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Muitas pessoas que estudam ou estão envolvidas com o Programa Espacial Brasileiro reconhecem que a primeira iniciativa mais estruturada do programa, a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), lançada em 1979, era bastante consistente. A missão não teria avançado da maneira como foi planejada por razões variadas, mas certamente não relacionadas a falhas em seu planejamento. Basicamente, a MECB buscava dotar o País de capacidades necessárias para ter autonomia de acesso ao espaço: satélites, lançadores e infraestrutura terrestre.
A consistência da MECB foi influenciada pela negociação da parceria tecnológica com a França no início de 1979. Neste ano, entre os meses de abril e junho, vários especialistas brasileiros participaram de missão técnica em Toulouse, no sul da França, ocasião em que foram preparadas todas as especificações técnicas do Satélite de Coleta de Dados (SCD), do Laboratório de Integração e Testes (LIT), e do Centro de Controle de Satélites (CCS). Talvez, se a parceria tivesse ido adiante, o programa brasileiro poderia ser bem diferente do que é hoje.
No livro "O Brasil chega ao Espaço: SCD-1 Satélite de Coleta de Dados", talvez uma das obras mais bem detalhadas sobre a história do Programa Espacial Brasileiro, de autoria de Fabíola de Oliveira (leia resenha aqui), são apresentados alguns dos motivos pelos quais a parceria com a França não avançou.
Um deles seria o custo (na época, acreditava-se que a parceria francesa teria custo 4 ou 5 vezes maior do que o programa nacional, lógica que possivelmente se mostrou incorreta), o elevado nível de importações (algo que se considerava negativo para a imagem do programa brasileiro, que buscava transmitir uma imagem de autonomia e independência), e também a questão da propulsão dos lançadores (a França estava propondo um foguete-lançador com estágios de propulsão líquida, mas o Brasil insistia na propulsão sólida, talvez pelo caráter dual do VLS à época).
Ontem (14), em São José dos Campos (SP), o blog ouviu outras duas versões, uma contada abertamente por pessoa bastante experiente no setor, que ocupou, inclusive, cargos de gestão dentro do programa e participou das negociações com a França no final da década de setenta.
Basicamente, o acordo com Paris não teria avançado por orientação da própria Presidência da República. A motivação estava no interesse do Saddam Hussein (!) em construir, com assistência brasileira, uma espécie de centro aeroespacial no Iraque. O receio do governo brasileiro, que via com bons olhos o crescente comércio de material de defesa com clientes árabes no Oriente Médio (Avibrás, Engesa, etc.), era de que a parceria com a França de algum modo pudesse prejudicar esses objetivos comerciais.
Outra versão contada por algumas pessoas é de que, na realidade, a decisão de não dar prosseguimento à parceria teria sido do lado francês, preocupado com o relacionamento brasileiro com o Iraque, particularmente de um oficial-engenheiro das Forças Armadas, que mais tarde, de fato, trabalhou no Iraque especialmente em projetos de mísseis. A preocupação era de que a tecnologia francesa acabasse sendo repassada para Bagdá.
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