terça-feira, 29 de junho de 2010

SGB em pauta: análise

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Domingo passado (27), comentamos no blog que o projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB) talvez esteja em seu momento mais efervescente desde a sua origem. São atos normativos publicados no Diário Oficial da União, muitas visitas a órgãos do governo envolvidos no programa, e, lógico, matérias em jornais e revistas.

A edição de hoje (29) do Valor Econômico trata novamente do tema, em três reportagens: "Consórcio estuda construção de satélite", "Governo analisa proposta da Oi" e "Meteorologia passa a integrar objetivos da missão" (para lê-las, cliquem aqui). As matérias não necessariamente apresentam novidades, mas organizam as ideias e dá um panorama bastante claro sobre o que acontece e quais são as possibilidade no SGB.

No início de outubro de 2009, na postagem "Panorama sobre o SGB", com base em informações colhidas no 9º Congresso Latino-Americano de Satélites, abordamos um ponto considerado chave para o programa: a conciliação de dois objetivos principais, o desenvolvimento tecnológico brasileiro na área espacial, e o atendimento de demanda de comunicações (tanto estratégicas - militares e governamentais, como civis). Ao mesmo tempo que existe clara demanda para um sistema de comunicações militares e governamentais no Brasil (o crescimento do SISCOMIS evidencia bem isto), talvez não haja muita disposição de alguns setores do governo e, principalmente da iniciativa privada (Oi e outros possíveis parceiros na construção de um satélite), em se correr o risco tecnológico do desenvolvimento de capacidade nacional em comunicações. Esta área, por razões passadas e possivelmente de prioridade, nunca teve um foco no País, de tal modo que a capacidade brasileira em desenvolver e construir transpônderes de comunicações ou outros sistemas relacionados no estado-da-arte é bastante reduzida, não se comparando a tecnologia hoje disponível nos EUA ou Europa.

Conciliar estes dois objetivos, se é que é possível, não será tarefa fácil. E associado a isto, ainda existe o interesse de se contar com uma carga útil meteorológica no SGB.

São raros os satélites geoestacionários híbridos, isto é, com funções de comunicações e de meteorologia. E, logicamente, existem razões técnicas e econômicas para isto. Grosso modo, a vida útil de um sensor meteorológico, mais curta, difere da de transpônderes de transmissão de dados. Geralmente, os satélites com as duas funções têm alguma carga experimental, com funções mais de desenvolvimento em algum nicho tecnológico do que propriamente contar com um sensor em condições realmente operacionais. É o caso, por exemplo, do satélite sul-coreano COMS (Communication, Ocean and Meteorological Satellite), colocado em órbita na semana passada, e que conta com cargas úteis para observação dos oceanos, meteorologia, e uma experimental em comunicações (transpônder em banda Ka).

Considerando-se todos esses aspectos, é importante destacar que, quando falamos em SGB, talvez não estejamos falando de apenas um satélite, mas sim de dois ou até mais. Seria um de comunicações, mais facilmente viabilizado, até por sua natureza, por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP), e um de meteorológico, duas das necessidades mais prementes do Programa Espacial Brasileiro. A missão meteorológica, área em que o País tem alguma experiência em nível tecnológico, poderia envolver mais incisivamente os centros de pesquisa e indústria nacional. Não se poderia descartar, inclusive, a possibilidade de inclusão de uma carga útil experimental em comunicações, desenvolvida localmente, de modo a dar início a uma capacitação nacional nesse setor.

Evidentemente, ninguém sabe o que esperar do SGB. O grupo de trabalho criado pela Agência Espacial Brasileira (AEB) deverá considerar as necessidades nacionais, além de todos os aspectos técnicos, financeiros e políticos, para se chegar a uma formulação ideal. E é por esta razão que reúne representantes dos mais variados setores do governo, além da indústria. Ainda que o foro das discussões seja o GT da AEB, o blog já ouviu de algumas pessoas que existem elementos indicando que o satélite de comunicações acabaria saindo dessa esfera, indo, talvez, para o Ministério das Comunicações, Defesa ou outros (Telebrás?). E, é fato, muitos estão trabalhando para viabilizar este caminho, e estes "muitos", diga-se de passagem, são extremamente poderosos, bem relacionados e conectados.

"O troco"

O blog ouviu ontem de frequente colaborador do blog: "Talvez o "troco" esteja começando". Certamente, um comentário sem lógica para a maioria dos leitores, mas para quem acompanha todo o setor (não apenas espaço, mais além) com um enfoque mais empresarial, talvez o comentário faça algum sentido. É aguardar e ver.
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