domingo, 10 de maio de 2009

Atividades do INPE em 2008

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O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) disponibilizou o seu relatório de gestão referente ao ano de 2008 (clique aqui para acessá-lo). O documento, que tem como finalidade principal auxiliar no processo anual de aprovação de contas do Instituto, é uma importante fonte de informações, pois apresenta vários dados sobre os avanços e o status das atividades desenvolvidas no ano passado.

A seguir, apresentamos um breve descritivo e alguns comentários sobre as atividades desenvolvidas em engenharia de satélites.

Desenvolvimento do satélite Amazônia-1

Segundo as informações constantes do relatório de gestão, o lançamento do Amazônia-1 é agora previsto para 2012. No ano passado, foi assinado um acordo entre o INPE e o Rutherford Appleton Laboratory (RAL), do Reino Unido, para a inclusão de uma câmera RALCAM-3, com resolução de 10 metros, no satélite brasileiro.

O relatório destaca alguns avanços no projeto em 2008, a saber: (i) teste de qualificação do catalisador para os propulsores de hidrazina, desenvolvido pelo INPE, em andamento; (ii) teste dos modelos de qualificação, exceto PCDU (Unidade de Controle de Distribuição de Potências), ACDH (Attitude Control and Data Handling) e transponder TT&C (Telemetria e Telecomando); (iii) início da campanha de testes integrados dos propulsores montados no painel estrutural da Plataforma Multimissão (PMM); (iv) contratação da indústria argentina INVAP para assistência técnica para o desenvolvimento, a fabricação, a integração e os testes de qualificação do subsistema ACDH, com transferência de tecnologia; (v) contratação da indústria brasileira Opto Eletrônica para o desenvolvimento e produção da carga útil principal do Amazônia-1, o imageador AWFI (Advanced Wide Field Imager); e (vi) aquisição de componentes para a carga útil do satélite, que envolvem equipamentos de transmissão e gravação a bordo e o imageador AWFI.

No passado, o blog já havia informado sobre alguns atrasos preocupantes em alguns subsistemas do Amazônia-1. O relatório de gestão do INPE comenta esses atrasos, conforme se nota no parágrafo abaixo:

"Deve ser observado, entretanto, que, apesar do efetivo acompanhamento do contrato pelas equipes técnicas do INPE, o cronograma de desenvolvimento desse satélite se encontra em atraso em virtude de dificuldades enfrentadas pelas empresas contratadas, as quais imputaram significantes restrições ao desenvolvimento tecnológico, resultando na não disponibilidade no tempo previsto dos Modelos de Qualificação da PCDU (Unidade de Controle de Distribuição de Potências) e do transponder TT&C (Telemetria e Telecomando). Mesmo assim, essa situação não corresponde ao item limitante do cronograma global da missão."

Satélite científico Lattes

No ano passado, foi tomada a decisão de unir as missões científicas Equars e Mirax num único satélite, maior, baseado na PMM, tendo em vista que o custo de lançamento de cada satélite ficaria mais elevado que o próprio artefato.

Em 2008, foram realizadas as seguintes atividades relacionadas à Missão Lattes, homenagem do INPE ao físico brasileiro César Lattes: (i) análise de missão para demonstrar a viabilidade de se realizar as Missões EQUARS e MIRAX em um único satélite; (ii) identificação dos requisitos operacionais da missão e possíveis adaptações aos requisitos estabelecidos para a PMM; (iii) recebimento e testes de aceitação dos atuadores magnéticos utilizados no sistema de controle de atitude da PMM a ser utilizada na missão; (iv) contratação da fabricação do instrumento GPS para Rádio Ocultação (GROM) (Carga útil da Missão EQUARS); e (v) contratação do desenvolvimento/fabricação do instrumento Fotômetro (carga útil da Missão EQUARS).

MAPSAR

O projeto do satélite radar MAPSAR, parceria do INPE com a DLR (agência espacial da Alemanha) é descrito genericamente. Curiosamente, o relatório não menciona a informação dada ao blog por Gilberto Câmara (clique aqui), diretor do INPE, sobre o "stand-by" do Brasil em relação ao interesse da Alemanha em dar prosseguimento ao projeto. A expectativa é que até setembro ou outubro desse ano a parte europeia posicione o Brasil sobre o futuro da iniciativa.

No ano passado, foram realizadas as seguintes atividades referentes ao MAPSAR: (i) assinatura do acordo para o desenvolvimento da Fase B que compreende o projeto detalhado do sistema, incluindo a configuração do satélite a ser produzido, do segmento solo e do segmento de aplicações; (ii) construção de um modelo em escala para demonstrar a viabilidade técnica da construção da antena parabólica do sistema SAR; e (iii) preparação do WBS (Estrutura de Divisão de Trabalho) para todas as fases da missão.

Satélite GPM-BR

O INPE participará de uma rede internacional envolvendo uma constelação de nove satélites para o monitoramento de chuvas, gestão das águas, monitoramento e entendimento das mudanças climáticas, alertas de desastres naturais e apoio à agricultura. O Brasil deverá desenvolver um satélite específico para essa constelação, o GPM-BR. Em 2008, foram executadas as seguintes atividades: (i) análise preliminar para demonstrar a compatibilidade e viabilidade técnica em termos dos envelopes dimensional, de potência e de massa entre a carga útil e a PMM para um radiômetro, com probabilidade de ser disponibilizado pelo EUA; e (ii) início da procura de alternativas para o fornecimento do instrumento da carga útil do GPM-BR.

CBERS 3 e 4

A construção dos dois satélites da segunda série do CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite) está atrasada em razão de dificuldades de empresas nacionais contratadas cumprirem o cronograma, e também por causa das limitações impostas pela legislação ITAR (International Traffic Arms Regulation), dos EUA, que restringe a comercialização de tecnologias sensíveis. O relatório informa:

“O desenvolvimento dos subsistemas encontra-se em atraso porque as empresas nacionais contratadas estão com dificuldades de cumprir o cronograma. O atraso, em parte, é causado pela dificuldade na aquisição de componentes com qualificação espacial, devido ao controle de comercialização de tecnologias sensíveis pelos EUA. A dificuldade de acesso aos componentes tem acarretado modificações nos projetos desses subsistemas, aumento de custos e prorrogação do lançamento previsto para 2010. O INPE adquiriu os componentes eletrônicos no final do ano.”

Encontra-se em andamento as seguintes atividades: (i) fabricação dos modelos de qualificação dos subsistemas dos CBERS 3 & 4; (ii) software para os testes do modelo de engenharia dos CBERS 3 & 4; (iii) software para segmento de controle dos satélites CBERS 3 & 4; e (iv) teste dinâmico do modelo estrutural dos CBERS 3 & 4.

No ano passado, foram concluídos os (i) testes ambientais e estruturais de alguns subsistemas do satélite CBERS 3; (ii) fabricação da maioria dos modelos de engenharia; (iii) fabricação da maquete radioelétrica; (iv) teste estático no modelo estrutural do CBERS 3 & 4; e (v) encontro de Coordenação Técnica (TCM 8) na China.

O tópico sobre o projeto dos satélites sino-brasileiros é encerrado com a informação de que os principais desafios do programa são a superação dos bloqueios internacionais às tecnologias sensíveis, e a garantia do cumprimento dos eventos contratuais pelas empresas envolvidas.

Satélites tecnológicos de pequeno porte

O INPE participa do projeto de desenvolvimento de satélites tecnológicos de pequeno porte, cuja execução é de responsabilidade da Agência Espacial Brasileira (AEB). A participação do Instituto se dá por meio de cooperação com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA) para o "desenvolvimento, fabricação, integração, testes, lançamento e operação de um microssatélite tecnológico [ITASAT] para validação em órbita de um sistema integrado de supervisão de bordo e controle de atitude e órbita (Attitude Control and Data Handling – ACDH), munido de um sistema de localização GPS (Global Positioning System), com provisão para duas cargas úteis: um Subsistema de Coleta de Dados (Data Collecting Subsystem – DCS) e uma outra carga, a ser definida."

Em 2008, foram finalizados os testes de vibração mecânica e ciclagem térmica, realizados no Laboratório de Integração e Testes (LIT), do INPE, de componentes e partes eletrônicas que podem ser aplicados no computador de bordo experimental do ITASAT. De acordo com o relatório de gestão, a análise de missão que tem como objetivo demonstrar a compatibilidade de experimentos com a operação do satélite, similar ao SCD (Satélite de Coleta de Dados), está em fase conclusiva.
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5 comentários:

Brazilian Space disse...

Olá Mileski!

Segundo o relatório de gestão do INPE que acabei de ler, as tecnologias que serão em um futuro próximo adotadas pelo Programa Espacial Brasileiro, seguem seus cronogramas de desenvolvimento, apesar das dificuldades enfrentadas. É claro que essas dificuldades poderiam ser amenizadas se houvesse um planejamento de curto, médio e longo prazo mais efetivo e realista com as nossas reais necessidades e possibilidades. No entanto, não posso negar que pelo relatório apresentado os gols previstos serão de enorme e positivo impacto dentro do programa espacial, porém ainda há dúvidas se esses objetivos serão exeqüíveis com a atual operacionalidade da AEB e dos órgãos que fazem parte do programa espacial. Vamos aguardar. Outra coisa que é preocupante é essa mudança constante de objetivos reinante no programa espacial, como é o caso do estudo para a junção dos projetos dos satélites científicos EQUARS e MIRAX (agora chamado de Lattes-1) entre outros. Para quem busca credibilidade e apoio, essa falta de foco constante não ajuda em nada, muito pelo constrario, só transmite a sociedade incertezas quanto as reais necessidades, aos caminhos adotados e os recursos humanos existentes para o desenvolvimento de um programa espacial no país. É lamentável.

Abs

Duda Falcão

O Observador disse...

Olá Mileski...

Eu disse há algum tempo atrás, assim que saiu o contrato INPE-INVAP, que o Brasil estava proximo de desenvolver um ACDH nacional, e ai está! O ITASAT vai testá-lo. Noticia positiva, sem dúvida. A tranferencia da tecnologia vinda pelo contrato da INVAP argentina vem acrescentar mais ainda ao projeto nacional, fundindo conhecimentos de ambos os lados aperfeiçoando a nossa tecnologia, o que não é nada mal.

Um abraço.

Brazilian Space disse...

Olá Senhores!

Não acredito que o ACDH que esta sendo desenvolvido para teste no satélite universitário ITASAT tenha as mesmas especificações técnicas daquele que será desenvolvido pela INVAP argentina para o Amazônia-1, que é um satélite muito mais sofisticado. No entanto, concordo com o Pedro quando ele diz que esse projeto poderá acrescentar mais ao projeto nacional. Já que o contrato com a INVAP prevê a transferência de tecnologia o que permitirá no futuro melhorar o ACDH nacional que será testado no ITASAT.

Abs

Duda Falcão

O Observador disse...

Olá Mileski, olá Duda.

Duda, concordo PLENAMENTE contigo!!

Um abraço.

Brazilian Space disse...

Valeu Pedro!

Aproveito para comvidá-lo a visitar meu blog. É só clicar na foto do VLS.

Um abraço amigo