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A Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) divulgaram há alguns dias notícias sobre a Alcântara Cyclone Space (ACS), mais especificamente sobre uma recente visita oficial de comitiva à Ucrânia para tratar sobre o projeto.
As notícias em si não apresentam grandes novidades, a não ser o novo objetivo, apontado pelo MCT e AEB, da joint-venture binacional. Segundo uma das notícias divulgadas, "o Projeto Cyclone-4 foi estabelecido para o desenvolvimento de um Veículo Lançador avançado e de um Sistema de Lançamento Espacial com o objetivo de suprir os programas brasileiro e ucraniano, sendo também extensivo a outros países". A informação transmitida contraria todo o histórico da parceria ucraniano-brasileira na área de espaço, desde o início desenhada com o intuito de inserir um novo “player” no mercado global de lançamentos espaciais. Isto é, tratava-se de projeto comercial, e não focado em atender as necessidades governamentais.
Há pouco mais de um ano, tive a oportunidade de entrevistar o presidente da AEB na época, Sérgio Gaudenzi, para uma reportagem publicada na revista Tecnologia & Defesa. Uma das questões formuladas tratava da existência de dois projetos de lançadores em desenvolvimento no País, um em parceria com a Ucrânia, e outro do CTA, algo em tese conflitante. Gaudenzi respondeu: “Na realidade, na área de Pesquisa & Desenvolvimento de veículos lançadores existe, no Brasil hoje, um único programa que é desenvolvido pelo IAE e que objetiva concluir e qualificar o VLS-1 e, em seguida, criar capacitação nacional em propulsão líquida para um lançador denominado VLS-Alfa. Já o empreendimento com a Ucrânia constitui-se em uma parceria comercial, uma visão de negócios que o Brasil abraça com aquele país, para lançamentos de satélites, envolvendo um mercado bilionário internacional. Portanto, são projetos muito diferentes. Um tem a perspectiva de atender à demanda brasileira de lançadores brasileiros para lançar satélites brasileiros e de outros países. O outro é lançar, de base brasileira, satélites em foguetes ucranianos, numa perspectiva mais imediata de negócios.”
A ACS parece de fato ter um novo objetivo, mas não faz sentido afirmar que a parceria foi desde o início planejada para suprir as necessidades de seus programas espaciais. O que as notícias divulgadas pelo MCT e AEB evidenciam é que finalmente os envolvidos na iniciativa binacional se deram conta da dificuldade de inserir a ACS no mercado mundial de lançamentos comerciais, levando-se em conta, entre outros fatores, a reduzida capacidade de satelitização do Cyclone-4, a atual realidade do mercado, e a pequena, quase inexistente experiência do Brasil e da Ucrânia no ramo.
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