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Dirigentes da AEB e do Inpe comentam parceria espacial com a China
Brasília 25 de julho de 2013 - O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho, e o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI), Leonel Perondi, comentaram o histórico e o futuro do programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBers, na sigla em inglês), nesta quarta-feira (4), em painel de debates durante a 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece até sexta-feira (26), em Recife (PE).
Eles lembraram que o programa lançou os satélites CBers-1, em 1999, CBers-2, em 2003, e CBers-2B, em 2007. Segundo eles, o CBers-3 deve ir ao espaço em outubro deste ano. O satélite está na Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (Cast), em fase final de testes. Já o CBers-4 tem previsão de lançamento para 2015. Nesta sexta, José Raimundo viaja à China para discutir a continuidade do programa.
Na opinião dele, o Brasil aprendeu muito na parceria com o país asiático. “Trabalhar com norte-americanos, franceses e alemães é relativamente fácil. Com os chineses, é muito diferente”, disse. “A questão cultural, o idioma, a resistência secular foram os principais obstáculos enfrentados na cooperação. O desafio foi grande, mas recompensador”.
O diretor do Inpe destacou que, no caso de CBers-3 e CBers-4, a divisão de trabalho entre os dois países é de 50% para cada lado, ao contrário dos três satélites já lançados, cujo acordo estabelecia 30% ao Brasil e 70% à China.
“Agora, para a parte brasileira, contratamos tudo no país, não compramos equipamentos de outras origens”, informou. “Programas espaciais devem colocar grandes desafios para a indústria. Um sistema completo de sensoriamento remoto exige grande qualificação dos pontos de vista de fabricação, projeto e operação em órbita”.
Perondi avalia que o país conseguiria preços mais vantajosos se buscasse adquirir imagens ou mesmo satélites prontos no mercado externo, mas a importância do programa espacial reside na característica de desenvolver a capacitação nacional. “É uma forma de aprendizagem para o Brasil, ao fazer sistemas mais sofisticados, com maior valor agregado, e assim obter produtos além da pauta básica de exportações”.
O chefe de gabinete da AEB, Paulo Martini, apresentou ao público aplicações dos satélites operados pelo Inpe. Distribuídas gratuitamente pelo site do instituto, as imagens possibilitam o controle de desmatamento e queimadas na Amazônia e o monitoramento de recursos hídricos, áreas agrícolas e crescimento urbano, entre outros usos menos convencionais.
Fonte: Ascom MCTI
Comentário do blog: há alguns anos, dentro do governo, a continuidade do programa CBERS era tido como certa, ao menos em relação às intenções do lado brasileiro. Hoje, já não é possível se dizer o mesmo. Note-se, inclusive, que uma terceira geração nem sequer figura na última versão do Programa Nacional de Atividades Espaciais - PNAE 2012-2021. Existe certa frustração nas entidades brasileiras ligadas ao Programa Espacial quanto à parceria com os chineses. No início do programa, o projeto era considerado estratégico para os chineses, o que se refletia na senioridade dos profissionais envolvidos. Hoje, há quem diga que o CBERS é um programa de treinamento para os chineses, uma vez que os engenheiros envolvidos com o projeto, do lado chinês, são jovens.
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Um comentário:
Mileski
Na verdade o programa CBERS permitiu grande aprendizado aos chineses nas fases iniciais. O Brasil vinha de programas bem sucedidos, com forte componente de cooperação com países desenvolvidos na área espacial, como demonstram os sistemas Brazilsat, o SCD, e o LIT. Esse conhecimento contribuiu de forma importante aos chineses que, na década de 90, buscava consolidar o domínio da tecnologia espacial.
Os chineses aproveitaram o programa CBERS como um dos componentes de seu esforço espacial. Ainda na década de 90’s era fácil observar que o programa chinês era imensamente mais abrangente. Além disso, no CBERS, os chineses mantiveram no CBERS participação em segmentos chaves como sistema, propulsão, e controle de órbita e atitude. Por outro lado, o Brasil concentrou em demasia seu esforço na área de satélites no CBERS, cujas características jamais permitiriam ou permitirão, se a continuidade do programa se mantiver nos mesmos termos, dar autonomia espacial em satélites.
A continuidade só pode fazer sentido, se for para ser decisiva no domínio do método espacial, ou, de impacto operacional para aplicações com qualidade e custos competitivos. Será preciso rediscutir a cooperação como de fato compensadora e não pelos desafios e importância em si da cooperação “diferente e difícil”, como destaca a fala do presidente da AEB. Além disso, o posicionamento da ação brasileira deve ir além do “contratar tudo no país”, que faz-nos lembrar da velha política industrial de reserva de mercado, mas ser efetivo no desenvolvimento do método espacial.
O programa CBERS, carro chefe da política de satélites, foi sempre norteado pelos elementos destacados pelas autoridades: cooperação única referida como “sul-sul”, a contratação industrial e as aplicações. Elementos cada um com importância potencial, que no entanto precisam ser avaliados no contexto da renovação do programa e, principalmente, na sua manutenção como elemento central da política espacial.
Abraços
Décio
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