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Cátedras universitárias, a nova moda no
setor
André M. Mileski
Há alguns
anos, era praticamente regra para empresas estrangeiras dos setores
aeroespacial e de defesa com negócios ou interesses no País participar do
programa Ciência sem Fronteiras, do Governo Federal.
As empresas,
objetivando demonstrar comprometimento com o Brasil e, assim, posicionarem-se
mais favoravelmente para futuros negócios, financiavam e ofereciam bolsas de
estudos e estágios a estudantes de graduação e pós-graduação. A Boeing, a Airbus
(então EADS), a Saab e a Dassault Aviation foram algumas que adotarem este expediente.
A estratégia
evoluiu nos últimos tempos e passou a incluir esforços junto a universidades
brasileiras, como o estabelecimento de cátedras com professores estrangeiros,
financiamento de bolsas de estudos e de projetos de Pesquisa &
Desenvolvimento (P&D). Desde o início do ano, ao menos quatro companhias anunciaram acordos de cooperação com universidades locais.
Em
fevereiro, a fabricante de helicópteros norte-americana Sikorsky, fornecedora das três forças armadas, firmou
com o tradicional Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos (SP), um instrumento
visando oferecer aos seus estudantes disciplinas relacionadas a aeronaves de
asas rotativas. O acordo abrange a oferta de bolsas de estudos e a criação de um
laboratório de voo sem movimento e outros equipamentos, além do envio de
instrutores dos EUA para apoio às aulas e pesquisas.
Com um
enfoque mais espacial, a franco-italiana Thales Alenia Space e a brasileira Omnisys inauguraram em março o Centro Tecnológico Espacial, que tem como um de seus
propósitos o apoio a universidades para o desenvolvimento de um Mestrado em
Engenharia em Sistemas Espaciais. Na época, as empresas divulgaram o
estabelecimento de uma cadeira universitária voltada a satélites, além de ter
coordenado e financiado várias teses de doutorado e estudos conjuntos.
Em junho, a Thales, que tem ampliado suas atividades no Brasil, deu mais um passo em
sua estratégia ao patrocinar um programa de cooperação acadêmica entre França e Brasil envolvendo o Instituto Mauá de Tecnologia, a
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a instituição de ensino superior
francesa Ecole Nationale Supérieure des Mines de Saint-Etienne, e a Omnisys, subsidiária
da Thales. Denominado SEAC – Sistemas Eletrônicos Embarcados para Aplicações
Críticas, o programa terá duração de um ano e consiste no intercâmbio de
estudantes brasileiros e franceses, além da oferta de estágios na Omnisys ou em
outras unidades da Thales na Europa.
Outra
empresa que ampliou seus esforços “universitários “foi a sueca Saab, selecionada
para fornecer caças à Força Aérea Brasileira. Um convênio de transferência tecnológica foi celebrado por Marcus Wallenberg, presidente do Conselho de Administração do grupo, em reunião com a presidenta Dilma Rousseff no final
de março. As ações do programa incluem o estabelecimento, a partir de 2015, de
um grupo de professores suecos no ITA, que oferecerão um curso de pós-doutorado
em Engenharia Aeronáutica financiado pela empresa e pelo governo sueco.
No final de abril, foi a vez da europeia Airbus anunciar a criação da “Cátedra
Franco-Brasileira” na Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP). O programa visa promover P&D industrial na área de materiais
compósitos para a fabricação de aeronaves e helicópteros.
Apesar destas ações
terem um grande componente de marketing, seus benefícios para a formação de mão
de obra especializada são inegáveis. É algo ainda mais verdadeiro para o
Programa Espacial Brasileiro, que tem hoje como uma de suas principais ameaças
a não reposição num ritmo minimamente adequado dos profissionais de
instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o
Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE).
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