quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Entrevista com Gilberto Câmara – Parte I

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A entrevista concedida por Gilberto Câmara, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) ao blog foi dividida em sete tópicos principais, a saber: cortes orçamentários; Programa CBERS; ITAR; compra de ACDH argentino; política industrial; observação da Amazônia; e comentários finais.

Gilberto Câmara é graduado em Engenharia Eletrônica pelo Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), estando no INPE desde 1980, onde fez o seu mestrado e doutorado em Computação. Antes de assumir a direção do Instituto, em dezembro de 2005, Câmara respondia pela coordenação de Observação de Terra.

Os três primeiros tópicos da entrevista seguem abaixo. A parte final entra no ar no início da próxima semana.

Cortes orçamentários

O INPE teve o seu orçamento para esse ano severamente atingido por cortes feitos pelo governo, prejudicando principalmente os projetos dos satélites CBERS e Amazônia-1, em particular contratos celebrados com indústrias da cadeia espacial. Segundo o diretor do INPE, o Instituto tem trabalhado junto ao Ministério do Planejamento para repor o volume de recursos perdidos – cerca de 50 milhões de reais, e conta, no entender de Câmara, com um argumento bastante forte a seu favor: a importância de se manter empregos na indústria espacial contratada para esses projetos, ainda mais num momento de crise em São José dos Campos em decorrência das demissões anunciadas pela Embraer.

Programa CBERS

Questionado sobre a ocorrência de atrasos no projeto sino-brasileiro, Câmara reconheceu que houve alguns, especialmente há cerca de dois anos, por causa das restrições impostas pelo governo dos EUA em decorrência do ITAR. O cronograma como um todo do projeto dos CBERS 3 e 4 foi atrasado em um ano, sendo que o primeiro satélite da segunda geração deve ficar pronto até o final de 2010, sendo, então, disponibilizado para o lançamento.

Em relação a uma possível continuidade do Programa, Câmara afirmou que durante a visita do ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende à China, por ocasião do lançamento do CBERS 2B, em setembro 2007, foi assinado um memorando de entendimento para se estudar a continuidade do Programa, prevendo-se a construção de outros dois satélites (CBERS 5 e 6). Um comitê técnico conjunto integrado por brasileiros e chineses deve se reunir em março para preparar uma recomendação técnica, que será então encaminhada à Agência Espacial Brasileira (AEB) e a sua contraparte chinesa, órgãos competentes para a aprovação da continuidade.

Caso aprovado, os dois satélites da nova geração seriam lançados a partir de 2014 ou 2015, e contariam com diversas modificações, especialmente nas cargas úteis. Várias alternativas têm sido discutidas e analisadas, como a melhoria nas resoluções dos sensores óticos.

ITAR

De acordo com o diretor do INPE, existe forte proibição imposta pelo governo dos EUA para a cooperação espacial com a China, em razão das regras do ITAR (International Traffic in Arms Regulations). Essas restrições têm obviamente afetado o Programa CBERS. Projetos nacionais como o do satélite Amazônia-1 são menos prejudicados, embora existam limites ainda não testados que podem levar a restrições tecnológicas, como a melhoria da resolução das câmeras espaciais, segundo exemplificou Câmara.

Por utilizar componentes de origem norte-americana, o Amazônia-1 não pode ser colocado em órbita por um lançador chinês.

O blog perguntou ao diretor do INPE sobre o posicionamento do Instituto em relação a uma possível flexibilização de Washington nas regras do ITAR, tema já abordado aqui há algumas semanas (veja a postagem “Reforma do ITAR e consequências para o Brasil”). Gilberto Câmara disse que não existe sinalização de qualquer flexibilização das regras do ITAR. Afirmou que é possível que os EUA adotem uma postura mais aberta e menos agressiva quanto ao assunto, mas que há também a ideia de combate ao terrorismo internacional (nota do blog: um dos objetivos do ITAR é justamente evitar que tecnologias sensíveis caiam em mãos de organismos terroristas ou “rogue states”, que de alguma forma contribuem com práticas terroristas). Não existiria, portanto, garantia de flexibilidade política.

Câmara lembrou ainda a possibilidade de que qualquer atitude do governo Obama de flexibilizar o ITAR tenha que enfrentar a oposição republicana no congresso americano.
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2 comentários:

phobus disse...

Nossos programas avançam aos tropeços, depende de verbas incertas,de concessões territoriais para alguns brasileiros privilegiados e tecnologicos de outro pais.Recursos existem para custear mordomias, paradas,grupos que não respeitam propriedades e até apoiam grupo estrangeiro contra interesse do Pais.Enquanto isso India, Irã, Japão, Coreia, China avançam e nos ficamos assistindo da geral.Quando veremos competencia para educação de qualidade para todos, sem discriminações, e de que os interesses da Nação supera os de grupos e de individuos?.

O mar vivo da não existência disse...

Já assistiram à corrida maluca? Todo mundo passando o dick vigarista?