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Opinião: INPE e INVAP escrevem história
por Mario Eugenio Saturno
Quem como eu tem quase meio século de vida, lembra-se perfeitamente da corrida armamentista que o Brasil e Argentina viviam até o final da década de 1970. Porém, neste mês de abril, os dois países iniciaram uma nova fase histórica, a cooperação em tecnologias críticas.
Eu era criança mas me lembro bem, o Brasil adquirira doze aviões de caça Mirage que chegaram ao país em 1973. Era uma resposta a uma compra Argentina. Lembro, ainda incrédulo do primeiro Mirage que foi “abatido” por um urubu. Além das aquisições de armas modernas, Brasil e Argentina desenvolviam uma indústria de armas e munições, programas nucleares e espaciais, entenda-se como foguete balístico.
Na área nuclear, a Argentina optou pela solução caseira, criou-se INVAP, San Carlos de Bariloche, conhecida cidade turística. A empresa é um caso de sucesso, foram capazes de avançar tornando-se exportadores de reatores nucleares. Também alcançou sucesso na área espacial.
Já o Brasil caiu no conto do programa nuclear da Alemanha. Deveria receber tecnologia, inclusive de enriquecimento de Urânio. Doce ilusão do período militar. Esse acordo desviou os recursos dos programas nacionais. O único que permaneceu foi o da Marinha, porém, como o programa do foguete, os oficiais vêm e vão a cada dois anos, não gerando continuidade no programa. As iniciativas civis morreram assistindo inertes o sucesso argentino.
O Brasil construiu Itaipu. A Argentina enfrentou a Inglaterra pelas Malvinas. As ditaduras dos dois países caíram. A democracia voltou.
Presidentes foram eleitos, iniciando uma nova fase para o cone sul da América do Sul. Surgiu o Merco-Sul. A Argentina aceitou o acordo com os Estados Unidos, desativou o desenvolvimento e ganhou a NASA como parceira e consultora. O Brasil insistiu no programa do lançador, alcançando sucesso em vôos sub-orbitais mas um temeroso fracasso para lançar satélites.
O Brasil começou bem com os satélites de coleta de dados, mas esbarrou em problemas jurídicos com os de sensoriamento remoto, a Lei de Licitações, mais as interpretações rígidas dos juízes que aparentemente beneficiavam algum concorrente mas na prática prejudicaram todo o parque nacional por mais de dez anos. Acrescente ainda o acordo entre China e Brasil que causou o fechamento da tecnologia de ponta dos Estados Unidos.
Agora, o Brasil finalmente terá seu primeiro Satélite de Sensoriamento Remoto, denominado Amazônia-1, com tecnologia argentina de controle de apontamento e órbita, apoveitando um acordo entre os dois países. Essa é uma oportunidade histórica, pois pela primeira vez, desde o fim da corrida armamentista, os dois países colaboram em uma tecnologia crítica. E esse importante primeiro passo para a sedimentação da irmandade iniciou em 13 de abril último, quando dez pesquisadores do INPE foram até a INVAP esclarecer as necessidades de controle do satélite brasileiro. Um importante marco para a história dos dois maiores países da América do Sul.
Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Professor do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva e congregado mariano. (Email: mariosaturno@uol.com.br)
Fonte: jornal O Girassol
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6 comentários:
Diz o dito popular que quem tem coração de rato nunca chegará a ser leão.
Este caso da Invap mostra que o Brasil não tem lideranças politicas, industriais e cientificas à altura de quem quer ser potência.
É inacreditável como o Inpe não tenha ainda a capacidade de fazer ele mesmo ou subcontratar aqui no Brasil, um sistema de controle de atitude de satélite, e o compra de uma empresinha argentina de 500 funcionários
O Inpe (ou seja lá quem for) é famoso por pagar mestrados fora do Brasil, gastar os tubos e o cara ficar no exterior e não voltar, sem ressarcir os cofres públicos.
É triste reconhecer, mas o problema do Brasil como dizia Peter Drucker, resume-se a uma só palavra “mismanagement”, ou para o bom português, incompetência gerencial.
Caro Saturno
O Brasil tem é o que a lamentar na área espacial não festejar
Olá Iurikorolev!
Assino embaixo de suas palavras. Parabéns amigo, você indentificou o grande entrave do Programa Espacial Brasileiro ou seja, a "Incompetência Gerencial". Só lamento o Saturno comemorar esse acordo com uma matéria dessa, pois demonstra que no caso dele o problema vai além disso. Lamentável.
Abs
Senhores, encaminho abaixo comentário recebido de Mário Saturno, autor do artigo em discussão:
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Caro André,
Tentei postar o seguinte comentário no seu site, no meu artigo, não está claro se tenho que ter email google, assim encaminho por email, favor
postar, grato:
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Agradeço ao Sergio por me avisar deste site e o comentário postado por sua pessoa.
Caro Sergio ou iu... se prefere o pseudonimo:
Concordo com a incompetencia, mas não está localizada no INPE.
Pergunto: 1) Quem. nos últimos 10 anos vem prejudicando o processo de aquisição do SSR? 2) Quem se associa com empresas que não estão à altura? 3) Qual empresa não foi chamado a participar do processo? 4) O que o INPE deveria fazer? Esperar mais 10 anos?
O problema foi resolvido e ainda abriu uma porta incrível de colaboração entre estas duas nações da América do Sul.
Em tempo, a empresinha de 500 funcionários exporta reatores nucleares e ainda fabrica satélites controlados em 3 eixos.
grato pela oportunidade
Mario Saturno
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Caro Saturno
1)Não quis ofender os "hermanos" argentinos. Mas a Invap é uma empresa de pouca expressão.
Ora, exportar reatores ... Empresa é a Areva que tem 70 mil funcionários e é líder mundial na área nuclear.
2)O grande problema do Brasil é Estado. Típico de um país em desenvolvimento : inchado, corrupto, incompetente.
Pior que ele, por incrível que pareça é o da Argentina. Muito pior !! É só comparar Peron com Getúlio, o Governo militar brasileiro com o argentino etc etc.
3)Parem de colocar a causa de nossos problemas em estrangeiros.
Na década de 30 não desenvolvemos a indústria de petróleo por causa da Standard Oil? Sim...Não!!Foi por causa de funcionários do Governo brasileiro comprados por ela.Culpem quem deve ser culpado.
4)Não tenho nada contra os argentinos. Tenho contra bairrismos,etc. Eles ficam querendo competir com o Brasil.
Queridos, o Brasil joga em outra lista. Em 2050, apesar dessa porcaria de Estado, vai ser a 4ª potencia do mundo ( Dados da CIA, Pentágono e Miliken, o gênio da Bolsa dos EUA)
5) Iuri não é pseudônimo, apenas é meu e-mail no site.
Abraços a todos
Olá a todos,
>> A INVAP exporta reatores nucleares de pesquisa de baixa potencia. Não reatores de potencia, ou seja, não geram energia elétrica em centrais nucleoeletricas. Já ouviram falar no reator de pesquisas 100% brasileiro IPEN/MB-01??? Pois então, este reator é basicamente igual aos que a INVAP exporta... portanto isto não é justificativa para nada! A tecnologia que a INVAP domina nós dominamos também.
>> Não me preocupa a compra do ACDH pelo INPE da INVAP. A absorção da tecnologia é uma obrigação do contrato e em breve creio que faremos o nosso proprio ACDH. A questão é que não dava pra atrasar mais o "Amazonia-1" por causa deste sistema. Não é admirável, mas justificável, enfim.
>> O INPE erra quando, reconhecendo que o país tem deficiencias, não faz nada para reverter esta situação. Se não temos empresas a altura para fabricar determinado sistema é porque o INPE quer restringir tudo apenas aos laboratórios do Instituto e não pensa em capacitar e incentivar o setor de P&D das industrias nacionais e universidades. Existem "cérebros" muito bons espalhados por todo o país. E assim, concordo com o "iurikorolev": deixem de colocar a culpa nos "de fora" e olhem o que é que se está fazendo de arrado AQUI!
>> É preciso PLANEJAMENTO para que não se repita uma situação como esta. Se se sabe que vai precisar de um determinado sistema, não deixa para a "última hora" para desenvolver. Eu entendo que há problemas com a Lei de Licitações, ações judiciais, falta de verba, etc., mas é impossível crer que a indústria nacional não dará (daria, no caso do ACDH) "conta do recado". Não acredito nisto, sinceramente!
Obrigado.
Olá senhores!
Vejo com grande satisfação que nesse pequeno debate de opiniões gerada pelo artigo (ao meu ver infeliz) do senhor Mario Saturno, existem pessoas que pensam de forma convergente em relação ao atual momento do cambaleante programa espacial brasileiro. Desde que o programa foi iniciado nos anos 60 pelos visionários e pioneiros da Força Aérea Brasileira, vem sofrendo não só da falta de recursos compatíveis com seus objetivos, mas principalmente de incompetência gerencial, falta de planejamento e de uma política especifica direcionada para a área. Estamos perdendo espaço (numa área de extrema importância para o futuro da humanidade) para paises que até pouco tempo atrás só faziam bombas de São João. O caso do ACDH é mais ou menos por ai. Se o planejamento do INPE tivesse dado prioridade ao desenvolvimento desse dispositivo à 10 anos atrás, não estaríamos tendo de comprar da empresa argentina que fabrica reatores nucleares, seja de baixa potencia ou de alta potencia (sinceramente não sei qual é a relevância disso, já que estamos falando de um dispositivo direcionado para satélite que não utiliza energia nuclear) a tecnologia que eles dominam. Temos uma agencia que não agencia nada, um PNAE que troca toda hora de objetivos sem ter cumprido os objetivos do PNAE anterior, programas de parcerias internacionais se acumulando (salvando-se ai o Programa do CBERS) sem que programas anteriores tenham qualquer real perspectiva de serem realizados, uma bagunça. Não sou da área espacial como o são provavelmente a maioria dos senhores, no entanto, sei que para se realizar qualquer projeto, independente de seu tamanho, é necessário um planejamento adequado de curto, médio e longo prazo. Não sou contra a AEB, muito pelo contrario, mas da forma como ela esta operando não agencia nada e em certos momentos até atrapalha. Porque não adotar os exemplos que já deram certos? A NASA não seria um deles? Tenho algumas idéias que a meu ver ajudariam em muito o programa. Se não vejamos:
• A definição de uma política espacial centrada nos reais objetivos do programa espacial brasileiro.
• A transformação do Programa Espacial Brasileiro em programa de estado, garantindo assim uma maior continuidade de recursos para o mesmo.
• A criação de uma Frente Parlamentar Permanente e preparada para defender com propriedade os interesses do Programa Espacial Brasileiro junto ao Congresso Brasileiro.
• A elaboração de um PNAE num período de 10 anos com objetivos claros a serem alcançados mediante a um planejamento de curto, médio e longo prazo apoiados pela atuação da Frente Parlamentar Permanente junto ao Congresso Brasileiro.
• A reformulação da AEB adotando o mesmo sistema de gerenciamento e de operacionalidade da NASA, ESA, JAXA ou qualquer outro exemplo bem sucedido no mundo.
• O incentivo maior para programas como o AEB Escola, permitindo assim que programas como esse venham a ter uma maior abrangência dentro do território brasileiro.
• A criação da AEB TV nos moldes da TV NASA, TV Senado e da TV Câmera visando a médio-prazo e longo-prazo aproximar a sociedade brasileira do conhecimento científico e tecnológico na área espacial buscando assim um maior apoio da sociedade como um todo.
Espero de alguma forma ter contribuído para esse debate
Abs a todos.
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