Comando da Aeronáutica lance em breve, provavelmente em 2011, uma concorrência para a aquisição de radares de vigilância da mesma categoria do Ground Master 400.

Em guerra eletrônica, a Omnisys é tradicional parceira do Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), no desenvolvimento e fabricação de equipamentos de contramedidas eletrônicas (CME) e de medidas de apoio à guerra eletrônica (MAGE), para equipar os navios de guerra da Marinha do Brasil (MB). A empresa foi também contratada pela MB para desenvolver o buscador (seeker, em inglês), do MANSUP, versão nacional do míssil antinavio MM-40 Exocet, da MBDA.

No segmento espacial, a empresa paulista desenvolve e fabrica equipamentos eletrônicos embarcados, utilizados em módulos de serviço e carga útil de satélites como os da série CBERS, feitos pelo Brasil em parceria com a China. A empresa, em parceria com outra indústria espacial brasileira, a Neuron, foi contratada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), para o desenvolvimento, fabricação e testes dos equipamentos que compõem o Subsistema de Coleta de Dados (DCS, sigla em inglês) dos satélites CBERS 3 & 4.

A Thales tem também buscado crescer em outras frentes de negócios, como sistemas de monitoramento e vigilância, e transportes. “As perspectivas em segurança são fantásticas”, diz Laurent, especialmente nas áreas de infraestrutura e petróleo e gás. A divisão de segurança do grupo, aliás, tem promovido suas soluções em C4I [Command, Control, Communications, Computers & Intelligence] para diversas finalidades no País, como segurança pública e defesa.

O setor espacial também atrai atenções, particularmente a área de satélites. “Amanhã, vejo o Brasil como um mercado gigantesco na área espacial”, afirma. Questionado sobre quando seria este “amanhã”, o executivo francês responde: “nos próximos anos”.

A conversa com Laurent Mourre foi encerrada com seu destaque para o bom momento por que passa a Thales no mercado brasileiro, e também para a crescente importância do País para o grupo. “É um dos dois ou três mercados de maior potencial para o grupo nos próximos anos”, destacou.

Créditos: publicado na edição nº 123 de Tecnologia & Defesa, dezembro de 2010.
.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Mais sobre a visita de Mercadante ao LIT/INPE

.
Ministro diz que Inpe é fundamental para superar desafios da C&T

11-01-2011

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, esteve no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP), nesta segunda-feira (10/01). O Inpe foi a primeira instituição a ser visitada por Mercadante como ministro do MCT.

Recepcionado pela direção e funcionários, no Inpe o ministro ouviu um relato sobre os principais programas em andamento e os resultados obtidos, em áreas como o monitoramento ambiental por satélites na Amazônia, o sucesso que representa o Laboratório de Integração e Testes (LIT) e a ampliação da margem de acerto na previsão de tempo a partir da instalação do supercomputador, batizado de Tupã, adquirido em parceria com a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Em sua exposição, o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, falou das prioridades de investimentos, da necessidade de recursos para um satélite geoestacionário e sobre a negociação com a China para a manutenção da parceria no programa CBERS. Ressaltou, também, a urgência de uma política de recursos humanos que valorize mais os servidores e que também estimule a formação profissional para o setor.

A maior preocupação, segundo Câmara, é que o Inpe tem hoje um grande número de pesquisadores com mais de 20 anos de casa. Nos próximos anos, em função da quantidade de pessoas que podem se aposentar, a instituição pode ter uma sensível redução em seu quadro. “È necessário que, a curtíssimo prazo, uma nova geração de “inpeanos”, como costumamos nos denominar, seja criada para que toda experiência e conhecimento possa ser transferida”, disse o diretor.

Ainda em relação às reivindicações dos servidores, logo que chegou ao instituto, o ministro Mercadante recebeu a direção do Sindicato dos Servidores Públicos Federais de Ciência e Tecnologia do Vale do Paraíba. Em documento entregue pelo presidente da entidade, Fernando Moraes, a categoria, além de reajuste salarial, pede a abertura de mais vagas para novos concursos públicos na carreira de C&T, pleito este que foi reforçado pela Direção do Inpe.

Em seu pronunciamento, Mercadante chamou atenção para a importância da instituição, informando que ela terá papel central na superação dos novos desafios do MCT, na gestão da Presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, o tema da sustentabilidade ambiental e da biodiversidade são centrais para que o País possa mudar o atual modelo de desenvolvimento, rumo a uma economia verde e criativa. "Estes foi um dos motivos que nos levou a convidar o cientista Carlos Nobre - do INPE - para comandar a Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped)."

O ministro concordou com a manifestação dos dirigentes e servidores do INPE de que a formação de recursos humanos é fundamental para ampliar as condições de produção de pesquisa nas Unidades do MCT. Mercadante também falou da atenção que dará à questão do Programa Espacial. Segundo ele, a maior demonstração neste sentido está na indicação do pesquisador Marco Antônio Raupp - atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para a presidência da Agência Espacial Brasileira (AEB/MCT).

Fonte: INPE
.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Aquisições no setor de defesa?

.
Nos últimos dias, o blog Panorama Espacial tem recebido informações de variadas fontes sobre negociações para compras de participações em empresas brasileiras atuantes nos mercados aeroespacial e de defesa. Um mero rumor em si não justificaria um comentário, mas a recorrência das informações, e sua velocidade, têm realmente chamado a atenção.

Das indústrias que o blog ouviu (ressalte-se, de diferentes fontes, inclusive algumas bem familiarizadas com as negociações) serem "alvos" - os rumores dão conta de conversas e/ou negociações com quatro - ao menos três têm significativa atuação no Programa Espacial Brasileiro. No mínimo cinco são os interessados e consolidadores, sendo que dois deles podem ser considerados de capital brasileiro. Por uma questão de responsabilidade, e ainda que a informação seja oriunda de mais de uma fonte, o blog optou por não divulgar nomes. Importante destacar que a taxa de mortalidade de projetos de fusões e aquisições é bastante alta.

Há sinais claros da reação de "players" que se sentiram "ameaçados" com os movimentos de concorrentes nos últimos meses. O racional de todos os interessados, claro, é estar mais bem posicionado para os esperados negócios no Brasil que devem começar a se materializar dentro dos próximos anos, particularmente no setor de defesa (com reflexos no setor espacial, como o blog tem destacado nos últimos tempos).
.

Aloizio Mercadante no INPE

.
Área espacial terá mais pesquisadores, diz ministro

11/01/2011

Virgínia Silveira
Para o Valor, de São José dos Campos

Com foco em inovação, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, disse ontem que pretende fortalecer o setor aeroespacial brasileiro por meio de boas propostas e muita motivação. Em seu primeiro compromisso oficial como ministro, Mercadante esteve ontem no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, e afirmou que o instituto terá importância estratégica em sua gestão, especialmente pelos programas que desenvolve nas áreas de monitoramento de florestas, mudanças climáticas, previsão de tempo e desenvolvimento de satélites.

Mercadante ressaltou que vai procurar uma solução para o problema do déficit de especialistas na área espacial, com a contratação de novos pesquisadores. "A geração dos 50 e 60 anos já representa quase dois terços do pessoal que trabalha hoje no Inpe e no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), e o Estado precisa preservar as suas funções de excelência."

O ministro comentou que, nos últimos dois anos, os pesquisadores do Inpe e do DCTA tiveram reajuste salarial importante - 92%, em média - , mas lembrou que o índice ainda está defasado em relação ao mercado de trabalho, que está aquecido.

O ministério, segundo Mercadante, quer trazer de volta pesquisadores que hoje trabalham fora do país. Só em universidades americanas de primeiro nível, segundo o ministro, trabalham hoje cerca de 3 mil professores brasileiros.

"Precisamos criar uma rede para que esses profissionais se relacionem com o Brasil e possam participar de projetos no nosso país, e também abrir uma porta para os que quiserem voltar, além de incentivar a vinda de pesquisadores estrangeiros de alto nível para trabalhar em nossas universidades e institutos de pesquisa", disse.

Mercadante comentou que ainda é prematuro falar em mudanças estratégicas no programa espacial brasileiro. "Temos de avaliar com profundidade o que nós vamos fazer e a ideia é elaborar um diagnóstico bem rigoroso para construir uma estratégia que seja consistente e duradoura."

Qualquer alteração no âmbito das empresas do ministério (ACS, Nuclepe Sibratec), segundo ele, só será feita a partir de uma avaliação rigorosa da atual equipe recém-indicada para trabalhar no ministério. "O critério vai ser competência técnica e excelência. Isso aqui é política de Estado e nós vamos tratar todas essas instituições com esse perfil. A presidente me deu total liberdade para fazer isso."

Na área de lançadores de satélites, o ministro disse que o objetivo é continuar e avançar. No dia 21, Mercadante voltará a São José dos Campos para conhecer de perto os principais projetos do Brasil nessa área e programou uma visita ao DCTA. O ministro será recebido pelo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito.

Mercadante disse que considera indispensável o investimento em satélites que fazem o monitoramento climático e dão apoio à previsão de safra. "A economia satelital representa hoje US$ 206 bilhões por ano. Portanto, é um setor de grande disputa estratégica, de alto valor agregado e que também permite desenvolvimento de inovação em muitas outras áreas da economia", afirmou.

Fonte: Jornal Valor Econômico, via NOTIMP
.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Thales e Amazônia-1

.
O grupo francês Thales levou mais um contrato do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), desta vez para o fornecimento de um equipamento denominado TWTA (Traveling Wave Tube Amplifier - Amplificador a Tubo de Ondas Progressivas), que integrará o transmissor de dados da câmera AWFI do satélite Amazônia-1.

O negócio, no valor de R$ 5,1 milhões, foi assinado com a Thales Electron Devices (antiga Thomson Tubes Electroniques) em 30 de dezembro, mas apenas hoje (10) publicado no Diário Oficial.

Este se soma ao contrato da antena de banda X, também para o subsistema de transmissão de dados da AWFI, fechado com a Omnisys Engenharia, subsidiária brasileira da Thales, no final de dezembro.
.

Alcântara Cyclone Space: reação ucraniana

.
Hoje (10) pela manhã, alguns dias após o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, ter afirmado que avaliará em detalhes o acordo espacial com a Ucrânia (veja aqui), o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich telefonou para a presidente Dilma Rousseff para discutir a parceria. Veja abaixo:

Dilma discute lançamento de foguetes com presidente da Ucrânia

10 de janeiro de 2011

LARYSSA BORGES
Direto de Brasília

A presidente Dilma Rousseff recebeu, por volta das 10h desta segunda-feira, um telefonema do presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich. Em cerca de 20 minutos de conversa, os mandatários discutiram o principal projeto de interesse dos dois países, a plataforma de lançamento de foguetes Cyclone 4, desenvolvida pela empresa ucraniana Dneprotiazhmash na base de Alcântara, no Maranhão, e trocaram intenções de fazer visitas oficiais a Brasília e Kiev.

No telefonema, o governante ucraniano, que relembrou que o projeto de Alcântara é a principal parceria entre os dois países, reforçou ainda a defesa para que a base se torne comercialmente um ponto para lançamento de satélites. O Cyclone 4, que em 2010 passou por testes de lançamento de satélites, é capaz de levar 1,6 t a órbitas de 35 mil km de altitude.

Yanukovich manifestou a intenção de visitar o Brasil no próximo mês de maio e convidou Dilma a visitar Kiev. Ele tem defendido, desde que tomou posse no início do ano passado, que o governo ucraniano utilize sua política externa para conseguir "os resultados máximos e vantagens mútuas" com governos estrangeiros.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Sisfron e Espaço

.
A edição de domingo (9) do jornal "Folha de S. Paulo" traz como reportagem de capa uma matéria de Eliane Cantanhêde (veja aqui) com detalhes sobre o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), projeto do Ministério da Defesa que, por ter relação com tecnologia espacial, já foi comentado algumas vezes no blog e em Tecnologia & Defesa.

A matéria detalha informações sobre o projeto atualmente em discussão e concepção pelo governo, atividades que têm movimentado o efervescente mercado de defesa no Brasil. Pela primeira vez, foi divulgado publicamente o montante estimado de investimentos: 6 bilhões de dólares, ao próximo a 10 bilhões de reais.

O texto faz também menção a uma reunião realizada no último dia 17 de dezembro no Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército Brasileiro (Ccomgex), em Brasília (DF), que contou com a participação de empresas nacionais e estrangeiras interessadas no Sisfron. Cinco dias após esta reunião, o Exército publicou uma portaria aprovando a diretriz para a implantação do projeto.

A reportagem da Folha não menciona expressamente o envolvimento de tecnologia espacial na rede de monitoramento planejada, mas de acordo com informações recebidas pelo blog na segunda quinzena de dezembro, na reunião do dia 17 foi ressaltado que o sistema contará com satélites de comunicações e observação próprios ou, ao menos, a contratação desses serviços. Em linha com esta informação, há algumas semanas, em confraternização fora do País, um executivo de empresa atuante no setor espacial comentou com o blog que estava trabalhando em propostas para a rede.

É sempre bom lembrar, além do sistema do Exército, existem também discussões para uma rede de monitoramento da costa brasileira, de responsabilidade da Marinha do Brasil, o chamado Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz). Assim como o seu equivalente terrestre, o sistema da Marinha também deverá contar com segmento espacial, possivelmente compartilhado.
.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Boas notícias para a indústria israelense

.
Na edição de hoje (07) do Diário Oficial, foi publicado o extrato do contrato firmado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) com a empresa israelense Aitech Systems para o fornecimento de interfaces OBDH (Computador de Gerenciamento de Dados) do satélite Amazônia-1. O valor do negócio é de pouco mais que R$ 5,66 milhões.

Segundo o blog pode apurar, a Atech Systems é uma empresa israelense, mas controlada pelo Aitech Rugged Group, que tem sede nos Estados Unidos.

Boas notícias para os israelenses

As últimas semanas, aliás, têm sido de boas notícias para as indústrias israelenses quanto a negócios no Brasil nas áreas aeroespacial e de defesa. Em dezembro, a Elbit Systems, por meio de sua subsidiária Aeroeletrônica, de Porto Alegre (RS), venceu uma concorrência para o fornecimento de veículos aéreos não tripulados para a Força Aérea Brasileira.

No penúltimo dia do ano, a empresa anunciou as aquisições de duas empresas brasileiras, a Ares e Periscópio, ambas do Rio de Janeiro. Na última quarta-feira (5), a Helibras, única fabricante de helicópteros no Brasil, divulgou a assinatura de contrato para a modernização de helicópteros do Exército Brasileiro (EB), projeto que envolverá, no campo de aviônicos, a francesa Sagem e a Aeroeletrônica. E por fim, ontem (06), foi divulgada a assinatura de contrato pela Aeroeletrônica para o fornecimento de torretas a veículos blindados do EB, negócio que pode chegar até a US$ 260 milhões.

No início desse mês, também circularam notícias na imprensa especializada sobre ofertas de sistemas da Israel Aerospace Industries para o projeto da aeronave de transporte militar KC-390, em desenvolvimento pela Embraer.
.

Pesquisa do INPE sobre meteorologia

.
Pesquisa irá investigar processos que formam as nuvens quentes

06/01/2011

Os processos físicos relacionados à evolução de nuvens de tempestade são ainda desconhecidos e ainda poucos descritos com precisão pelos modelos numéricos de previsão de tempo e clima. Com a melhor capacidade de processamento do novo supercomputador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que irá rodar modelos de maior resolução espacial, o desenvolvimento de algoritmos para tais processos meteorológicos, que evoluem em escalas de alguns quilômetros, passam a ser de interesse às previsões de tempo e clima e às pesquisas em mudanças climáticas.

O projeto temático Chuva, aprovado recentemente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), irá se concentrar nos diferentes processos que ocorrem no interior de nuvens quentes. Estas nuvens, típicas de regiões tropicais, principalmente em regiões costeiras, e nas quais não se observam partículas de gelo, estão associadas às fortes chuvas que caracterizam eventos meteorológicos extremos. Elas foram responsáveis, por exemplo, pelas chuvas contínuas que provocaram enchentes, em anos anteriores, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, e em 2010 no Rio de Janeiro e nos estados de Alagoas e Pernambuco.

As chuvas provocadas por essas nuvens não são consideradas nas estimativas de precipitação dos atuais satélites em órbita, uma das principais preocupações do projeto de acordo com Luiz Augusto Machado, pesquisador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do INPE e coordenador principal do Chuva. As contribuições nesta área serão incorporadas ao satélite brasileiro, a ser lançado em 2015, como parte da constelação de satélites do programa GPM (Global Precipitation Measurement), liderado pelas agências espaciais dos Estados Unidos (NASA) e do Japão (JAXA).

Os resultados da pesquisa deverão ser aplicados também à área de mudanças climáticas, em análises dos efeitos dos aerossóis (partículas de queimadas) na formação de nuvens de chuva e na modelagem de alta resolução espacial que deverá detalhar melhor estes processos.

Cinco grupos de trabalho criados dentro do projeto irão atuar de forma interativa a partir das seguintes áreas de pesquisa: 1. Características e ciclo de vida de sistemas de precipitação por região; 2. Estimativa de Precipitação – desenvolvimento e algoritmo de validação; 3. Processos de eletrificação: das nuvens às tempestades; 4. Características das camadas limites para diferentes processos de evolução das nuvens e de regimes de precipitação; e 5. Modelo de aprimoramento e validação, com ênfase na microfísica de nuvens e interações de aerossol, para estimativas de precipitação por satélite no Brasil.

Sete regiões com diferentes regimes de chuva e padrões climáticos foram escolhidas para a realização das campanhas científicas que contarão com a participação da NOAA, NASA, universidades dos Estados Unidos e européias. Neste ano, três experimentos estão programados: o primeiro, em Fortaleza (CE), no mês de abril; depois, em Belém (PA), em junho; e, por último, em São Luiz do Paraitinga (SP), no final do ano. Para as medidas, serão utilizados radar polarimétrico, lidar, radiômetro de microonda, disdrômetros, radiossondas, entre outros instrumentos.

Experimento em Alcântara

O programa internacional Global Precipitation Measurement (GPM) ou Medidas Globais de Precipitação, liderado pela Nasa e Jaxa, que inspirou o projeto Chuva, também vem estimulando outras iniciativas científicas. Durante o mês de março do ano passado foi realizada a campanha "GPM 2010 Chuva", que utilizou o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, como base para a realização dos experimentos. O objetivo foi estudar a formação das gotas de chuva de nuvens quentes e aperfeiçoar modelos de previsão de tempo e a estimativa da precipitação a partir de dados de satélites meteorológicos.

Desde 2004, a Agência Espacial Brasileira (AEB) vem apoiando iniciativas que ampliam a participação brasileira neste programa que busca compreender o papel das chuvas em nível global. Mais informações sobre o GPM Brasil podem ser conferidas no link: http://www.aeb.gov.br/mini.php?secao=gpm

Fonte: INPE
.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

UnB: Curso de Engenharia Aeroespacial em 2012

.
UnB quer abrir curso de Engenharia Aeroespacial em 2012

05/01/2011

Thais Antonio - Da Secretaria de Comunicação da UnB

A Universidade de Brasília planeja lançar um curso de Engenharia Aeroespacial na UnB Gama em 2012. No Brasil, existem poucos desses cursos. Os do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) são mais voltados para aviões comuns. “O curso da UnB seria mais voltado para o domínio espacial”, diz o professor Alessandro Borges, diretor da UnB Gama. Os estudantes irão aprender sobre foguetes e propulsão, por exemplo.

Segundo professores que já trabalham na área, o mercado de veículos lançadores de satélites (VLS) é promissor, mas falta mão de obra qualificada para atuar nesse segmento. O jornal Folha de São Paulo informou na terça-feira que o Ministério da Ciência e Tecnologia recebeu da Força Aérea Brasileira (FAB) um pedido de R$ 500 milhões por ano a partir de 2016 para o desenvolvimento de satélites e R$ 160 milhões ao ano, já a partir de 2011, para foguetes.

“O recurso financeiro é importante, mas é preciso saber como faremos em relação aos recursos humanos”, diz José Leonardo Ferreira, coordenador do Laboratório de Plasmas. “Não sobra muito caminho a não ser que haja um programa de formação muito forte nas universidades”.

Para o professor Carlos Alberto Gurgel, é imprescindível que o país tenha tecnologia para acessar o espaço. “Daqui a no máximo dez anos o Brasil deve ser a 5ª. economia do mundo”, afirma. “Rússia, China, Índia, EUA estão entre as 10 maiores economias, possuem dimensões continentais e têm acesso ao espaço. Nesse sentido, o Brasil é um país sui generis”.

CUSTO-BENEFÍCIO - “O curso da UnB será montado em cima da grade das outras quatro engenharias ofecerecidas no campus”, explica o diretor da UnB Gama. “A Engenharia que mais casa com as que já temos é a Aeroespacial. A relação custo-benefício é muito boa”. Segundo Alessandro, com poucos novos professores será possível tornar real um curso de alta complexidade.

O projeto político-pedagógico do curso de graduação já está pronto e foi montado por uma comissão de professores da Faculdade de Tecnologia e do Instituto de Física que já atuam nessa linha de pesquisa. Se for aprovado pelo Decanato de Ensino de Graduação, deve começar a funcionar em dois semestres.

Carlos Alberto Gurgel, chefe do Departamento de Engenharia Mecânica, conta que a Universidade de Brasília tem planos para alimentar o mercado de engenheiros aeroespaciais não só na graduação. “O que nós estamos sugerindo nessa linha são duas coisas: além do curso no Campus do Gama, queremos criar uma pós-graduação como linha de pesquisa da Engenharia Mecânica”, explica.

“No futuro, quando houver muitos grupos de pesquisa e massa crítica suficiente, será possível propor um curso de Engenharia Aeroespacial Interdisciplinar na pós-graduação”. Essa modalidade deve esperar dois anos para entrar em funcionamento. “Já existem trabalhos de mestrado e doutorado nessa área na UnB”, afirma o professor. “A ideia é fortalecer, criando uma linha de pesquisa específica no programa da Engenharia Mecânica”.
.

Marco Antonio Raupp na Presidência da AEB

.
Em entrevista dada ao jornal "O Estado de S. Paulo" (veja aqui), o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou que a Presidência da Agência Espacial Brasileira (AEB) será ocupada por Marco Antonio Raupp, atualmente presidente da Associação Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Raupp é graduado em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com livre-docência pela Universidade de São Paulo. Foi pesquisador e diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e além de atualmente ocupar a presidência da SBPC, também é diretor-geral do Parque Tecnológico de São José dos Campos.

Conveniente observar que em seu discurso ("Aloizio Mercadante no MCT: discurso de posse"), o ministro afirmou que daria redobrado apoio à AEB, o que conflitaria com os comentários e rumores do final de 2010 acerca de uma possível reestruturação de toda estrutura do Programa Espacial Brasileiro. Comentava-se, inclusive, que a AEB perderia a sua função, podendo até mesmo ser extinta ou transformada.

A entrevista de Mercadante para o "Estadão" tem também uma informação relevante ao Programa Espacial. Questionado sobre o acordo com a Ucrânia, o ministro afirmou que irá "fazer uma avaliação bastante detalhada..." Veja abaixo:

"O acordo espacial com a Ucrânia vai ser mantido?

Quero fazer uma avaliação bastante detalhada para ver como evoluiu, qual é o potencial de evolução, quais são as dificuldades. Vamos fazer uma avaliação profunda do acordo, vamos olhar empresa binacional que está envolvida. Falei com a presidenta Dilma que nós íamos fazer todo esse levantamento. É prematuro um posicionamento. Novas definições do programa nuclear estão suspensas desde 2008, desde pouco depois da retomada do programa. Há um lobby forte pela participação da iniciativa privada na construção e operação de novas usinas, o que exige emenda constitucional."
.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Aloizio Mercadante no MCT: discurso de posse

.
Ontem (3), o economista e ex-senador Aloizio Mercadante assumiu o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em cerimônia em Brasília que reuniu autoridades políticas e da comunidade científica e tecnológica. Sob o MCT, estão os principais órgãos civis atuantes no Programa Espacial, como a Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Abaixo, reproduzimos o trecho do discurso de posse de Mercadante (clique aqui para ler na íntegra) em que fala sobre uma das áreas consideradas estratégicas, a aeroespacial:

"Devo mencionar adicionalmente, e com relevo, duas grandes áreas estratégicas: a aeroespacial e a nuclear.

De fato, o Brasil não pode prescindir de um Programa Espacial fortalecido, que conte com recursos suficientes, nos níveis necessários para atender as importantes demandas por satélites e por aplicações espaciais, inerentes aos dias de hoje. Deve, inclusive, aproveitar comercialmente as vantagens geográficas da Base de Alcântara e promover o desenvolvimento industrial de toda uma cadeia vinculada às atividades do Programa. Também não podemos esquecer a relevância de termos um veículo lançador operante, pois com ele poderíamos dominar toda a cadeia da indústria aeroespacial. Nesse contexto, daremos redobrado apoio à Agência Espacial Brasileira (AEB)."
.

Entrevista de Jean-Yves Le Gall, uma análise

.
Uma das peculiaridades mais interessantes de Jean-Yves Le Gall é sua abertura em falar sobre concorrentes. Suas opiniões sobre os competidores primam pela objetividade e sinceridade - para alguns de modo até chocante. Foi o caso de sua afirmação sobre a Alcântara Cyclone Space (ACS). Para ele, "o Cyclone 4, por agora, é apenas um projeto."

Como é sabido, ainda que com seus problemas, a ACS está avançando, ao menos do lado brasileiro. Mas, a afirmação de Le Gall até tem a sua lógica. Aqueles que acompanham o mercado de lançamentos se recordarão sem muita dificuldade de dois ou três casos de iniciativas de exploração do mercado de lançamentos espaciais comerciais. O caso mais emblemático talvez seja o da Asia Pacific Space Centre (APSC), "vaporware" surgido no início desta década e que se propunha a construir na Ilha de Christmas, na Austrália, um sítio de lançamento do foguete Aurora, de design russo. O projeto ganhou a mídia e a comunidade especializada, foi muito comentado na época, mas, aos poucos, por variadas razões, acabou desaparecendo. Curiosamente, um dos responsáveis pela APSC, alguns anos depois tentou viabilizar um projeto similar no Brasil.

Outra passagem que corrobora as palavras de Le Gall, em linha com as dificuldades de se estabelecer no mercado. Em setembro de 2007, uma operadora do Reino Unido assinou com a norte-americana SpaceX um contrato para o lançamento de seu satélite HYLAS. Seria o primeiro lançamento de satélite geoestacionário pelo revolucionário foguete Falcon 9.

Em julho de 2009, um novo anúncio: a Arianespace lançaria o HYLAS usando um Ariane 5 ou Soyuz, como de fato o fez em novembro de 2010. O curioso é que a operadora inglesa havia previamente criticado a Arianespace por ser muito "cara". Sua decisão de substituir o lançador foi motivada pelas preocupações dos clientes sobre os riscos associados ao Falcon 9. O mote da lançadora europeia, "qualidade tem o seu preço", se comprovou mais uma vez.

O exemplo da APSC e SpaceX / Falcon 9 - e outros tantos - mostram que em se tratando de projetos espaciais, sempre arriscados e que demandam grandes investimentos de capital, é necessário que se tenha muita cautela.

Jean-Yves Le Gall não analisou especificamente o caso da ACS, até por que este não era o propósito de nossa entrevista e nem a sua função, mas em conversas com pessoas familiarizadas com o setor, a percepção de que o Cyclone 4 terá pequena penetração no mercado geoestacionário - algo esporadicamente abordado pelo blog - é real. Isto por que sua capacidade de inserção de cargas úteis em órbita de transferência geoestacionária (entre 1.700 e 1.800 kg) está abaixo dos menores satélites de comunicações que têm sido lançados ao espaço (superiores a 2.000 kg).

Essa realidade tem levado a Agência Espacial Brasileira (AEB) a considerar, inclusive, a construção do Sistema Geoestacionário Brasileiro (SGB) com massas em torno de 1.500 kg, de modo a viabilizar cargas para o lançador ucraniano, como revelou Carlos Ganem ao blog em setembro de 2010 (ver a postagem "AEB: Carlos Ganem fala ao blog"). No mesmo sentido, vale a leitura da interessante entrevista de Ganem dada à revista Teletime de novembro de 2010 ("Olhando para o alto"), mas apenas há algumas semanas disponibilizada na internet. Importante destacar, a opinião de Ganem sobre o SGB não é necessariamente unânime dentro do Programa Espacial Brasileiro (e fora dele também).

Outro indicativo, inclusive oficial, de que a capacidade do Cyclone 4 preocupa são os estudos (preliminares, diga-se de passagem) para o uso de "strap-on boosters" no lançador, o que poderia ampliar sua performance para 2.700 kg (veja "Booster S 43 para o Cyclone 4: uma possibilidade").
.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Entrevista com Jean-Yves Le Gall, presidente da Arianespace

.
Na manhã de 29 de dezembro, no Hotel des Roches, em Kourou, Jean-Yves Le Gall, chairman e diretor-presidente da Arianespace, a conhecida provedora europeia de lançamentos espaciais, gentilmente recebeu a reportagem de Tecnologia & Defesa para uma entrevista exclusiva. Dentre os tópicos abordados, o ano de 2010 para a empresa, suas relações no Brasil e América do Sul, e competidores.

Com sua carreira inteira dedicada ao programa espacial europeu e desde 2002 presidindo a Arianespace, Le Gall tem um estilo bastante objetivo e direto, econômico nas palavras, mas com respostas sempre marcantes.

O ano de 2010

A entrevista começou com balanço das atividades da empresa em 2010. O executivo apontou a realização de cinco lançamentos do Ariane 5 até então, todos sucedidos, e que o sexto seria efetuado naquela noite (como de fato foi, também com sucesso). Com as seis missões, a Arianespace foi responsável pela colocação em órbita de 12 satélites, de um total de 20 lançados, frente aos 8 lançados pela sua concorrente International Launch Services - ILS, que opera o foguete russo Proton. Com estas missões, a empresa respondeu por uma participação de 60% do mercado em 2010.

Le Gall também destacou o contínuo apoio dos parceiros europeus, destacadamente a Agência Espacial Europeia, e a celebração de 12 novos contratos para lançamentos de cargas úteis, em comparação a apenas seis pela ILS.

Tendências de mercado

O executivo francês vê um mercado de lançamentos para 20 satélites comerciais geoestacionários por ano, com a Arianespace ocupando um market share de 55% a 60%, com seus lançadores Ariane 5 e Soyuz. Ao ser questionado sobre tendências quanto às dimensões dos satélites geoestacionários, Le Gall afirmou que não vê um aumento de massa para muito além de 6 toneladas, que é a capacidade máxima do Proton, principal concorrente do Ariane 5, ficando, portanto, entre os satélites menores (2 a 3 toneladas) e de 6 toneladas. [Nota do blog: o foguete russo, ao contrário do Ariane, é capaz de lançar apenas uma carga útil em cada missão, possivelmente daí o motivo de ter sido usado como paradigma]

Sobre as iniciativas relacionadas ao Next Generation Launcher (NGL) ora em discussão na Europa, também chamado de Ariane 6 e que futuramente substituirá o seu "irmão" mais velho, Jean-Yves Le Gall afirmou ser ainda muito cedo para indicar tendências relacionadas à capacidade e características do lançador, mas que isto ficará mais claro em dois anos, até a uma decisão.

Competição: ILS, Cyclone 4, China e ITAR

Fizemos algumas questões sobre competidores, tanto atuais como futuros, e é nesse campo que a entrevista talvez tenha ficado mais interessante. De acordo com Le Gall, o único competidor atual da Arianespace é a ILS. Após nosso questionamento sobre o projeto da ILS de desenvolver uma versão do Proton, conhecida como Duo, capaz de lançar dois satélites num único voo, o executivo revelou que o projeto foi paralisado por razões técnicas. Foi feita outra pergunta sobre a possível competição com o Falcon 9, da norte-americana SpaceX, que busca revolucionar o mercado de transporte espacial com fretes de baixo custo. Mas, para o presidente da Arianespace, o lançador americano não tem performance, não vendo nele um competidor no momento.

Sobre a iniciativa ucraniano-brasileira para operar o Cyclone 4 a partir de Alcântara, no Maranhão, Le Gall afirmou: "O Cyclone 4, por agora, é apenas um projeto." Comentamos que a infraestrutura do centro de Alcântara para a operação do foguete já havia sido contratada, no que o executivo emendou: "Nesse mercado, apenas lançamentos contam."

O tópico sobre competidores foi encerrado com questões sobre a China, que tem buscado ocupar algum espaço no mercado. Para o chairman europeu, a China é um caso interessante, com muitos avanços no programa espacial governamental, mencionando a ambição chinesa de ir até à Lua, mas ele não vê a mesma evolução no âmbito espacial comercial. Em contrapartida à sua resposta, comentamos sobre os contratos conquistados pelos chineses na América do Sul, para a construção e lançamento de satélites para a Venezuela e Bolívia, e Le Gall respondeu que o que se comenta no mercado é que o satélite venezuelano não estaria funcionando apropriadamente.

No campo de lançamento de cargas comerciais, ele entende que os satélites ITAR-free, isto é, livres de componentes de origem norte-americana e, por esta razão, passíveis de serem lançados por foguetes chineses, não existirão mais no futuro por dificuldades técnicas no desenvolvimento e construção. Mencionou o caso, embora não tenha citado o nome, de um satélite ITAR-free que teve falha logo após o lançamento. [Nota do blog: o satélite em questão é o Eutelsat W3B, que teve sua perda total declarada no final de outubro de 2010, motivada por um grave vazamento no tanque de propelentes]

Brasil e América do Sul

O presidente da Arianespace destacou que a empresa tem sido muito bem sucedida com sua presença no Brasil, tendo sido responsável pelo lançamento até hoje de todos os satélites de comunicações da Embratel e de sua subsidiária, a Star One. A provedora europeia, aliás, foi contratada para a colocação em órbita do Star One C3, que está em construção. O executivo vê o mercado nacional de satélites comerciais de comunicações com um lançamento a cada um ou dois anos.

Indo além do Brasil, para outros países do continente sul-americano, o presidente mencionou que a Arianespace lançará também o SSOT, um satélite chileno de observação terrestre, e foi contratada este ano para lançar o satélite de comunicações Arsat-1, da Argentina.
.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Panorama da Telespazio no Brasil

.
Três perguntas a... Marzio Laurenti, presidente da Telespazio Brasil

O senhor poderia falar um pouco sobre a Telespazio no mundo?

A Telespazio é uma joint-venture entre o grupo italiano Finmeccanica (67%) e a francesa Thales (33%), sendo considerada uma das operadoras líderes em serviços de gerenciamento de satélites, observação terrestre, navegação por satélites, assim como no campo de comunicações integradas e programas científicos espaciais. Com mais de quarenta anos de história, a empresa participou e participa de grandes projetos espaciais europeus, como o Galileo, EGNOS, GMES e COSMO-SkyMed. Em 2009, suas vendas alcançaram 372 milhões de euros.

Qual é a presença da Telespazio no Brasil e região?

Desde 1997, a Telespazio tem uma subsidiária no Brasil, com sede no Rio de Janeiro, vários teleportos, cujo principal está localizado no Rio de Janeiro, escritórios regionais em São Paulo, Porto Alegre e Cuiabá e bases técnicas de manutenção espalhadas pelo Brasil. A empresa é hoje a quarta maior operadora brasileira no setor das telecomunicações satelitais, com ampla oferta de soluções avançadas e soluções multimídia, e no setor de observação da Terra via satélite, comercializando no Brasil, como representante da e-GEOS, os produtos da constelação radar COSMO-SkyMed.

E as perspectivas futuras? Que áreas ou negócios interessam à empresa no Brasil e outros mercados sul-americanos?

O faturamento da Telespazio Brasil em 2009 foi 30% maior do que o de 2008 e, para este ano [2010], iremos conseguir um aumento de cerca de 80%, alcançando uma receita próxima de R$ 50 milhões. A Telespazio conta hoje com clientes não apenas no setor privado, mas também governamentais, como polícias estaduais e as Forças Armadas. Para o Comando da Aeronáutica, por exemplo, temos fornecido serviços VSAT (Very Small Aperture Terminal), em banda Ku, e imagens radar para o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM). O setor de defesa é um mercado em que queremos atuais mais, seja com produtos COSMO-SkyMed, seja em serviços de comunicações. Temos vontade e planos de crescimento, seja organicamente, seja por meio de eventuais aquisições.

Fonte: Coluna "Defesa & Negócios", de André M. Mileski, publicada na revista Tecnologia & Defesa nº 123, dezembro de 2010.
.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Antena banda X e sensor de estrelas do Amazônia-1

.
Como esperado, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) assinou no final de 2010 alguns contratos relacionados à aquisição de componentes para o satélite de observação Amazônia-1, formalizando o resultado de concorrências anunciadas em meados de dezembro. Os extratos foram publicados na edição de 28 de dezembro do Diário Oficial da União.

O fornecimento de antena da banda X do subsistema de transmissão de dados da câmera AWFI foi contratado à Omnisys Engenharia, subsidiária do grupo europeu Thales, por valor um pouco superior a R$ 3,45 milhões. Já os sensores de estrelas do subsistema de controle e atitude em órbita (ACDH, sigla em inglês), ao custo de R$ 3,943 milhões serão fornecidos pela francesa EADS SODERN.

A expectativa é que outros contratos relacionados ao primeiro satélite brasileiro baseado na Plataforma Multimissão sejam assinados no início de 2011.
.