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A ampliação do programa do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS) anunciada durante a visita do Presidente Luis Inácio Lula da Silva à China, na semana passada (clique aqui), era para ter sido mais ampla, de acordo com a expectiva da parte brasileira. Na sexta-feira, chegou ao conhecimento do blog a circulação de um e-mail enviado pela Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) entre as indústrias associadas comunicando que a parte chinesa havia declinado à proposta brasileira de ampliação do projeto para a construção do CBERS 6 e 7, e também de um satélite dotado com um sensor radar de abertura sintética (SAR, sigla em inglês), o chamado CBERS-SAR.
O blog entrou em contato com algumas fontes na indústria e no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para apurar a informação. Segundo as informações que obtivemos, a motivação da declinação chinesa se deveu a mudanças estruturais em seu programa espacial. A nova entidade responsável pela participação chinesa no CBERS deseja fazer uma análise mais detalhada da proposta do CBERS-SAR, além de conhecer melhor a cooperação com o Brasil, o que pode levar de 6 a 12 meses. "Na realidade, eles querem lançar o CBERS-3 antes de novos acordos para novos satélites", afirmou ao blog uma pessoa que acompanha de perto o tema.
Ou seja, ao contrário do que alguns chegaram a pensar, não houve declinação definitiva de continuidade do programa CBERS, mas sim um adiamento dessa decisão.
O blog também contatou o INPE, na pessoa de seu diretor, Gilberto Câmara, que prontamente enviou esclarecimentos. Reproduzimos abaixo um trecho de nota elaborada por Câmara e encaminhada na tarde de hoje:
"O protocolo é genérico quanto ao futuro do programa CBERS, e não menciona diretamente o CBERS-SAR. Em 2008, o INPE e a CAST trabalharam para conceber um novo satélite, o CBERS-SAR, tecnologicamente sofisticado e capaz de obter imagens da superfície terrestre em quaisquer condições de tempo. A proposta do CBERS-SAR foi aprovada na reunião do Comitê Conjunto do Programa CBERS realizada em Março de 2009 em Pequim. A CAST e a CNSA deram sinais fortes de que o CBERS-SAR seria aprovado pelo governo chinês, e que um anúncio formal seria feito durante a visita do presidente Lula.
No entanto, a nova estrutura de comando do programa espacial chinês, resultante de uma reforma feita em 2008, decidiu adiar a decisão sobre o CBERS-SAR. A reforma extinguiu a COSTIND (Comission for Science, Technology and Industry for National Defense), ministério encarregado de contratar projetos civis e militares nas áreas espacial, aeronáutico e nuclear junto às empresas estatais chinesas. Criou-se um novo ministério (MIIT – Ministry of Industry and Information Tecnology), que coordena questões díspares: programa espacial civil, indústria do tabaco, informatização do Estado.
A CNSA (China National Space Administration), que realiza a interface externa e as encomendas civis do programa espacial chinês, era subordinada diretamente à COSTIND. A CNSA é agora subordinada à SASTIND (State Administration of Defense Science, Technology and Industry), que por sua vez responde ao MIIT. A nova administração da SASTIND decidiu fazer uma análise mais detalhada da proposta do CBERS-SAR antes de tomar uma decisão.
Embora a construção imediata do CBERS-SAR tenha sido adiada, o futuro da cooperação espacial Brasil-China está garantido pelo governo chinês. O presidente Hu Jintao, em sua reunião de trabalho com o presidente Lula, reafirmou sua “confiança no programa CBERS” e seu interesse em “ampliar a cooperação espacial com o Brasil”."
O blog entende que a intenção do governo brasileiro em propor a missão CBERS-SAR indica que a missão MAPSAR, que seria realizada em parceria com a agência espacial alemã, é hoje considerada remota.
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segunda-feira, 25 de maio de 2009
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6 comentários:
Olá Mileski!
Olha caro amigo, o caso da ampliação do acordo do Programa CBERS visando a construção dos satélites CBERS 6 e 7 não me preocupa e não deveria preocupar a AEB e nem ao governo, pois não haveria sentido o cancelamento de um programa de grande sucesso e grande retorno científico para ambos os países. Não acredito nessa possibilidade. O que é preocupante, é o interesse do Brasil em desenvolver um satélite de abertura SAR (CBERS-SAR) em detrimento de um acordo que vinha sendo desenvolvido com os alemães para o lançamento do MAPSAR. Se os alemães não desistiram do projeto isso significaria mais uma vez a falta de foco dentro do Programa Espacial Brasileiro e provavelmente mais uma interferência política desastrada. Lastimável.
Olá Duda,
E a outra parte, os alemães, será que eles que não quiseram seguir o acordo? Talvez haja mais em jogo, interesses econômicos e informação estratégica. Talvez os chineses estejam vendo nosso desenvolvimento rápido na área e de parceiros passamos a ser concorrentes.
Entendo que os alemães já decidiram não seguir adiante com o projeto.
Olá amigos!
Pode até ser isso Sengedradog, mas porque os alemães desistiriam? Será a crise? rsrsrs. Não importa, se a situação é como o Mileski disse abaixo, não há o que mais discutir e sim, desejar sucesso a AEB e ao Governo Brasileiro nessa negociação do CBERS-SAR com os chineses.
Abs a todos
Duda Falcão
A suposta falta de interesse da Alemanha em seguir adiante já viria de alguns anos. As razões não são muito claras. Já ouvi duas versões: (i) necessidade de priorização de outros projetos (lembrem-se do caso do Microssatélite Franco-Brasileiro (FBM), cancelado pela França num momento em que precisavam priorizar outros projetos dados alguns cortes orçamentários), e (ii) divergências quanto à tecnologia proposta para o sensor SAR (o Brasil quer banda L, mas já existem tecnologias com bandas melhores para sensoriamento remoto por radar, como a X). Enfim, é algo a se apurar. Mas vale lembrar que estamos especulando. Não se sabe se de fato a Alemanha já deu uma posição a respeito.
Olá Mileski!
É pode até ser. Bem lembrado, o caso do FBM realmente foi frustrante, pois até onde eu sei, já se encontrava na fase de fabricação do modelo de vôo, quando os franceses desistiram. No entanto, em compensação eles repassaram para o Brasil partes do satélite que eles já haviam construído. Essa sua informação de que pode existir divergências quanto à tecnologia proposta para o sensor SAR entre a banda L e X, pode ser mesmo o motivo, mas como vc mesmo disse, esta tudo ainda no campo da especulação. Os alemães tem de se posicionarem como fizeram os franceses. Agora, o que eu não entendo, é o que levaria o Brasil optar por uma tecnologia inferior (banda L), tendo o país a possibilidade de ter acesso a uma tecnologia mais avançada (banda X)?
Abs
Duda Falcão
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