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O Programa Espacial e a Necessidade de uma Reação Eficaz
Célio Costa Vaz
Quando o assunto é o Programa Espacial Brasileiro (PEB), não faltam na mídia especializada diagnósticos setoriais e explicações para a crise que continuamente o assola já ao longo de mais de uma década. Essa situação se explica pelo fato do PEB ainda não ter sido reconhecido e consolidado como um verdadeiro Programa do Estado Brasileiro. Consequentemente, as análises apontam para o fato de que o mesmo poderia se encontrar em estágios tecnológicos muito mais avançados.
Apesar do desenvolvimento não linear do PEB, hoje o País se encontra dotado de um magnifico e valioso patrimônio tecnológico composto por recursos humanos especializados, laboratórios, faculdades e centros de pesquisas e de uma base industrial emergente. Conta com uma importante infraestrutura física e operacional, valendo ser destacadas: - as modernas instalações e sistemas do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA); - e o sofisticado Laboratório de Integração e Testes (LIT), uma referência internacional. Atuam diretamente nos projetos do PEB duas das mais renomadas e eficientes instituições de pesquisas civis e militares do país, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, e o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). A emergente base industrial foi significativamente reforçada com a criação da empresa integradora Visiona, responsável pelo desenvolvimento do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações – SGDC.
Na mesma linha, a base industrial, ainda emergente, que atua como fornecedora de produtos e serviços para o PEB, também contribui no desenvolvimento de tecnologias e, sem exceções, possui mão-de-obra altamente especializada, com elevados graus de instrução e de formações técnicas e acadêmicas, além de infraestruturas compatíveis com os níveis de qualidade requeridos para a realização das atividades neste setor de alta complexidade tecnológica.
As instituições de pesquisas e as empresas que atuam no PEB contam com o apoio do extraordinário sistema de fomento à pesquisa e à inovação científica e tecnológica existente no Brasil, com destaque para a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e as Fundações Estaduais de Apoio à Pesquisa (FAPs), dentre as quais a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
No tocante às realizações, obtiveram-se resultados significativos no âmbito do PEB. Foram projetados e desenvolvemos foguetes de sondagens e satélites, realizados lançamentos e colocados satélites em órbita. O país continua evoluindo no desenvolvimento das tecnologias críticas para satélites e veículos lançadores, tais como sensores inerciais e sistemas de controle e propulsão líquida.
Um Programa que reúne tamanho potencial de benefícios para o país, que dispõe de uma massa crítica intelectual experiente e jovens estudantes desejosos de se profissionalizarem neste setor, possui intrinsecamente em seu bojo, enorme capacidade de prover uma reação eficaz e inteligente para a quebra dos paradigmas necessários para: - a mobilização da sociedade; - a sensibilização da classe política; - propor, programar e implantar medidas que efetivamente levem ao dinamismo e à capacidade de realização adequada.
No contexto acima, fazemos nossas as palavras do Ex-Ministro Samuel Pinheiro Guimarães durante a cerimônia de abertura do seminário “Desafios Estratégicos do Programa Espacial Brasileiro Rumo a 2022”:
: “...faz-se necessário pensar que não é suficiente que a atividade seja importante, é importante que haja força política para que se possa aproveitar todas as oportunidades econômicas que o setor permite. Não é uma questão técnica, é uma questão política”.
Desta forma, na medida em que a sociedade brasileira for conscientizada da importância deste patrimônio, sinônimo de soberania nacional e de independência, das riquezas que ele pode gerar para o país e dos benefícios que poderão ser desfrutados por todos os cidadãos brasileiros, daí surgirá a força política necessária. Devemos todos trabalhar neste sentido.
Dr. Célio Costa Vaz é presidente da Orbital Engenharia S.A.
Artigo publicado na edição especial de Tecnologia & Defesa sobre atividades espaciais, em fevereiro de 2015.
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