A edição desta semana da publicação especializada Space News traz duas interessantes reportagens sobre o Programa Espacial Brasileiro. De autoria do experiente Peter Selding, os textos foram preparados com base em entrevistas e informações coletadas durante a LAAD Defence & Security, feira realizada no Rio de Janeiro (RJ) durante a semana passada.
Um dos textos (“Brazil Pulling Out of Ukrainian Launcher Project”) trata da atual situação da binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), aproveitando-se de informações que já haviam sido divulgadas em reportagens da imprensa brasileira nas últimas semanas. A novidade foi a citação de declarações dadas por Petrônio Noronha de Souza, diretor da Agência Espacial Brasileira (AEB) - a primeira vez que uma autoridade se pronuncia oficialmente a respeito (curiosamente, para um veículo estrangeiro e não brasileiro, apesar de diversas tentativas por parte da imprensa brasileira). “É um acúmulo de coisas” (uma tradução rápida de “It is an accumulation of issues”), afirmou Noronha, destacando problemas com orçamento, aspectos tecnológicos, relacionamento entre o Brasil e a Ucrânia e o mercado disponível para exportação.
Nos bastidores, comenta-se sobre a disposição do lado ucraniano em pleitear uma indenização em razão do cancelamento do projeto nacional; a cifra ouvida pelo blog gira em torno de R$800 milhões.
A outra reportagem, intitulada “Brazil Bypassing the U.S. as It Builds out a Space Sector”, aborda o suposto direcionamento dado pelo governo brasileiro a parcerias com determinados países, como China (CBERS), Alemanha (VSB-30, VLM), Argentina (SABIA-MAR) e Franca (SGDC), ignorando os EUA. Apesar de interessante, a análise do autor é um pouco superficial, ignorando alguns itens importantes.
Muito embora não haja um grande projeto espacial conjunto entre o Brasil e os EUA, não se pode ignorar a dependência brasileira de meios norte-americanos para atividades críticas, como o monitoramento do desmatamento da Amazônia (Landsat) e previsões meteorológicas (satélites GOES). Os EUA ainda exercem papel importante na formação de recursos humanos para o Programa Espacial Brasileiro, e em pesquisas envolvendo aplicações de dados espaciais. Ainda, cite-se o fato de que o SGDC não e um satélite ITAR-free (isto é, contém componentes, inclusive críticos, de origem norte-americana), tanto no segmento espacial como terrestre, e algumas iniciativas de menor porte - mas com importante significado, no campo de cubesats (inclusive envolvendo as forças armadas).
O último parágrafo da reportagem tem uma citação interessante e parcialmente verdadeira, creditada a um executivo (não identificado) de uma companhia europeia fabricante de satélites. “O modelo para o espaço [buscado pelo Brasil] é o modelo da Embraer”. Disto deveria surgir o seguinte questionamento: a Embraer chegou ao que é hoje “ignorando” os Estados Unidos?
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