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Astronomia no BRICS e História do LNA
José Monserrat Filho *
A história da Astronomia é uma história de horizontes em retirada.” Edwin Powell Hubble (1889-1953), astrônomo norte-americano
A 1ª Reunião de Trabalho do BRICS sobre Astronomia será realizada na Cidade do Cabo (Cape Town), África do Sul, de 10 a 12 deste mês – ou seja, de quinta-feira a sábado próximos.
BRICS é o fórum criado em 2008, hoje composto por cinco países – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Seu objetivo é promover programas e projetos de cooperação nas mais diversas áreas da política, economia, comércio, finanças, ciência e tecnologia, educação e cultura, com o fim de estimular o desenvolvimento com inclusão social.
A Astronomia é uma das áreas prioritárias definidas no Plano de Trabalho¹, aprovado na II Reunião dos Ministros da Ciência, Tecnologia e Inovação dos países do BRICS, que teve lugar em Brasília, no dia 18 de março de 2015. A cooperação em Astronomia – ficou também decidido – será liderada pela África do Sul, cuja Ministra de Ciência e Tecnologia, Naledi Pandor (1953-) goza de grande prestígio no país. Ela conduz a Pasta de C&T pela segunda vez, depois de se consagrar como dinâmica e criativa Ministra da Educação.
Por que a África do Sul foi escolhida como líder do BRICS-Astronomia?
O país vai sediar a maior rede de rádio telescópios do mundo, a SKA (Square Kilometer Array), integrada por três mil “pratos” – distribuídos numa área de cerca de um quilômetro quadrado. Os “pratos” se espalharão por vastas distâncias para oferecer resolução semelhante à de um só com a mesma área.
“A SKA será o principal projeto das últimas décadas, uma completa revolução na Rádio Astronomia”, diz Ted Williams, diretor do Observatório Astronômico da África do Sul. E acrescenta: “A maior parte do SKA estará instalada na África, abrangendo oito países” (África do Sul, Botswana, Gana, Ilhas Maurício, Madagascar, Moçambique, Namíbia e Zâmbia; pequena parte do projeto será construída na Austrália). Afirma-se que o sistema deverá examinar o céu com mais rapidez do que qualquer outro instrumento.
A África do Sul conta também com o o Grande Telescópio Sul-Africano (Southern African Large Telescope – SALT), inaugurado em 2005.
O Observatório Astronômico Sul-Africano é o centro nacional de astronomia ótica e infravermelha do país. Criado em 1972, é gerido pela Fundação Nacional de Pesquisa (National Research Foundation of South Africa).
“A astronomia está realmente prestes a explodir no continente Africano”, anunciou o astrônomo Kartik Shet, membro do Observatóio Nacional de Rádio Astronomia dos EUA (US National Radio Astronomy Observatory – NRAO), durante conferência da Sociedade Americana de Astronomia, reunida em Washington, em janeiro passado. O desafio, a seu ver, é fazer com que os astrônomos africanos se beneficiem do surgimento de facilidades em construção em seu meio. “Nós queremos construir, a longo prazo, parcerias sustentáveis mutuamente benéficas, tanto para os EUA quanto para a África. Não queremos drenar as informações da África.”
O início da construção da SKA – estimada em 1,6 bilhões de dólares – está programado para 2016. As primeiras observações estão previstas para 2019. O funcionamento completo deve ocorrer em 2024. Uma obra, portanto, planejada para nove anos.
Os sul-africanos consideram a Astronomia como “uma porta de entrada científica para incentivar as crianças a estudarem matemática e ciência. Esse é uma forte razão para o projeto SKA provocar grande impacto”.
A África do Sul também é sede internacional do Programa Astronomia para o Desenvolvimento, fruto de parceria com a União Astronômica Internacional (IAU). O programa coordena ampla gama de atividades internacionais que utilizam a astronomia como instrumento educativo e de desenvolvimento. A ministra Naledi Pandor disse na ocasião que todos os envolvidos com Astronomia no país, desde os que trabalham em solo até os que respondem pelas mais altas funções de decisão, partilham da visão de que esta ciência vai desempenhar papel importante no desenvolvimento da sociedade.
A 1ª Reunião do BRICS sobre Astronomia tem como tema geral “Desafios e Oportunidades para a Astronomia nos Países do BRICS”. No dia 10 de dezembro, o Diretor do Projeto Sul-Africano SKA, Rob Adam, proferirá a conferência inaugural (keynote) sobre “A Importância Estratégica do Square Kilometer Array (SKA) para a Ciência Global”.
No mesmo dia, a Sessão I do evento versará sobre “As Estratégias e Políticas para a Astronomia nos Países do BRICS – Perspectivas Governamentais”, e a Sessão II tratará do tema “Desenvolvimentos e Oportunidades Industriais para a Astronomia nos Países do BRICS”.
No dia 12, os participantes visitarão a SKA e o Observatório SALT, e o dia 13 será dedicado à instalação do Grupo de Trabalho do BRICS sobre Astronomia, quando se discutirá o relatório sobre as sessões do primeiro dia, bem como as ideias e projetos de cooperação do novo Grupo de Trabalho.
O Diretor do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA/MCTI), Bruno Castilho, participará – por meio de videoconferência – do Fórum de Ciência da África do Sul, presidido pela Ministra Neledi Pandor, a realizar-se em Pretória, em 8 e 9 de dezembro, na véspera da 1ª Reunião do BRICS sobre Astronomia, na Cidade do Cabo. Bruno intervirá no dia 8, como membro da mesa que fará apresentações sobre o tema “Explorando o Estimulante Potencial para uma Parceria do BRICS em Astronomia” (Exploring the Exciting Potential for BRICS Partnership in Astronomy).
O LNA é a primeira instituição científica criada no Brasil (em 1985), com estrutura de laboratório nacional e, como tal, coloca sua infraestrutura observacional à disposição de toda a comunidade astronômica brasileira. Sua sede administrativa fica em Itajubá, Minas Gerais, enquanto seu telescópio ótico – o maior existente existente no país, com espelho primário de 1,60m de diâmetro –, está instalado no Observatório de Pico dos Dias, a 1.860m de altura, no vizinho município de Brazópolis. A primeira luz do Pico dos Dias ocorreu em 1980.
Não deixe de visitar o Observatório de Picos dos Dias. É deslumbrante e inesquecível.
“A história do LNA (…) confunde-se com a história da astronomia brasileira nos últimos 50 anos, e, mais especificamente, com a história da astrofísica no país”, afirma-se no primoroso livro (álbum), lançado agora em dezembro, intitulado “Da Serra da Mantiqueira às Montanhas do Havaí – A História do Laboratório Nacional de Astrofísica”.2
* Vice-Presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA), Diretor Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial, Membro Pleno da Academia Internacional de Astronáutica (IAA) e ex-Chefe da Assessoria Internacional do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Agência Espacial Brasileira (AEB).
Referências:
1) O Plano de Trabalho do BRICS em CT&I reúne cinco áreas prioritárias: (a) prevenção e mitigação de desastres naturais, a ser liderada pelo Brasil; (b) recursos hídricos e tratamento de poluentes, a ser liderada pela Rússia; (c) tecnologias geoespaciais e suas aplicações, a ser liderada pela Índia; (d) recursos energéticos novos e renováveis e eficiência energética, a ser liderada pela China; (e) astronomia, a ser liderada pela África do Sul.
2) Trabalho de autoria de Christina Helena de Motta Barboza, Sérgio Tadeu de Niemeyer Lamarão e Cristina de Amorim Machado, editado pelo Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast/MCTI), em 1915, com 212 páginas fartamente ilustradas.
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