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Em 26 de maio, o Brigadeiro Engenheiro Francisco Carlos Melo Pantoja, diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), subordinado ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), gentilmente recebeu a reportagem de Tecnologia & Defesa para falar sobre as atividades do Instituto no campo espacial.
A seguir, apresentamos a primeira parte da entrevista, destacando dois programas principais, o Veículo Lançador de Satélites (VLS), e o foguete de sondagem VSB-30. Ainda esta semana, postaremos a segunda parte da conversa, com informações sobre os planos do Instituto para novos lançadores (VLM e parcerias internacionais), e também breves comentários sobre o projeto SARA, de reentrada atmosférica.
VLS e sistemas inerciais
De acordo com o diretor, o estudo de revisão já foi concluído, e vários ensaios em solo estão sendo realizados, seguindo os apontamentos feitos na revisão, que contou com a participação de especialistas da Rússia. O Brig. Pantoja disse que muito se aprendeu com a revisão, que também confirmou muitas coisas que já se faziam no programa.
Destacando uma novidade no programa, o Brigadeiro mencionou a assinatura de um contrato com a indústria Mectron, de São José dos Campos, para a implementação de elementos do VLS, no caso a rede elétrica. O contrato é do valor de R$ 21,490 milhões e foi assinado em 30 de dezembro de 2010, mas publicado no Diário Oficial da União apenas em 10 de maio de 2011. Sua assinatura se deu apenas agora por que foi o momento em que o IAE sentiu que a indústria estava capacitada para assumir maiores responsabilidades em relação ao programa.Tal capacidade foi comprovada em projetos de menor porte, como o da rede elétrica do SARA, também executada pela Mectron.
O diretor ressaltou que com este contrato, especialistas do Instituto poderão focar em outros aspectos técnicos do programa.
A expectativa é que o próximo voo do VLS, denominado XVT01, ocorra no final de 2012. O objetivo, aliás, é que o protótipo do foguete voe com o sistema inercial desenvolvido dentro do projeto SIA [Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespacial], tocado pelo IAE junto a outros institutos e indústrias nacionais. Recentemente, testes bem sucedidos de um protótipo do sistema inercial, componente crítico em programas aeroespaciais, foram realizados numa montanha russa em Vinhedo (SP), e existe previsão de novos testes dentro dos próximos meses. Paralelamente às atividades do XVT01, o IAE também trabalha no voo seguinte, o XVT02, que poderia ocorrer seis meses após o XVT01, com novos aprimoramentos.
[Nota do blog: sobre sistemas inerciais, recomendamos a leitura da postagem "Sistemas inerciais, o calcanhar-de-aquiles do VLS", de julho de 2008]
“Hoje, podemos dizer que ganhamos autonomia numa tecnologia das mais críticas”, afirmou o diretor, referindo-se ao SIA.
O SIA é ainda um modelo laboratorial, em desenvolvimento, e será necessário transformá-lo num produto para outras finalidades que não apenas a aeroespacial, como defesa, exploração de petróleo e gás, entre outras. O entendimento do diretor é de que o governo deve ter um papel mais efetivo nesse processo, colocando encomendas.
VSB-30
O diretor do IAE fez um paralelo do SIA com a importância de se haver demanda para a sua industrialização, com o foguete de sondagem VSB-30 (foto acima). O foguete teve seu desenvolvimento concluído e tem realizado voos com sucesso no Brasil e exterior, e agora se espera uma encomenda governamental para o uso em missões de microgravidade. Esta encomenda consolidaria o seu desenvolvimento e permitiria a transferência de sua produção para a iniciativa privada.
“Não é o nosso papel”, disse, quando questionado se o IAE exerceria a função de prime-contractor do foguete. O instituto executa esta função por que não existe um contratante principal privado no País, mas a indústria tem demonstrado interesse em assumir esta função, e para tanto deve haver investimento, compra sucessiva de lotes de foguetes para se atender os programas do governo, como as pesquisas em microgravidade.
Segundo o oficial, algumas indústrias que demonstraram interesse foram a Avibras Aeroespacial, a Mectron, o grupo Odebrecht (controlador da Mectron) e também a Embraer, que tem se aproximado do setor espacial, tendo inclusive realizado várias reuniões com equipes do Instituto.
O diretor faz ainda um alerta: “Caso demoremos muito para fazer isso [a industrialização do VSB-30], corre-se o risco de perder a competência adquirida.”
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