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.Pode ser uma surpresa para muitos, mas o Brasil exporta tecnologia e serviços no campo espacial, ainda que de forma e dimensão muito simbólicos. Nesta primeira parte, trataremos das exportações de foguetes de sondagem realizadas pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), e da prestação de serviços de rastreio pelo Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI).
O IAE/DCTA mantém há décadas uma bem-sucedida cooperação com a agência aeroespacial da Alemanha (DLR), que resultou no desenvolvimento de foguetes de sondagem e motores. Até o momento, ocorreram onze lançamentos do VSB-30 (motores S30 e S31), a partir do campo de Esrange, Kiruna, na Suécia, 7 lançamentos de VS-30/Orion, utilizando motores S30 (segundo estágio do VSB-30), no Campo de Lançamento de Andoya, Andenes, na Noruega, e outros quatro voos do VS-30 (motor S30) também de Andoya.
Restam ainda alguns foguetes negociados com a DLR, cujos voos estão previstos para ocorrerem entre este ano e 2015. Até o final deste mês de abril, aliás, está em andamento no campo de Esrange as campanhas TEXUS 50 e 51, de experimentos em microgravidade, que utilizarão veículos VSB-30.
Segundo informações dadas ao blog pelo Cel. Avandelino Santana Júnior, vice-diretor do IAE/DCTA, a compra mais recente de motores brasileiros ocorreu em 2011, quando a DLR adquiriu 21 unidades, que serviram para montar oito VSB-30, e outros cinco destinados aos veículos VS-30 e VS-30/Orion. Na época, tal aquisição foi avaliada em cerca de 3 milhões de euros. Antes disso, para o desenvolvimento do VSB-30, a DLR realizou investimentos da ordem de 700 mil euros. De acordo com o IAE, após a integração dos motores e sistemas, cada VSB-30 custa cerca de 320 mil euros.
Rastreios do CLBI
Outra exportação espacial brasileira vem na forma de prestação de serviços de rastreios de missões espaciais realizadas pela Arianespace a partir do Centro Espacial Guianês, localizado em Kourou, na Guiana Francesa. Os rastreios são realizados pela estação terrena do CLBI, no Rio Grande do Norte, no âmbito de um acordo de cooperação firmado em 1977 entre o governo brasileiro e a Agência Espacial Europeia.
No caso dos foguetes Ariane 5, durante o curto intervalo de tempo de rastreio, o CLBI é responsável por registrar três eventos essenciais para sucesso de cada operação: o fim da queima do 1º estágio do lançador, a separação desse estágio do conjunto embarcado e a ignição do motor do 2º estágio.
Desde janeiro, o blog Panorama Espacial tem tentado obter junto à assessoria do CLBI informações sobre o montante recebido por cada operação, não tendo havido, porém, retorno. Fonte consultada pelo blog, no entanto, informou que o País fatura algumas dezenas de milhares de euros em cada missão.
Apesar de serem tecnicamente exportações, tanto no caso dos rastreios como nos propulsores, há pouca ou nenhuma participação da indústria nacional. Fato é que, ocasionalmente, surge à tona a questão da industrialização e transferência da fabricação do VSB-30 para a indústria nacional, mas que até o momento não teve resultados concretos.
Numa futura postagem, trataremos das exportações de componentes e serviços relacionados a satélites, campo em que a indústria local está mais presente.
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2 comentários:
Isso é bem relativo... Dos propulsores só fazemos a casca... Todo propelente vem da Alemanha (que comprou e fechou a fabrica que tínhamos por aqui) e o rastreamento é todo feito por equipamentos emprestados pela França para rastrearmos os lançamentos da Arianespace.
Mileski
Tudo tem seu valor e importância.
Mas seria interessante contextualizar essa (e outras) notícia dentro do que se poderia esperar dos resultados espaciais. Muitas vezes, no meio espacial brasileiro, a ausência de precisão ao classificar resultados prejudica um processo mais amplo de controle público e melhoria da gestão. Embora possamos até aplaudir, seria muito importante explicar que os feitos referem-se a “animais” menores dentro de uma “espaço-esfera” se pudéssemos defini-la.
Os motores aos e os foguetes de sondagens são outros “animais” na medida direta da inexistência e nem mesmo similaridade com os “genes” necessários ao controle e a orbitalização de cargas de fato espaciais.
O mesmo comentário poderia ser feito sobre a capacidade de captar a telemetria de eventos de lançamento com a de rastreio de lançadores ou, não resisto a oportunidade, de satélites em “early orbit operations”. Talvez devêssemos lembrar aqui o provável esforço do pessoal do VLS para essa capacidade, ou ainda, de forma saudosista lembrar que capturamos os SCDs. Mas não podemos confundir os “animais” e, menos ainda, esquecer-nos de avaliar o que estamos fazendo nas capturas do CBERS, em especial, do CBERS 4 que deveria estar sob nossa responsabilidade. Ou ainda, como será a captura do Amazônia – I vis-à-vis o que já fizemos nos SCDs.
Apenas uma tentativa de esclarecimento, entre os nem ditos ou afirmados, mais precisão nessas conversas seriam preciosas na mídia e nas informações com origem oficiais.
Abraços,
Décio Ceballos
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