segunda-feira, 9 de julho de 2012

Entrevista com Leonel Perondi, diretor do INPE - Parte II


Reproduzimos a seguir a segunda parte da entrevista com Leonel Perondi, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Para acessar a primeira parte da entrevista, clique aqui.

ACDH

Tema sensível ao Programa Espacial Brasileiro, pela polêmica e importância estratégica ao País, é a capacitação nacional em sistemas de controle de atitude e órbita (conhecido por ACDH, sigla em inglês). O blog Panorama Espacial questionou Leonel Perondi sobre as iniciativas do INPE nesse campo, que foi, aliás, um dos tópicos abordados por Perondi em seu discurso de posse.

Perondi destacou que hoje o Brasil possui domínio praticamente em todas as áreas básicas de satélites, como estrutura e instrumentação, com exceção da área de controle. "É a grande lacuna para produzir uma plataforma orbital". Daí, vem a tentativa do Instituto em estimular projetos e capacitação local nesse campo, através da montagem de laboratórios e equipes específicas. O dirigente também mencionou o projeto Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespacial (SIA), iniciativa desenvolvida em parceria com institutos do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e indústrias nacionais, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que já começa a produzir frutos. "Houve um grande avanço na área de satélites", destacou.

Segundo o diretor, o satélite científico Lattes, baseado na Plataforma Multimissão (PMM), deverá contar com um ACDH nacional, diferentemente do Amazônia-1, cujo ACDH foi adquirido, com dispensa de licitação, junto à fabricante argentina INVAP no final de 2008. Sobre o Lattes, a previsão pública mais atual de seu lançamento era 2016, mas Perondi afirmou que o cronograma de lançamento dos satélites do Instituto está pendente de discussão com a Agência Espacial Brasileira (AEB).

Quanto à compra do ACH argentino para o Amazônia-1, episódio sempre lembrado e duramente criticado pela indústria espacial brasileira, o dirigente afirmou que o INPE fará uma avaliação sobre os benefícios gerados. "Qual é o nível de transferência de tecnologia do ACDH argentino para o Brasil?", questionou. O blog questionou Perondi se o contrato previa algum tipo de transferência tecnológica, o que ele negou, dizendo que se trata do fornecimento do sistema, com capacitação de pessoal na Argentina, não havendo, portanto, a compra da tecnologia.

Recursos humanos

Sobre a realidade e necessidades do INPE em matéria de recursos humanos, ponto frequentemente citado como crítico aos avanços do Programa Espacial, Perondi lembrou que muitos funcionários se aposentarão nos próximos anos, mencionado ainda que a formação de um funcionário para atuar com certa autonomia dentro do Instituto leva de 4 a 5 anos. Assim, novas contratações são realmente necessárias. Dentro dos próximos meses, aliás, serão realizados concursos para 107 vagas de tecnologistas, analistas e técnicos, número insuficiente, mas que preenche algumas necessidades.

Integração com a AEB

Numa questão mais focada em Política Espacial, perguntamos a Perondi sobre a integração do INPE com a AEB, ou mesmo a fusão entre as duas instituições, algo bastante discutido em Brasília (DF), e com certas medidas sendo tomadas nesta direção pelo ministro Marco Antonio Raupp. O dirigente respondeu de forma bastante lacônica: "Está havendo discussões com a AEB. É algo que está em andamento".

Satélite Geoestacionário Brasileiro

Ainda que o INPE não esteja diretamente envolvido com as tratativas relacionadas ao Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB), Perondi fez alguns comentários acerca do projeto. Destacou que a demanda por um satélite geoestacionário próprio já é antiga, desde a privatização da Embratel, no final da década de noventa. Afirmou também que o INPE pode contribuir na especificação e compra desses satélites, comentário que, interpretado nas entrelinhas, dá a entender que o envolvimento da indústria nacional ainda é algo pouco claro mesmo em alguns setores do próprio governo.

O diretor mencionou que o Programa Espacial poderá se beneficiar de algumas formas, com oportunidades de formação de pessoal, entre outras. "[O Programa Espacial] pode se beneficiar via cláusulas de offsets", disse.

Perguntamos ao diretor sobre a criação do Centro de Desenvolvimento de Tecnologias Espaciais, em São José dos Campos (SP), paralelamente à constituição da Visiona Tecnologias Espaciais (joint-venture entre a Embraer e a Telebrás), no âmbito do programa do SGB. "Ainda não tenho muita clareza sobre essa iniciativa", acrescentando que esta é uma das pautas para discussão com a AEB.
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