quarta-feira, 13 de abril de 2016

Revisão do Programa de Veículos Lançadores de Satélites?

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IAE propõe revisar o Programa de Veículos Lançadores de Satélites

06/04/2016

No dia 29 de fevereiro, a Direção do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) promoveu uma reunião administrativa com todos os integrantes do Instituto, tendo como foco principal apresentar os resultados das investigações do acidente com o foguete suborbital VS-40M ocorrido na Operação São Lourenço, no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Em função das recomendações do relatório de investigação e de outros fatores de projeto, e atendendo à política de total transparência na gestão do Instituto, aproveitou-se a oportunidade para abordar a situação atual do projeto do veículo VLS-1.

Essa apresentação abordou de forma pragmática temas técnico-gerenciais do veículo VLS-1, tais como: a missão, o histórico, a organização gerencial do projeto e a situação atual do desenvolvimento. A explanação foi límpida quanto aos principais obstáculos e aos esforços que o IAE e a Agência Espacial Brasileira (AEB) têm empreendido, dentro das limitações atuais de várias naturezas. IAE e AEB têm sido grandes parceiros e os principais protagonistas na busca de apoio para o Programa Espacial Brasileiro e no desenvolvimento dos veículos para o acesso ao espaço, de forma contínua e com soluções possíveis dentro dos seus limites de atuação, objetivos permanentes de nosso Programa Espacial.

É importante destacar que o Programa de Veículos Lançadores de Satélites (VLS) muitas vezes é confundido com o veículo VLS-1. Convém esclarecer que a família de veículos lançadores de satélites, conforme estabelecido no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) 2012-2021, é composta pelos veículos VLS-1, VLM, VLS-Alfa e VLS-Beta. Assim sendo, a apresentação em comento tratou apenas da configuração do veículo VLS-1. É relevante lembrar, ainda, que a configuração do veículo VLS-1 foi definida a partir das limitações do parque industrial brasileiro da década de 80, visando atender a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB). O conhecimento acumulado pelo IAE e a evolução das tecnologias permitem, hoje, projetar motores com diâmetros maiores e de melhor desempenho propulsivo, visando simplificar a configuração dos estágios iniciais, utilizando soluções com maior confiabilidade. É fato que não podemos ser indiferentes à evolução tecnológica e às transformações do mercado que ocorreram ao longo das últimas três décadas. Tais mudanças impõe a revisão de prioridades, sem perder de vista o objetivo maior, que é o de conquistar a autonomia no acesso ao espaço.

A apresentação mostrou não só a continuidade do Programa de VLS, como apresentou a proposta da retomada do desenvolvimento de um veículo suborbital presente no PNAE 2005-2014, porém ausente no atual PNAE 2012-2021, o foguete suborbital VS-43. Tal proposta está sendo preparada e discutida de forma responsável e gradativa, a fim de ser uma proposta sólida, completa e coerente, evitando-se divulgações equivocadas que nada contribuem para o Programa Espacial Brasileiro.

A proposta do foguete de sondagem VS-43 segue a lógica utilizada no desenvolvimento dos veículos suborbitais do IAE, onde os novos sistemas e estágios superiores são ensaiados em veículos qualificados. Tal estratégia permite isolar riscos tecnológicos e tratá-los de uma forma racional por meio de um veículo mais simples e, consequentemente, menos custoso. Um dos principais benefícios do desenvolvimento do VS-43 é a utilização do estoque existente de componentes, equipamentos, subsistemas e dispositivos remanescentes do veículo VLS-1, otimizando os recursos financeiros, tecnológicos, materiais e pessoais disponíveis atualmente no Instituto. A estratégia visa superar os desafios do mais simples para o mais complexo, permitindo conquistas graduais e consistentes, a fim de persistir nos objetivos de todos os colegas de ontem e de hoje que dedicaram o seu tempo e as suas vidas para alcançar o sucesso da MECB e do Programa Espacial Brasileiro. Neste esforço, os legados de conhecimentos e infraestrutura do esforço para o desenvolvimento do VLS-1 são fundamentais.

Atualmente, a demanda do mercado, de amplo conhecimento da comunidade técnico-científica, aponta para o nicho de Veículos Lançadores de Micro e Minissatélites. Neste contexto, aproveitando todo o aprendizado, os conceitos e as tecnologias demonstradas no projeto do veículo VLS-1, o IAE e a AEB trabalham no desenvolvimento e certificação do projeto de um Veículo Lançador de Microssatélites com menor custo, tecnologias mais atuais e com viabilidade comercial, o veículo VLM-1.

O Instituto de Aeronáutica e Espaço e a Agência Espacial Brasileira ratificam que o programa de desenvolvimento de veículos lançadores de satélites não será descontinuado, mas atualizado, e isto requer a revisão de suas prioridades. Considerando o histórico e a situação atual de todos os fatores produtivos, decidiu-se priorizar uma nova configuração de veículo lançador de satélites, a do veículo VLM-1, mais simples e coerente com as possibilidades atuais, e passo importante para projetar e desenvolver outros veículos que o sucederão.

Fonte: IAE/DCTA.

Comentários do blog: como indica o próprio título da notícia acima, divulgada pelo IAE na semana passada, o desenvolvimento de um novo foguete suborbital (VS-43) e outras ações relacionadas ao programa de lançadores, por enquanto, não passam de meras propostas, sem qualquer decisão ou mesmo orientação clara dentro do governo e forças armadas. A atual conjuntura econômica e, principalmente, política do Brasil são mais um elemento num ambiente de indefinição brasileira quanto à estratégia a ser perseguida no campo de lançadores. Ainda assim, mesmo com o cenário de crise, existem discussões relativamente embrionárias, mas tocadas de forma bastante séria por algumas partes envolvidas, envolvendo iniciativas de cooperação internacional em lançadores visando o médio e longo prazos. Em breve, o blog Panorama Espacial voltará a abordar este tema em mais detalhes.
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