sexta-feira, 17 de março de 2017

SGDC: "Janela de oportunidades se abre para o Brasil"

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Janela de oportunidades se abre para o Brasil com operação do Satélite Geoestacionário

Foram adquiridas tecnologias, e o Brasil está se organizando para o futuro, em busca de se capacitar para que, logo, logo, tenha condições de também disputar esse mercado mundial de fabricação de satélites, afirma Jarbas Valente.

Com lançamento previsto para a próxima terça-feira (21), o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) representa uma janela de oportunidades para o Brasil, capaz de alavancar investimentos e benefícios para a população. A avaliação é do diretor técnico-operacional da Telebras, Jarbas Valente. O satélite, uma vez em órbita, deve ampliar a oferta de banda larga no território nacional, especialmente em regiões remotas, e garantir a segurança das comunicações militares do país.

Com isso, o SGDC deve contribuir para o desenvolvimento de diversas frentes tecnológicas, como agricultura de precisão, cidades inteligentes, educação pública, gestão hospitalar, industrialização do interior, infraestrutura de mineração, monitoramento e previsão de desastres naturais, plataformas petrolíferas, segurança rodoviária, sistema bancário e serviços de cidadania, como a emissão de passaportes e a previdência social.

Para Jarbas Valente, com a transferência de tecnologia, a partir da participação de 100 brasileiros na construção e montagem do SGDC, o país começa a se preparar para o desenvolvimento de um satélite desse porte. "Foram adquiridas tecnologias, e o Brasil está se organizando para o futuro, em busca de se capacitar para que, logo, logo, tenha condições de também disputar esse mercado mundial de fabricação de satélites."

MCTIC: Quais os objetivos principais do programa?

Jarbas Valente: O governo brasileiro quis atender aquilo que foi previsto no Decreto nº 7.769, de junho de 2012. Isso significa responder toda a demanda possível do PNBL [Programa Nacional de Banda Larga] a ser resolvida pelo satélite, em todos os rincões do país, de norte a sul, do leste ao oeste, para reduzir desigualdades com o provimento de serviços de internet de alta qualidade. O SGDC também pode servir ao governo, ao melhorar serviços de educação, saúde e segurança, e contribuir para a soberania nacional, ao resguardar as comunicações estratégicas da defesa. O equipamento vai operar nas bandas X e Ka. A primeira é uma faixa de frequência destinada ao uso militar e corresponde a 30% da capacidade total. Já a outra representa 70% e será usada para ampliar a oferta de banda larga pela Telebras.

MCTIC: É estratégico ao Brasil ter um satélite geoestacionário?

Jarbas Valente: Eu diria que é fundamental ao país possuir um satélite dessa dimensão e capacidade, 60 gigabits por segundo, e com essa extensão territorial, ou seja, essa quantidade de feixes, 67 da banda Ka e 5 canais da banda X, em que se mantenha a mesma qualidade de transmissão, seja no Amapá ou no Chuí.

MCTIC: Para quais aplicações o SGDC poderá servir?

Jarbas Valente: São dezenas de aplicações. Aí, você vai desde o uso pessoal, quer dizer, na sua residência, nas suas comunicações, até o uso na área agrícola, na educação, na saúde e na segurança. Vamos poder atender todas as escolas rurais do país, de níveis básico e médio, sem falar da conectividade de instituições de ensino superior no interior. O satélite permitirá, ainda, que postos de comunidades distantes tenham acesso a aplicações de saúde pública e gestão hospitalar utilizadas em grandes centros.

MCTIC: Quando a população poderá sentir essa diferença?

Jarbas Valente: A partir do segundo semestre deste ano, as operações se iniciam. As ativações acontecem e, aí sim, vamos enxergar esses resultados em todos esses pontos onde instalaremos esses equipamentos, para solucionar essas demandas. Por meio de uma antena e com o uso de circuitos locais ou de rádio, poderemos atender escolas, postos de saúde e órgãos da prefeitura, que se comunicarão com os estados e o governo federal.

MCTIC: Uma vez lançado o SGDC, qual será o trabalho da Telebras?

Jarbas Valente: Lançado o satélite, o trabalho da Telebras será viabilizá-lo do ponto de vista econômico e social, porque a gente tem que ter um lado econômico sempre na mente, para poder viabilizar o lançamento de novos satélites, com mais capacidade, para atender essa maior necessidade exigida pelo país. Então, vamos ter um trabalho muito árduo para viabilizar e atender essas demandas, essas questões de que o brasileiro reclama.

MCTIC: O SGDC pode alavancar a atuação da Telebras?

Jarbas Valente: O satélite vem complementar esse trabalho, mas não funciona sem a rede terrestre. Se tivermos um computador no Norte ou no Nordeste e quisermos atingir uma VSAT [terminal de abertura muito pequena, na sigla em inglês] distante, mais ao sul, os dados terão que trafegar por uma das cinco estações conhecidas como gateways, a serem instalados em Brasília, Campo Grande, Florianópolis, Rio de Janeiro ou Salvador. Então, a comunicação é intensa. Por isso, a gente necessita de uma rede terrestre saudável e capaz de atender essa demanda. De qualquer forma, o SGDC será fundamental para a Telebras se tornar autossustentável e viabilizar a construção e o lançamento de novos satélites no futuro, sem depender do Estado.

MCTIC: O SGDC poderá prover sinal para o padrão 5G de telefonia móvel?

Jarbas Valente: O satélite atende indiretamente o 5G. Como é que isso funciona? Através da antena, que vai ser colocada como backhaul, ou infraestrutura maior, para que se ligue ali a uma torre daquela que a gente chama de estação rádio base [ERB]. Das ERBs, todo mundo que tem um 5G, 4G, 3G ou mesmo um telefone comum pode ser alcançado. E por meio da nossa estação VSAT, isso sobe para o satélite, chega na operadora de celular e se liga ao mundo.

MCTIC: Como você avalia o processo de transferência de tecnologia?

Jarbas Valente: Foi muito interessante. Nós da Telebras participamos ativamente com especialistas em toda essa parte de formação. Engenheiros nossos tiveram a sorte e a capacidade de desenvolver softwares tão bons que permitiram, por exemplo, estender a capacidade do satélite, não só do nosso como dos demais equipamentos que virão. Houve profissionais da MCTIC, Ministério da Defesa, AEB e Visiona distribuídos pelas áreas de pesquisa envolvidas na construção, e inclusive das empresas que compraram tecnologia. Eu diria que mais de 100 brasileiros integraram esse processo.

MCTIC: O Brasil está apto para desenvolver um satélite desse porte?

Jarbas Valente: Eu diria que o país está começando a se preparar para chegar lá. Foram adquiridas tecnologias, e o Brasil está se organizando para o futuro, em busca de se capacitar para que, logo, logo, tenha condições de também disputar esse mercado mundial de fabricação de satélites.

MCTIC: Que mensagem a história do SGDC deixa à população brasileira?

Jarbas Valente: Eu acho que a mensagem é bem positiva. É muito importante ter desenvolvido esse projeto, não só do ponto de vista de segurança nacional, que é a base em que foi criada toda a sua estrutura, com a banda X, mas também por sua complementaridade, para tornar o projeto ideal do ponto de vista econômico, porque, senão, o Brasil ficaria eternamente dependente de orçamentos do governo federal para viabilizar um projeto desse porte. Sim, um país que tenha mais recursos faz isso normalmente. Mas nós temos que aproveitar essa janela, esse investimento que foi feito, e transformá-lo em novos investimentos, capazes de dar continuidade ao programa.

Fonte: MTCIC, via NOTIMP.
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