domingo, 31 de janeiro de 2010

"Fique por dentro": Política Espacial Brasileira

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Reproduzimos abaixo mensagem recebida do Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica, da Câmara dos Deputados, sobre o lançamento de área na internet com informações e dados sobre o Programa Espacial Brasileiro. Estes dados estão sendo usados para a elaboração de estudo sobre o programa nacional:

"A Câmara dos Deputados convida você para conhecer um pouco mais sobre a Política Espacial Brasileira.

Ao acessar o Fique por Dentro, na página da Câmara, você encontrará vasto material, como, legislação, textos eletrônicos e referências bibliográficas, reunidos em um só espaço, que possibilitará você entender um pouco mais a dinâmica e as prioridades de tema que instiga e fascina todos.

Acesse: http://www2.camara.gov.br/internet/fiquePorDentro/Temasatuais/politica-espacial-brasileira

Informamos ainda que, em meados de 2010, o Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica lançará publicação com propostas legislativas para o fortalecimento do setor. O relator do estudo no Conselho é o Deputado Rodrigo Rollemberg. Contribuições ao debate podem ser feitas por meio do Portal E-Democracia, na página da Câmara dos Deputados."

Para mais informações sobre os estudos sobre o Programa Espacial Brasileiro na Câmara dos Deputados, acessem a postagem "Discussões sobre Política Espacial no CAEAT".
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Amazônia-1: RALCam 3 em risco

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Há algumas semanas, circula nos bastidores "espaciais" a informação de que a câmera inglesa RALCam 3, a ser fornecida pelo Rutherford Appleton Laboratory - Science & Technology Facilities Council (RAL-STFC) para o satélite de observação terrestre Amazônia-1, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), poderia não voar mais com o satélite brasileiro. A razão seria a necessidade de alteração na órbita do Amazônia-1, em cerca de 80 km, para a operação do imageador europeu, de alta resolução.

Em princípio, o satélite do INPE, que deve subir ao espaço a partir de 2012, deveria contar com dois sensores óticos: a RALCam 3, e a AWFI, carga útil principal atualmente em desenvolvimento pela indústria Opto Eletrônica, de São Carlos (SP).

O blog entrou em contato com o diretor do INPE, Gilberto Câmara, a fim de esclarecer oficialmente o assunto. Câmara respondeu: "Quanto ao Amazônia-1, temos dificuldades para incluir a RALCAM, devido aos custos adicionais necessários para compor a carga útil. Estamos em negociação com o governo do Reino Unido para compartilhar os custos adicionais."

Em breve, voltaremos a abordar este tema, dando mais informações.
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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

CDR dos CBERS 3/4

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Chineses e brasileiros revisam projeto do satélite CBERS

27/01/2010

Equipe da Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST, na sigla em inglês) está no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos (SP), para a chamada Revisão Crítica do Projeto (CDR) dos satélites CBERS-3 e 4. As atividades serão realizadas nos dias 2 e 3 de fevereiro em conjunto pelos especialistas brasileiros e chineses.

O INPE é o responsável no Brasil pelo Programa CBERS (sigla para China-Brazil Earth Resources Satellite; em português, Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), parceria iniciada com a China em 1988 e que garantiu a ambos os países o domínio da tecnologia do sensoriamento remoto para observação da Terra. Segunda geração de satélites desenvolvidos pela parceria sino-brasileira, os CBERS-3 e 4 representam uma evolução dos satélites CBERS-1, 2 e 2B, este último lançado em setembro de 2007.

O Programa CBERS possui quatro principais segmentos, denominados Segmento Espacial – Satélite, Segmento de Controle, Segmento de Aplicações e Segmento do Veículo Lançador. A CDR tratará do primeiro, que consiste no satélite propriamente dito e suas interfaces com os outros Segmentos.

O objetivo da CDR é verificar se o projeto cumpre com os requisitos estabelecidos para o satélite e seus subsistemas, com as devidas margens de projeto, para atestar que a alternativa escolhida pelos engenheiros é correta. É também objetivo da CDR verificar as interfaces do satélite com os demais segmentos.

Modelos

Para chegar a esta etapa do projeto foram projetados, construídos e testados quatro modelos de satélites: Modelo Radioelétrico (RM); Modelo Estrutural (SM), Modelo Térmico (TM) e Modelo Elétrico (EM).

RM - o modelo radioelétrico do satélite possui as características radioelétricas (antenas, formas, superfícies). É construído e testado em campo de antenas para verificar diagramas de radiação e interferências.

SM – o modelo estrutural possui as características mecânicas do satélite, e tem como objetivo verificar se o satélite vai resistir aos esforços mecânicos impostos ao longo de sua vida útil, principalmente os esforços do lançamento. Esse modelo é submetido a testes estáticos e dinâmicos (vibração e acústico).

TM - é construído com as características térmicas do modelo de vôo e é submetido a teste de balanço térmico (TBT) em câmara termo-vácuo. O objetivo deste teste é verificar se todos os equipamentos e subsistemas suportarão as diferenças de temperatura durante a operação em órbita.

EM – o modelo elétrico é construído com equipamentos reais que são montados em uma estrutura representativa do satélite (modelos de engenharia) e tem como objetivo realizar a verificação dos requisitos funcionais de desempenho e a compatibilidade eletromagnética do satélite como um todo.

Os trabalhos dos modelos RM, SM e TM foram realizados no INPE e o do EM na CAST, na China.

Mais informações sobre o Programa CBERS no site www.cbers.inpe.br

Fonte: INPE
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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Jobim em Israel

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Encerra-se amanhã, 28 de janeiro, a viagem oficial do ministro da Defesa, Nelson Jobim, ao Estado de Israel. Na sua pauta, constaram audiências com o presidente e primeiro-ministro israelenses, Shimon Peres e Benjamin Netanyahu, respectivamente, além de várias visitas e compromissos relacionados às áreas aeroespacial e de defesa. De acordo com a agenda oficial divulgada pelo Ministério da Defesa, na última segunda-feira (25), Jobim teria visitado a Israel Aerospace Industries (IAI), indústria aeroespacial estatal israelense, e hoje (27), as indústrias Rafael Advanced Defense Systems e Elbit Systems.

Segundo notícias vindas da imprensa local israelense, projetos de mísseis, veículos aéreos não-tripulados (VANTs) e satélites teriam sido apresentados ao ministro brasileiro, que nos últimos tempos passou a ser bastante assediado por fabricantes de todo o mundo, em razão de uma maior atenção do governo aos temas militares.

Companhias israelenses já fornecem sistemas aeroespaciais e de defesa para o Brasil há muitos anos. A Elbit Systems, por meio de sua subsidiária local, a Aeroeletrônica, fornece aviônicos para aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), além de estar envolvida em alguns projetos de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), como o CBERS. Em 2009, a IAI firmou parceria com o grupo brasileiro Synergy para a exploração de oportunidades no Brasil e em outros países da América do Sul, iniciativa esta que já teria rendido significativo contrato para o fornecimento de VANTs à Polícia Federal. A Rafael, por sua vez, além de já fornecer mísseis para a FAB, estaria considerando a aquisição de indústria brasileira para uma maior penetração no mercado nacional.

Não é de hoje o interesse israelense em fechar negócios espaciais com o Brasil, em especial da IAI, que tem em sua ampla gama de produtos satélites, cargas úteis e lançadores. Há anos, a IAI promove no País sua família de satélites de observação, e certamente, após a publicidade do interesse do Ministério da Defesa em dispor de seu próprio satélite (Projeto Sentinela), medidas mais concretas foram tomadas. Em maio de 2009, por exemplo, representantes da agência espacial e de indústrias israelenses estiveram na Câmara dos Deputados com o objetivo de discutir uma cooperação na área.
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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Nova edição de "Espaço Brasileiro" no ar

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A Agência Espacial Brasileira (AEB) disponibilizou em seu web-site a sétima edição da revista institucional "Espaço Brasileiro", referente ao trimestre de outubro a dezembro de 2009. Este número traz entrevista com o fundador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Brig. Aldo Weber Vieira da Rosa, além de reportagens sobre variados temas, como a Torre Móvel de Integração (TMI), do VLS-1, o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI). A matéria de capa, intitulada "Carreira no exterior", aborda o crescente interesse de agências espaciais estrangeiras por profissionais graduados no Brasil.

Para acessar a revista, disponível em arquivo PDF (22 megabytes), clique aqui.
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Restrições do ITAR ao Programa Espacial Brasileiro

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O blog tem abordado com frequência as consequências da legislação ITAR (International Traffic in Arms Regulations), dos EUA, ao Programa Espacial Brasileiro. O assunto, aliás, é costumeiramente objeto de conversas em encontros do blog com autoridades do Programa brasileiro e indústrias nacionais e estrangeiras.

Desde o início do ano, o blog conversou com duas indústrias sobre as restrições impostas pelo ITAR, e alguns pontos mencionados merecem comentários. A regulação norte-americana não tem afetado apenas o programa CBERS, desenvolvido em parceria com a China, mas também outros projetos brasileiros de satélites, como o de observação terrestre Amazônia-1. Essa constatação, prática, diga-se de passagem, é no mínimo curiosa, já que as restrições dos EUA ao Brasil em matéria de satélites sempre foram muito direcionadas ao projeto com a China, por causa de problemas passados (vejam a postagem "A face comercial da ITAR", de março de 2009), e não aos projetos nacionais. O mesmo não ocorre, como já foi tratado aqui, com o programa de lançadores e foguetes brasileiros (vejam "Embargos dos EUA ao Programa Espacial Brasileiro"), em que restrições e vetos são de praxe.

O efeito prático do ITAR, contrariando a sua razão de existir, é que, além de prejudicar a indústria americana (a própria participação da Boeing na concorrência F-X2, da Força Aérea Brasileira, prejudicada pelas alegações do governo de que Washington não transfere tecnologia é exemplo), indústrias estrangeiras, em particular a europeia, se beneficiem (muitas vezes, com preços bem superiores) com novos clientes. Há exemplos também, inclusive no Brasil, de empresas que tiveram veto na compra de componentes dos EUA, e que por esta razão desenvolveram soluções locais.

Numa das conversas com o blog, um caso interessante, não associado ao ITAR, mas sim à paranoia americana foi relatado. Trata-se de empresa brasileira que tem seu IP bloqueado no acesso virtual ao web-site da biblioteca da National Aeronautics and Space Administration (NASA). Evidentemente, o bloqueio de nada adiantou, pois a empresa encontrou outro meio para acessar o banco de dados da agência espacial americana.
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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Balanço da EADS Astrium em 2009

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2009, um ano memorável para a Astrium


O CEO da Astrium, François Auque, apresentou nesta terça-feira (19), em Paris, os resultados do exercício de 2009 e as perspectivas da companhia para 2010, durante a entrevista coletiva anual à imprensa. A Astrium, subsidiária da EADS – European Aeronautic Defence and Space Company, em 2009 firmou contrato de mais de 4 bilhões de euros referentes a 35 lançadores Ariane 5. Foram colocados em órbita 14 satélites, graças a sete Ariane 5 fornecidos. Um destaque em 2009 foi o maior telescópio espacial lançado até hoje, o Herschel, além dos satélites de telecomunicações Hot Bird 10 e o Amazonas 2.

No setor de defesa, a Astrium concretizou com sucesso os testes do míssel balístico M51 e pôs em órbita para a França o demonstrador Spirale e o satélite de inteligência Hélios 2B, e para a Alemanha o satélite Comsat Bw 1. O ano foi marcado por um número impressionante de entregas satisfatórias em órbita: 6 satélites.

"2009 foi um ano recorde no que diz respeito aos satélites de telecomunicações, com sete novos pedidos representando um quarto do mercado mundial, graças particularmente ao contrato para quatro satélites no valor de mais de 500 milhões de euros assinado com a SES Astra no final de novembro. Também devemos ressaltar que os órgãos internacionais têm reconhecido a qualidade das nossas atividades de serviços, já que firmamos vários contratos nos Estados Unidos com a National Geospatial-Intelligence Agency (NGA) e, na Europa, com a Agência Europeia de Defesa (AED)”, afirmou Auque durante a coletiva.

Em 2010, a Astrium manterá seus esforços para efetuar as entregas dentro dos prazos dos seis lançadores Ariane 5, e já está trabalhando no Ariane 5 Midlife Evolution, resultado da assinatura de um contrato de dois anos de 150 milhões de euros com a Agência Espacial Europeia (ESA). "O Ariane 5 ME contará com uma maior capacidade de carga, e com o futuro Ariane 6 estaremos prontos para tornar realidade qualquer decisão europeia neste setor”, declarou François Auque.

2010 também deverá ser movimentado com a exportação de satélites de observação, com entregas previstas para a Argélia, Chile e Coréia do Sul. Neste último, o satélite COMS será o primeiro equipamento de última geração do país. As atividades ligadas aos satélites de telecomunicações também deverão ser intensas, com a continuidade dos trabalhos no Astra 3B, COMSAT Bw-2, Arabsat 5A & 5B, HYLAS e KA-SAT, o primeiro satélite europeu multibeam operando em banda Ka e voltado especialmente ao fornecimento de internet banda larga.

Astrium inova para o planeta Terra

A Astrium vem desenvolvendo com financiamento próprio tecnologias capazes de transferir energia solar para a Terra. Suas equipes altamente especializadas podem hoje fabricar grandes satélites com capacidade para coletar energia solar e redirecioná-la ao solo usando raios laser e espelhos especiais. Com os governos se movimentando para desenvolver energias limpas e inesgotáveis, a indústria europeia já oferece respostas concretas.

"Os satélites nos permitem diagnosticar em escala mundial a saúde do nosso planeta. Esse ano cinco satélites fabricados pela Astrium e destinados ao estudo do meio ambiente foram lançados em órbita. A tecnologia que estamos desenvolvendo representa avanços reais e com isso podemos oferecer aos governos soluções concretas como, por exemplo, na luta contra o desmatamento ou a agricultura de precisão”, explicou Auque.

Através de sua subsidiária Spot Infoterra, a Astrium está apta a medir com precisão a dinâmica do desmatamento e a degradação das matas, além das consequentes emissões de carbono, nas principais regiões florestais. Em uma parceria com a ONG brasileira NGO IMAZON, a Astrium já analisou a parte do estado do Mato Grosso na Floresta Amazônica e desenvolveu uma ferramenta que foi testada e aprovada na Conferência do Clima de Copenhague. Ela agora já está sendo usada nos projetos REDD (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation). O objetivo é desenvolver o mercado de carbono de modo que os países com áreas florestais possam tomar consciência do valor que as florestas têm e deste modo protegê-las melhor.

Um contrato também foi assinado em Copenhague em dezembro do ano passado com a Agência de Desenvolvimento da França (AFD), que dará suporte a essas tecnologias para o monitoramento de florestas no Congo.

Sobre a Astrium

A Astrium é uma subsidiária da EADS dedicada a prover serviços e sistemas espaciais, civis e de defesa. Em 2008, a Astrium faturou cerca de 4,3 bilhões de euros e empregou mais de 15 mil pessoas na França, Alemanha, Reino Unido, Espanha e Holanda. Suas três áreas principais de atividade são: Astrium Space Transportation para lançadores e infraestrutura orbital, a Astrium Satellites para satélites e segmento terreno e a Astrium Services para o desenvolvimento e fornecimento de serviços por satélite. Mais informações: www.astrium.eads.net

Sobre a EADS

O Grupo EADS é líder mundial nos segmentos aeroespacial, de defesa e serviços relacionados. Em 2008, faturou 43,3 bilhões de Euros e empregou cerca de 118 mil pessoas. Além da Astrium, o Grupo inclui a Eurocopter, a Airbus, a Airbus Military e a divisão Defesa & Segurança. No Brasil, a EADS está presente através da Helibras, EADS Brasil, EADS Secure Networks Brasil e de escritórios de representação da Airbus Military e da Spot Image. Também é acionista da Equatorial Sistemas. Mais informações: www.eads.com.br

Fonte: EADS

Comentário: para saber mais sobre a EADS Astrium no Brasil, acessem a postagem "VP da EADS Astrium para o Brasil", ou busquem pelo argumento EADS na ferramenta de pesquisa do blog, no canto superior direito.
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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"Um satélite meteorológico para o Brasil"

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Carlos Ganem

A capacidade autônoma de prever o tempo e o clima é essencial para um país como o Brasil. Seja pela sua extensão territorial, de 8,5 milhões de quilômetros quadrados; pela atividade econômica largamente baseada na agricultura, na pecuária e na pesca; como também para garantir a segurança alimentar e a capacidade de exportar.

Além disso, não podemos esquecer de que as previsões meteorológicas nos ajudam a prever e a evitar os efeitos das catástrofes naturais que causam perdas de vidas humanas, de valor incalculável, de patrimônio e de infraestrutura avaliados em bilhões de reais. Os cenários de mudanças climáticas nos levam a crer, ainda, que fenômenos como enchentes, tempestades e ciclones, por exemplo, serão cada vez mais frequentes e severos no Brasil e no mundo.

Neste mesmo contexto, o recente episódio da substituição do satélite meteorológico americano Goes-10 (cedido ao Brasil pelos Estados Unidos) pelo Goes-12, que servirá aos dois países, levantou uma série de questões que têm sido debatidas nos meios governamentais, científicos e pela imprensa.

O primeiro ponto a considerar é que o novo satélite deverá partilhar o tempo de imageamento entre os Estados Unidos e o Brasil e, em caso de eventos extremos ou catástrofes por lá, as imagens nos serão fornecidas a cada três horas. Tempo considerado demasiadamente longo pelos nossos meteorologistas. Outra questão é a da posição orbital onde se encontra o Goes-12, que, pelo mesmo motivo do compartilhamento, não é a mais indicada para cobrir o território nacional.

Daí a necessidade de, além de assegurar o fornecimento imediato de imagens meteorológicas - o que já foi feito por meio do acordo Brasil-Estados Unidos para uso do Goes-12 -, providenciar meios autônomos de imageamento.

Nesse sentido, a Agência Espacial Brasileira (AEB), autarquia vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), iniciou em 2008 diversas ações. Entre elas se destacam acordos com a França e os Estados Unidos para a participação brasileira no programa Global Precipitation Measurement (GPM) de estudos sobre as precipitações (chuvas) em nível global. Do mesmo modo, o estudo de viabilidade para a construção de um satélite geoestacionário para comunicações estratégicas e meteorologia, que poderá ser desenvolvido por meio de parceria público-privada.

Esse satélite deverá ser projetado e desenvolvido no Brasil. Com efeito, o Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae), sob coordenação da AEB, tem entre seus objetivos o fortalecimento e a capacitação de nossa indústria espacial, o domínio das tecnologias espaciais e sua utilização em benefício da sociedade brasileira.

O projeto de um satélite meteorológico geoestacionário nacional atende plenamente às metas do nosso programa espacial. Trata-se de prioridade nacional e de conquista de autonomia e de soberania para o País.

Ademais, o desafio tecnológico de projetar e construir tal satélite geoestacionário envolve a mobilização da indústria e dos institutos de pesquisa da área espacial, sem descartar a possibilidade de parceria e cooperação internacionais.

Nossa indústria tem respondido com competência e eficiência às demandas do programa espacial em projetos de vulto, como o do Satélite de Coleta de Dados (SCD), primeiro satélite nacional, ou do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (Cbers), desenvolvido em cooperação com a China - ambos sob coordenação técnica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ela se fortalecerá ainda mais com o novo projeto.

O Brasil tem agido responsavelmente ao assegurar o fornecimento de imagens meteorológicas via acordos internacionais e mesmo ao cogitar a compra de um satélite. Essas ações não excluem, entretanto, o desenvolvimento nacional de um satélite meteorológico, que representa, ao mesmo tempo, soberania, autonomia, domínio tecnológico, capacitação industrial e oportunidade de negócios estratégicos.

Finalmente, tal projeto fortalecerá nossa posição de liderança espacial na região sul-americana e representará excelentes oportunidades de negócios no fornecimento de imagens e serviços meteorológicos e mesmo de satélites ou equipamentos espaciais, num mercado internacional que movimenta em torno de US$ 280 bilhões por ano. (Fonte: OCDE, relatório 2008.)

Carlos Ganem é presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB)

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, edição de 17/01/2010
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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ativos ucranianos para o capital da ACS

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De acordo com notícia divulgada pela agência de notícias russa Interfax (leiam aqui), o gabinete de ministros da Ucrânia apoioi a proposta da agência espacial do país (NSAU, sigla em inglês) para a transferência de ativos intangíveis do escritório de projetos Pivdenne para a companhia binacional Alcântara Cyclone Space (ACS). Os ativos, que incluem informações do projeto e desenho do lançador Cyclone 4, estão avaliados em 15,54 milhões de dólares.

O aporte ucraniano na ACS não envolve recursos financeiros, uma vez que a transferência de ativos é uma das formas de se integralizar o capital subscrito numa companhia. Até o momento, não foi possível obter maiores informações sobre a natureza da integralização e também sobre os ativos conferidos ao capital social da ACS, mas um ponto já chama a atenção. A ACS foi criada com o propósito de comercializar e ser operadora do binômio espacial Cyclone 4 / Centro de Lançamento de Alcântara. Em teoria, a empresa binacional não deveria ser proprietária de ativos relacionados ao projeto do lançador, qualidade que caberia ao fabricante e projetista do foguete.

Uma possibilidade é que o lado ucraniano tenha visto na conferência de bens ao capital social da ACS uma forma de atender com as suas obrigações financeiras. As dificuldades de Kiev em obter recursos para aportar na ACS já são publicamente conhecidas há algum tempo, mas ganharam maior destaque na época da visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Ucrânia, no início de dezembro de 2009 (leiam "Visita de Lula à Ucrânia: ACS").
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SISCOMIS no Haiti

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Segundo notícias vindas de agências internacionais, a terrível tragédia que atinge o Haiti desde a tarde de terça-feira passada (12) destruiu grande parte do sistema de comunicações do país, um dos mais pobres do mundo. Ontem, circularam informações de que os contatos iniciais do governo do Brasil com a missão de paz brasileira no Haiti, a serviço da Organização das Nações Unidas (ONU), eram feitos por meio de "instrumentos de comunicação militar." Trata-se do Sistema de Comunicações Militares por Satélite (SISCOMIS), operado pelo Ministério da Defesa e que possibilita transmissão de voz e dados numa área que se estende da Antártida até o Caribe.

Já há algum tempo, um terminal do SISCOMIS é operado do Haiti, permitindo o tráfego de informações entre o comando no país caribenho e o governo brasileiro. É possível que a disponibilidade do sistema do Ministério da Defesa tenha permitido a adoção de medidas rápidas por parte de Brasília (DF).

Apoio internacional

Algumas grandes operadoras de comunicações via satélite e organizações internacionais, como a Télécoms Sans Frontières (TSF) estão dando apoio material e técnico na tragédia. A TSF, por exemplo, enviou equipes com sistemas móveis de comunicações (terminais BGAN, da Inmarsat) e pequenos terminais terrestres para estabelecer redes de contato entre equipes de busca, resgate e apoio coordenadas pela ONU.
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

"O Brasil visto do alto"

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A edição de dezembro de 2009 da revista Rumos traz uma interessante e ampla reportagem com um panorama sobre o Programa Espacial Brasileiro, assinada pela jornalista Silvia Noronha.

O texto, intitulado "O Brasil visto do alto" (para acessá-lo, clique sobre o nome), aborda praticamente todos os principais projetos do Programa Espacial, como satélites (CBERS, Amazônia 1, científicos, GPM e radar), lançadores (VLS), exploração comercial de Alcântara (ACS, Cyclone 4), além de benefícios gerados à sociedade, como os "spin-offs".

A revista Rumos é uma publicação criada em 1976 pela Associação Brasileira de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (ABDE), e tem por objetivo "manter aceso o debate sobre o desenvolvimento econômico e social do país e as formas de financiá-lo."
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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Tupac Katari: comitiva chinesa na Bolívia

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De acordo com o web-site latino-americano Infodefensa, uma comitiva formada por 18 técnicos da companhia chinesa Great Wall Industries Corporation (CGWIC) está desde o dia 10 e até o dia 18 na Bolívia para avançar com os aspectos técnicos relacionados à transferência de tecnologia ao país sul-americano relacionada a compra de um satélite de comunicações, o Tupac Katari.

A previsão é que o contrato para a construção do satélite seja firmado em 31 de março, com lançamento em três anos a partir da assinatura. De acordo com informações divulgadas pelo Infodefensa, o governo boliviano considera a criação de uma agência espacial para a administração do projeto, "para garantir a cobertura total dos serviços de telecomunicações no país e reduzir seus custos."
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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

"Anarquia republicana"

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"A nenhum burocrata pode ser transferido o poder de ditar a oportunidade de uma obra"

Roberto Amaral é ex-ministro da Ciência e Tecnologia (2003/2004) e diretor-geral brasileiro da Alcântara Cyclone Space (ACS). Artigo publicado no "Valor Econômico":

O Estado brasileiro de hoje beira a anarquia institucional, enquanto, do ponto de vista administrativo, está condenado à ineficiência. Aqui, mais do que em qualquer outra parte, assiste-se ao desmoronamento do sistema de três poderes "iguais e independentes". O Judiciário desrespeita a União e o Poder Legislativo renuncia ao seu dever de legislar, afogado por um Executivo legislador.

Meros órgãos auxiliares ou fiscais da administração, passam a agir como se poderes da República fossem - refiro-me especialmente ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas -, e funcionários intermediários da estrutura burocrática se consideram autônomos e inatingíveis, juridicamente irresponsáveis. Refiro-me especificamente aos técnicos dos tribunais de contas e dos Ibamas. É a configuração do Estado anárquico, o que é, em si, uma contradição.

Ministros de tribunais superiores são boquirrotos e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) deita falação sobre tudo o que lhe vem na telha e fala principalmente sobre temas que mais tarde lhe podem cair nas suas mãos de juiz. A isso se chama prejulgamento. E ninguém lhes diz que estão ferindo o decoro de função tão nobre: proselitismo e partidarismo são incompatíveis com a magistratura e a dignidade do cargo.

Na cola do STF, que legisla sobre questões penais, indígenas e outras, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), animado pela omissão suicida do Congresso, legisla sobre matéria eleitoral, minando a ordem jurídica com a insegurança: não "vale o escrito" (a lei de todos conhecida), mas o insondável que faz cócegas nas mentes de nossos ministros legisladores. A tal incongruência chamam de "neopositivismo".

O Tribunal de Contas da União (TCU) não apenas julga contas, mas pelo crivo de seus "técnicos" administra projetos, determina prioridades, interfere na administração ditando normas, ao arrepio dos interesses do Estado, que, assim, abdica, ou é forçado a abdicar de vontade estratégica.

A democracia representativa, atingida mortalmente pela falência da legitimidade eleitoral, se esfacela quando a soberania popular, fonte de todo o direito, é substituída pela toga ou pelo ditar da burocracia de segundo, terceiro e quarto escalões.

O pressuposto dessa burocracia (uma casta que se transforma em Poder e à sua vontade subordina os demais Poderes) é que o objeto da administração pública é irrelevante: não importa saber se o hospital a ser construído salvará vidas, se o atraso em sua construção determinará mais mortes; interessa ao burocrata saber se o tijolo comprado em Serra Talhada corresponde ao modelito com o qual trabalha em Brasília. E assim, dentro do Estado que deveria ser único, temos o Estado a quem cumpre fazer e o Estado a quem cumpre impedir que o Estado fazedor faça alguma coisa. É um conflito sem dialética que só leva ao impasse.

Digamos logo, antes que o juízo apressado nos seja levantado: não se pleiteia nem a ausência de fiscalização nem a impunidade, que, aliás, não é resolvida com paralisação ou adiamento de obras. Reclama-se a fiscalização e o máximo rigor na tomada de contas, mas afirmamos que a nenhum burocrata pode ser transferido o poder (exclusivo do Chefe de Estado) de ditar a oportunidade de obra estratégica.

Por isso, o Brasil não está usufruindo das vantagens decorrentes de seu desenvolvimento econômico e de sua posição particularmente favorável em face da crise do capitalismo mundial; simplesmente porque não pode, nosso Estado, ditar políticas estratégicas.

Apesar de não faltarem recurso nem vontade governamental, as obras do PAC não andam no ritmo necessário porque nem o Presidente pode dizer o que é estratégico em seu governo. Os ministérios, alcançados pelos cortes de "contingência" impostos pela dupla Planejamento/Fazenda, mesmo assim não conseguem realizar seu orçamento. Todos dependemos do arbítrio do burocrata.

O projeto do Centro Espacial de Alcântara transitou e dormitou entre as mesas dos tecnoburocratas do TCU até que um dia, passados mais de dois anos, seu Plenário decidiu aprová-lo com mais de mil emendas. Resultado, o projeto foi para a máquina de picotar papéis.

Não sei quanto custou à União a perda do projeto, a demora de dois anos e a paralisação que já leva consigo cerca de quatro anos, e cobra mais outro tanto para voltar à ordem do dia. Sei que a Agência Espacial Brasileira foi aconselhada a contratar uma grande fundação para refazer o projeto, o que não sairá barato; sei que a Alcântara Cyclone Space ficou sem porto, essencial para suas operações.

Passados seis anos do desastre de 2003, quando o VLS explodiu no solo, só agora, é que são retomadas as obras da nova torre de lançamentos, embargada antes pela indústria das liminares e recursos ao TCU. Embora tenha ingressado na corrida espacial em 1961, o Brasil, hoje, depois de três tentativas frustradas em mais de 30 anos, não tem base de lançamento, torre, nem foguete lançador. Quem responde por isso?

A única coisa que possuímos é um bem do acaso, a boa localização geográfica do município de Alcântara, de frente para o mar e próximo da linha do Equador. Mesmo essa vantagem está ameaçada, pois o Incra considerou praticamente toda a península como área quilombola.

O futuro sítio da Alcântara Ciclone Space, que recebeu do presidente da República a missão de lançar o primeiro foguete Cyclone-4, fruto da cooperação Brasil-Ucrânia, ainda aguarda a regularização jurídica da área que lhe foi cedida no CLA (sob jurisdição da Aeronáutica) e a Licença Prévia que lhe deve o Ibama (esperada para este mês). Só então poderá se cogitar da licitação para as obras civis sem as quais não pode haver qualquer sorte de lançamento.

As obras de infraestrutura, responsabilidade brasileira, ainda não puderam ser iniciadas porque a Agência Espacial Brasileira não recebe os recursos de que necessita. E o porto de cargas não foi construído, nem se sabe quando o será porque a burocracia, em 2007, se esqueceu da dotação orçamentária necessária.

O projeto do submarino de propulsão atômica está atrasado cerca de 35 anos, e as obras de Angra III paralisadas há 23 anos. E ninguém sabe porque o Brasil está perdendo terreno em áreas estratégicas. Enquanto isso, na Esplanada, seus viventes dormem o sono tranquilo dos justos.

Fonte: Jornal Valor Econômico, 8/1, via Jornal da Ciência.
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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Orçamento do Programa Espacial em 2010: análise

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Como informamos em 24 de dezembro de 2009, o Congresso Nacional aprovou o orçamento de R$ 293 milhões para a Agência Espacial Brasileira (AEB) em 2010, um considerável aumento se comparado à destinação de 2009 (veja em "Orçamento aprovado para 2009"). Prometemos fazer uma análise detalhada sobre a destinação dos recursos aprovados, o que fazemos agora.

Tomamos por base nesta análise as peças orçamentárias enviadas pelo Governo Federal ao Congresso Nacional, e não a aprovada pelo Legislativo. Existe a possibilidade de que a versão final, a ser sancionada pelo Presidente da República, tenha algumas alterações em relação às versões enviadas pelo Executivo. Uma fonte familiarizada com as questões orçamentárias do Programa Espacial, no entanto, disse ao blog que as alterações feitas pelo Congresso foram mínimas, se é que houve alguma.

O montante destinado ao Programa Espacial Brasileiro tende a ser maior que os R$ 293 milhões da AEB. Além do orçamento da Agência Espacial, o Ministério da Ciência e Tecnologia também destinou alguns recursos para projetos executados por entidades ligadas ao Programa, como previsão de tempo e estudos climáticos (R$ 15,67 milhões), e monitoramento ambiental por satélites da Amazônia (R$ 3,85 milhões), executados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre outros. Fora do orçamento da AEB, também estão R$ 50 milhões do Ministério da Ciência e Tecnologia, que serão utilizados na participação da União no capital social da Alcântara Cyclone Space - ACS.

Abaixo, destacamos os principais projetos/destinações e valores que estão no orçamento da AEB:

- Operação e atualização do Laboratório de Integração e Testes (LIT), do INPE: R$ 3,5 milhões
- Gestão e administração do programa: R$ 14 milhões
- Funcionamento de infraestrutura de apoio às atividades espaciais: R$ 24,4 milhões
- Desenvolvimento de satélites de comunicação e meteorologia: R$ 200 mil
- Pesquisa em Ciência Espacial: R$ 3,1 milhões
- Controle de satélites, recepção, geração, armazenamento e distribuição de dados: R$ 11,2 milhões
- Apoio a projetos de Pesquisa e Desenvolvimento no setor Espacial: R$ 2,35 milhões
- Desenvolvimento e lançamento de satélites tecnológicos de pequeno porte: R$ 1,76 milhões
- Pesquisa e aplicações de dados de satélites de Observação da Terra: R$ 2,545 milhões
- Desenvolvimento de produtos e processos inovadores para o setor Espacial: R$ 5 milhões
- Desenvolvimento de Veículos Lançadores de Satélites (VLS): R$ 34,7 milhões
- Desenvolvimento e lançamento de foguetes de sondagem: R$ 3,5 milhões
- Pesquisa e Desenvolvimento em tecnologias associadas a veículos espaciais: R$ 13 milhões
- Satélite Lattes: R$ 5 milhões
- Satélite GPM-Br: R$ 2 milhões
- Satélite Amazônia 1: R$ 40 milhões
- Desenvolvimento do satélite MAPSAR: R$ 8,75 milhões
- Satélite CBERS 3: R$ 68,4 milhões
- Satélite CBERS 4: R$ 7 milhões
- Implantação do Complexo Espacial de Alcântara (CEA): R$ 39,7 milhões

Ministério da Defesa e Comando da Aeronáutica

Outros projetos, não vinculados ao Programa Espacial, mas que envolvem atividades espaciais também receberão recursos. No orçamento do Ministério da Defesa, constam pouco menos de R$ 18,4 milhões para a manutenção do Sistema de Comunicações Militares por Satélite (SISCOMIS) e outros R$ 7 milhões para a sua implantação. Há também uma destinação de R$ 2,5 milhões para "sensoriamento remoto para apoio à inteligência", recursos que provavelmente serão utilizados na compra de imagens de satélites.

Dentro da rubrica do Comando da Aeronáutica, foram destinados R$ 4,52 milhões para a operação do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), e outros R$ 3 milhões para o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), além de recursos para treinamento e oriundos do Fundo Aeronáutico.
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Friuli tem contrato para propulsor do VSB-30

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Friuli vai ampliar presença nos setores de defesa e aeroespacial

Virgínia Silveira

Um novo contrato na área de defesa e a aprovação de um projeto de desenvolvimento tecnológico pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) vão dar continuidade ao processo de diversificação nos negócios da Friuli, reduzindo sua dependência do setor aeronáutico, principalmente da Embraer.

Única fabricante nacional de bombas de penetração para a Força Aérea Brasileira (FAB), a Friuli aumentará para 20% a participação do setor de defesa em sua receita em 2010. A Embraer deverá ficar com 50%, enquanto o setor aeroespacial fica com 20% e o segmento de petróleo com 10%. Até setembro de 2008, 95% da produção era destinada à Embraer. Índice que caiu para 60% no ano passado. Em 2009 a receita foi de R$ 7,3 milhões, abaixo dos R$ 9 milhões de 2008. Para este ano, a previsão é voltar aos R$ 9 milhões.

O aumento do setor de defesa virá da vitória em uma licitação aberta pelo Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) para a produção dos motores do foguete VSB-30, utilizado em missões sub-orbitais de exploração do espaço.

"Esse contrato viabiliza a criação de uma estrutura maior de engenharia na empresa, abrindo novas oportunidades no setor aeroespacial, especialmente no mercado de exportação", comenta Gianni Cucchiaro, diretor da empresa. A Friuli, segundo ele, já fornecia alguns componentes do VSB-30, mas o novo contrato com o DCTA permitirá à empresa aumentar seu conhecimento e profissionalismo em áreas que envolvem tecnologias muito avançadas.

O VSB-30 é um foguete de sondagem 100% brasileiro e o primeiro a ser certificado no país, tornando-o apto para a produção em série. O foguete já contabiliza nove lançamentos bem sucedidos, sendo dois em território nacional e sete na Europa. O VSB-30 foi desenvolvido pelo Instituto de aeronáutica e Espaço (IAE), órgão de pesquisa do DCTA e financiado, em parte, pelo Centro Aeroespacial Alemão (DLR), um dos principais usuários do foguete.

Em dezembro, a Friuli também confirmou a aprovação, pela Finep, do projeto de desenvolvimento de um sistema de planeio e guiamento de bombas por GPS. A empresa vai receber R$ 4,1 milhões para o projeto, através do programa de subvenção econômica de 2009.

O sistema de guiamento de bombas que a Friuli irá desenvolver, segundo Cucchiaro, é de alta precisão e será capaz de lançar bombas de 230 quilos, a uma distância entre 70 e 75 quilômetros e altitude de 30 mil pés. "Esse sistema, guiado por GPS, expõe menos a aeronave a riscos, pois é mais preciso no alvo, similar a um míssil."

O custo do sistema, segundo o executivo, deve ser da ordem de US$ 25 mil. "Os motores do VSB-30 e o sistema de guiamento e planeio de bombas vão gerar bastante demanda na área de engenharia da empresa e a nossa expectativa é a de contratar cerca de 10 engenheiros em 2010 para trabalharem nos novos projetos", diz.

Além dos novos projetos, a Friuli fornece peças para a marinha, como contêineres para armazenamento e transporte do míssil mar-ar Aspide. Ainda no segmento aeroespacial, a Friuli produziu três maquetes de 40 metros de altura do foguete Cyclone 4, da Ucrânia. As maquetes serão utilizadas na campanha de divulgação do lançador ucraniano pelo mundo. O Brasil assinou um acordo com a Ucrânia para lançar os foguetes da família Cyclone a partir do CLA (Centro de Lançamento de Alcântara), no Maranhão.

Fonte: Jornal Valor Econômico, via NOTIMP de 08/01/2010

Comentários: várias indústrias do pólo aeroespacial de São José dos Campos têm buscado diversificar suas áreas de atuação além da área aeronáutica, em que são muito dependentes de uma única grande cliente, direta ou indireta, a Embraer. Os recentes estímulos do governo ao setor de Defesa, como o lançamento da Estratégia Nacional de Defesa e aquisições (helicópteros, submarinos e mísseis antinavio) atraíram o interesse de algumas empresas, que viram aí a oportunidade de diversificar suas atuações. Em menor escala, pode-se dizer que o mesmo acontece no setor Espacial, em razão dos aumentos no orçamento do Programa Espacial Brasileiro nos últimos anos. Programas de subvenção econômica, como o da Finep também funcionam como atrativos a novos entrantes nos setores Aeroespacial & Defesa.

A Friuli fabricará os propulsores do primeiro e segundo estágios do VSB-30.
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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Licitação do Satcol: encerrada sem sucesso

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Em novembro de 2009, postamos aqui no blog algumas atualizações sobre o projeto do primeiro satélite de telecomunicações da Colômbia, o Satcol ("Atualizações sobre o Projeto Satcol").

Embora seja notícia de mais de um mês atrás, em 1º de dezembro do ano passado, a licitação do governo colombiano para a compra de seu primeiro satélite foi declarada deserta (algo como, cancelada por não ter recebido propostas que atendessem a todos os termos do edital). Apenas um único fabricante apresentou proposta, a empresa russa Reshetnev, mas os termos oferecidos não foram considerados adequados. Toda a história e razões que levaram o governo a considerar deserta a licitação podem ser conferidos na Resolución nº 1.506, do Fondo de Tecnologías de la Información y las Comunicaciones.

É provável que a Colômbia lance nova concorrência ou opte mesmo pela contratação direta de um fabricante (é razoável de se imaginar que vários executivos de grandes fabricantes já estejam visitando os gabinetes de Bogotá com as suas ofertas), pois sua intenção de contar com um satélite de comunicações próprio permanece.

Havia certa expectativa em relação ao Satcol, pois após a finalização de sua contratação, esperava-se que a Colômbia avançasse com a sua intenção de adquirir um satélite de sensoriamento remoto ótico. De fato, já existem movimentos e discussões nesse sentido, envolvendo, inclusive, uma possível parceria com o Chile para o compartilhamento de imagens geradas por seus satélites próprios (o Chile com o seu SSOT, que deve subir ao espaço ainda em 2010, e a Colômbia com o seu a ser futuramente adquirido).

O blog continuará monitorando as novidades sobre os projetos espaciais colombianos e de outros países da América do Sul.
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Satélites DMC no monitoramento da Amazônia

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O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) não faz uso apenas de imagens dos satélites CBERS e da série norte-americana Landsat para o monitoramento do desmatamento na Floresta Amazônica. Frequentemente, são também compradas imagens no exterior, da rede DMC (Disaster Monitoring Constellation), fornecidos pela empresa inglesa DMC International Imaging.

A DMC International Imaging é controlada pela Surrey Satellite Technology Ltd. (SSTL), indústria também inglesa especializada no desenvolvimento e construção de pequenos satélites, adquirida pela EADS Astrium em abril de 2008.

Desde 2005, a DMC International Imaging fornece imagens para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). As imagens são usadas para aprimorar os dados com estimativas anuais de desmatamento da região, atividade que o INPE executa por meio dos sistemas DETER (Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real) e PRODES (Monitoramento da Floresta Amazônia Brasileira por Satélite).

A constelação de microssatélites da DMC conta com sensores multiespectrais (32 m) e pancromáticos de alta-resolução (4 m). Todos os microssatélites da rede foram desenvolvidos e construídos pela SSTL, e são comparáveis em resolução aos da série Landsat. O grande diferencial da rede DMC para aplicações na região amazônica é o seu maior número de satélites, que possibilitam um maior número de visitas a uma mesma região, o que reduz consideravelmente o impacto da coberturas de nuvens comuns em regiões de florestas tropicais.

No final de 2009, o INPE contratou o fornecimento de mais imagens digitais para atender o monitoramento da Amazônia, negócio no valor de pouco mais de R$ 462 mil.
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Reportagem sobre o projeto SARA

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Brasil finaliza projeto para pesquisa em baixa gravidade

Virgínia Silveira

Os cientistas, técnicos e empresários brasileiros poderão, em breve, utilizar uma plataforma de fácil acesso e baixo custo para a realização de experimentos científicos e desenvolvimento de tecnologias e produtos que demandem um ambiente de microgravidade, onde a influência gravitacional é próxima de zero. O Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), centro de pesquisa do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), já iniciou a fase de testes do Satélite de Reentrada Atmosférica (Sara), uma cápsula espacial projetada para operar em órbita baixa, a 300 km de altitude, por um período de 10 dias.

A influência mínima da ação gravitacional favorece a observação e a exploração de fenômenos e processos físicos, químicos e biológicos que seriam mascarados sob a influência da gravidade terrestre. Tais conhecimentos podem ser úteis no desenvolvimento de novos produtos em áreas como biologia, biotecnologia, medicina, materiais e fármacos. O Sara, segundo o gerente do projeto, Luís Loures, surge como uma alternativa barata e eficiente em relação aos meios já disponíveis, como as torres de queda-livre, voo parabólico, foguetes de sondagem, ônibus espacial e estações espaciais, como a MIR e a ISS.

A primeira versão do Sara, com lançamento previsto para o fim do ano, está sendo configurada para executar uma missão suborbital, ou seja, sem inserção em órbita e com um sistema de recuperação da carga útil ou dos experimentos. "Nesse primeiro projeto os maiores desafios tecnológicos estão relacionados ao desenvolvimento da eletrônica de bordo, sistema de recuperação da carga útil e o módulo de experimentação", explica o pesquisador.

Para garantir a eficiência da missão suborbital, serão realizados dois voos de qualificação, uma oportunidade para corrigir eventuais problemas detectados no primeiro veículo e também para fazer a incorporação de novos experimentos.

A segunda versão do SARA, que será lançada ao espaço, terá capacidade para transportar até 55 quilos de experimentos, que poderão desfrutar de um tempo total de microgravidade de 10 dias, o mesmo período oferecido para a realização de pesquisas e testes em missões com os ônibus espaciais.

A desvantagem do ônibus espacial para o Brasil é o custo alto para a realização de pesquisas e a baixa qualidade do ambiente de microgravidade, que fica alterado pelo movimento das pessoas no espaço. Outro problema é que esse tipo de plataforma de acesso ao espaço, da mesma forma que a Estação Espacial Internacional (ISS), possui órbitas entre 200 quilômetros e 450 quilômetros de altitude. A essas distâncias, a aceleração da gravidade é apenas 10% menor que a da superfície da Terra, o que mostra que o espaço não é uma região totalmente livre de gravidade.

A realização de pesquisas em ambientes de microgravidade começou nos primeiros anos dos programas espaciais, nas décadas de 60 e 70, com experimentos à bordo da Apolo, Skylab e Apolo-Soyus. Atualmente, os foguetes de sondagem, como o VSB-30 (produzido pelo IAE e utilizado principalmente pelos europeus) e a ISS são os meios mais utilizados pelos cientistas para as pesquisas em ambiente de microgravidade.

O programa de desenvolvimento do Sara, informa Loures, consumiu até o momento cerca de R$ 3 milhões, que foram repassados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pela Agência Espacial Brasileira (AEB). A construção do modelo de qualificação do Sara tem custo estimado de R$ 2,4 milhões e a do modelo de voo está avaliada em R$ 2,6 milhões.

Várias companhias brasileiras participam do projeto do satélite. A Cenic Engenharia, de São José dos Campos, é a responsável pelo processo de industrialização da plataforma. A Mectron Engenharia desenvolve a eletrônica da plataforma e a Orbital Engenharia se responsabiliza pelo sistema de recuperação da carga útil. A EQE está fazendo o sistema eletrônico do módulo onde serão acoplados os experimentos científicos.

O cronograma do Sara suborbital, diz Loures, prevê para o fim de 2010 o lançamento do primeiro satélite pelo foguete de sondagem VS-40, produzido também pelo IAE. O veículo será lançado a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) e terá oito minutos de voo suborbital. A aterrissagem está prevista para acontecer na água, a 100 quilômetros da cidade de Parnaíba (PI), de onde será feita a operação de resgate da carga útil.

O sistema de recuperação dos experimentos é composto de um conjunto de três para-quedas: uma aba piloto, para a extração dos demais para-quedas; um para-quedas de arrasto, para a redução da velocidade; e um conjunto de para-quedas principais, para levar a plataforma até a velocidade de descida especificada para o impacto com a água.

O satélite Sara, segundo o pesquisador do IAE, Paulo Moraes Junior, que gerenciou o projeto até 2005, é inovador pelo fato de ser o único hoje no mundo que se destina a experimentação científica e tecnológica de baixo custo e também para um tempo médio de exposição ao ambiente de microgravidade. "Trata-se de um satélite pequeno. O russo Express pesa cerca de uma tonelada, o que exige que seja lançado por um foguete de maior porte", explica. O mesmo acontece com os satélites americanos e chineses, que pesam entre 800 e 1,2 mil quilos. Os europeus, segundo Moraes, estão desenvolvendo o satélite Expert.

Com o Sara, segundo Moraes, o Brasil poderá fazer pesquisa estratégica a um custo médio de US$ 1.000 por quilo, por hora de experimento. No caso de aeronave em voo parabólico, o tempo de gravidade chega a 20 segundos e o custo é de US$ 50 mil. As torres de queda livre conseguem produzir de 4 a 8 segundos de microgravidade a um custo de aproximadamente US$ 5 mil.

Fonte: Jornal Valor Econômico, 05/01/2010, via NOTIMP
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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Matérias sobre a ACS na Folha: comentários

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O jornal Folha de S. Paulo publicou no final de semana (sábado e domingo) matérias sobre a Alcântara Cyclone Space (ACS) e a questão dos quilombolas no Maranhão: "Plano brasileiro de lançar foguete enfrenta atraso"; "Empresa binacional aposta em lançamento barateiro de satélite"; e "Projeto espacial esbarra em comunidades quilombolas no MA".

As reportagens abordaram pontos interessantes sobre a ACS e o seu mercado pretendido, ouvindo, inclusive, especialistas. Alguns destes pontos merecem comentários.

Mercado de satélites

De fato, como afirmou Carlos Ganem, Presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB) numa das reportagens, existe uma tendência de crescimento em satélites de pequeno porte, o que, inclusive, já foi abordado aqui no blog no passado (vejam a postagem "Mercado mundial de satélites entre 2009-2018"). Mas, esta afirmação, no contexto em que foi colocada pode levar a um entendimento incorreto. Esta tendência não necessariamente está associada a satélites geoestacionários (GEO), que é, ou ao menos foi quando do início do projeto, o mercado preferencial da ACS, mas sim a satélites de órbita baixa (LEO, sigla em inglês) e média (MEO, sigla em inglês). Não é possível de se fazer uma análise simples, mas o mercado de satélites geoestacionários - considerado o mais lucrativo para os provedores de lançamento, até por envolver muitos clientes privados, como empresas de comunicações, tende a ser majoritariamente dominado por satélites de maior porte, de 3 ou mais toneladas. A companhia norte-americana Orbital Sciences Corporation, considerada a maior fabricante de plataformas ("bus") GEO de pequeno porte nos últimos tempos tem aumentado a capacidade (e, consequentemente, a massa) de seu bus STAR. Outras iniciativas em plataformas GEO, como a plataforma Luxor, da empresa alemã OHB Systems, e o desenvolvimento pela inglesa SSTL de uma pequena plataforma de comunicações para o governo do Sri Lanka, entre outras, ainda precisam ser comercialmente provadas. A propósito desse tema, para quem se interessar, recomendamos a leitura da reportagem "Power Ranger - As small satellite demands change, Orbital Sciences slowly redefines its niche", da revista Aviation Week & Space Technology, de 7 de dezembro de 2009.

Corroborando esta possível tendência de satélites de maior potência e massa em órbitas GEO, vale citar trecho de uma entrevista com Evert Dudok, CEO da companhia europeia EADS Astrium Satellites (fabricante de satélites), publicada na edição de dezembro da revista Via Satellite (tradução livre e apressada feita pelo blog):

"Questão: quais tendências você vê em termos de capacidade dos satélites?
DUDOK: Os slots orbitais estão agora de algum modo limitados, então haverá uma necessidade importante de trazer o total de capacidade que for possível nesses slots."

Salvaguardas tecnológicas

Este ponto não foi mencionado em nenhuma das reportagens, mas dada a sua relevância para o futuro da ACS, qualquer análise precisa sobre Alcântara e suas perspectivas comerciais precisa necessariamente tratar deste tema. Para saberem mais sobre o assunto, recomendamos a leitura da postagem "Salvaguardas tecnológicas entre Brasil e EUA".
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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Atraso na missão SAC-D/Aquarius

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Segundo reportagem publicada no final de dezembro no web-site norte-americano Spaceflightnow.com ("Ocean-watching satellite facing delays in Argentina"), o lançamento do satélite argentino SAC-D/Aquarius pode ser adiado por aproximadamente um ano, até o início de 2011, devido a problemas em sua fabricação. A reportagem não dá detalhes sobre quais seriam estes problemas, mas cita fontes industriais não identificadas e um porta-voz do Jet Propulsion Laboratory (JPL), da National Aeronautics and Space Administration (NASA).

"Tem havido atrasos no desenvolvimento do satélite, que está sendo construído pelo parceiro da NASA na missão, a Comissão Nacional de Atividades Espaciais (CONAE), da Argentina. A NASA e a CONAE estão revisando o restante da integração e cronograma de testes do satélite, assim como o manifesto de lançamentos do centro espacial de Vandenberg para determinar uma nova data de lançamento", afirmou Alan Buis, porta-voz do JPL/NASA.

Antes de ser enviado para o centro espacial de Vandenberg, da U.S. Air Force, na Califórnia (EUA), de onde o SAC-D/Aquarius deve ser lançado por um foguete Delta II, o satélite de meio-ambiente argentino deve passar pelo Laboratório de Integração e Testes (LIT), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos (SP), para a realização de testes finais. A expectativa era de que o satélite fosse enviado ao Brasil em março de 2010, o que não deve mais ocorrer.

Para saber mais sobre a missão SAC-D/Aquarius, acessem a postagem "SAC-D: o novo satélite argentino".
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