quinta-feira, 9 de maio de 2013

Short-list do SGDC: uma análise


No final da tarde da última sexta-feira (3), o aguardado short-list dos potenciais fornecedores do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) foi divulgado pela Visiona, com três nomes, alguns não esperados: a Space Systems / Loral, dos EUA; a Thales Alenia Space, da França; e a Mitsubishi Electric Corporation, do Japão.

Segundo informação obtida pelo blog Panorama Espacial, o processo de seleção se encontra agora em fase de apresentação pelos concorrentes de suas ofertas finais e melhoradas (algo conhecido pela sigla em inglês BAFO, de best and final offer). Reuniões com representantes das três selecionadas estão previstas para acontecer no decorrer da próxima semana. A expectativa é que a seleção final ocorra ainda no primeiro semestre.

Os americanos

Desde que o projeto do SGDC começou a tomar forma, há pouco menos de dois anos, a californiana Space Systems / Loral (SS/L) passou a ser citada nos bastidores como uma das grandes favoritas a fornecer o primeiro satélite, particularmente por sua reconhecida experiência e conhecimento em missões de satélites de grande porte em bandas X (Anik G1, Optus C1, XTAR-EUR, Spainsat, Optus C1, etc.) e Ka (Amazonas 3, Viasat-1, etc.), e por suas propostas economicamente agressivas. Sua competitividade financeira, aliás, é conhecida pela Star One, subsidiária da brasileira Embratel, que nos últimos anos contratou e negociou três satélites com a fabricante.

Pontos fortes: preço. A SS/L tem no mercado a imagem de oferecer preços extremamente competitivos, uma das razões pela qual detém grande parcela do mercado comercial de satélites geoestacionários de comunicações. A empresa também conta com grande experiência em satélites de bandas X e Ka, estando em vantagem em relação às outras duas finalistas quanto à missões de grande porte já desenvolvidas.

Pontos fracos: embora seja atualmente controlada pela MDA, companhia de capital canadense, a SS/L é uma empresa com sede nos EUA, estando, portanto, sujeita à legislação desse país, inclusive ao International Traffic in Arms Regulations (ITAR). Muito embora o ITAR esteja em processo de revisão e flexibilização, o pacote de transferência de tecnologia oferecido pelos americanos pode ser limitado em comparação aos de seus concorrentes.

Os franceses

A Thales Alenia Space (TAS), joint-venture do grupo francês Thales (67%) com a italiana Finmeccanica (33%) para o setor espacial, é responsável pelo fornecimento do sistema de comunicações militares por satélite do Ministério da Defesa da França, o Syracuse, que se encontra em sua terceira geração.

Durante a LAAD 2013, que aconteceu no último mês de abril, a TAS se apresentou a autoridades e partes interessadas no projeto do SGDC como uma grande player em missões de defesa e de uso dual, destacando sua participação nos sistemas de comunicações militares Syracuse (França), Sicral (Itália) e Satcom BW (Alemanha). Em missões duais, os destaques foram a missão Athena Fidus, de banda Ka, iniciativa conjunta dos governos da França e da Itália, e os mercados de exportação na Turquia, Brasil e Coréia do Sul. Seu expertise em banda Ka, tecnologia que será utilizada no SGDC, foi também mencionado, com envolvimento em mais de 20 programas desde 1991. Nathalie Smirnov, vice-presidente executiva para a unidade de telecomunicações da TAS, e Christophe Garier, da Thales International, passaram pela feira e tiveram o SGDC como um dos assuntos de suas agendas.

Veja a postagem "Thales Alenia Space e seus planos para o Brasil", de outubro de 2012.

Pontos fortes: acredita-se que a proposta da TAS seja bastante competitiva em termos de transferência de tecnologia, beneficiando-se da parceria estratégica franco-brasileira firmada em dezembro de 2008. A Thales, diga-se de passagem, tem uma presença respeitável no Brasil, inclusive industrial, por meio da Omnisys, de São Bernardo do Campo (SP), que participa de alguns projetos do Programa Espacial Brasileiro, como o CBERS e a Plataforma Multimissão (PMM), entre outros.

Pontos fracos: não há consenso em relação ao quão competitivo seria a proposta francesa em termos financeiros. Há quem diga que a TAS estaria disposta a um grande esforço financeiro para conquistar o contrato, muito embora o fator preço, associado à questão cambial (dólar versus euro) tenha tido certa importância na redução da representatividade da TAS no mercado comercial de satélites geoestacionários nos últimos anos. Aliás, preço foi um dos principais motivos que levaram à dolorosa perda do Star One C3 para a Orbital Sciences Corporation, dos EUA, no final de 2011.

Em conversas reservadas com pessoas que acompanham a concorrência, chegou-se a mencionar um possível prejuízo à proposta francesa em razão do apoio de Paris ao candidato derrotado à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o mexicano Herminio Blanco, em detrimento de Roberto Azevêdo, candidato brasileiro, eleito em 7 de maio. Em artigo no "Valor Econômico" de 30 de abril, o jornalista Sérgio Leo, citando fontes governamentais, lembrou que os países europeus com maior resistência à candidatura brasileira são, exatamente, os que têm grandes interesses em negócios na área de defesa com o Brasil, inclusive a França.

Os japoneses

Para alguns, a seleção da japonesa Mitsubishi Electric Corporation (Melco) para a fase final do processo foi uma surpresa (embora não a maior). Todavia, fato é que desde o final de outubro de 2012 a Melco já era citada como uma forte competidora, "jogando com uma oferta mais agressiva."

Pontos fortes: os japoneses desejam ampliar a cooperação espacial com o Brasil, tendo realizado alguns encontros e workshops com a Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Os interesses passam por meios de monitoramento de desastres naturais, Observação Terrestre e, logicamente, satélites de comunicações. A tecnologia espacial japonesa, em particular a de satélites, é também conhecida por sua qualidade e confiabilidade.

Pontos fracos: durante muito tempo, a tecnologia espacial japonesa foi considerada no mercado como cara, uma grande barreira para a sua penetração no mercado. Ainda assim, nos últimos anos a Melco conquistou alguns contratos, como o dos satélites Turksat 4A/B, da Turquia, em março de 2011, que contarão com transpônderes em banda Ka. Outro ponto eventualmente lembrado sobre os japoneses são suas restrições legais (sendo flexibilizadas) e pudor acerca da exportação de sistemas de defesa. Apesar do satélite não seja uma arma em si, fato é que o SGDC terá utilidade militar, servindo o Sistema de Comunicações Militares por Satélite (SISCOMIS), do Ministério da Defesa. A Melco faz parte do grupo Mitsubishi, controlador da Mitsubishi Aircraft Corporation, que desenvolve uma família de aviões regionais que compete diretamente com a família dos E-Jets da Embraer (controladora da Visiona), aspecto não principal, mas que pode vir a ter algum valor, especialmente considerando-se o fato de que a SS/L e a TAS não são concorrentes diretas da Embraer.
.

Nenhum comentário: