A seguir, apresentamos algumas notas com uma análise sobre o resultado da concorrência da primeira unidade do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), coordenada pela Visiona Tecnologia Espacial, joint-venture da Embraer (51%) e Telebras (49%), e anunciada no início da semana passada.
O preço
Não houve uma divulgação oficial pelas partes envolvidas sobre o valor total do negócio. Mas, o website brasileiro Teletime, especializado em telecomunicações, publicou notícia em 13 de agosto dando o valor de R$1,1 bilhão (acima dos R$716 milhões inicialmente estimados), citando Caio Bonilha, presidente da Telebras. O blog Panorama Espacial já havia publicado no passado informações sobre a revisão do orçamento, uma vez que o montante de R$716 milhões havia sido estimado em 2011, época em que um dólar custava em torno de R$1,70 (o equivalente a cerca de 420 milhões de dólares). O SGDC-1, turn-key, custará em torno de 450 milhões de dólares. O contrato definitivo deve ser assinado até setembro.
Três satélites ao todo
Nesta primeira etapa, um único satélite está sendo contratado (alguns componentes críticos serão redundantes), mas a intenção do governo é em dado momento dispor de uma constelação de três satélites. O processo para a contratação de uma segunda unidade poderá ser iniciado mesmo antes da colocação em órbita do SGDC-1, prevista para o primeiro trimestre de 2016. E é neste cenário de surgimento de um novo contratante de satélites na América do Sul, que nasce com a obrigação de atender a demanda de banda larga popular e das forças armadas, que outros fabricantes além da TAS continuarão a trabalhar. Isto é, o mercado governamental brasileiro não está fechado.
O desafio
O projeto do SGDC não envolve apenas o satélite propriamente dito, isto é, o segmento espacial. Parte importante, talvez até a mais relevante, é o segmento terrestre, especialmente em se tratando de um projeto que envolve banda Ka para atender o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Este é um ponto que deve ser observado com muita atenção.
A importância para a TAS
O SGDC-1 foi o primeiro negócio para a venda de um satélite geoestacionário de comunicações fechado este ano pela Thales Alenia Space (TAS) - a TAS conquistou um contrato no início do ano para o fornecimento de cargas úteis do satélite BADR-7, da ARABSAT, mas a líder industrial e fornecedora da plataforma neste caso é a Astrium. Representa a continuidade da família de plataformas Spacebus e também dezenas de meses de atividades para engenheiros e técnicos em Cannes, no sul da França, e em outras unidades da TAS na Europa.
A importância conferida pelo grupo ao negócio no Brasil foi a base para que uma proposta extremamente competitiva, especialmente em termos de preço (sempre uma dificuldade para países europeus em relação a seus concorrentes norte-americanos por conta do câmbio), fosse apresentada, com o respaldo de Jean-Loïc Galle (presidente da TAS) e Pascale Sourisse (vice-presidente desenvolvimento internacional do grupo Thales).
A importância para a TAS - 2
Levando o SGDC, a TAS se colocou numa posição privilegiada para os próximos satélites do SGDC e também outros projetos espaciais brasileiros, em particular, no âmbito do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), elaborado pelo Comando da Aeronáutica, e do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE). Especialmente em razão do espectro de transferência tecnológica esperada com o SGDC, não apenas em comunicações, mas em subsistemas de satélites, observação terrestre, meteorologia, entre outros.
Outra consequência relevante: o SGDC pode ser a "porta" da Thales para outros projetos com a Embraer, não necessariamente na área espacial. Do lado francês, desejo há. Algo a se conferir nos próximos meses.
A semana da Arianespace no Brasil
Pouco ou nada se comentou a respeito, mas a escolha da Arianespace para colocar o SGDC-1 em órbita confirma a tradição (e o retorno) da companhia europeia no atendimento das necessidades em termos de lançamento dos programas de satélites de comunicações do governo brasileiro. Relacionamento que começou em 1985, quando o Brasilsat A1, operado e contratado pela então estatal Embratel, subiu ao espaço a bordo de um Ariane 3. Até o ano de 2000, foram mais cinco lançamentos. Mesmo com a privatização da Embratel e criação da Star One, os veículos da família Ariane continuaram sendo a primeira opção, executando com sucesso todas as missões. É um grande indicativo de confiabilidade.
Aliás, a última semana foi marcante para a Arianespace no País. Pois, além de ter sido escolhida para o SGDC-1, houve o anúncio do Star One D1, a ser fabricado pela Space Systems/Loral (SSL), dos EUA, e que, segundo a imprensa, voará ao espaço a bordo de um foguete Ariane 5. Em novembro de 2012, um Ariane 5 colocou em órbita o Star One C3 (construído pela Orbital Sciences Corporation, dos EUA). Para o terceiro trimestre de 2014, outro Ariane 5 deve lançar o Star One C4 (SSL).
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