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Aos poucos, surgem maiores detalhes sobre o projeto ucraniano-brasileiro para a exploração comercial de Alcântara (MA). Na edição n° 4 da revista Espaço Brasileiro (esta edição saiu no meio deste ano, mas só recentemente pude lê-la), editada pela Agência Espacial Brasileira (AEB), foi publicada uma entrevista com Roberto Amaral, ex-ministro de Ciência e Tecnologia e atual diretor-geral da Alcântara Cyclone Space (ACS). Alguns trechos estão abaixo reproduzidos:
“A ACS irá fornecer serviços de lançamentos de satélites. Que tipo de satélite poderá ser levado pelo foguete Cyclone 4?
A missão da ACS é, efetivamente, lançar satélites. Este é um mercado extremamente competitivo. O custo de um lançador está relacionado ao custo de um satélite. Por exemplo, um satélite de 600 kg, em órbita a 800 km de Terra, tem custo estimado entre 15 a 25 milhões de dólares.
O foguete Cyclone 4, em construção, poderá colocar em órbita um satélite de até 5,3 toneladas em órbita baixa, de até 2 mil km da Terra, ou um satélite de até 1,8 toneladas em órbita de transferência geoestacionária, sendo que a órbita geoestacionária está a 36 mil km da Terra. O tipo de satélite que poderemos lançar vai depender do pedido de nossos futuros clientes.
Mas, retornando ao foco de sua pergunta, posso dizer que os clientes para este mercado são as TVs, internet e monitoramentos, como aqueles voltados às questões do meio ambiente: queimadas, desmatamentos, inundações, secas, etc. [...]”
Um comentário em relação à afirmação “o custo de um lançador está relacionado ao custo de um satélite”: na realidade, o custo do frete de lançamento está mais relacionado à órbita, massa e às características do lançador do que ao custo do satélite em si. Mas o mais relevante da questão acima é que a ACS disputará não apenas o mercado de lançamentos geoestacionários, mais lucrativo, mas também os de órbita baixa (satélites de monitoramento e observação terrestres).
Em outro trecho da entrevista, respondendo a uma questão sobre a projeção do projeto da ACS na economia brasileira, Amaral mencionou a possibilidade do desenvolvimento conjunto pela Ucrânia e Brasil de um lançador mais capaz, chamado Cyclone 5:
“Finalmente, existe a possibilidade de o empreendimento com a Ucrânia ser expandido no futuro, de forma a incluir o desenvolvimento conjunto de um veículo lançador de capacidade superior àquela do Cyclone 4. Neste caso, seria um desenvolvimento conjunto, portanto, contemplando a única forma efetiva de transferência de tecnologia, em função do trabalho, lado a lado, de especialistas brasileiros e ucranianos, e com propriedade conjunta do veículo resultante. A possibilidade de desenvolvimento deste novo veículo, que por enquanto está sendo denominado Cyclone 5, ainda está nas fases iniciais de análise e, certamente, o prosseguimento neste empreendimento depende do sucesso alcançado com a efetivação do complexo de lançamento do Cyclone 4 em Alcântara.”
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4 comentários:
Será que vai para frente? Depois dos quilombolas...E os russos o que acham?
Olá, Sengedradog. Ainda não consegui entender direito qual é o business plan da Alcântara Cyclone Space, mas estamos correndo atrás disso (em breve teremos algo para o blog). Dependendo do nicho do mercado a ser explorado, o projeto ucraniano-brasileiro pode ter algum sucesso. Mas isto não depende apenas do lançador em si. Existem outros fatores importantes, como a necessidade de se firmar um acordo de salvaguardas tecnológicas com os EUA (a maioria dos satélites ocidentais usam componentes de origem norte-americana). Sem isto, dificilmente o projeto terá retorno financeiro.
Olá André,
O que me parece estranho é que um pouco depois do acordo com a Ucrânia o país assinou outro com a Rússia para em princípio desenvolver a mesma tecnologia por caminhos um pouco diferentes. Isso me pareceu uma duplicação de esforços.
Outra questão que me soa intencional é a questão da área dos quilombolas e a ação do INCRA.
Ora se essa redução vai prejudicar o acordo ACS pela lógica vai também com o Cruzeiro do Sul ou qualquer outra iniciativa...pela lógica, ou será que existem interesses estranhos que deliberadamente querem minar nosso programa espacial?
Quando as duas parcerias foram celebradas, ambas tinham objetivos distintos. A parceria com a Ucrânia tem uma conotação comercial, não envolve transferência de tecnologia, sendo que, grosso modo, a Ucrânia entraria com o lançador, e o Brasil com a infra-estrutura. Agora existe esta idéia do desenvolvimento do Cyclone 5, que envolveria brasileiros, falando-se inclusive em transferência de tecnologia (ainda não está claro o que seria esta transferência. Ressalte-se que a transferência de tecnologias de foguetes é regulada pelo MTCR, do qual tanto o Brasil como a Ucrânia são signatários. Este ponto exige uma análise mais cuidadosa, podemos fazê-la no futuro). A parceria com a Rússia envolve o programa nacional de lançadores, isto é, VLS-1, VLS-1 híbrido, etc. Basicamente, envolve tecnologia de propulsão líquida.
Ou seja, ao menos em teoria não haveria duplicação de esforços, mas na prática isso pode mudar. Há alguns anos houve inclusive disputas dentro do governo federal acerca das parcerias (um certo grupo defendia a parceria com a Ucrânia, e outro com a Rússia). Note ainda que o Cyclone 4 e o VLS-1 são de classes distintas, de tal modo que não concorrem diretamente. Em relação ao Programa Cruzeiro do Sul, não é viável e não será cumprido. Em termos de foguetes brasileiros, os projetos ativos são a família de foguetes de sondagem, e o VLS (versão híbrida, com terceiro e quarto estágios com propulsão líquida).
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