sábado, 1 de maio de 2010

Soyuz, SSOT e o mercado de lançamentos

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A publicação especializada Space News, em texto de Peter Selding, noticiou ontem (30) que os voos de estreia dos lançadores Soyuz e Vega a partir de Kourou, na Guiana Francesa, devem sofrer novos atrasos. As primeiras missões possivelmente ocorrerão no final de 2010 e início de 2011, respectivamente. A informação sobre os atrasos partiu de Jean-Yves Le Gall, presidente da Arianespace, companhia responsável pela operação dos dois sistemas de lançamento.

SSOT possivelmente só em 2011

Antes destes novos atrasos, havia a expectativa de que este ano fossem executados por veículos Soyuz os lançamentos do satélite de comunicações Hylas 1, e do primeiro satélite de observação da série Pleiades, da agência espacial francesa. Neste segundo voo, junto com o Pleiades, voariam alguns pequenos satélites governamentais de inteligência eletrônica (da série ELISA), e também o primeiro satélite de observação chileno, chamado SSOT. Alguns manifestos extraoficiais apontavam o mês de outubro de 2010 como o período provável do lançamento, que agora só deve ocorrer, num bom cenário, provavelmente a partir de janeiro ou fevereiro de 2011. Por mais alguns meses, o SSOT deverá permanecer, portanto, "armazenado" nas instalações de seu fabricante, a EADS Astrium em Toulouse, no sul da França.

Custos adicionais

Atrasos em grandes e sofisticados projetos de engenharia não são nenhuma grande surpresa, e os casos do Vega e Soyuz não teriam por que fugir da "regra". O grande problema é que muitas vezes estes atrasos são acompanhados de custos e despesas extraordinárias que acrescem razoavelmente os seus valores iniciais. De acordo com Antonio Fabrizi, diretor de lançadores da Agência Espacial Europeia (ESA), o atraso do Soyuz acarretará numa despesa - a ser arcada pela ESA, de aproximadamente 50 milhões de euros.

É possível, para alguns até provável, que estes dois problemas (atraso e aumento nos custos) comecem a afligir o projeto da binacional ucraniano-brasileira Alcântara Cyclone Space, à medida que o mesmo comece a ser posto definitivamente em prática, com o início das obras de infraestrutura em Alcântara. De fato, já ocorreram, por variados motivos, diversos atrasos no cronograma do voo de estreia do lançador Cyclone 4 (hoje, obviamente fala-se em não antes que 2011). E o valor total do projeto também aumenta a cada ano. No início da atual década, por exemplo, mencionava-se algo em torno de 180 milhões de dólares, mas hoje as estimativas consideradas são razoavelmente superiores.

"Agressividade comercial da ILS"

Um dado interessante mencionado pela reportagem, mas extraído do relatório anual da lançadora europeia, é a afirmação de que os preços dos lançamentos ficaram relativamente baixos em 2009 "por causa da agressividade comercial da ILS", o que possivelmente contribuiu para o prejuízo apurado pela Arianespace, de pouco mais de 70 milhões de euros. Sigla de International Launch Services, a ILS é a principal concorrente da Arianespace, operando de Baikonur, no Cazaquistão, o lançador russo Proton.

Os fretes da ILS foram mais baratos principalmente em razão da queda do valor da moeda russa, o rublo, em relação a outras moedas internacionais, como euro e dólar. Como a grande maioria dos custos associados ao Proton são em rublo, por ser fabricado na Rússia, torna-se possível a oferta de fretes mais econômicos aos clientes.

O lance curioso é que mesmo num mercado com menor concorrência como o de lançamento de satélites geoestacionários (a crise financeira do terceiro player nesse setor, a Sea Launch, colocou-a de "escanteio" no mercado, ao menos provisoriamente), a maior provedora ainda assim não consegue impor melhores preços. Vê-se, portanto, mais um indicativo de como o mercado de lançamentos espaciais têm sua dinâmica e peculiaridades próprias, não sendo um negócio de ganhos e lucros fáceis como alguns "especialistas" dão a entender.
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