quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
"Espaço e atitudes", editorial de T&D n.º 131
Este número [131] tem como reportagem de capa a matéria “Lançadores – onde o Brasil quer chegar”, que busca abordar os principais projetos e perspectivas nacionais nesse domínio. O tema é de extrema relevância e atrai muito interesse. Não é incomum recebermos de leitores sugestões de pautas ou questões sobre o Veículo Lançador de Satélites (VLS), seja por meio da redação ou pelo blog Panorama Espacial, ligado à revista.
Desde a sua fundação, há quase trinta anos, Tecnologia & Defesa tem sido a única publicação especializada brasileira que sistematicamente cobre o setor espacial nacional. Ao longo desse tempo todo, foram várias as reportagens e edições especiais sobre o Programa Espacial Brasileiro (PEB) e projetos específicos, como o da malfadada participação brasileira na Estação Espacial Internacional, o programa VLS, satélites, entre outros. Entrevistamos dirigentes de praticamente todas as entidades relacionadas ao setor, como a Agência Espacial Brasileira (AEB), o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e seus institutos subordinados e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Em 2012, por exemplo, publicamos reportagens sobre satélites de observação terrestre, e o projeto do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), assuntos não abordados em nenhum outro veículo desta área editorial.
Este posicionamento de Tecnologia & Defesa sempre foi motivado por entendermos o setor espacial como vital para os objetivos do País. E isso não significa, em absoluto, que ajudamos a “reinventar a roda”. Trata-se, apenas, de se observar o que acontece em países mais avançados e ter muita seriedade em pensar as grandes e reais vocações do Brasil. O lamentável, porém, é que todo o trabalho efetuado, as páginas disponibilizadas para a divulgação do tema, debate e mesmo críticas (no sentido de contribuir) parece não sensibilizar algumas pessoas, as quais deveriam ser as mais interessadas em que assim seja, como nesta oportunidade, quando permanecemos aguardando uma entrevista acordada com um alto dirigente da AEB (atrasando, inclusive, a publicação da própria edição – e com os prejuízos que disso decorrem) para, na última hora (já ultrapassada) sermos informados que não teríamos, este ano (2012), as respostas às questões formuladas por nossa equipe. Realmente, muito desagradável e deselegante, até. Bem, mas vamos em frente.
Por outro lado, ultimamente, as esperanças parecem ter sido renovadas para o Programa Espacial Brasileiro que, em sua história, citando palavras do atual ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, “tem como marca o atraso”. Há expectativas com a edição de uma nova versão do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), certamente mais realístico, com o projeto do SGDC, anteriormente conhecido como SGB, o início do desenvolvimento do Veículo Lançador de Microssatélites – VLM, entre outras iniciativas igualmente relevantes. É importante mencionar o papel que a Estratégia Nacional de Defesa (END), lançada no final de 2008, tem nesta reformulação. A END elenca o setor espacial como um domínio estratégico - ao lado do nuclear e cibernético. Hoje, frequentemente, dirigentes de institutos civis envolvidos com o PEB mencionam a END e as necessidades na área de defesa, de projetos como o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) e o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), como demandas que devem ser atendidas pelo PEB, o que era bastante incomum, para muitos até temerário, não muitos anos atrás. Esperamos que venha a ser muito mais que um bom sinal.
Contudo, o fato é que ainda faltam ações mais concretas no PEB e, principalmente, resultados. O Brasil não lança um satélite próprio, desenvolvido localmente, desde 1998, portanto, há praticamente quinze anos, algo inaceitável para um país que deseja ocupar posição de destaque no cenário geopolítico em âmbito global, e mesmo para satisfazer as suas diversas demandas internas. O programa CBERS (China-Brasil Earth Resources Satellite – Satélite Sino Brasileiro de Recursos Terrestres), desenvolvido em parceria com o governo de Pequim e considerado um dos maiores projetos atuais do PEB, enfrenta mais uma dificuldade com problemas em componentes do CBERS 3, o que veio a ocasionar a postergação do seu lançamento, que estava inicialmente previsto para novembro de 2012, confirmando a “marca do atraso”, seguindo o raciocínio de Marco Antonio Raupp.
Ao mesmo tempo, há também muita esperança em que todas as promessas, estudos e planos envolvendo o PEB sejam verdadeiramente concretizadas em médio prazo, e o momento para isso, talvez, jamais tenha sido tão favorável como agora.
Editorial da edição n.º 131 da revista Tecnologia & Defesa.
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