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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Alcântara: AST com EUA de volta à pauta

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Brasil assume de vez negociação espacial com americanos

Planalto já prepara minuta de proposta para que EUA usem Centro de Lançamento de Alcântara
   
POR GABRIELA VALENTE, ELIANE OLIVEIRA E ROBERTO MALTCHIK 
23/01/2017 4:30 / atualizado 23/01/2017 13:38

BRASÍLIA - Após o fracasso na parceria com os ucranianos para o uso comercial do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, que causou prejuízo de pelo menos meio bilhão de reais ao Brasil, o Palácio do Planalto está pronto para negociar o uso da base com os Estados Unidos. A ideia é oferecer aos americanos acesso ao centro de lançamento, cobiçado por sua localização rente à Linha do Equador, que diminui o gasto de propelente em cada empreitada especial, para, em troca, utilizar equipamentos fabricados pelos potenciais parceiros.

O uso dos modernos sistemas espaciais dos Estados Unidos, jamais obtidos pela indústria nacional, porém, não significará transferência tecnológica ao setor privado brasileiro. Pelo contrário: para que a negociação avance, o Brasil terá que aprovar uma lei que indique de forma técnica e pormenorizada a proteção que será dada a todo componente tecnológico manipulado em solo brasileiro. O mesmo texto precisa ser avalizado pelo Congresso americano. Se parte das exigências dos EUA forem alteradas pelos parlamentares do Brasil, e as mesmas forem consideradas insatisfatórias pelos congressistas americanos, não tem negócio.

O tema sempre esbarra na proteção à soberania nacional, uma vez que setores do Centro de Lançamento de Alcântara poderiam ficar inacessíveis aos técnicos brasileiros justamente pela proteção à propriedade intelectual do país parceiro. Foi esta a argumentação, que provoca polêmica entre diferentes setores dentro e fora do governo, que impediu o avanço da primeira tentativa de acordo, costurada ainda no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

PROPOSTA ANTERIOR EMPERROU

À época, a proposta não avançou no Congresso Nacional. Os parlamentares consideravam o acordo desequilibrado e conflitante com as leis brasileiras. A maior crítica é que o governo dos EUA manteria controle sobre áreas segregadas em território brasileiro.

Agora, o país deve apresentar uma nova versão de Acordo de Salvaguardas Tecnológicas ao Parlamento. O Ministério das Relações Exteriores avalia junto aos ministérios da Defesa. Ciência e Tecnologia e Agência Espacial Brasileira os termos que podem ser oferecidos aos americanos. A ideia é ser pragmático e propor um acordo que permita acelerar um acordo definitivo.

José Serra, ministro das Relações Exteriores, confirmou que oferecerá aos americanos um acordo. Segundo ele, esta é uma das primeiras providências nas relações com o novo presidente americano, Donald Trump.

— Vamos tomar a iniciativa de propor a reabertura de negociação em torno de vários acordos e tratados que não se concretizaram. Um deles se refere à base de Alcântara. O assunto foi muito debatido no passado e, agora, vamos tentar uma parceria — revelou José Serra.

O primeiro passo para que o diálogo avance foi dado com uma medida prática: o Planalto obteve vitória no Congresso para retirar da Casa o texto rejeitado há quase 15 anos. Como os Estados Unidos sempre foram resistentes à ideia de uma negociação que flexibilize o acesso de brasileiros aos locais sensíveis à proteção tecnológica, os diplomatas daqui devem entregar uma proposta sem tantas exigências. Assim, acreditam, o dispositivo de segurança nacional tem maior chance de não ser derrubado pelos parlamentares americanos.

Em dezembro, o plenário da Câmara de Deputados aprovou o fim da tramitação do texto antigo. Já neste mês, os ministério das Relações Exteriores e da Defesa começaram a elaboração de um novo acordo.

Em 2004, logo depois do incêndio nunca totalmente esclarecido que matou 21 técnicos e engenheiros que trabalhavam no lançamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS) brasileiro, e, em 2012, quando o acordo com os ucranianos já dava os primeiros sinais de fracasso, o Brasil tentou retomar o acordo com os americanos. O Itamaraty fez as tratativas em absoluto sigilo, mas, em julho de 2013, entretanto, esse início de negociação foi suspenso.

As conversas estariam estavam avançadas, mas naufragaram por causa da redução no ritmo do diálogo bilateral entre o governo Dilma Rousseff e os americanos, depois da revelação que o serviço de inteligência dos Estados Unidos espionou o governo brasileiro.

— Há disposição para buscar soluções alternativas. A assunção de novo governo nos EUA poderia representar oportunidade para uma reavaliação do cenário, buscando-se ambiente de flexibilidade de lado a lado, em que novos entendimentos possam prosperar — contou um técnico do governo a par do assunto.

Sem citar nomes, José Serra criticou o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que optou por um acordo com a Ucrânia, para o lançamento de satélites da base de Alcântara, que ainda enfrenta obstáculos domésticos. O principal deles é a resistência das comunidades locais à expansão do centro de lançamento, hoje dentro do perímetro da base militar. O acordo com a Ucrânia foi rompido e ainda deixou um problema para o Brasil: como houve denúncia unilateral do tratado, ou seja, o Brasil optou sozinho por não prosseguir na empreitada com o país europeu, a Ucrânia pode — e já ameaçou fazer — exigir ressarcimento pelos prejuízos causados pela parceria mal sucedida.

Fonte: Jornal "O Globo".
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quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

"Na corrida aeroespacial estamos na estaca zero", artigo de Roberto Amaral

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Reproduzimos abaixo artigo recebido hoje (12), de autoria de Roberto Amaral, dirigente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), ex-ministro da Ciência e Tecnologia (janeiro de 2003 a 2004), e diretor-geral da binacional da Alcântara Cyclone Space (ACS) (2007 a 2011). O artigo não reflete a opinião do blog Panorama Espacial.

Na corrida aeroespacial estamos na estaca zero

Roberto Amaral

O programa espacial é exemplo de como as elites brasileiras, desde cedo, se demitiram da grandeza

Em meados de 2003, os ministros da Defesa (José Viegas Filho), das Relações Exteriores (Celso Amorim) e da Ciência e Tecnologia (Roberto Amaral) recomendaram à presidência da República a retirada, do Congresso Nacional, da mensagem com a qual FHC encaminhara o acordo por ele firmado com o governo dos EUA visando à cessão, pelo Brasil, do Centro de Lançamentos de veículos espaciais de Alcântara (CLA), no Maranhão. O acordo, demonstravam os ministros, contrariava os interesses nacionais e afetava nossa soberania.

Construído à base de dispositivos assimétricos, plenos de prepotência imperialista, eivado de desprezo à soberania brasileira, o acordo proibia peremptoriamente qualquer repasse de tecnologia, de que carece o Brasil, e impedia a cooperação tecnológica com outros países, de que tanto necessitamos para anular o atraso de hoje.

Enfim, o objetivo estratégico do governo dos EUA, ao qual se curvou FHC, era inviabilizar o programa espacial brasileiro, hoje agonizante, subordinando-o à órbita dos interesses estratégicos norte-americanos, que não dizem respeito aos nossos.

A alternativa brasileira de cooperação tecnológica se abriu com a possibilidade de acordo com o governo da República da Ucrânia, herdeira da tecnologia espacial da antiga União Soviética e disposta a colaborar com o Brasil.

Consultando os EUA sobre a parceria com o Brasil, as autoridades ucranianas receberam a insólita resposta de que os EUA não se opunham ao acordo Brasil-Ucrânia, mas continuavam considerando inconveniente nosso programa espacial. Esta é a premissa do acordo Brasil-EUA e das pressões e sabotagens contra a cooperação Brasil-Ucrânia, cujo fecho foi a inviabilização da Alcântara Cyclone Space.

O governo títere de Michel Temer, por razões que não explicou, retirou de pauta o acordo Brasil-EUA para negociações que não se fazem à luz do dia, e o tema pode retornar a qualquer momento ao Congresso sem discussão pública, sem audiência da comunidade científica, sem mesmo debate parlamentar.

Tudo é possível no atual governo e no atual estágio de nossa catástrofe política, mormente quando, ainda sem explicações políticas, técnicas ou estratégicas, o governo brasileiro (Decreto nº 8.494 de 24/6/2015) denunciou, unilateralmente, o acordo de cooperação firmado com a Ucrânia, que visava à produção conjunta e lançamento a partir da base de Alcântara do foguete Cyclone-4. E, assim, jogamos por terra a possibilidade de cooperação, que permite o salto tecnológico de que tanto carecemos.

O Veículo Lançador de Satélites (VLS), projeto da FAB desenvolvido pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA) da Aeronáutica, foi enterrado com os escombros do desastre de 2003, quando sua terceira tentativa de lançamento redundou na trágica perda de 21 técnicos brasileiros.

Estamos, hoje, como estávamos há décadas, pouco além da estaca zero, sem satélite, sem lançador e sem centro de lançamento, apesar de possuirmos o mais estratégico, econômico e seguro sítio para lançamentos de foguetes, o já referido município de Alcântara, no Maranhão, próximo à linha do Equador, onde os satélites entram em órbita.

Em Alcântara temos hoje as ruínas das obras civis da frustrada Alcântara Cyclone Space (ACS), fruto da finada cooperação Brasil-Ucrânia, e uma bela torre para lançamentos do VLS, um foguete que não existe.

O acordo firmado com os EUA, felizmente não homologado, é paradigmático da renúncia à soberania nacional. Vejamos alguns de seus muitos pontos inaceitáveis.

Por exemplo: admite a possibilidade de veto político unilateral dos EUA a lançamentos de foguetes de nosso Centro de Lançamento de Alcântara; proíbe o Brasil de cooperar (aceitar ingresso de equipamentos, tecnologias, mão-de-obra ou recursos financeiros) com países que não sejam membros do regime de Controle de Tecnologia de Mísseis – Missile Technology Control Regime (MTRC); proíbe o Brasil de utilizar recursos decorrentes dos lançamentos no desenvolvimento de seus próprios lançadores; determina o livre acesso, exclusivo dos servidores dos EUA, a qualquer tempo, ao Centro de Lançamento para inspecionar veículos, e assim por diante.

Independentemente do caráter de lesa-pátria desse acordo, ora suspenso, duas questões de fundo vêm à baila: (i) a dificuldade de nosso país acompanhar o processo tecnológico de seus parceiros, isto é, dos caminhantes de mesmo nível; e (ii) nossa quase inaptidão para desenvolver projetos estratégicos, aqueles que definem os grandes objetivos nacionais e condicionam, por isso, os planos e ações governamentais, ou seja, as táticas necessárias para atingir tais objetivos.

Atrasamo-nos no processo de desenvolvimento de nosso programa nuclear pacífico, sendo superados por países que caminhavam pari passu conosco nos anos 40/50 do século passado, e fomos superados pelos países tecnologicamente nossos contemporâneos nos primórdios da aventura espacial.

O caso exemplar é oferecido pela China, que hoje disputa o espaço com a Rússia e os EUA, enquanto nossos satélites (os CBERs – Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), fabricados em cooperação com a indústria chinesa, são lançados por foguete chinês a partir de base chinesa.

No plano estratégico registramos, além dos atrasos nos programas espacial e nuclear, o gravíssimo atraso no plano cibernético, o espaço da guerra do terceiro milênio, como denunciou o general José Carlos dos Santos, então comandante do Centro de Defesa Cibernética do Exército, em palestra promovida pela  Câmara dos Deputados, em 2012.

Aliás, esses três setores, o espacial, o cibernético e o nuclear, foram eleitos como os de importância estratégica pelo decreto nº 6.703, de 15 de dezembro de 2008, que estabelece a ‘Estratégia Nacional de Defesa’ do Brasil.

Os percalços relativos ao desenvolvimento do Programa Espacial, particularmente no que dizem respeito à construção, interrompida, do sítio de lançamento da Alcântara Cyclone Space, são graves, mas não estão a constituir uma especificidade.

Os óbices resultam de questões estruturais, condizentes com os mecanismos de funcionamento do Estado brasileiro, com forte dose de distorção política e cultural, alienação que é uma das características seminais de nossas elites dirigentes, voluntariamente colonizadas.

Afeitos à dependência – científica, tecnológica, cultural, ideológica – nossos quadros dirigentes, com as exceções que fazem a regra, jamais se revelaram atraídos pelo pioneirismo ou pela inovação, jamais se sentiram conquistados pela autonomia e soberania do país, jamais se apresentaram estimulados pela necessidade de um projeto nacional de desenvolvimento. Muito menos de discuti-lo com a sociedade.

O pioneirismo que constrói as nações foi aqui substituído pela reprodução mecanicista dos modelos políticos, econômicos, culturais das metrópoles, pela importação de bens materiais e simbólicos, pela introjeção dos valores do colonizador, pela paixão pelo que vinha de fora, coisas e ideais, sotopondo o invento, a criação, a audácia e, principalmente, anulando a fé em si mesmo, a crença em sua própria capacidade, e, por consequência, na capacidade do povo-massa, o povo como ser coletivo.

A aspiração de nossas elites alienadas jamais foi o desafio da construção, nos trópicos, de uma civilização; ao contrário, forcejaram elas sempre por assimilar, como implante, primeiro os valores coloniais europeus, em seguida os valores norte-americanos; e assim, convencidas das nossas limitações como destino, e da mágica superioridade do ‘outro’, os outros povos (do Norte), das outras raças, do externo, sempre encararam o subdesenvolvimento como um determinismo.

Essas elites, europeizadas, auto-norte-americanizadas e auto-embranquecidas, jamais poderiam identificar-se com um povo mestiço, muito menos admitir sua capacidade criadora.

Pensar em projeto nacional com fundamento em nossas próprias forças, pensar na possibilidade de desenvolvimento econômico, foi sempre interditado. Nossas classes dirigentes desde cedo se demitiram da grandeza.

Para elas, nosso destino, de país agrário seria, inevitavelmente – cumprindo uma lei da divisão internacional do trabalho editada pelas grandes potências – o de subsidiar, com matérias-primas e alimentos, o progresso das sociedades industrializadas  – as quais, gratas, nos fornecem, para o conforto de nossas elites, os bens e o luxo produzidos com nossos insumos. Ora, por que manufaturá-los aqui?

E ainda há os que, mesmo em funções de Estado, não entendem a necessidade do esforço nacional visando à construção de nossos próprios satélites, de nossos próprios foguetes, como há os que não entendem a necessidade brasileira de desenvolver seu programa nuclear para fins civis.

Pois há, até, os que não compreendem que segurança e autonomia estejam no eixo de nossas políticas de defesa nacional.

Do conluio golpista que ora comanda o País, nada podemos esperar. O momento é de resistir ao desmonte do Estado brasileiro e preservar nossas conquistas, para, quando recuperarmos ao menos os elementos básicos do que definimos como democracia – e temos que recuperá-los! – , voltarmos a impor avanços às forças do atraso, que tanto apequenam este grande país.

Fonte: pensarBrasil, website de Roberto Amaral.
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domingo, 13 de dezembro de 2015

Comissão do Senado: relatório sobre os setores espacial e de defesa

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Em meio ao difícil momento político brasileiro, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado Federal se reuniu em Brasília (DF) no ultimo dia 10 para analisar e deliberar sobre um relatório diagnóstico sobre o momento atual dos setores de defesa e aeroespacial no Brasil.

Apesar de simples, o relatório traz informações interessantes. Em relação ao setor espacial, alguns de seus apontamentos deram origem a recomendações aprovadas pela CRE, dentre as quais um requerimento direcionado ao Tribunal de Contas da União - TCU para que sejam tomadas "providências no sentido de iniciar auditoria no Acordo Brasil-Ucrânia no tocante ao uso de recursos públicos para utilização da Base de Lançamentos de Alcântara", sob a alegação de que foram investidos mais de R$1 bilhão, sem qualquer retorno (o programa da Alcântara Cyclone Space foi cancelado no primeiro semestre deste ano).

Interessante também observar a recomendação para que sejam retomadas as negociações para um acordo de salvaguardas tecnológicas com os EUA relativo à exploração do centro espacial de Alcântara.

Reproduzimos abaixo os principais trechos do relatório que tratam do setor espacial:

"O objetivo do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE) é a implantação de sistemas espaciais de uso militar e civil (uso dual), como, por exemplo, Defesa Civil, Programa Nacional de Banda Larga e Sistema de Proteção da Amazônia. Trata-se de um projeto que integra as Forças Armadas, pois permitirá a integração do Sistema Integrado de Vigilância da Amazônia (SIVAM), a cargo da Aeronáutica, do SISFRON, a cargo do Exército, e o SISGAAZ, a cargo da Marinha. O custo estimado do projeto é de cerca de R$ 12 bilhões. A previsão de início era para este ano, mas nada foi executado. A previsão atual de término é 2022.

O PESE segue as diretrizes do Programa Nacional de Atividades Aeroespaciais (PNAE). O PNAE é dirigido pela Agência Espacial Brasileiro, pertencente ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI. O Ministério da Defesa e o Itamaraty também fazem participam do Programa.

Muito se fala do valor agregado dos produtos de uma indústria. Para análise da importância estratégica do setor aeroespacial, enquanto 1 quilo de produtos aeronáutico vale entre 2000 a 3000 mil dólares, 1 quilo no setor espacial vale 50 mil dólares. Ou seja, não estamos falando só de investimentos, estamos falando de possibilidades de exportação, de empregos de alto valor agregado, e estamos falando de soberania.

Os recursos dispensados ao PNAE ao longo dos seus 36 anos foram muito menores do que os necessários. Com os contingenciamentos recentes, o valor que o Programa vinha recebendo nos últimos 30 anos - de aproximadamente R$250 milhões anuais, aproximadamente US$ 65 milhões anuais, não só para o satélite, como também para toda a infraestrutura associada necessária - diminuiu drasticamente para menos de US$ 20 milhões neste ano. Não existe indústria que sobreviva a uma situação como esta.

As causas para o atraso do PNAE são variadas, segundo vários especialistas: não apenas a aplicação insuficiente de recursos financeiros, mas também a ausência de um comando unificado, com foco em resultados, e a baixa integração com a indústria. 

Países da América Latina vem desenvolvendo tecnologias para aplicação militar muito mais avançadas do que as brasileiras. A Argentina já está colocando o seu segundo satélite geoestacionário em órbita e construindo o terceiro. É o único país da região já em estágio avançado de montagem e integração em solo nacional de um satélite geoestacionário. Países como o Chile, Peru e Venezuela têm resolução e precisão maiores que os do Brasil.

O Brasil ainda não tem infraestrutura física capaz de suportar o desenvolvimento de um SGDC, pelo porte do mesmo. 

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, de 1961, tem a missão de produzir e desenvolver altas tecnologias na área espacial e formação de mão de obra capacitada. Mas o que tem acontecido: dispensa da mão de obra qualificada, por não haver projetos, e perda de competência e desenvolvimento tecnológico.

Nos últimos três anos, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança - ABIMDE, principal entidade do setor de Defesa, tínhamos 500 especialistas trabalhando no setor espacial, hoje, com a ociosidade, temos menos de 200 técnicos e engenheiros trabalhando no setor. A reposição da mão de obra também é crítica: em 2027 teremos, por aposentadorias, 20% da mão de obra em comparação à 2004, quando o setor funcionava a pleno vapor. Se não investirmos na recapacitação do INPE e na capacitação da Agência Espacial, este setor estratégico vai se extinguir.

Em 2000 o governo brasileiro iniciou discussões sobre como utilizar comercialmente a Base de Alcântara, no Maranhão. Previsto na Estratégia Nacional de Defesa, o uso da Base de Alcântara, é uma das possibilidades para que o Programa Nacional de Atividades Aeroespaciais - PNAE tenha recursos, dado que cada lançamento de satélite rende cerca de US$ 50 milhões em valores atuais. A localização da base é privilegiada, apresentando competitividade para concorrer no mercado global de lançamento de satélites comerciais de meteorologia e de comunicações.

Segundo o embaixador Rubens Barbosa, em audiência na CRE, há interesse de empresas europeias, norte-americanas, chinesas e russas em participar com empresas brasileiras desse significativo mercado internacional.

A alternativa negociada naquele ano foi a assinatura de um Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com o governo norte-americano. Os EUA exigiam para utilizarem, que houvesse garantias (salvaguardas) na utilização das tecnologias utilizadas no lançamento de satélites e da propriedade intelectual dos satélites e do veículo lançador. Os EUA têm interesse em restringir o número de países que têm o domínio de lançamento de satélites, por claros motivos geopolíticos.

A oposição na época, principalmente o partido que hoje governa o país, vetou a aprovação do Acordo. Há 13 anos o Acordo está parado na Câmara de Deputados.

O importante a ser apontado aqui é que o este mesmo Acordo foi traduzido e assinado com a Ucrânia em 2004, num governo que em 2001 era oposição. O acordo com a Ucrânia em torno do Projeto Cyclone previa o lançamento de um satélite em cooperação com a Ucrânia e a utilização de um veículo lançador de satélites ucraniano.

Mas foi ignorado um dado fundamental: para o lançamento do satélite no âmbito do Acordo com a Ucrânia, era necessário que o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com os EUA estivesse assinado, pois havia componentes norte-americanos no veículo ucraniano e no próprio satélite desenvolvido de forma cooperativa entre o Brasil e a Ucrânia. O Acordo com a Ucrânia foi cancelado pelo Brasil no 1º semestre de 2015. Os dois governos gastaram no Projeto Cyclone cerca de R$ 1 bilhão, segundo várias fontes.

Ou seja, a não aprovação do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com os EUA em 2001 inviabilizou o prosseguimento da utilização da Base de Alcântara. A falta de planejamento e conexão entre os atores governamentais envolvidos na meta de utilização da Base de Alcântara em benefício do PNAE tornou inviável a utilização de uma situação brasileira privilegiada em termos de localização.

Para prosseguirmos no que está previsto na Estratégia Nacional de Defesa em relação ao setor aeroespacial, portanto, o primeiro passo que deve ser dado é a retomada da negociação do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas entre o Brasil e os EUA."
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terça-feira, 11 de agosto de 2015

The Economist: "Ten, nine, ten..."

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O mais recente número da prestigiada publicação inglesa The Economist traz um interessante e sucinto artigo, que vale a leitura, sobre o momento por que passa o Programa Espacial Brasileiro. O título "Ten, nine, ten...", traduzido para o português como "Dez, nove, dez...", já é suficientemente revelador sobre o seu conteúdo.

Mostra os atrasos e idas e vindas do programa nacional, com restrições financeiras e também problemas diplomáticos, como a recente denúncia pelo lado brasileiro do acordo com a Ucrânia para a exploração comercial de Alcântara, no Maranhão, que deu origem à Alcântara Cyclone Space.

O texto foi reproduzido no Brasil pela revista Galileu (veja aqui).
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segunda-feira, 27 de julho de 2015

ACS: Decreto da denúncia do acordo

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DECRETO Nº 8.494, DE 24 DE JULHO DE 2015

Torna pública a denúncia, pela República Federativa do Brasil, do Tratado entre a República Federativa do Brasil e a Ucrânia sobre Cooperação de Longo Prazo na Utilização do Veículo de Lançamentos Cyclone-4 no Centro de Lançamento de Alcântara, firmado em Brasília, em 21 de outubro de 2003.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, caput, incisos IV e VIII, da Constituição, e

Considerando que o Tratado entre a República Federativa do Brasil e a Ucrânia sobre Cooperação de Longo Prazo na Utilização do Veículo de Lançamento Cyclone-4 no Centro de Lançamento de Alcântara, firmado em Brasília, em 21 de outubro de 2003, foi promulgado pelo Decreto nº 5.436, de 28 de abril de 2005;

Considerando que, ao longo da execução do Tratado, verificou-se a ocorrência de desequilíbrio na equação tecnológico-comercial que justificou a constituição da parceria entre a República Federativa do Brasil e a Ucrânia na área do espaço exterior;

Considerando que o Tratado prevê, em seu Artigo 17, a possibilidade de denúncia, produzindo efeitos a partir de um ano, contado da data de notificação por uma das partes,

Considerando que, por meio da Nota SG/1/UCRA/ETEC, de 16 de julho de 2015, do Governo brasileiro ao Governo ucraniano, a parte brasileira indicou à parte ucraniana, nos termos do referido artigo, o desejo de denunciar o Tratado,

DECRETA:

Art. 1º Deixa de vigorar para a República Federativa do Brasil, a partir de 16 de julho de 2016, o Tratado entre a República Federativa do Brasil e a Ucrânia sobre Cooperação de Longo Prazo na Utilização do Veículo de Lançamentos Cyclone-4 no Centro de Lançamento de Alcântara, firmado em Brasília, em 21 de outubro de 2003.

Art. 2º Fica revogado o Decreto nº 5.436, de 28 de abril de 2005, a partir de 16 de julho de 2016.

Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 24 de julho de 2015; 194º da Independência e 127º da República.

DILMA ROUSSEFF
José Alfredo Graça Lima
Joaquim Vieira Ferreira Lrvy
Nelson Barbosa
Aldo Rebelo

Este texto não substitui o publicado no DOU de 27.7.2015
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sábado, 25 de julho de 2015

ACS: comentários sobre o rompimento do acordo com a Ucrânia

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Ao longo desta semana, o que já se confirmava nos bastidores há vários meses, veio a público a comunicação oficial do governo brasileiro à Ucrânia sobre o rompimento do acordo binacional que deu origem à Alcântara Cyclone Space (ACS).

Desde a criação de um grupo de trabalho em julho de 2014, integrado por membros do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Defesa e Relações Exteriores, para a análise da situação da ACS, já se tinha como quase certeza o fim do acordo binacional.

Em abril, o governo rompeu o silêncio e começou a dar ao público indicativos mais claros, em entrevista dada por um diretor da Agência Espacial Brasileira (AEB). “É um acúmulo de coisas”, afirmou o diretor, destacando problemas com orçamento, aspectos tecnológicos, relacionamento entre o Brasil e a Ucrânia e o mercado disponível para exportação.

Neste meio tempo, o lado ucraniano se esforçou em ações de "propaganda", em críticas até mesmo diretas (e não mais indiretas ou nas entrelinhas, como de costume) sobre a postura do lado brasileiro.

Fato é que, sem prejuízo da postura passível de críticas do governo brasileiro, não havia melhor opção do que o rompimento. O projeto, desde a sua concepção, apresentava problemas bastantes críticos que impossibilitavam sua viabilidade comercial (isto é, gerar lucros depois de amortizados todos os investimentos exigidos, na casa dos bilhões de reais).  A começar pela performance do lançador: o Cyclone 4 é muito grande para missões de órbita baixa e, ao mesmo tempo, pequeno para missões de órbita de transferência geoestacionária, os dois segmentos, em tese, mais “rentáveis” em serviços de lançamento. Ainda, a falta de um acordo de salvaguardas tecnológicas com os Estados Unidos, o que dificultaria o acesso ao mercado, e a tecnologia relativamente antiga do lançador ucraniano, em particular, de sua propulsão, bastante tóxica.

Ainda que o Brasil tenha boa parcela de culpa para o insucesso do programa, os argumentos públicos do governo ucraniano sobre a perda de um mercado em potencial (constelações de satélites de comunicações), pressões da Rússia e todos os investimentos realizados, dentre outros, ignoram sua realidade interna.

A Ucrânia transmite a imagem de que o acordo foi rompido em razão da crise econômica brasileira, mas omite suas dificuldades passadas para integralizar o capital da ACS e avançar com o desenvolvimento do lançador, de sua responsabilidade. Sua situação financeira foi ainda mais agravada com a anexação da Criméia pela Rússia e movimentos separatistas em determinadas regiões. Nesse sentido, reportagem publicada no jornal “Valor Econômico” de sexta-feira (24), reproduzida do “Financial Times”, revela as dificuldades do país europeu, próxima de um calote a credores internacionais.

Desta situação, duas são as consequências certas: deve haver um litígio internacional, com pedido de indenização pela Ucrânia (uma pessoa familiarizada, tempos atrás chegou a mencionar ao blog um pedido de R$800 milhões), e perde o Programa Espacial Brasileiro, não pelo rompimento, mas por ter destinado centenas de milhões de reais ao longo de anos numa iniciativa sem qualquer ganho tecnológico ou retorno comercial.
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segunda-feira, 15 de junho de 2015

Alcântara:cooperação com EUA ou Rússia?

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Rússia e EUA competem por parceria espacial com Brasil

Da REUTERS

Brasília/São Paulo - Os Estados Unidos e a Rússia estão disputando um papel estratégico no plano brasileiro de lançar satélites comerciais de sua base de Alcântara, no Maranhão, abrindo uma nova frente de rivalidade entre os dois países na busca de aliados e influência.

O governo espera escolher nos próximos meses um parceiro para ajudar a fornecer tecnologia, disseram à Reuters três fontes com conhecimento das negociações.

Ao longo da última década, o Brasil estabeleceu uma parceria com a Ucrânia para desenvolver um veículo de lançamento em Alcântara, mas encerrou o programa em fevereiro, dizendo que os problemas financeiros da Ucrânia a impossibilitam de fornecer foguetes, tal como prometido.

A presidente Dilma Rousseff irá selecionar um novo parceiro baseada em uma variedade de fatores, incluindo as relações diplomáticas do Brasil e a qualidade da tecnologia em oferta, disseram fontes a par do tema.

Uma parceria para satélites não estará na agenda quando Dilma visitar a Casa Branca em 30 de junho, informaram autoridades dos dois países.

Mas o teor da visita, que marca a reaproximação entre Brasil e EUA dois anos após uma crise nas relações decorrente dos programas de espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) norte-americana, pode influenciar a decisão brasileira, disse uma fonte.

“Se tudo correr bem, os norte-americanos estarão bem posicionados para conquistá-lo”, declarou a fonte, uma ex-autoridade brasileira que participou de reuniões sobre a questão dos satélites.

A localização de Alcântara é especialmente atraente para parceiros em potencial. Satélites que orbitam o Equador não têm que viajar muito para se posicionarem, o que reduz o gasto com combustível em até um quinto em comparação com outras localidades.

A empresa europeia de transporte espacial Arianespace, que detém metade do mercado mundial de lançamento de satélites em órbita geoestacionária, usa uma plataforma de lançamento em Kourou, na vizinha Guiana Francesa.

Não está claro exatamente que forma a próxima parceria do Brasil irá tomar. Pelo acordo anterior, a Ucrânia entrava com a tecnologia para construir os foguetes Cyclone-4 conjuntamente com o Brasil, que era responsável por fornecer as instalações de lançamento.

Frustradas com décadas de atrasos e contratempos, as autoridades brasileiras disseram que podem repensar totalmente os termos de sua próxima parceria.

“Nós tínhamos feito a opção da Ucrânia. Esse programa se mostrou inconsistente”, declarou o ministro da Defesa, Jaques Wagner, à Reuters. Ele disse que o Brasil conversaria “com qualquer país”, incluindo os Estados Unidos, para levar um satélite brasileiro ao espaço.

SALVAGUARDAS

O histórico traumático de Alcântara inclui um acidente em 2003, quando uma explosão e um incêndio destruíram um foguete de fabricação nacional e mataram 21 pessoas. O desastre pôs fim aos planos do Brasil de construir seus próprios foguetes e o levou a procurar a Ucrânia.

Uma série de países trabalhou com o Brasil em questões espaciais. Nas duas últimas décadas, a China empregou seus foguetes e sua plataforma de lançamento para conduzir aos céus cinco pequenos satélites que o Brasil usa para monitorar a agricultura, o meio ambiente e a Floresta Amazônica.

Em 2014, na esteira do escândalo de espionagem da NSA, desencadeado pelos documentos vazados pelo ex-prestador de serviços Edward Snowden, o Brasil escolheu a empresa aeroespacial francesa Thales ao invés de uma rival norte-americana para construir um satélite geoestacionário que será lançado pela Arianespace da Guiana Francesa em 2016.

O Brasil ainda precisa de um parceiro de peso para alcançar seu objetivo de lançar um satélite de Alcântara. A tecnologia para o satélite e o foguete que espera obter nessa parceria daria ímpeto à sua indústria aeroespacial.

Se o Brasil escolher os EUA, a Boeing será beneficiada, já que, além de aeronaves, fabrica foguetes e satélites e tem laços com a principal empresa aeroespacial brasileira, a Embraer, terceira maior fabricante mundial de aviões comerciais.

O diretor da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho, declarou à Reuters que a Rússia está interessada em cooperar com o Brasil e que está “na vanguarda” da tecnologia espacial.

Ele afirmou que os EUA, maior fonte mundial de peças de satélite, também são uma possibilidade, embora tenha reconhecido haver “dificuldades especiais que precisamos superar”.

Uma delas é fato recente. Em 2000, Washington assinou um contrato com o Brasil que teria permitido o lançamento de satélites norte-americanos com foguetes norte-americanos de Alcântara.

Mas o acordo era polêmico por causa da exigência dos EUA de controlar o acesso a partes da base. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o descartou pouco depois de assumir seu primeiro mandato em 2003.

Washington já não faz tal exigência, embora ainda queira que o Brasil assine um assim chamado acordo de salvaguarda tecnológica para garantir que qualquer tecnologia espacial compartilhada com os brasileiros não vá parar em outros países.

Muitos membros do Congresso estão receosos de aprovar o acordo, e militares temem que a colaboração do Brasil com a China o impeça de algum dia obter acesso à tecnologia de satélite norte-americana de ponta, dada a desconfiança que Washington tem de Pequim.

Em novembro passado, o governo dos EUA aliviou suas regras de exportação para equipamentos de defesa, transferindo muitos componentes espaciais classificados automaticamente como munições pelo Departamento de Estado para a esfera do Departamento de Comércio, mais flexível com as exportações.

Autoridades norte-americanas dizem que 70 por cento do que se precisa para construir um satélite agora pode ser comprado dos Estados Unidos.

“Eles têm intenção de flexibilizar. Agora que mudou toda a conjuntura, a gente percebe que eles estão mais abertos, buscando a aproximação, e querendo voltar a ocupar o espaço que perderam para outros países”, acrescentou o coronel reformado Armando Lemos, atual diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde), grupo de lobby da indústria de defesa.

O administrador da agência espacial dos EUA (Nasa, na sigla em inglês), Charles Bolden, visitou o Brasil no início deste ano. Quando o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, esteve em Washington no mês passado, almoçou com o chefe interino da Nasa no Museu Espacial do Instituto Smithsonian.

Rebelo disse à Reuters que as negociações com os EUA sobre os satélites estão “em andamento”, mas não quis dar maiores detalhes.

Fonte: Reuters, via portal Exame.

Comentário do blog: embora apresente informações interessantes, a reportagem da Reuters faz uma confusão dos esforços para a exploração comercial de Alcântara (que não necessariamente envolvem desenvolvimento ou transferência tecnológica) e ações do governo brasileiro para o desenvolvimento de tecnologia de lançadores. Interessante também notar a omissão no texto sobre a possibilidade de colaboração com a Europa - a Alemanha já coopera com o Brasil no desenvolvimento do Veiculo Lançador de Microssatélites (VLM-1), e empresas europeias como a Airbus Defence and Space já demonstraram interesse em ampliar a cooperação em lançadores.
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quinta-feira, 7 de maio de 2015

Notícias da ACS

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Aconteceram reuniões do Conselho de Administração e Assembleia Geral da ACS

06 de maio de 2015

Nos dias 27 e 28 de abril de 2015, na sede da Alcântara Cyclone Space (ACS) em Brasília, aconteceram reuniões do Conselho de Administração e Assembleia Geral da empresa. Nas reuniões, entre outros assuntos, foram aprovados o Relatório Anual de Atividades e as Demonstrações Financeiras da ACS de 2014, Pareceres das Auditorias Independente e Interna, bem como o valor da remuneração dos dirigentes da ACS até março de 2016.

O Conselho de Administração enviou uma Nota à Assembleia Geral solicitando que esta última discuta a necessidade de uma decisão dos Governos de ambos os Países sobre a continuação do Projeto e a questão do ressarcimento pela Agência Espacial Brasileira (AEB) do montante devido à ACS. Na reunião da Assembleia Geral, Dr. Oleh Uruskyi, Presidente da Agência Espacial Estatal da Ucrânia e representante oficial da Parte Ucraniana, confirmou a intenção da Ucrânia de continuar o Projeto e solicitou à Parte Brasileira que informe à Parte Ucraniana sua posição oficial quanto à continuidade do Projeto Cyclone-4.


Fonte: ACS
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quarta-feira, 22 de abril de 2015

LAAD 2015: ACS, Programa Espacial, EUA

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A edição desta semana da publicação especializada Space News traz duas interessantes reportagens sobre o Programa Espacial Brasileiro. De autoria do experiente Peter Selding, os textos foram preparados com base em entrevistas e informações coletadas durante a LAAD Defence & Security, feira realizada no Rio de Janeiro (RJ) durante a semana passada.

Um dos textos (“Brazil Pulling Out of Ukrainian Launcher Project”) trata da atual situação da binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), aproveitando-se de informações que já haviam sido divulgadas em reportagens da imprensa brasileira nas últimas semanas. A novidade foi a citação de declarações dadas por Petrônio Noronha de Souza, diretor da Agência Espacial Brasileira (AEB) - a primeira vez que uma autoridade se pronuncia oficialmente a respeito (curiosamente, para um veículo estrangeiro e não brasileiro, apesar de diversas tentativas por parte da imprensa brasileira). “É um acúmulo de coisas” (uma tradução rápida de “It is an accumulation of issues”), afirmou Noronha, destacando problemas com orçamento, aspectos tecnológicos, relacionamento entre o Brasil e a Ucrânia e o mercado disponível para exportação.

Nos bastidores, comenta-se sobre a disposição do lado ucraniano em pleitear uma indenização em razão do cancelamento do projeto nacional; a cifra ouvida pelo blog gira em torno de R$800 milhões.

A outra reportagem, intitulada “Brazil Bypassing the U.S. as It Builds out a Space Sector”, aborda o suposto direcionamento dado pelo governo brasileiro a parcerias com determinados países, como China (CBERS), Alemanha (VSB-30, VLM), Argentina (SABIA-MAR) e Franca (SGDC), ignorando os EUA. Apesar de interessante, a análise do autor é um pouco superficial, ignorando alguns itens importantes.

Muito embora não haja um grande projeto espacial conjunto entre o Brasil e os EUA, não se pode ignorar a dependência brasileira de meios norte-americanos para atividades críticas, como o monitoramento do desmatamento da Amazônia (Landsat) e previsões meteorológicas (satélites GOES). Os EUA ainda exercem papel importante na formação de recursos humanos para o Programa Espacial Brasileiro, e em pesquisas envolvendo aplicações de dados espaciais. Ainda, cite-se o fato de que o SGDC não e um satélite ITAR-free (isto é, contém componentes, inclusive críticos, de origem norte-americana), tanto no segmento espacial como terrestre, e algumas iniciativas de menor porte - mas com importante significado, no campo de cubesats (inclusive envolvendo as forças armadas).

O último parágrafo da reportagem tem uma citação interessante e parcialmente verdadeira, creditada a um executivo (não identificado) de uma companhia europeia fabricante de satélites. “O modelo para o espaço [buscado pelo Brasil] é o modelo da Embraer”. Disto deveria surgir o seguinte questionamento: a Embraer chegou ao que é hoje “ignorando” os Estados Unidos?
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domingo, 28 de dezembro de 2014

"O foguete Angará-A5 lança Rússia à nova órbita geopolítica?", artigo de José Monserrat Filho

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O foguete Angará-A5 lança Rússia à nova órbita geopolítica?

José Monserrat Filho

“Não podemos deixar o passado para trás e apenas cruzar os dedos: sabemos por experiência que a política, como a natureza, abomina o vácuo.” Tony Judt¹

A Rússia parece ter liquidado vários coelhos com uma só cajadada. O lançamento bem sucedido de seu novo foguete Angará-5A, peso pesado, em 23 de dezembro, da base russa de Plesetsk, é presente dos céus para o Natal do Kremlin – o primeiro foguete criado no país desde o fim da União Soviética (URSS). Veio resolver muitos de seus problemas espaciais estratégicos.

Não por acaso ou propaganda, foi chamado de “marco significativo na história da indústria de foguetes da Rússia, abrindo a ela o acesso independente ao espaço”.²

Na verdade, a Rússia reabriu esse acesso. A URSS já tinha conquistado esse privilégio em 4 de outubro de 1957, quando lançou o Semyorka³, poderoso foguete pioneiro que pôs em órbita o satélite não menos pioneiro, o Sputnik I. Mas a dissolução da URSS, a partir de 1990, rompeu a unidade da indústria aeroespacial soviética. Fábricas, escritórios de projetos e outras instalações essenciais ficaram distribuídos entre as novos países que se tornaram independentes. As lideranças nacionais de então não perceberam o mal que essa separação traria a todos eles.

A Rússia foi, claro, o país mais afetado. Ficou dependente do Casaquistão, onde se encontra  a histórica base de Baikonur – berço das maiores conquistas espaciais soviéticas –, e da Ucrânia, onde são produzidos e mantidos os foguetes Zenit, Dnepr e Cyclone.

Fabricado em Dnepropetrovsk, capital da indústria espacial ucraniana, o Cyclone já foi lançado da base de Plasetsk mais de 120 vezes, segundo o Ministério de Defesa russo.

Isso significa que, durante muitos anos ainda, depois do fim da URSS, os laços entre as indústrias militares e espaciais da Rússia e da Ucrânia se mantiveram firmes. A Ucrânia continuou fornecendo assistência técnica aos mísseis balísticos intercontinentais e veículos lançadores russos.

Além disso, o foguete ucraniano Zenit-3SL tornou-se peça essencial do consórcio “Sea Launch”, criado em 1995 por quatro empresas – da Noruega, Rússia, Ucrânia e EUA –, sob a égide da Boeing americana, para realizar lançamentos comerciais de uma plataforma marítima (Odyssey) estacionada no Oceano Pacífico, bem em cima da linha do Equador, posição ideal para lançamentos seguros e competitivos. Desde 1999, quando fez sua estreia, o Sea Launch efetuou 36 lançamentos, com três fracassos e uma falha parcial – uma média de dois lançamentos bem sucedidos por ano. Não é muito.

A ideia do lançamento marítimo era e é muito boa. Mas a operação ainda é muito cara e não atingiu o êxito comercial esperado.  Procuram-se alternativas.

A situação mudou muito com a crise econômica e política na Ucrânia, que, sem o cálculo devido, resolveu fazer o jogo da OTAN contra a Rússia.4 Ao romper a convivência normal com a Rússia e tentar vulnerabilizá-la, permitindo, por exemplo, que a OTAN ficasse a uma distância irrisória de Moscou, a Ucrânia deu-se mal e ficou na pior, inclusive e em particular na área espacial.

Hoje, ironicamente, até os países da OTAN enfrentam dificuldades para apoiá-la. Henry Kissinger, do alto de seus 91 anos, propõe como solução à crise na Ucrânia transformá-la em país neutro entre a União Europeia/OTAN e a Rússia, como ocorreu com a Finlândia durante a Guerra Fria, mantendo relações com a Europa e os EUA, mas sem hostilizar Moscou.5

A Rússia não demorou a sentir que devia acelerar a recuperação de sua indústria militar e espacial, tornando-a independente o mais cedo possível. Moscou foi mais realista do que Kiev.

O êxito do Angará-A5, lançado por tripulação militar da base militar de Plesetsk é fruto dessa virada. Ele pesa 773 toneladas e carrega até 25 toneladas, sendo capaz de lançar satélites de duas toneladas à órbita geoestacionária, a 36 mil km da Terra no plano da linha do Equador. Equipado com o motor RD-191, movido a combustível baseado em querosene e oxigênio, é considerado um dos propulsores mais generosos para o meio ambiente.

O Angará-A5 tem chance de substituir o Zenit-3SL no consórcio Sea Launch, onde a Rússia parece estar assumindo papel preponderante.

O Angará-A7, o maior foguete da família, pesará 1.133 toneladas e lançará cargas de 35 toneladas a baixas órbitas (193-220 km) e de 7,6 toneladas à órbita geoestacionária.

O Angará 1.2PP, sua versão mais leve, foi testado com sucesso em julho de 2014 (a primeira tentativa, em junho, teve de ser sustada segundos antes do lançamento).

A série Angará – obra do Centro de Pesquisa e Produção Espacial da empresa estatal Khrunichev, sediado em Moscou – reunirá todos os tipos de lançadores previstos para os futuros projetos da Rússia. O trabalho de quase duas décadas vai custar, ao todo, cerca de US$ 3 bilhões.

Atualmente, o Centro da Khrunichev pode fabricar dez Angará-5 por ano e aumentar essa produção se houver demanda, garante seu primeiro vice-diretor, Aleksander Medvedev. O programa deve estar pronto até 2020.

Os novos foguetes substituirão o Proton e o Soyuz, projetados e construídos por Serguey Korolev (1907-1966)6, o pai do programa espacial soviético, bem como o Zenit, Dnepr e Cyclone, fabricados na Ucrânia e usados muitas vezes no programa espacial russo. Aliás, o Cyclone-4 estava destinado a realizar lançamentos comerciais do Centro de Alcântara, no Maranhão, Brasil, sob o comando da binacional Alcântara Cyclon Space (ACS) – hoje em sérias dificuldades.

Cabe lembrar que a agência espacial russa, ROSCOSMOS, anunciou em novembro de 2014, que planeja construir nova estação orbital a partir de 2017, após cumprir suas obrigações com a Estação Espacial Internacional (ISS). A URSS e a Rússia acumularam ampla experiência em estações espaciais. A URSS criou e lançou as sete estações Saliut, entre 1971 e 1991. Depois veio a Mir (Paz ou Mundo, em russo), a primeira estação espacial modular, que operou entre 1986 e 2001, construída e lançada pela URSS e herdada pela Rússia. Por essas estações passaram dezenas de astronautas (ou cosmonautas, como se diz em russo) de inúmeros países, e ambos os programas estudaram a fundo a capacidade de sobrevivência da espécie humana no espaço. A Mir ainda detém o recorde de mais longo voo espacial humano único: Valery Poliakov viveu ali, sozinho, 437 dias e 18 horas, entre 1994 e 1995.

Novos e poderosos foguetes, nova estação espacial, além de outros planos. Se tudo der certo, a Rússia estará reconstruindo uma indústria espacial independente e autossuficiente – agora com vantagens competitivas antes inexistentes –, e recuperando seu lugar entre os maiores protagonistas da Era Espacial.

Note-se que tais iniciativas arrojadas, em contexto geopolítico adverso, transcorrem num momento de crise econômica na Rússia, com o preço em queda do petróleo, produto central das exportações russas.

Será que aqui também o mercado acabará por determinar a política, as usual?

Quem viver, verá.

Referências

1) Judt, Tony, O mal ronda o mundo – Um tratado sobrre as insatisfações do presente (Ill Fares the Land), Objetiva 2011, p. 145.
2) Angara-A5 Launch Opens New Page in Russia's Space Exploration, Agência Sputnik, Moscou, 24 de dezembro de 2014.
3) R-7 Semyorka, primeiro míssil balístico intercontinental do mundo, mas nunca usado como tal, realizou 28 lançamentos de 1957 a 1961. Seu derivado  R-7A, foi utilizado entre 1959 a 1968. A OTAN (Organização do Atlântico Norte) o conhecia como SS-6 Sapwood e a URSS, como 8K71. Versão modificada do R-7 Semyorka, de dois estágios, 19 metros de altura e 137 toneladas (10,835 toneladas sem combustível) pôs em órbita o Sputnik-1, em 4 de outubro de 1957.
4) Mearsheimer, John J, Why the Ukraine Crisis Is the West’s Fault – The Liberal Delusions That Provoked Putin, Foreign Affairs, September/October 2014. pp. 77-89. O autor é professor de Ciências Políticas da Universidade de Chicago.
5) Kissinger, Henry, To settle the Ukraine crisis, start at the end, The Washington Post, 5 de maio de 2014.
6) Harford, James, Korolev, USA: John Wiley & Sobs, Inc., 199

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domingo, 28 de setembro de 2014

Notícias da ACS

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Apesar da crise geopolítica na Ucrânia e da avaliação em andamento do governo brasileira acerca da atual situação da binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), algumas atividades para a implantação do sítio de lançamento em Alcântara seguem adiante.

Um exemplo é a informação, divulgada pela ACS no final da última semana, sobre a entrega no Maranhão de um novo lote de equipamentos de suporte terrestre, fabricados pela empresa Elcor e oriundos da Ucrânia, entre os dias 17 e 19 deste mês. Veja imagens aqui.
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sábado, 2 de agosto de 2014

ACS: portaria auto-explicativa

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Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

GABINETE DO MINISTRO

PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 775,
DE 31 DE JULHO DE 2014

OS MINISTROS DE ESTADO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO, DA DEFESA e DAS RELAÇÕES EXTERIORES, no uso das atribuições que lhes são conferidas pelo art. 87, parágrafo único, inciso II, da Constituição Federal, resolvem:

Art. 1º Criar a Comissão que tem como escopo analisar a atual situação da Empresa Binacional Alcântara Cyclone Space - ACS.

Art. 2º Designar os seguintes membros para compor a Comissão, indicados pelos respectivos Ministérios:

I- Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação:

a) ÁLVARO TOUBES PRATA, como membro titular e presidente da Comissão; e
b) ARMANDO ZEFERINO MILIONI, como membro suplente.

II- Ministério da Defesa:

a) ALVANI ADÃO DA SILVA, como membro titular; e
b) WANDER ALMODOVAR GOLFETTO, como membro suplente.

III- Ministério das Relações Exteriores:

a) RAPHAEL AZEREDO - como membro titular; e
b) RITA FONTES FARIA - como membro suplente.

Art. 3º A Comissão deverá concluir seu Relatório no prazo de 90 (noventa) dias.

Art. 4º Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação.

CLÉLIO CAMPOLINA DINIZ
Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação

CELSO AMORIM
Ministro de Estado da Defesa

LUIZ ALBERTO FIGUEIREDO MACHADO
Ministro de Estado das Relações Exteriores
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terça-feira, 13 de maio de 2014

"Brasil-Ucrânia, comédia de erros"

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Reproduzimos abaixo um artigo do ex-diplomata Rubens Barbosa sobre o acordo espacial entre o Brasil e a Ucrânia que deu origem à Alcântara Cyclone Space, publicado na edição de hoje (13) do jornal O Estado de S. Paulo. O texto possui algumas impressões, mas revela a crítica situação política hoje enfrentada pelo projeto binacional.

Brasil-Ucrânia, comédia de erros

13 de maio de 2014 | 2h 08

Rubens Barbosa* - O Estado de S.Paulo

Em razão dos possíveis desdobramentos nos campos militar, político e econômico, a crise na Ucrânia tem gerado forte preocupação. Ao confrontar a Rússia, EUA e Europa ressuscitam considerações geopolíticas que gostariam de deixar para trás. Consumada a incorporação da Crimeia ao território russo, o mundo espera o desfecho das disputas pelos territórios do leste da Ucrânia, na fronteira com a Rússia, onde se concentra a maioria da população de origem e de língua russas.

Quais os interesses do Brasil na relação com a Ucrânia? Poucos talvez possam identificar assuntos em comum com país tão distante.

O Brasil no governo Lula se associou à Ucrânia para a cessão de espaço para lançamento de satélites comerciais do Centro de Lançamento de Satélites em Alcântara. Para isso, foi criada a empresa mista Alcântara Cyclone Space (ACS), formada em partes iguais, que já consumiu US$ 918 milhões do lado brasileiro, tendo sido metade aportada em meados de 2013, sob a forma de aumento de capital, sem nenhum resultado concreto até aqui. A ideia era aproveitar o programa ucraniano para, se tudo desse certo, desenvolver uma indústria voltada para lançamentos no Brasil. Toda essa negociação com a Ucrânia está cercada de circunstâncias que mostram a maneira descoordenada como muitos projetos de grande relevância estratégica foram tratados nos últimos anos.

O programa espacial brasileiro de desenvolvimento de Veículos Lançadores de Satélites (VLS) e de aproveitamento comercial da Base de Alcântara colocaria o Brasil no mercado global, dominado em mais de 85% por lançamentos de satélites de comunicação de empresas norte-americanas [Nota do blog: a informação é imprecisa e confunde o projeto VLS, de pequeno porte, com lançadores de maior porte, de perfil geoestacionário, que atendem a maior fatia do mercado de lançamentos comerciais]. Para viabilizar a entrada do Brasil nesse mercado, o governo FHC negociou acordo de salvaguarda tecnológica com os EUA. Por questões ideológicas, o PT na oposição e, depois, no governo ficou contra o acordo que, paralisado no Congresso, foi abandonado. O governo Lula, no entanto, para viabilizar a cooperação com a Ucrânia, teve de assinar um acordo de salvaguardas tecnológicas com o governo de Kiev. O acordo com a Ucrânia, traduzido quase literalmente do firmado com os EUA, foi rapidamente aprovado pelo Congresso com o apoio entusiasmado do PT. Chegou-se mesmo a discutir um segundo acordo, que atenuasse cláusulas draconianas que restringiam o acesso das autoridades brasileiras aos equipamentos ucranianos e ampliasse a cooperação para o desenvolvimento conjunto de um novo VLS (Cyclone V).

Soube, no ano passado, que a Ucrânia havia feito gestões junto do governo de Washington para que o acordo de salvaguarda tecnológica com o Brasil fosse retomado, porque o foguete ucraniano incorpora peças e componentes americanos. Assim, o VLS Cyclone só poderia ser lançado de Alcântara se o acordo Brasil-EUA estivesse em vigor. [Nota do blog: O Cyclone 4 não possui componentes de origem americana. O acordo de salvaguardas é necessário porque grande parte dos satélites lançados ao espaço são fabricados nos EUA ou possuem ao menos algum componente de origem deste país]

Essa comédia de erros está atrasando por mais de 15 anos o programa brasileiro de utilização comercial da Base de Alcântara. Será que as autoridades brasileiras não sabiam que o acordo com os EUA era indispensável para levar adiante o projeto com a Ucrânia?

O quiproquó não termina aí. A empresa que teoricamente produziria o foguete lançador dos satélites comerciais de Alcântara está localizada na área industrial da Ucrânia, exatamente no território agora conflagrado pela presença de população russa, transferida para a região para operar o complexo industrial militar que Moscou havia criado naquele país, então parte da URSS. O que acontecerá se esse território for incorporado à Rússia?

Além disso, a Ucrânia, sem condições de fazer os aportes financeiros necessários, pela precária situação de sua economia, contribuiu para reduzir o projeto a um sonho de uma noite de verão. A negociação com a Ucrânia teve clara motivação ideológica para evitar a dependência dos EUA. A maneira desastrada como todo o processo foi operado é mais um exemplo de um equívoco cometido por considerações político-partidárias. Os investimentos feitos pelo governo brasileiro não serão recuperados e o caos doméstico ucraniano inviabiliza qualquer esforço para a retomada do projeto.

O acordo de salvaguarda tecnológica com os EUA, depois da visita do presidente Barack Obama ao Brasil em 2011, estava sofrendo modificações para ser apresentado às autoridades norte-americanas. A negociação do acordo, contudo, está paralisada, como tudo o que é realmente importante na relação com os EUA. A decisão da presidente Dilma Rousseff de só normalizar as relações bilaterais depois de um eventual pedido de desculpas de Obama pelo monitoramento indevido da Agência Nacional de Segurança (NSA) dificulta o desenlace da crise entre os dois países. Como o pedido dificilmente será atendido, este e outros temas de interesse brasileiro dormem nos escaninhos da burocracia itamaratiana.

Críticos cobram um posicionamento da política externa, outrora tão ativa e altiva, em relação aos graves acontecimentos que culminaram com a anexação da Crimeia à Rússia e com os distúrbios em diversas cidades ucranianas.

A paralisia da diplomacia brasileira pode ser explicada por um conjunto de fatores: o Brasil ser membro do Brics, hoje um bloco institucionalizado, com reuniões presidenciais (a próxima ocorrerá em Fortaleza, em julho) e ministeriais todos os anos; pela dificuldade de lidar com o imbróglio em que nos metemos com o acordo de cooperação no Centro de Lançamento de Alcântara; e pela deliberada política do governo Dilma de encolhimento da política externa e da não participação do Brasil na cena internacional.

Fica cada vez mais evidente a necessidade de uma nova política externa que restaure a influência do Itamaraty, para evitar situações como a da Ucrânia, e restabeleça a voz e a presença do Brasil no exterior.

*Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.

Fonte: "O Estado de S. Paulo", 13/05/2014.
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domingo, 20 de abril de 2014

Alcântara Cyclone Space: o status do projeto

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A binacional Alcântara Cyclone Space divulgou em seu website imagens do desenvolvimento do veículo lançador Cyclone 4, previsto para entrega no segundo semestre de 2015. Segundo a empresa, "os eventos atuais na Ucrânia não impactaram o desenvolvimento do projeto do Cyclone 4". É também informado que uma "parte significativa" da construção civil do sítio de lançamento foi completada, com a maior parte dos equipamentos de suporte em solo já tendo sido contratados e alguns inclusive entregues em Alcântara (MA).

Clique aqui para visualizar as imagens.
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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Sobre a nota da ACS postada no início da semana

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No último dia 13, publicamos uma nota com notícias sobre a binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), na qual informamos que o "Cyclone 4 contém alguns componentes críticos de origem russa [...]". Sergiy Guchenkov, diretor comercial da ACS, entrou em contato com o Panorama Espacial para dizer que a informação não é verdadeira. Reproduzimos a seguir o seu e-mail, na íntegra, e posteriormente fazemos comentários adicionais:

"Prezado Mileski,

Sou leitor do seu blog Panorama Espacial, que acho uma fonte interessante e respeitável de informação. Porém, na postagem mais recente sobre a ACS (http://panoramaespacial.blogspot.com.br/2014/04/noticias-da-alcantara-cyclone-space.html), fui surpreendido com a seguinte afirmação:

“O Cyclone 4 contém alguns componentes críticos de origem russa”

Informo-lhe que isso não corresponde à verdade, pois o Veículo Lançador Cyclone-4 não contém quaisquer componentes russos, sejam críticos ou não. Peço o favor de publicar uma respectiva correção no seu blog. A crise atual com a Rússia não tem impactado o andamento do Projeto Cyclone-4, e amanhã postaremos uma atualização na seção Project Status com novas fotos, confirmando que o desenvolvimento do Cyclone-4 está de acordo com o cronograma, e que o mesmo estará pronto para entrega no Brasil na segunda metade do ano 2015.

Quanto ao acordo de salvaguardas Ucrânia-Russia, esse foi assinado para facilitar a cooperação dos dois países na área espacial. Como é de seu conhecimento, a Ucrânia lança alguns dos seus foguetes, como Dnepr e Zenit, a partir do território russo, e esse acordo serve também para proteção das tecnologias espaciais ucranianas na Rússia.

Respeitosamente,

Sergiy Guchenkov
Chief Commercial Officer
Alcantara Cyclone Space"

Comentários do blog: a informação de que o Cyclone 4 possui componentes de origem russa é oriunda de fonte ligada a própria ACS, obtida em 2010. Referida informação, aliás, é dada em alguns artigos e análises anteriores à concretização do acordo binacional (ver artigo "Russia-Brazil: a space partnership", publicado pela agência RIA Novosti em abril de 2007).

A propósito, a questão sobre os interesses russos no projeto do Cyclone 4 não é nova, havendo inclusive questões relacionadas à propriedade intelectual de componentes utilizados pelo lançador ucraniano (motor RD261 que equipa o 1º estágio do foguete, por exemplo). Neste sentido, recomendamos a leitura do relatório "Ukraine: space deal with Brazil uncertain", elaborado pelo governo americano e datado de 22 de dezembro de 2009, "vazado" pelo Wikileaks.

A Rússia e a Ucrânia integraram a União Soviética por várias décadas, havendo ainda hoje uma grande interdependência em diversos campos, com destaque para os setores aeroespacial e de defesa. Por coincidência, aliás, o assunto foi tema de uma detalhada análise no boletim da última semana preparado pela ADIT, firma francesa de inteligência estratégica, que deu mais ênfase à dependência russa do parque industrial ucraniano.
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domingo, 13 de abril de 2014

Notícias da Alcântara Cyclone Space

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A companhia ucraniana Azovmash, uma das principais contratadas da Alcântara Cyclone Space (ACS) para o desenvolvimento, fabricação e entrega de vários sistemas chave para a operação do sítio de lançamento do Cyclone 4 em Alcântara, no Maranhão, publicou em seu website em 9 de abril uma notícia com informações sobre o status atual de suas atividades relacionadas ao projeto.

O press release, em russo, menciona a fabricação de diversos componentes, como tanques para propelentes, sistemas para abastecimento e transporte do lançador à plataforma, entre outros. De acordo com a ACS, as atividades contratadas junto à Azovmash estão de acordo com o cronograma.

Crise com a Rússia

Apesar de, ao menos publicamente, o projeto da joint-venture ucraniano-brasileira seguir adiante, há setores do governo brasileiro que avaliam as consequências que a crise entre Kiev e Moscou podem gerar para a binacional.

O Cyclone 4 contém alguns componentes críticos de origem russa e, de fato, os dois países firmaram em junho de 2009 uma espécie de acordo de salvaguardas tecnológicas para a proteção mútua de tecnologias de lançadores (veja a postagem "Atualizações do lado ucraniano da ACS").
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sábado, 15 de fevereiro de 2014

Entrevistas sobre a ACS em Tecnologia & Defesa

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A edição n.º 135 de Tecnologia & Defesa, que se encontra nas bancas, traz duas entrevistas que abordam a binacional Alcântara Cyclone Space (ACS) e a cooperação espacial entre o Brasil e a Ucrânia. As entrevistas foram feitas com Yuriy Alexeyev, Presidente da Agência Estatal Espacial Ucraniana, e Alexander Degtyarev, Projetista Chefe e Diretor Geral da Yuzhnoye. Para acessá-las, clique aqui.
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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

ACS assina contrato de lançamento

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No último dia 27 de janeiro, a binacional ucraniano-brasileira Alcântara Cyclone Space (ACS) assinou com o Von Karman Institute (VKI), da Bélgica, um contrato de serviço e lançamento para o projeto de nanossatélites QB50, iniciativa cofinanciada pela Comissão Europeia. A cerimônia de assinatura contou com as presenças do diretor-geral da ACS, Oleksandr Serdyuk, e Jean Mylaert, diretor do VKI (foto abaixo).

O projeto QB50 compreende a colocação em órbita de uma combinação de 50 cubesats (dos tipos 2U e 3U) para missões de ciência atmosférica e demonstração de tecnologias espaciais. A missão será conduzida por um consórcio de parceiros internacionais, sendo que o lançamento é planejado para 2016.

O Brasil participa da missão QB50 por meio da construção de um nanossatélite, o 14-BISat, a cargo do Centro de Referência em Sistemas Embarcados e Aeroespaciais (CRSEA), do Instituto Federal Fluminense (IFF). Deverá também contribuir com uma rede de estações terrestres (veja a postagem "Projeto QB50 e satélite 14-BISat", de maio de 2013).

Em novembro de 2013, em entrevista concedida ao blog Panorama Espacial, José Raimundo Coelho, presidente da Agência Espacial Brasileira, já havia falado sobre o interesse do QB50 na capacidade de injeção múltipla de cargas úteis do Cyclone 4, lançador que será operado pela ACS.

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Cooperação Brasil - Ucrânia

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Empresa ucraniana promove seminário sobre área espacial em São Paulo

Brasília 18 de Dezembro de 2013 – Termina nesta sexta-feira (20), no Parque Tecnológico, em São José dos Campos (SP), o Seminário sobre Desenvolvimento Industrial Espacial. O evento, que começou na segunda-feira (16), é organizado pela empresa estatal ucraniana Yuzhnoye e tem o apoio da Agência Espacial Brasileira (AEB).

Entre os temas apresentados estão o desenvolvimento de veículos lançadores, complexos de lançamento e satélites. O diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da AEB, Carlos Gurgel, participou da abertura, representando o presidente da agência, José Raimundo Coelho.

O seminário, com a exposição de especialistas ucranianos e brasileiros, tem a participação de técnicos da AEB, professores e alunos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), do Instituto Federal do Maranhão (IFMA- Alcântara), do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) e de pessoas de várias regiões do país, interessadas pela área espacial. As palestras são em russo com tradução simultânea.

A ucraniana Yuzhnoye planeja instalar um escritório de representação do Parque Tecnológico de São José dos Campos, sendo o seminário uma das primeiras ações no país.

Brasil e Ucrânia mantêm um amplo acordo de cooperação projetos conjuntos no setor aeroespacial e que resultou na formação da binacional Alcântara Cyclone Space (ACS). O principal produto da empresa é o lançador de satélites Cyclone-4, apresentado em 2003.

Fonte: AEB
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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Entrevistas: José Raimundo Braga Coelho, presidente da AEB

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Dando continuidade a série de entrevistas do blog Panorama Espacial, hoje reproduzimos a entrevista feita com José Raimundo Braga Coelho, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB) desde maio de 2012.

Maranhense e graduado em Física pela Universidade de Brasília (UnB), Coelho teve passagens por várias funções ligadas ao Programa Espacial, como no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP).

A seguir, reproduzimos os principais trechos:

Continuidade da cooperação com a China

A entrevista foi iniciada com uma pergunta sobre as perspectivas para a continuidade da cooperação com a China no âmbito espacial, que poderia envolver a construção de um satélite meteorológico geoestacionário. José Raimundo frisou que as atenções da AEB neste momento estão concentradas na missão de lançamento do CBERS 3, quarto satélite da série, prevista para 9 de dezembro.

Na volta, “será o momento oportuno para falar sobre a cooperação com a China. Nós aprovamos uma agenda de cooperação na área espacial para os próximos dez anos, e em 2014, desenvolveremos os tópicos com estudos detalhados para verificar a viabilidade”. “Não está nada definido”, afirmou, destacando que a AEB ouvirá os segmentos interessados, nomeadamente o governo, a base industrial e os usuários sobre o plano decenal.

Interação entre o PNAE e o PESE

O tópico seguinte da conversa foi sobre a interação entre o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) e o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), iniciativa do Ministério da Defesa alinhada à Estratégia Nacional de Defesa.

“Hoje há uma consciência nacional de que um programa como esse [espacial] deve ser de Estado.” Segundo o dirigente, o Ministério da Defesa tem participado com a AEB nas discussões sobre atividades espaciais, que contam ainda com o envolvimento de outros ministérios. “A iniciativa pode vir de qualquer elemento do governo, não apenas da AEB.” “O PESE é uma grande novidade; tudo nele é inovador.”

“Não temos recursos para duplicações, e qualquer iniciativa de órgãos do governo e mesmo da iniciativa privada será bem vinda.”

Rearranjo institucional do Programa Espacial

No período em que o hoje ministro Marco Antonio Raupp esteve na presidência da AEB, houve esforços significativos visando a uma reorganização institucional do Programa Espacial, com discussões inclusive envolvendo a “fusão” da AEB com o INPE, algo que acabou não se concretizando. Questionamos o presidente se a ideia permanece, no que afirmou: “Ideias não morrem facilmente, elas permanecem por muito tempo.” “Temos apoio total do ministro”. 

Coelho explicou que ao longo de 2013, foi desenvolvida uma ação fruto de outro conceito, que é a integração entre as instituições do Programa Espacial. “Quando estivermos completamente integrados, com interesses mútuos e comuns, daí pode ser o momento de implementar ideias mais arrojadas”, disse. “No Brasil, nada é fácil.”

Política industrial

Tema sempre frequente no blog, pedimos a José Raimundo que apresentasse um panorama sobre a política industrial no setor espacial. “A palavra-chave na construção do novo plano industrial chama-se poder de contrato para as indústrias, e esse poder está a cargo do governo”, destacou.

Sobre a preocupação da indústria com a falta de futuras encomendas: “Realmente, esse momento é o momento em que estamos concluindo vários projetos e precisamos retomar outras iniciativas”, reconheceu, mencionando também cargas de trabalho que devem vir de missões previstas no PNAE e PESE.

O dirigente deu ênfase à criação da Visiona Tecnologia Espacial, que deverá atuar para consolidar a base industrial, como prime contractor, empresa integradora, “conceito usado por todos os países desenvolvidos”. Citou o caso da Espacial, empresa criada no início da década de 2000 com o objetivo atuar como integradora de projetos do PEB [Nota 1]. “[A Espacial] não foi feliz porque não havia a oportunidade certa. Agora, houve a oportunidade, que é o SGDC.” “Estamos vivendo um momento excepcional.” “Por enquanto, há apenas uma encomenda, mas progressivamente haverá outras.”

Questionado sobre se a consolidação da base industrial envolveria o estímulo do governo a fusões e aquisições entre as empresas, Coelho respondeu que não, completando: “mas se for necessário, por que não?” Apontou também a necessidade de que a indústria espacial brasileira busque diversificação com outras atividades para atingir um nível de sustentabilidade, citando o caso da indústria chinesa, que em alguns casos não depende apenas das encomendas governamentais.

Sobre encomendas industriais em curto prazo, mencionou o esforço da AEB junto à Agência Nacional de Águas (ANA), ligada ao Ministério do Meio Ambiente, para a construção de satélites de coletas de dados com seus próprios recursos. “No próximo ano isso deve estar na rua fazendo contratos industriais”, revelou. Também mencionou a expectativa com o projeto SABIA-Mar, em parceria com a Argentina.

Satélite geoestacionário e tecnologias chave

José Raimundo esclareceu que, no âmbito do projeto do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), cabe à AEB as definições quanto ao pacote de transferência de tecnologia, a ser feita à indústria. “Os recursos para essa ação, de transferência de tecnologia, são da AEB.” Foi esclarecido que a transferência não é fruto de uma cláusula de compensação (offset), mas sim uma operação paralela ao contrato de aquisição.

“A transferência de tecnologia e sua absorção será feita para a indústria, e vai acontecer pela identificação de quem vai transferir e quem vai receber.” “A empresa que vai receber tem que estar preocupada com o que vai fazer com isso [a tecnologia]”. O presidente informou que tem havido frequentes discussões entre a AEB e representantes da Thales Alenia Space, que fabricará o satélite, sobre o pacote de transferência tecnológica, a ser definido de um ponto de vista técnico. “O pacote deve ser definido em 4 ou 5 meses”.

Questionamos também quais tecnologias são hoje vistas como essenciais para o desenvolvimento de capacitação nacional, e Coelho destacou algumas: propulsão, imageadores em amplo espectro, tanto óticos como microondas, sistemas de controle, sensores e equipamentos de comunicações (transpônderes).

Alcântara Cyclone Space e lançadores

O último tópico abordado na entrevista tratou das iniciativas brasileiras no segmento de lançadores. Sobre a binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), projeto em conjunto com a Ucrânia, Coelho disse que a ACS complementa o programa brasileiro de lançadores. Questionado sobre o posicionamento comercial da binacional, o dirigente mencionou que nas previsões da AEB, o Cyclone 4 e os demais lançadores do Programa Espacial (VLS e VLM) seriam capazes de atender mais de 90% da demanda do mercado de lançamentos, em especial no segmento de satélites de menor porte.

Perguntamos sobre a possibilidade de estender a capacidade do lançador ucraniano, algo eventualmente citado pela ACS. “Ampliar a capacidade ainda está no campo das ideias”, ressaltando que é importante primeiramente consolidar uma etapa. A expectativa é que o primeiro voo do Cyclone 4 a partir de Alcântara ocorra em 2015.

A capacidade do Cyclone 4 de injeção múltipla de satélites de menor porte tem atraído interesse internacional, e José Raimundo citou o caso da constelação multinacional QB50, que será formada por 50 nanossatélites [Nota 2], que poderia voar a bordo do lançador da ACS.

Para 2014, Coelho destacou a expectativa quanto à retomada do VLS-1, com o voo de um quarto protótipo com experimentos em sistemas de controle, e ainda a continuidade do desenvolvimento do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM), em parceria com a agência espacial da Alemanha. Mencionou ainda que os projetos de lançadores nacionais poderão atender as missões brasileiras, não se descartando ainda a “integralização de mercado com os países vizinhos”.

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Nota 1: a Espacial S.A. foi criada em 2000 por doze empresas que já atuavam no setor espacial, especificamente no programa CBERS: Elebra, Fundação Atech, Mectron, Cenic, Compsis, Equatorial, Fibraforte, Avibras, Akaer, Neuron Eletrônica, Digicon e Aeroeletrônica. Leia aqui uma reportagem da época sobre sua criação.

Nota 2: o Brasil participa da missão multinacional QB50, de estudo da baixa atmosfera, com a construção de um nanossatélite, o 14-BISat, a cargo do Centro de Referência em Sistemas Embarcados e Aeroespaciais (CRSEA), do Instituto Federal Fluminense (IFF). Deverá também contribuir com uma rede de estações terrestres (veja a postagem "Projeto QB50 e satélite 14-BISat", de maio de 2013).
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