sábado, 30 de maio de 2009

Chile discute segundo satélite

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Segundo informou algumas agências de notícias, na última sexta-feira (29), durante a visita da presidente do Chile, Michele Bachelet, ao seu colega francês, Nicolas Sarkozy, discutiu-se a possibilidade de compra pelo governo chileno de um segundo satélite fabricado na França. Não foram divulgadas informações sobre a função desse segundo satélite.

Ano passado, o Chile adquiriu um pequeno satélite ótico de sensoriamento remoto da EADS Astrium (leia aqui), denominado SSOT (Sistema Satelital de Observación de la Tierra). O satélite, que deve ser lançado ao espaço em julho de 2010, está sendo fabricado nas instalações da Astrium em Toulouse, no sul da França, que também recebeu uma visita de Bachelet e sua comitiva.

Inclusive, acerca da visita às instalações da EADS Astrium em Toulouse, reportagens publicadas na imprensa chilena (veja aqui) dão conta de que houve um certo desconforto de membros da comitiva durante a apresentação feita por representantes do fabricante do satélite, que destacaram alguns dos serviços da empresa em áreas mais sensíveis, como a militar.

Esse desconforto, possivelmente em razão das relações de Santiago com o vizinho Peru, levou algumas autoridades a mencionarem que o SSOT não será um satélite militar, embora seja um projeto administrado pela Força Aérea (FACh), em parceria com a agência espacial chilena. Ressaltou-se que o sistema terá utilidade para a pesca, agricultura, planejamento urbano, etc.

No momento, vinte profissionais chilenos, das três forças armadas do país, chefiadas pelo comandante da FAch, Cristián Puebla, trabalham em Toulouse no projeto.
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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Orion é lançado com sucesso

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29/05/2009 16:33:07

Após dois simulados, que fazem parte de uma série de testes, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) lançou, com sucesso, na tarde de hoje, sexta-feira, 29 de maio, o foguete Orion.

O lançamento desse foguete é resultado de uma parceria entre Brasil e Alemanha. Teve como finalidade o treinamento de recursos humanos e a verificação dos meios operacionais do CLA, além do intercâmbio com o Centro Espacial Alemão (DLR) nos campos tecnológicos e científicos. As parcerias com países que possuem tecnologia de ponta na área aeroespacial trazem para o Brasil oportunidade ímpar de capacitar recursos humanos.

O Orion é um foguete de treinamento, desenvolvido pelo Centro Espacial Alemão (DLR), mono-estágio, não-guiado, estabilizado por empenas e lançado a partir de trilho. Consiste de um propulsor denominado Improved Orion, pesando 419 kg. O propulsor IO é carregado com propelente sólido (combustível sólido), com uma fase de decolagem de cinco segundos, e uma fase tipo cruzeiro com 21 segundos, totalizando 26 segundos de fase propulsada, o que permite alcançar uma altura máxima (apogeu) entre 95 km e 115 km. O Orion não levará carga útil científica. Apenas instrumentos para acompanhamento das Estações de Telemedidas, preparando assim os equipamentos para os próximos lançamentos.

Além do efetivo do CLA, este evento – batizado de Operação Maracati I - conta com a participação de técnicos estrangeiros (alemães e suecos), com o apoio da Agência Espacial Brasileira (AEB), com o envolvimento do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), apoio do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/CTA) e ainda mobiliza outras organizações da Força Aérea Brasileira como os Esquadrões de Patrulha e de Evacuação Aeromédica. O nome Maracati I é uma alusão a uma Comunidade Quilombola localizada no Litoral Ocidental Maranhense.

Fonte: AEB

Atualização (17h13): segundo informações divulgadas pelo IAE, o voo transcorreu conforme a trajetória prevista, com apogeu de 93,7km e alcance de 80,9km.
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quinta-feira, 28 de maio de 2009

Mais sobre a Operação Maracati I

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Após dois anos, Alcântara volta a ter lançamento de foguete

Operação Maracati 1 pretende preparar instalações e equipe técnica para novas campanhas

Wilson Lima e Gabriel Manzano Filho

Após cerca de dois anos, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) volta a lançar foguete. A previsão é que seja amanhã. O equipamento será de médio porte, na operação batizada de Maracati 1, uma parceria entre Brasil e Alemanha.

Segundo o diretor do CLA, coronel Nilo de Andrade, essa missão visa a treinar pessoal e preparar técnica e logisticamente o CLA. "O objetivo é meramente técnico e esse foguete não levará carga útil", explicou. Andrade também afirmou que o CLA tem passado por reformulações desde 2007, principalmente nos seus sistemas operacionais, e isso demanda mais lançamentos experimentais.

Apesar disso, ele não relacionou a Maracati 1 a qualquer preparação para um possível primeiro lançamento de foguetes da Alcântara Cyclone Space (ACS), empresa binacional brasileira e ucraniana montada para realizar experimentos a partir da base de Alcântara.

O foguete Orion tem motor monoestágio americano e aproximadamente 5 metros de extensão. Considerado um modelo de baixo custo, chega a uma altura máxima de 110 quilômetros. Nesta missão, alguns testes relacionados a meios operacionais de controle e rastreamento de equipamentos devem ser feitos. Não é a primeira vez que o Orion será lançado no Brasil. No fim do ano passado, o Centro de Lançamento Barreira do Inferno (CLBI) também fez campanha semelhante.

Para 2009 estão previstas mais três operações de lançamento do CLA: em julho, setembro e novembro. Destas, só uma será com carga útil. Em setembro, o VSB-30 deve decolar com novos experimentos.

A última vez que o CLA realizou uma missão com VSB-30 foi em julho de 2007, durante a operação Cumã 2. Na ocasião, o voo durou aproximadamente 19 minutos, atingindo um apogeu de 242 km. O VSB-30 estabeleceu um ambiente de microgravidade por 6,2 minutos e levava nove experimentos relacionados ao Programa de Microgravidade da Agência Espacial Brasileira (AEB).

Em 2007, era o quarto voo do VSB-30 - o segundo no Brasil. A missão foi considerada um sucesso pela AEB, mas parte dos experimentos não foi recuperada durante o resgate do foguete. Conforme a AEB, oscilações no sinal de telemetria dificultaram a operação de resgate da carga útil.

REUNIÃO CANCELADA

Foi cancelado ontem pela Casa Civil, meia hora antes de seu início, o encontro entre a ministra Dilma Rousseff e vários ministérios para definir os próximos passos do projeto de lançamentos de foguetes do consórcio Brasil-Ucrânia em Alcântara. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve participar da discussão - em um dia ainda não definido, na primeira metade de junho. No encontro, o diretor brasileiro do consórcio Alcantara Cyclone System, Roberto Amaral, apresentará os planos de trabalho da empresa, que pretende lançar pelo menos seis foguetes em 2011.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, 28/05/2009, via NOTIMP

Comentários: as notícias que têm surgido sobre a Operação Maracati I indicam que esta missão sem carga útil (e outras duas ainda esse ano, segundo a matéria do "Estado de S. Paulo") servirão para, além de treinamento do pessoal do CLA, também realizar testes dos sistemas de rastreio e telemetria do centro espacial. A falha parcial da Operação Cumã II, realizada em julho 2007, teria ocorrido em razão da separação prematura do módulo de carga útil, conforme foi amplamente divulgado pela imprensa nos dias seguintes à falha. Na época, escrevi uma pequena reportagem (veja aqui) informando que o módulo de recuperação das cargas úteis era de responsabilidade da DLR-MORABA, da Alemanha. Alguns dias depois da reportagem ter sido divulgada, recebi um e-mail de um engenheiro da DLR afirmando que a minha matéria prejudicava a cooperação espacial entre o Brasil e a Alemanha. Em sua mensagem, salvo qualquer engano (já fazem quase dois anos) o engenheiro alemão explicou que teriam ocorrido problemas relacionados ao segmento solo da telemetria. Respondi a mensagem explicando que a minha reportagem estava baseada em informações oficiais, que não era o meu objetivo prejudicar a cooperação espacial com a Alemanha, e também me colocando a disposição para divulgar a posição alemã sobre o ocorrido. Até hoje não recebi resposta.
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FINEP libera recursos para sistemas inerciais

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No último dia 23, a diretoria da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) aprovou um aporte não-reembolsável de mais de R$ 5 milhões para o projeto “Acelerômetros de Alto Desempenho”, da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Comando da Aeronáutica.

De acordo com a nota divulgada pela FINEP, "o projeto do Comando da Aeronáutica, por exemplo, prevê o desenvolvimento de pesquisas em acelerômetros em estruturas semicondutoras micro e nanofabricadas, possibilitando o seu emprego em aviões e foguetes lançadores de satélites."

O desenvolvimento de acelerômetros se insere no projeto Sistemas de Navegação Inercial para Aplicação Aeroespacial (SIA), que tem como executores o Instituto de Estudos Avançados (IEAv), Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O projeto é de responsabilidade da Agência Espacial Brasileira (AEB), e é financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) por meio da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (FUNDEP).

O objetivo do SIA é ter até 2010 capacidade de fabricar sistemas inerciais para uso em veículos lançadores e satélites, componentes considerados sensíveis, e por essa razão de difícil aquisição no mercado mundial. Os sistemas inerciais do VLS-1, por exemplo, foram adquiridos da Rússia em meados da década de noventa, sob objeções do governo dos EUA. Para saber mais, leia "Sistemas inerciais: o calcanhar-de-aquiles do VLS".
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terça-feira, 26 de maio de 2009

Operação Maracati I

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Centro de Lançamento de Alcântara realiza Operação Maracati

26/05/2009 - 10h43

Iniciou-se no dia 20 de maio no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) a Operação Maracati I. A operação terá duração aproximada de 12 dias, e tem por objetivo realizar voo do Veículo de Treinamento Orion, portando carga útil tecnológica da Agência Espacial Alemã, DLR-MORABA.

O lançamento poderá ocorrer entre a próxima quinta-feira, dia 28, até o dia 3.

O lançamento permitirá ao CLA, manter sua operacionalidade, receber treinamento do DLR-MORABA e avaliar o veículo ORION utilizado como foguete de treinamento.

A Operação Maracati I tem a participação do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), Agência Espacial Brasileira (AEB) e DLR- MORABA.

Fonte: CLA, via web-site da Força Aérea Brasileira
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segunda-feira, 25 de maio de 2009

CBERS: pequena frustração

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A ampliação do programa do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS) anunciada durante a visita do Presidente Luis Inácio Lula da Silva à China, na semana passada (clique aqui), era para ter sido mais ampla, de acordo com a expectiva da parte brasileira. Na sexta-feira, chegou ao conhecimento do blog a circulação de um e-mail enviado pela Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) entre as indústrias associadas comunicando que a parte chinesa havia declinado à proposta brasileira de ampliação do projeto para a construção do CBERS 6 e 7, e também de um satélite dotado com um sensor radar de abertura sintética (SAR, sigla em inglês), o chamado CBERS-SAR.

O blog entrou em contato com algumas fontes na indústria e no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para apurar a informação. Segundo as informações que obtivemos, a motivação da declinação chinesa se deveu a mudanças estruturais em seu programa espacial. A nova entidade responsável pela participação chinesa no CBERS deseja fazer uma análise mais detalhada da proposta do CBERS-SAR, além de conhecer melhor a cooperação com o Brasil, o que pode levar de 6 a 12 meses. "Na realidade, eles querem lançar o CBERS-3 antes de novos acordos para novos satélites", afirmou ao blog uma pessoa que acompanha de perto o tema.

Ou seja, ao contrário do que alguns chegaram a pensar, não houve declinação definitiva de continuidade do programa CBERS, mas sim um adiamento dessa decisão.

O blog também contatou o INPE, na pessoa de seu diretor, Gilberto Câmara, que prontamente enviou esclarecimentos. Reproduzimos abaixo um trecho de nota elaborada por Câmara e encaminhada na tarde de hoje:

"O protocolo é genérico quanto ao futuro do programa CBERS, e não menciona diretamente o CBERS-SAR. Em 2008, o INPE e a CAST trabalharam para conceber um novo satélite, o CBERS-SAR, tecnologicamente sofisticado e capaz de obter imagens da superfície terrestre em quaisquer condições de tempo. A proposta do CBERS-SAR foi aprovada na reunião do Comitê Conjunto do Programa CBERS realizada em Março de 2009 em Pequim. A CAST e a CNSA deram sinais fortes de que o CBERS-SAR seria aprovado pelo governo chinês, e que um anúncio formal seria feito durante a visita do presidente Lula.

No entanto, a nova estrutura de comando do programa espacial chinês, resultante de uma reforma feita em 2008, decidiu adiar a decisão sobre o CBERS-SAR. A reforma extinguiu a COSTIND (Comission for Science, Technology and Industry for National Defense), ministério encarregado de contratar projetos civis e militares nas áreas espacial, aeronáutico e nuclear junto às empresas estatais chinesas. Criou-se um novo ministério (MIIT – Ministry of Industry and Information Tecnology), que coordena questões díspares: programa espacial civil, indústria do tabaco, informatização do Estado.

A CNSA (China National Space Administration), que realiza a interface externa e as encomendas civis do programa espacial chinês, era subordinada diretamente à COSTIND. A CNSA é agora subordinada à SASTIND (State Administration of Defense Science, Technology and Industry), que por sua vez responde ao MIIT. A nova administração da SASTIND decidiu fazer uma análise mais detalhada da proposta do CBERS-SAR antes de tomar uma decisão.

Embora a construção imediata do CBERS-SAR tenha sido adiada, o futuro da cooperação espacial Brasil-China está garantido pelo governo chinês. O presidente Hu Jintao, em sua reunião de trabalho com o presidente Lula, reafirmou sua “confiança no programa CBERS” e seu interesse em “ampliar a cooperação espacial com o Brasil”."

O blog entende que a intenção do governo brasileiro em propor a missão CBERS-SAR indica que a missão MAPSAR, que seria realizada em parceria com a agência espacial alemã, é hoje considerada remota.
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quarta-feira, 20 de maio de 2009

CBERS: ampliação do acordo

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Brasil e China ampliam acordo de satélites e países africanos receberão dados do CBERS

20/05/2009

Durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, foram assinados memorandos para a recepção do satélite sino-brasileiro CBERS nas estações de Ilhas Canárias, África do Sul e Egito. Como ocorre no Brasil e na China, a distribuição das imagens vai contribuir para que governos e organizações do continente africano monitorem desastres naturais, desmatamento, ameaças à produção agrícola e riscos à saúde pública.

Nesta quarta-feira (20/5), o presidente Lula encerrou sua viagem à China com uma visita à Agência Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST), onde conheceu o satélite sino-brasileiro CBERS-3. No Brasil, os satélites são desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

O Programa Sino-Brasileiro de Satélites de Recursos Terrestres (CBERS) é um dos exemplos mais bem-sucedidos de cooperação tecnológica entre países em desenvolvimento.

O protocolo pela continuidade e expansão do Programa CBERS oferece ainda ao Brasil a recepção dos dados dos satélites chineses HJ-1A e HJ-1B na estação de Cuiabá, operada pelo INPE.

“Outro ponto positivo deste protocolo é o estabelecimento de uma nova política de dados para o CBERS, com base nos princípios de que as imagens dos satélites CBERS são ‘bens públicos globais’”, diz o diretor do INPE, Gilberto Câmara, que acompanhou a visita do presidente Lula à China.

Os termos específicos do acordo de recepção dos dados chineses no Brasil e da nova política para os satélites CBERS deverão ser estabelecidos pelo INPE e pela CRESDA nos próximos meses.

Enquanto no Brasil a distribuição das imagens do CBERS também cabe ao INPE, na China a responsabilidade é da CRESDA (China Centre for Earth Resources Satellites and Applications).

Sobre o Programa CBERS

Com o CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite) o Brasil passou a dominar a tecnologia para o fornecimento de dados de sensoriamento remoto. Até então, o país dependia exclusivamente de imagens fornecidas por equipamentos estrangeiros. A cooperação entre cientistas brasileiros e chineses no desenvolvimento de tecnologias espaciais resultou nos satélites CBERS-1 e CBERS-2, lançados respectivamente em 1999 e 2003 e atualmente inoperantes, e no CBERS-2B, colocado em órbita em setembro de 2007 e responsável por enviar imagens para as mais diversas aplicações, como monitorar desmatamentos e a expansão da agropecuária.

Desde a assinatura do acordo de cooperação, em 1988, Brasil e a China já investiram cerca de US$ 350 milhões e atualmente o Brasil é um dos maiores distribuidores de imagens orbitais do mundo. Numa iniciativa pioneira, a política de acesso livre às imagens do satélite CBERS tem levado outros países, como os Estados Unidos, a disponibilizar dados orbitais de média resolução.

Para garantir o fornecimento ininterrupto de dados aos milhares de usuários conquistados pelo CBERS, o Brasil precisa manter e ampliar seu programa de satélites de observação da Terra.

Estão programados os lançamentos de mais dois satélites (CBERS-3 e 4) em 2011 e 2014. E já se discute com a China o desenvolvimento de outros dois.

Além do fornecimento gratuito de imagens de satélite, que contribuiu para a popularização do sensoriamento remoto e para o crescimento do mercado de geoinformação brasileiro, o Programa CBERS promove a inovação na indústria espacial nacional, gerando empregos em um setor de alta tecnologia fundamental para o crescimento do País.

O Programa CBERS é um exemplo bem-sucedido de cooperação Sul-Sul em matéria de alta tecnologia e é um dos pilares da parceria estratégica entre o Brasil e a China. O CBERS é hoje um dos principais programas de sensoriamento remoto em todo o mundo, ao lado do norte-americano Landsat, do francês Spot e do indiano ResourceSat.

A missão de desenvolver e construir satélites no Brasil cabe ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. Na China, o programa está sob a responsabilidade da Chinese Academy of Space Technology (CAST).

Imagens gratuitas

O CBERS fez do Brasil um dos maiores distribuidores de imagens de satélite do mundo. Além dos usuários brasileiros, as imagens CBERS são fornecidas gratuitamente para todo e qualquer usuário. Os países da América do Sul que estão na abrangência das antenas de recepção do INPE em Cuiabá (MT) são os mais beneficiados por esta política. O download gratuito das imagens é feito a partir do site do INPE: http://www.inpe.br/

Com o CBERS, Brasil e China passaram produzir dados e imagens de seus territórios a custo reduzido. As informações ajudam na formulação de políticas públicas em áreas como monitoramento ambiental, desenvolvimento agrícola, planejamento urbano e gerenciamento hídrico.

Desde junho de 2004, quando ficaram disponíveis na internet, mais de meio milhão de imagens já foram distribuídas para cerca de 20 mil usuários, em mais de duas mil instituições públicas e privadas, comprovando os benefícios econômicos e sociais da oferta gratuita de dados. Em média, têm sido registrados diariamente 750 downloads no Catálogo CBERS.

Na China, após a adoção de uma política similar à brasileira, foram distribuídas mais de 200 mil imagens, sendo o Ministério da Terra e de Recursos Naturais seu principal usuário.

Recentemente, Brasil e China decidiram oferecer gratuitamente as imagens do CBERS para todo o continente africano. A distribuição das imagens vai contribuir para que governos e organizações na África monitorem desastres naturais, desmatamento, ameaças à produção agrícola e riscos à saúde pública.

Investimento

O acordo de cooperação firmado em 1988 previa que 70% do custo do programa caberia à China e 30%, ao Brasil. Isto significou investimento nacional de US$ 118 milhões nos CBERS-1 e 2, e outros US$ 15 milhões no CBERS-2B, que teve custo menor por utilizar equipamentos e peças remanescentes do CBERS-2. No total, foram investidos cerca de US$ 350 milhões pelos dois países.

Em 2002, quando foi assinado o acordo para a continuação do programa e a construção dos CBERS-3 e 4, estabeleceu-se uma nova divisão de responsabilidades técnicas e financeiras entre o Brasil e a China - 50% para cada país. Nestes satélites o Brasil está investindo cerca de US$ 150 milhões.

Usuários

Além do conhecimento tecnológico, o programa espacial também traz benefícios sociais. As aplicações das imagens obtidas a partir dos satélites CBERS são as mais variadas, desde mapas de queimadas e desflorestamento da região amazônica, até estudos na área de desenvolvimento urbano nas grandes capitais do País.

Entre os usuários destacam-se órgãos como Petrobras, IBGE, Incra, Embrapa, Ibama e ANA, organizações não-governamentais e empresas de geoprocessamento. O IBGE, por exemplo, usa os dados para atualizar seus mapas em projetos de sistematização do solo, assim como o Incra emprega as imagens nos processos ligados à reforma agrária. As aplicações no setor agrícola e de monitoramento ambiental costumam causar maior impacto econômico e social devido às dimensões continentais do Brasil. Sem uma ferramenta acessível, vigiar um território tão extenso seria quase impossível.

O Catálogo de Imagens é a interface do sistema com os usuários. Acessado através da Internet (http://www.dgi.inpe.br/CDSR/), permite a consulta e solicitação do acervo de imagens disponíveis. As imagens solicitadas são enviadas em poucos minutos, também pela Internet.

Características dos satélites

Os CBERS-1 e 2 são idênticos em suas constituições técnicas, missão no espaço e em suas cargas úteis (equipamentos que vão a bordo, como câmeras, sensores e computadores, entre outros voltados para experimentos científicos). Os satélites foram dimensionados para atender às necessidades da China e do Brasil, mas também para permitir o ingresso de ambos os países no emergente mercado de imagens orbitais até então dominado pelos que integram o bloco das nações desenvolvidas.

Os dois primeiros CBERS tinham três câmeras: CCD (Câmera Imageadora de Alta Resolução), WFI (Câmera Imageadora de Largo Campo de Visada) e IRMSS (Imageador por Varredura no Infravermelho).

No CBERS-2B foi colocada uma câmera de alta resolução pancromática, a HRC, que produz imagens com 2,7 metros de resolução espacial, em substituição ao IRMSS, e foram mantidas as câmeras CCD, de resolução espacial de 20 metros, e WFI, com 260 metros de resolução.

Para os CBERS 3 e 4, a evolução será mais significativa, e tanto os imageadores como a própria estrutura do satélite serão mais sofisticados. Nestes, serão utilizadas no módulo carga útil quatro câmeras com desempenhos geométricos e radiométricos melhorados. A órbita dos dois satélites será a mesma que a dos CBERS-1, 2 e 2B.

Catálogo de Imagens: http://www.dgi.inpe.br/CDSR/

Fonte: INPE
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terça-feira, 19 de maio de 2009

Cooperação Brasil - China

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Presidente cita o CBERS em artigo no China Daily

19/05/2009

O Programa CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) foi citado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como exemplo de sucesso na cooperação entre os dois países emergentes. Em artigo publicado nesta terça-feira (19/5), no jornal chinês China Daily, o presidente destaca as múltiplas aplicações dos satélites CBERS e a disponibilização de suas imagens para os países africanos. Confira o artigo em http://www.chinadaily.com.cn/opinion/2009-05/19/content_7790017.htm

O último compromisso do presidente Lula na China, nesta quarta-feira às 10 horas (no Brasil, 23 horas de hoje), será uma visita à Agência Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST). No Brasil, o desenvolvimento do Programa CBERS cabe ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Fonte: INPE
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segunda-feira, 18 de maio de 2009

Programa Espacial Peruano

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O Peru é um dos países sul-americanos, ao lado de Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e Venezuela a ter oficialmente um programa espacial. As pesquisas e esforços peruanos em exploração espacial são realizados por meio da Comisión Nacional de Investigación y Desarrollo Aeroespacial (CONIDA), que em breve completa 35 anos de existência.

As pretensões espaciais do país andino incluem desenvolvimentos em foguetes de sondagem, a colocação em órbita de um microssatélite para observação, e até mesmo a realização de um voo espacial daquele que seria o primeiro astronauta peruano, numa janela de dez anos.

Em dezembro de 2006, foi realizado com sucesso o lançamento do Paulet 1, considerado o primeiro foguete desenhado e construído no país por especialistas da CONIDA, com sensores a bordo para estudos ambientais em alta atmosfera.O foguete lançado no final de 2006 tinha 2,8 metros de cumprimento, 108 kg de massa, e alcançou uma altitude de 45 km, num voo de 200 segundos. A CONIDA planeja para breve um novo lançamento, destinado à execução de experimentos de medição da pressão e velocidade dos ventos, entre outros.

A CONIDA estuda já algum tempo o projeto de ter um satélite próprio de sensoriamento remoto, a exemplo do Chile, que em 2008 adquiriu o Sistema Satelital de Observación Terrestre (SSOT), da europeia EADS Astrium, ao custo de 72 milhões de dólares. O interesse peruano é contar com um satélite de pequeno porte (de 150 a 200 kg), de órbita baixa, capaz de gerar imagens de alta resolução para finalidades tais como análise de vegetação, controle de desmatamento, inundações e incêndios, entre outras. Enquanto não conta com seus próprios sensores orbitais, o país depende da aquisição de imagens geradas por satélites norte-americanos e franceses.
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sábado, 16 de maio de 2009

Mapa do CLA

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O mapa acima (para vê-lo em melhor resolução, clique sobre o mesmo) mostra a área ocupada pelo Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), localizado no município de Alcântara, no Maranhão, indicando a localização da área de infraestrutura, aeroporto, e dos setores de comando e controle e de preparação e lançamento do foguete VLS-1.

A área destacada em verde, no norte da zona do CLA, será ocupada pela binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), e é onde será construída toda a infraestrutura do lançador ucraniano Cyclone 4, incluindo a sua plataforma de lançamento.

O blog agradece à ACS pelo envio do mapa. Em breve, haverá aqui muitas novidades sobre a joint-venture espacial ucraniano-brasileira.
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sexta-feira, 15 de maio de 2009

Contratos industriais do CBERS

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Há no relatório de gestão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) referente ao ano de 2008 uma interessante tabela (página 22) detalhando a execução financeira no ano passado relacionada ao projeto da segunda geração do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS, sigla em inglês).

Dezenas de indústrias nacionais, sozinhas ou em consórcio contratadas pelo INPE receberam cerca de R$ 42,8 milhões no ano passado. Destaques para a Optoeletrônica, de São Carlos (SP), e Consórcio WFI (formado pela própria Optoeletrônica e pela Equatorial Sistemas), contratadas para a produção de câmeras dos CBERS 3 e 4, que receberam R$ 7,3 milhões e R$ 10,6 mihões, respectivamente.

Nomes como Omnisys Engenharia, Consórcio CFF (Cenic e Fibraforte), Orbital Engenharia, Aeroeletrônica e Mectron, entre outros, figuram na tabela.

Nas compras internacionais, um dos destaques foi um contrato de aproximadamente de R$ 5,5 milhões com a europeia EADS SODERN para o fornecimento de módulos de detecção das câmeras MUX e WFI, que equiparão os satélites CBERS 3 e 4.

Apesar dos problemas enfrentados pelo programa CBERS por causa da regulação ITAR, dos EUA, o INPE ainda assim consegue adquirir alguns componentes junto à companhias norte-americanas, como da Agilent Technologies e da californiana Trident Space & Defense. O maior volume executado no exterior no ano passado foi, no entanto, com a Tecnológica, Ingeniería, Calidad y Ensayos S.A., empresa espanhola que fornece componentes eletrônicos para os CBERS. O valor total executado em 2008 pelo INPE em contratos internacionais relacionados ao projeto espacial sino-brasileiro foi de pouco mais de R$ 20,7 milhões.

Para ler postagens anteriores com informações sobre o relatório de gestão de 2008 do INPE, clique aqui, aqui e aqui.
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Simpósio sobre Engenharia Aeroespacial

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A Associação Aeroespacial Brasileira (AAB), entidade que tem por objetivo incentivar o desenvolvimento das atividades aeroespaciais brasileiras, participará da organização do “2009 Brazilian Symposium on Aerospace Engineering and Applications”, que acontece no campus do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), dentro do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos (SP), ente os dias 14 e 16 de setembro. Em paralelo ao simpósio, ocorrerá o 3rd CTA-DLR Workshop on Data Analysis and Flight Control.

A lista de tópicos a serem apresentados e discutidos no simpósio incluem sistemas aeroespaciais, propulsão, estruturas e materiais, entre outros. Manuscritos para apresentação podem ser submetidos até o dia 29 desse mês. Depois do simpósio, alguns manuscritos serão selecionados para uma edição especial do Journal of Aerospace Engineering, Sciences and Applications (JAESA-AAB), editado pela AAB.

A página do congresso com maiores informações e “Call for papers” pode ser encontrada no endereço http://www.cta-dlr2009.ita.br/
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quinta-feira, 14 de maio de 2009

Avanços na distribuição de imagens CBERS

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A política de distribuição gratuita de imagens geradas pelos satélites da série CBERS, adotada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) teve avanços em 2008. De acordo com o relatório de gestão do Instituto, foram realizadas diversas ações visando a implantação de estações de recepção de imagens do CBERS no continente africano, que a exemplo do Brasil e países da América do Sul, tem acesso gratuito aos dados gerados. As negociações para a instalação de infraestrutura-solo no Egito, Ilhas Canárias, Gana, Gabão e África do Sul avançaram.

Foram realizados testes para a recepção de imagens geradas pelo CBERS-2B no Egito e África do Sul, a instalação e testes de sistemas de processamento CBERS na estação de Maspalomas, na Espanha, que ainda não está operacional, e a realização de testes bem-sucedidos de recepção do CBERS-2B no EROS Data Center, unidade do United States Geological Survey (USGS), instituição responsável pelo Programa Landsat, em novembro de 2008. "Existe um grande interesse de ambas as partes [INPE e USGS] em uma aproximação para desenvolver trabalhos de cooperação na área de calibração radiométrica de imagens de satélites, incluindo-se aqui os da série CBERS", segundo um trecho do relatório.

O documento do INPE também destaca a aprovação pelo Congresso Nacional de acordo-quadro entre os governos do Brasil e Índia para a viabilização de troca de conhecimentos, serviços e aplicações na área de satélites entre os dois países, que agora aguarda sanção presidencial. Foi destacada a assinatura, pela parte brasileira, de Memorando de Entendimento (MOU) para a recepção direta no País de dados do satélite de observação Resourcesat-1, da agência espacial indiana (Indian Space Research Organization - ISRO). A parte indiana, porém, ainda não assinou o memorando, o que levou, inclusive, a um pedido do INPE constante no próprio relatório: "É de extrema importância para as atividades de monitoramento da Amazônia que nós iniciemos a recepção dos dados do Resourcesat-1 ainda no primeiro semestre de 2009. Sugerimos uma ação do MCT e/ou da AEB visando agilizar a assinatura do MOU pelos indianos."

Para mais informações sobre o relatório de gestão do INPE, clique aqui e aqui.
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terça-feira, 12 de maio de 2009

Visita israelense

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Agência Espacial Brasileira recebe comitiva israelense

12/05/2009 15:40:50

O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem, junto com os seus diretores reuniu-se ontem, 11 de maio, com a comitiva israelense, dentre eles representantes do governo, da embaixada e de empresas da área espacial de Israel.

Esse encontro foi o início de uma conversa para estabelecer, no futuro, uma possível cooperação entre os dois países, na área espacial. Depois da reunião a comitiva israelense viajou a São José dos Campos (SP) para conhecer o Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e empresas da área espacial e na quinta-feira, dia 11, a comitiva retorna a Israel.

Fonte: AEB

Comentário: ontem postamos outra notícia ("Cooperação Brasil - Israel"), da Agência Câmara, sobre essa visita da comitiva israelense ao Brasil.
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segunda-feira, 11 de maio de 2009

Cooperação Brasil - Israel

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Câmara pode ampliar debates com Israel sobre programa espacial

11/05/2009 20h06

Uma visita à Câmara, nesta segunda-feira, pode ter contribuído para viabilizar a cooperação entre o Brasil e Israel na área espacial. A avaliação é de deputados que participaram de encontro com representantes da agência espacial israelense e com empresários ligados ao setor, como de indústrias fabricantes de satélites e foguetes.

A 1ª vice-presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, deputada Professora Raquel Teixeira (PSDB-GO), disse que a reunião deve dar início a uma série de debates sobre possíveis acordos de cooperação.

"O que eles esperam do Congresso é o debate de questões da área espacial relativas ao clima, ao meio ambiente e ao lançamento de foguetes. Discutimos inclusive a possibilidade de cooperação usando satélites na área de ensino a distância. É uma conversa que pode produzir trocas de informação, formação de pessoal e desenvolvimento tecnológico", ressaltou a deputada.
Seminários

O embaixador de Israel no Brasil, Giora Becher, participou do encontro e destacou a importância do contato com parlamentares brasileiros: "Foi uma reunião muito boa. Também discutimos formas de ampliar nossos contatos com a Câmara e de fazer seminários com deputados, especialistas da área espacial e representantes da indústria de Israel."

Depois de conversar com parlamentares em Brasília, a delegação israelense segue para São José dos Campos (SP), onde conhecerá a sede do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Fonte: Agência Câmara

Comentários: empresas israelenses já há muitos anos estão presentes nos mercados Aeroespacial e de Defesa brasileiros, inclusive com presença industrial local. Um exemplo é a Aeroeletrônica, com sede em Porto Alegre (RS), companhia do grupo israelense Elbit Systems, muito forte em eletrônica embarcada, veículos aéreos não-tripulados, guerra eletrônica, etc. Inclusive, a Aeroeletrônica desenvolveu e produziu componentes e sistemas de suprimento de energia para projetos de satélites do INPE. Recentemente, outra indústria israelense, a Israeli Aerospace Industries (IAI) anunciou a criação de uma joint-venture com o grupo Synergy para atuação nas áreas Aeroespacial, de Segurança e Defesa no mercado latino-americano (clique aqui).
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domingo, 10 de maio de 2009

INPE vai de CBERS-SAR?

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O relatório de gestão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) sobre o ano de 2008 (clique aqui para ler a postagem anterior sobre o documento) coloca como uma das principais metas do Instituto para os próximos anos, dentro do Planejamento 2009-2012, a definição da missão dos satélites CBERS 5 e 6, e também do chamado CBERS-SAR.

O CBERS-SAR será uma versão do satélite sino-brasileiro de sensoriamento remoto com um sensor radar (SAR, sigla de Synthetic Aperture Radar). Em entrevista concedida ao blog no mês de fevereiro (veja aqui), Gilberto Câmara, diretor do INPE contou que uma das alternativas caso o MAPSAR não se concretizasse por falta de interesse da Alemanha seria o desenvolvimento de um satélite-radar com a China. O interessante é que esta seria uma alternativa, a depender da definição alemã. Porém, o INPE já avança ao ponto de definir uma possível missão, e inclusive listá-la em suas prioridades.

As restrições impostas pela legislação norte-americana ITAR (International Traffic Arms Regulations) ao Programa CBERS, mas que acabam prejudicando também outros projetos do Programa Espacial, inclusive de satélites, parecem não preocupar. Esta seria uma das razões pela qual muitos apostam que o CBERS não terá continuidade. Algo a se conferir no futuro.

A propósito da cooperação espacial entre o Brasil e a China, o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem embarca para Pequim essa semana.
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Atividades do INPE em 2008

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O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) disponibilizou o seu relatório de gestão referente ao ano de 2008 (clique aqui para acessá-lo). O documento, que tem como finalidade principal auxiliar no processo anual de aprovação de contas do Instituto, é uma importante fonte de informações, pois apresenta vários dados sobre os avanços e o status das atividades desenvolvidas no ano passado.

A seguir, apresentamos um breve descritivo e alguns comentários sobre as atividades desenvolvidas em engenharia de satélites.

Desenvolvimento do satélite Amazônia-1

Segundo as informações constantes do relatório de gestão, o lançamento do Amazônia-1 é agora previsto para 2012. No ano passado, foi assinado um acordo entre o INPE e o Rutherford Appleton Laboratory (RAL), do Reino Unido, para a inclusão de uma câmera RALCAM-3, com resolução de 10 metros, no satélite brasileiro.

O relatório destaca alguns avanços no projeto em 2008, a saber: (i) teste de qualificação do catalisador para os propulsores de hidrazina, desenvolvido pelo INPE, em andamento; (ii) teste dos modelos de qualificação, exceto PCDU (Unidade de Controle de Distribuição de Potências), ACDH (Attitude Control and Data Handling) e transponder TT&C (Telemetria e Telecomando); (iii) início da campanha de testes integrados dos propulsores montados no painel estrutural da Plataforma Multimissão (PMM); (iv) contratação da indústria argentina INVAP para assistência técnica para o desenvolvimento, a fabricação, a integração e os testes de qualificação do subsistema ACDH, com transferência de tecnologia; (v) contratação da indústria brasileira Opto Eletrônica para o desenvolvimento e produção da carga útil principal do Amazônia-1, o imageador AWFI (Advanced Wide Field Imager); e (vi) aquisição de componentes para a carga útil do satélite, que envolvem equipamentos de transmissão e gravação a bordo e o imageador AWFI.

No passado, o blog já havia informado sobre alguns atrasos preocupantes em alguns subsistemas do Amazônia-1. O relatório de gestão do INPE comenta esses atrasos, conforme se nota no parágrafo abaixo:

"Deve ser observado, entretanto, que, apesar do efetivo acompanhamento do contrato pelas equipes técnicas do INPE, o cronograma de desenvolvimento desse satélite se encontra em atraso em virtude de dificuldades enfrentadas pelas empresas contratadas, as quais imputaram significantes restrições ao desenvolvimento tecnológico, resultando na não disponibilidade no tempo previsto dos Modelos de Qualificação da PCDU (Unidade de Controle de Distribuição de Potências) e do transponder TT&C (Telemetria e Telecomando). Mesmo assim, essa situação não corresponde ao item limitante do cronograma global da missão."

Satélite científico Lattes

No ano passado, foi tomada a decisão de unir as missões científicas Equars e Mirax num único satélite, maior, baseado na PMM, tendo em vista que o custo de lançamento de cada satélite ficaria mais elevado que o próprio artefato.

Em 2008, foram realizadas as seguintes atividades relacionadas à Missão Lattes, homenagem do INPE ao físico brasileiro César Lattes: (i) análise de missão para demonstrar a viabilidade de se realizar as Missões EQUARS e MIRAX em um único satélite; (ii) identificação dos requisitos operacionais da missão e possíveis adaptações aos requisitos estabelecidos para a PMM; (iii) recebimento e testes de aceitação dos atuadores magnéticos utilizados no sistema de controle de atitude da PMM a ser utilizada na missão; (iv) contratação da fabricação do instrumento GPS para Rádio Ocultação (GROM) (Carga útil da Missão EQUARS); e (v) contratação do desenvolvimento/fabricação do instrumento Fotômetro (carga útil da Missão EQUARS).

MAPSAR

O projeto do satélite radar MAPSAR, parceria do INPE com a DLR (agência espacial da Alemanha) é descrito genericamente. Curiosamente, o relatório não menciona a informação dada ao blog por Gilberto Câmara (clique aqui), diretor do INPE, sobre o "stand-by" do Brasil em relação ao interesse da Alemanha em dar prosseguimento ao projeto. A expectativa é que até setembro ou outubro desse ano a parte europeia posicione o Brasil sobre o futuro da iniciativa.

No ano passado, foram realizadas as seguintes atividades referentes ao MAPSAR: (i) assinatura do acordo para o desenvolvimento da Fase B que compreende o projeto detalhado do sistema, incluindo a configuração do satélite a ser produzido, do segmento solo e do segmento de aplicações; (ii) construção de um modelo em escala para demonstrar a viabilidade técnica da construção da antena parabólica do sistema SAR; e (iii) preparação do WBS (Estrutura de Divisão de Trabalho) para todas as fases da missão.

Satélite GPM-BR

O INPE participará de uma rede internacional envolvendo uma constelação de nove satélites para o monitoramento de chuvas, gestão das águas, monitoramento e entendimento das mudanças climáticas, alertas de desastres naturais e apoio à agricultura. O Brasil deverá desenvolver um satélite específico para essa constelação, o GPM-BR. Em 2008, foram executadas as seguintes atividades: (i) análise preliminar para demonstrar a compatibilidade e viabilidade técnica em termos dos envelopes dimensional, de potência e de massa entre a carga útil e a PMM para um radiômetro, com probabilidade de ser disponibilizado pelo EUA; e (ii) início da procura de alternativas para o fornecimento do instrumento da carga útil do GPM-BR.

CBERS 3 e 4

A construção dos dois satélites da segunda série do CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite) está atrasada em razão de dificuldades de empresas nacionais contratadas cumprirem o cronograma, e também por causa das limitações impostas pela legislação ITAR (International Traffic Arms Regulation), dos EUA, que restringe a comercialização de tecnologias sensíveis. O relatório informa:

“O desenvolvimento dos subsistemas encontra-se em atraso porque as empresas nacionais contratadas estão com dificuldades de cumprir o cronograma. O atraso, em parte, é causado pela dificuldade na aquisição de componentes com qualificação espacial, devido ao controle de comercialização de tecnologias sensíveis pelos EUA. A dificuldade de acesso aos componentes tem acarretado modificações nos projetos desses subsistemas, aumento de custos e prorrogação do lançamento previsto para 2010. O INPE adquiriu os componentes eletrônicos no final do ano.”

Encontra-se em andamento as seguintes atividades: (i) fabricação dos modelos de qualificação dos subsistemas dos CBERS 3 & 4; (ii) software para os testes do modelo de engenharia dos CBERS 3 & 4; (iii) software para segmento de controle dos satélites CBERS 3 & 4; e (iv) teste dinâmico do modelo estrutural dos CBERS 3 & 4.

No ano passado, foram concluídos os (i) testes ambientais e estruturais de alguns subsistemas do satélite CBERS 3; (ii) fabricação da maioria dos modelos de engenharia; (iii) fabricação da maquete radioelétrica; (iv) teste estático no modelo estrutural do CBERS 3 & 4; e (v) encontro de Coordenação Técnica (TCM 8) na China.

O tópico sobre o projeto dos satélites sino-brasileiros é encerrado com a informação de que os principais desafios do programa são a superação dos bloqueios internacionais às tecnologias sensíveis, e a garantia do cumprimento dos eventos contratuais pelas empresas envolvidas.

Satélites tecnológicos de pequeno porte

O INPE participa do projeto de desenvolvimento de satélites tecnológicos de pequeno porte, cuja execução é de responsabilidade da Agência Espacial Brasileira (AEB). A participação do Instituto se dá por meio de cooperação com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA) para o "desenvolvimento, fabricação, integração, testes, lançamento e operação de um microssatélite tecnológico [ITASAT] para validação em órbita de um sistema integrado de supervisão de bordo e controle de atitude e órbita (Attitude Control and Data Handling – ACDH), munido de um sistema de localização GPS (Global Positioning System), com provisão para duas cargas úteis: um Subsistema de Coleta de Dados (Data Collecting Subsystem – DCS) e uma outra carga, a ser definida."

Em 2008, foram finalizados os testes de vibração mecânica e ciclagem térmica, realizados no Laboratório de Integração e Testes (LIT), do INPE, de componentes e partes eletrônicas que podem ser aplicados no computador de bordo experimental do ITASAT. De acordo com o relatório de gestão, a análise de missão que tem como objetivo demonstrar a compatibilidade de experimentos com a operação do satélite, similar ao SCD (Satélite de Coleta de Dados), está em fase conclusiva.
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quinta-feira, 7 de maio de 2009

Ganem pede apoio ao Programa Espacial

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Presidente da AEB pede apoio do Congresso ao Programa Espacial Brasileiro

7 de maio de 2009

Marcos Chagas Repórter da Agência Brasil

Brasília - O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem, reuniu-se hoje (7) com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), a quem pediu apoio ao Programa Espacial Brasileiro.

A principal preocupação apresentada por Ganem é quanto à descontinuidade do programa. Ele defendeu a necessidade do Congresso Nacional atuar para que o programa espacial assuma “um papel protagonista de programa de Estado”.

Segundo ele, o Programa Espacial Brasileiro “sofre descontinuidade a cada eleição”. Para ele, um programa desta espécie não pode “ficar pendurado num desígnio de um partido ou daquele outro que ganhe”. O presidente da AEB ressaltou que programa espacial é vital para setores como saúde, educação, integração de pesquisas e para as dimensões continentais do país.

Na conversa com o presidente do Senado, ele também reivindicou mais recursos. “Nós temos um pouquinho mais de dinheiro do que a Holanda para fazer um programa espacial completo com sítio de lançamentos, foguetes lançadores e uma família de satélites”, argumentou.

Ganem acrescentou que o Brasil se atrasa cada vez mais no desenvolvimento do programa. De acordo com ele, o Brasil iniciou os trabalhos na área espacial há 30 anos e, hoje, está atrás de vários países que "sequer eram protagonistas" nessa área, na época. Hoje, alguns deles estão à frente do Brasil, já tendo ultrapassado o resultado de pesquisas de cientistas brasileiros.

“Eles passaram a nossa frente, ganharam a corrida espacial, num negócio que é milhares de vezes mais compensador do que toda a balança comercial brasileira”, afirmou o presidente da AEB.Outro assunto tratado com Sarney, de acordo com Ganem, foi a necessidade de se criar mecanismos para que o Brasil conserve seus pesquisadores em instituições nacionais.

“É preciso permitir que a massa crítica do Brasil trabalhe no país em prol do Programa Espacial Brasileiro e não vá trabalhar em programas análogos como os da Nasa [Agência Espacial Americana] e da Roskosmos [Agência Espacial Russa], que são agências de grandíssimo porte que aproveitam a mão de obra formada no programa do Brasil, a um custo altíssimo, para que trabalhe por míseros salários, triviais, nestes programas espaciais”, disse.

Fonte: Agência Brasil
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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Spin-offs brasileiros

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A mais recente edição da revista institucional "Espaço Brasileiro" (n° 5), editada pela Agência Espacial Brasileira (AEB), conta com um interessante artigo, de autoria de Andréia Araújo (AEB), com colaboração de Marjorie Xavier (INPE), sobre alguns produtos e serviços usados no dia-a-dia das pessoas que vieram da pesquisa espacial, os chamados "spin-offs".

O que de fato torna a reportagem interessante são as menções a spin-offs originados no Programa Espacial Brasileiro, afinal, spin-offs estrangeiros, em particular aqueles oriundos da exploração espacial levada a cabo pelos EUA são muito mais conhecidos e numerosos. Ao longo dos mais de 50 anos da agência espacial norte-americana (NASA), diversas tecnologias, nas mais variadas áreas, passaram a ser usadas no dia-a-dia da população em geral. São vários os exemplos: exames médicos por imagem, TV via satélite, diveros novos materiais, equipamentos de combate a incêndio, detectores de fumaça, aspirador de pó portátil, óculos contra raios UV, e muitos outros.

Abaixo, relacionamos e sucintamente descrevemos alguns dos spin-offs nacionais mencionados na reportagem:

Combustível de foguete para calçados: o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/CTA) desenvolveu uma nova resina para combustível de foguetes, a PBHL (Polibutadieno Líquido Hidroxilado), material esse incorporado por outros setores da indústria nacional, como o de calçados. Nesse setor específico, a resina, fabricada pela Petroflex, é usada para garantir maior resistência às espumas e maior suporte de peso às palmilhas.

Aço de ultra-alta resistência: ao longo do programa de desenvolvimento de foguetes e lançadores brasileiros, o IAE, em parceria com as siderúrgicas Eletrometal, Usiminas e Acesita desenvolveram um novo aço leve de ultra-alta resistência, chamado 300M. O aço especial é hoje usado por várias indústrias aeronáuticas, inclusive a norte-americana Boeing, que o utiliza na fabricação de trens de pouso de aeronaves comerciais.

Fibras de carbono: aproveitando sobras de fibras de carbono usadas para a construção de componentes de satélites, a CENIC, indústria com sede em São José dos Campos (SP), desenvolveu um equipamento (anel ilizarov) usado na cura de fraturas expostas.

Detectores plásticos: o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em conjunto com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), adaptou um detector plástico, usados para, entre outras coisas, verificar níveis de radiação, para o telescópio espacial Masco, de estudos de astrofísica. Mais tarde, o IPEN descobriu que o mesmo equipamento, com algumas adaptações, era útil para a identificação de níveis de desnutrição em seres humanos.

Minitubos de calor: talvez o pãozinho de seu café-da-manhã tenha alguma relação com o Programa Espacial Brasileiro. Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) adaptaram um equipamento (uma espécie de mini "cooler") usado para a refrigeração de circuitos de satélites, para uso em fornos de padaria, possibilitando que os pães sejam assados de forma homogênea e com menor custo.
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Satélites e lixo espacial

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Acesso às informações sobre satélites e lixo espacial

José Monserrat Filho

“Governo dos EUA evita distribuir todos os dados sobre os satélites rastreados pelo seu sistema, o que tem prejudicado os esforços feitos para prevenir colisões no espaço”

José Monserrat Filho é jurista e jornalista, professor de Direito Espacial, vice-presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA), membro da diretoria do Instituto Internacional de Direito Espacial e atualmente chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do Ministério da Ciência e Tecnologia. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

A cooperação espacial ampla, concreta e efetiva entre os países tornou-se indispensável por exigência de maior segurança, previsibilidade e sustentabilidade nas atividades espaciais. Se você pensou no crescente monturo acumulado nas melhores órbitas da Terra, está absolutamente certo.

Chegamos ao extremo de ver dois satélites colidirem na imensidão do espaço, no dia 12 de fevereiro último. Como pôde ter ocorrido um choque tão absurdo? Acaso faltam dados precisos sobre a trajetória dos satélites?

A maior potência espacial do mundo, os EUA, mantém um sofisticado sistema diuturno de rastreamento e observação dos objetos espaciais – inteiros e já fragmentados – com dimensão superior a 10 cm. Ele não poderia ter previsto o desastre iminente? Os dois satélites que trombaram pesavam, respectivamente, 950 e 560 kg. Não teria sido fácil detectá-los?

Muito já se escreveu sobre o inusitado episódio, mas ainda há perguntas no ar, ou no espaço, à espera de explicações mais completas e convincentes. E a curiosidade certamente aumentou com o que se ouviu na audiência pública sobre os perigos do lixo espacial, promovida pelo Subcomitê de Espaço e Aeronáutica do Comitê de C&T do Congresso dos EUA, no passado 28 de abril. O assunto foi tema do editorial da revista New Scientist, do mesmo dia 28 de abril, intitulado “Peritos apelam para que EUA divida dados sobre órbitas de satélites”.

Ficamos sabendo – pelo depoimento de Richard Dalbello, executivo da empresa Intelsat, satélites de comunicação – que o Governo dos EUA evita distribuir todos os dados sobre os satélites rastreados pelo seu sistema, o que tem prejudicado os esforços feitos para prevenir colisões no espaço.

Segundo Dalbello, o comando espacial norte-americano que opera o sistema não libera os dados mais acurados e relevantes, limitando-se a disponibilizar às empresas operadoras de satélites e aos outros países informações de menor precisão.

Também foi dito na audiência que algumas operadoras vêem-se na contingência de funcionar com base em dados que elas mesmas geram sobre as posições e órbitas de seus satélites. Dados estes considerados insuficientes para impedir abalroamento de satélites.

Dalbello alertou que as colisões na órbita geoestacionária, por onde circulam os satélites milionários de telecomunicações, criam dejetos espaciais que podem durar dezenas de milhares de anos, ameaçando destruir redes de comunicação imprescindíveis na Terra. O recado é claro: só as melhores informações a respeito são capazes de nos ajudar a contornar o pior.

O comando espacial norte-americano, obviamente, usa critérios de segurança nacional para selecionar os dados a serem divulgados sobre satélites ativos. Os satélites militares têm proteção especial.

Para Scott Pace, diretor do Instituto de Política Espacial da Universidade George Washington, “o governo pode não querer informar a órbita de certos satélites e até mesmo se eles existem”.

Mas, Victoria Sampson, da Fundação Mundo Seguro (Secure World Foundation), sediada em Washington, lembrou que bastam apenas alguns dados para evitar as colisões de satélites. A seu ver, tudo o que se precisa saber de um satélite para não bater de frente com ele é onde ele estará nos próximos momentos. E esta informação nunca deve faltar.

Cabe frisar que a captação, processamento, sistematização, avaliação e distribuição dos dados de satélites essenciais à prevenção da ocorrência de colisões em órbitas, são atividades espaciais imprescindíveis a todos os países.

Logo, a elas se aplica o princípio do bem comum, consagrado no Artigo 1º do Tratado do Espaço (de 1967) – o código maior das atividades espaciais –, segundo o qual “a exploração e o uso do espaço cósmico, inclusive da Lua e demais corpos celestes, deverão ter em mira o bem e o interesse de todos os países, qualquer que seja o estágio de seu desenvolvimento econômico e científico, e são incumbência de toda a humanidade”.

Daí que os países que ratificaram o Tratado do Espaço, como os EUA, estão obrigados a facilitar o mais amplo acesso possível às informações por eles conhecidas sobre o movimento, a natureza e a situação dos satélites em órbita, estejam eles funcionando ou não.

Poucos são hoje os países capazes de manter um sistema de controle do tráfico espacial. Se os EUA detêm o sistema mais abrangente, a eles cabe, portanto, a responsabilidade maior neste campo vital.

Pelo menos até que se crie um sistema multilateral, um serviço público internacional, que responda, sem hesitação e vacilações, e de forma competente, à necessidade elementar crescente de segurança nas atividades espaciais de todo e qualquer país.

Fonte: JC E-mail, 06/06/2009
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terça-feira, 5 de maio de 2009

"CBERS: estado atual e futuro"

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Foi publicado nos Anais do XIV Simpósito Brasileiro de Sensoriamento Remoto (XIV SBSR), organizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e realizado em Natal (RN), no mês passado, o artigo "CBERS: estado atual e futuro", de autoria de José Carlos Neves Epiphanio, do INPE.

O artigo traz uma breve análise da parceria sino-brasileira para o desenvolvimento e construção de satélites de sensoriamento remoto CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite), apresentando alguns aspectos dos sensores dos satélites, a política de distribuição gratuita de dados, a nova geração da série (CBERS 3 e 4), o futuro do programa, etc. Quanto ao futuro do CBERS, o autor escreveu:

"A série CBERS terá continuidade com a construção dos satélites CBERS-5 e 6, cujos acordos estão em vias de assinatura. As especificações desses dois satélites estão em fase final, e seguem a mesma linha adotada até aqui, que é de continuidade com melhorias. O foco será na melhoria dês resoluções temporais, com pouco sacrifico da resolução espacial. Ao mesmo tempo, busca-se a inserção da banda do SWIR (infravermelho de ondas curtas) num mesmo sensor, de modo a melhorar a capacidade do satélite para fins de monitoramento de vegetação. Diversas outras melhorias no que respeita aos subsistemas também foram introduzidas."

Para a continuidade do programa, será necessária a assinatura de um novo acordo de cooperação entre os governos do Brasil e China. Segundo o blog apurou, no momento o INPE tem se esforçado para aprovar a terceira série do CBERS (5 e 6) no Conselho Superior da Agência Espacial Brasileira (AEB), formado por membros de vários ministérios, dos comandos militares, dos setores científico e industrial, entre outros.
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segunda-feira, 4 de maio de 2009

Ministro da Defesa em Alcântara

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Jobim visitou Centro de Lançamento de Alcântara

Brasília, 04/05/2009 - O ministro da Defesa, Nelson Jobim, visitou nesta segunda-feira (04/05) o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, onde conheceu as instalações de preparação e lançamento de satélites e de veículos espaciais. O ministro visitou a Escola Municipal Antônio Lobo, construída no Distrito Agrícola Peru, localizado dentro dos assentamentos feitos pelo Comando da Aeronáutica em área desapropriada. Jobim também sobrevoou as agrovilas e as comunidades quilombolas situadas na região.

O ministro viajou acompanhado do comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, do Comandante Geral do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), Major-Brigadeiro-do-Ar Ronaldo Salomone Nunes e do presidente da Alcântara Cyclone Space (ACS), Roberto Amaral.

Concebido no início da década de 80, como um dos três segmentos da Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) foi idealizado para permitir o lançamento, a partir do território brasileiro, de um satélite nacional, levado por um foguete também desenvolvido e produzido no país.

O governo federal, em 1991, declarou de utilidade pública, para fins de desapropriação, cerca de 620km2 da porção setentrional do município de Alcântara, necessária à implantação das áreas operacionais e de apoio logístico, assim como para efetuar o remanejamento local das famílias habitantes na região a ser desocupada.

O CLA está localizado na península que tem por nome Alcântara. É separada do continente, no lado noroeste, pela baía de Cumã, e da ilha de São Luís, do lado sudeste, pela baía de São Marcos.

Fonte: Ministério da Defesa
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domingo, 3 de maio de 2009

Propulsão nuclear para aplicações espaciais

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Recomendamos a leitura do artigo intitulado "As Futuras Grandes Navegações Espaciais: a essencialidade da propulsão nuclear", de autoria do Coronel Engenheiro Carlos Augusto Teixeira de Moura, e Lamartine Nogueira Frutuoso Guimarães, do Instituto de Estudos Avançados (IEAv), do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), publicado no final do ano passado na Revista da UNIFA (Universidade da Força Aérea).

Abaixo, encontra-se um resumo do artigo, elaborado pelos próprios autores:

"RESUMO

O Brasil já é um desenvolvedor e grande utilizador de aplicações espaciais. Assim como outros países emergentes, como China e Índia, o Brasil não pode abdicar da participação nas futuras explorações do espaço profundo, mesmo se sabendo das restrições impostas pelos países centrais para acesso a tecnologias sensíveis, entre as quais a nuclear e a espacial. Este artigo preconiza a necessidade de o Brasil iniciar uma linha de pesquisa em propulsão nuclear espacial, de forma a garantir a possibilidade de acesso ao espaço profundo.

Para tanto, apresentam-se os argumentos para justificar que se abrace esse desafio, confrontando-se com as motivações e os ambiciosos programas de outras potências emergentes. Salienta-se a rara janela de oportunidades ainda existente, pois cresce o movimento internacional para restringir a posse de material físsil, imprescindível para a propulsão nuclear. Sintetiza-se um estudo de planejamento governamental, executado segundo a metodologia da Escola Superior de Guerra, visando ao estabelecimento dessa linha de pesquisa.

Destacam-se os resultados referentes à exploração de cenários, a definição de objetivos de Estado e na proposição de uma concepção estratégica. Ressalta-se que a proposta aproveita uma infra-estrutura inicial já existente no Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), e que os recursos necessários são significativamente modestos frente ao potencial incomensurável da exploração do espaço profundo."

Para ler o artigo em sua íntegra, clique aqui.
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Cooperação espacial Argentina - Itália

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A maior parceira da Itália na América do Sul é a Argentina. A produtiva relação está baseada num acordo intergovernamental firmado em 1992 para a pesquisa e utilização do espaço para fins pacíficos. Em julho 2005, os dois países, por meio de seus organismos espaciais, a Agenzia Spaziale Italiana (ASI), e a Comision Nacional de Actividades Espaciales (CONAE), estabeleceram um importante acordo para a realização do Sistema Ítalo-Argentino de Satélites para a Gestão de Emergências (SIASGE), considerado um sistema único no mundo, que envolverá a integração de duas constelações satelitais radares, a italiana COSMO-SkyMed (4 satélites), em banda X, e a argentina SAOCOM (2 satélites), em banda L (ilustração acima).

Quando plenamente operacional, o SIASGE gerará informações sobre emergências naturais como incêndios, inundações, erupções vulcânicas ou terremotos. No momento, três satélites COSMO-SkyMed, construídos pela Thales Alenia Space, já estão em órbita, enquanto que os dois SAOCOM estão em construção nas instalações da INVAP.

"O SIASGE é um projeto que envolve altíssima complexidade tecnológica e no qual a Itália investiu um bilhão de euros e a Argentina 500 milhões", declarou Enrico Saggese, comissário extraordinário da ASI, durante visita à Argentina em abril passado. Na mesma ocasião, o ministro do Exterior da Argentina, Jorge Taiana, expressou a satisfação do governo argentino com o status da cooperação bilateral relativa ao SIASGE, destcando que sendo a área espacial um setor estratégico para a comunidade internacional, o programa SIASGE é um estímulo para um país em desenvolvimento como a Argentina.

Em maio de 2006, as duas agências assinaram uma declaração de intenções para a expansão do Instituto de Altos Estudos Espaciais "Mario Gulich", localizada na cidade de Córdoba, na Argentina, iniciativa de certo modo relacionada com o SIASGE, tendo em vista a necessidade de se formar especialistas capazes de interpretar e estudar os dados produzidos pelos sensores radares. A expansão tem como objetivo tornar o instituto um centro regional de excelência dedicado à pesquisa e formação de especialistas em aplicações espaciais, e promoção de intercâmbio tecnológico. O Instituto "Mario Gulich" recentemente lançou um curso de pós-graduação em engenharia aeroespacial, com financiamento da ASI.

Outra cooperação em curso entre a ASI e a CONAE está relacionada a missão espacial ambiental argentina SAC-D/Aquarius, na qual a Itália participa com um dos instrumentos a bordo, o sensor de rádio-ocultação ROSA. A missão SAC-D/Aquarius, que conta ainda com outros parceiros internacionais, como a NASA, dos EUA, a CNES, da França, e o próprio Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Brasil, deverá ser lançada ao espaço daqui a um ano, em maio de 2010.
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sexta-feira, 1 de maio de 2009

Política Espacial Brasileira

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Conselho encaminha ao governo sugestões sobre política espacial

29/04/2009

O presidente do conselho, deputado Inocêncio Oliveira, vai apresentar emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias para suprir o Programa Espacial Brasileiro."

O Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica da Câmara vai encaminhar ao governo documento com sugestões sobre a política espacial.

Elaborado a partir de um ciclo de reuniões encerrado hoje, o caderno aponta alternativas, como a transformação do Programa Espacial Brasileiro em uma política de Estado. Outro aspecto ressaltado é a necessidade de suprir os recursos para a viabilização do programa. Entre os objetivos do programa está o lançamento de primeiro satélite geoestacionário nacional, que tem como funções, entre outras, as comunicações e a segurança do espaço aéreo. A intenção da Agência Espacial Brasileira (AEB) é lançar o satélite no prazo de dois anos.

Segundo o presidente do conselho, deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), demonstrou-se nas reuniões que o setor espacial é o mais rentável em relação aos recursos investidos. No entanto, o programa está estagnado por conta do corte orçamentário de 22,5%.

Para incentivar o programa, Inocêncio Oliveira adiantou que vai apresentar emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias. "Vamos apresentar um destaque para que, por intermédio do Fundo de Universalização do Sistema de Telecomunicações (Fust), possamos já suprir esse programa com recursos fundamentais para que ele possa ter um equilíbrio anual, e não essa descontinuidade."

Segundo o presidente da AEB, Carlos Ganem, é justamente a descontinuidade a maior dificuldade enfrentada pelo setor. "O programa sofre por mudanças de cada governo, por mudanças de enfoque, por perdas de oportunidades, consideradas antes prioritárias e que, de uma hora para outra, por conta de recursos cada vez menores, foram deixadas de lado."

Carlos Ganem destacou que o setor espacial é fundamental para o País, uma vez que é componente essencial para acelerar o desenvolvimento científico, econômico e social. Ele lembrou que os produtos desenvolvidos pela tecnologia espacial permitem uma ligação interurbana, a transmissão de um jogo de futebol que acontece em outro país, a previsão do tempo, o acompanhamento de áreas de desmatamento e a análise sobre a qualidade da água no planeta.

A AEB é responsável pela formulação e coordenação da política espacial e pelo repasse dos recursos orçamentários para outros órgãos do sistema.

Fonte: Agência Câmara

Comentários: da leitura da matéria (alguns grifos nossos), percebe-se uma certa priorização ao projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB), e também a consideração pela AEB do uso de recursos do FUST para a viabilização do projeto. O FUST é um fundo instituído pela Lei n 9.998/00, e tem como receitas, dentre outras, a contribuição de 1% sobre a receita operacional bruta, decorrente da prestação de serviços de telecomunicações. Existem também outros fundos de telecomunicações, como o FUNTTEL (Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações), instituído pela Lei 10.052/00 e capitalizado por 0,5% sobre o faturamento líquido das empresas prestadores de serviços de telecomunicações e contribuição de 1% sobre a arrecadação bruta de eventos participativos realizados por meio de ligações telefônicas. Inclusive, os estudos inciais de especificações técnicas do SGB, a cargo da Atech, foram custeados com aproximadamente R$ 10 milhões do FUNTTEL.

Antes de apresentação de Carlos Ganem, foram realizadas duas outras reuniões, uma com Gilberto Câmara, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em março de 2009 (clique aqui), e outra com o ex-ministro de Ciência e Tecnologia e atual diretor-geral da empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), Roberto Amaral, em 15 de abril (clique aqui).
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