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Na manhã de 29 de dezembro, no Hotel des Roches, em Kourou, Jean-Yves Le Gall, chairman e diretor-presidente da Arianespace, a conhecida provedora europeia de lançamentos espaciais, gentilmente recebeu a reportagem de Tecnologia & Defesa para uma entrevista exclusiva. Dentre os tópicos abordados, o ano de 2010 para a empresa, suas relações no Brasil e América do Sul, e competidores.
Com sua carreira inteira dedicada ao programa espacial europeu e desde 2002 presidindo a Arianespace, Le Gall tem um estilo bastante objetivo e direto, econômico nas palavras, mas com respostas sempre marcantes.
O ano de 2010
A entrevista começou com balanço das atividades da empresa em 2010. O executivo apontou a realização de cinco lançamentos do Ariane 5 até então, todos sucedidos, e que o sexto seria efetuado naquela noite (como de fato foi, também com sucesso). Com as seis missões, a Arianespace foi responsável pela colocação em órbita de 12 satélites, de um total de 20 lançados, frente aos 8 lançados pela sua concorrente International Launch Services - ILS, que opera o foguete russo Proton. Com estas missões, a empresa respondeu por uma participação de 60% do mercado em 2010.
Le Gall também destacou o contínuo apoio dos parceiros europeus, destacadamente a Agência Espacial Europeia, e a celebração de 12 novos contratos para lançamentos de cargas úteis, em comparação a apenas seis pela ILS.
Tendências de mercado
O executivo francês vê um mercado de lançamentos para 20 satélites comerciais geoestacionários por ano, com a Arianespace ocupando um market share de 55% a 60%, com seus lançadores Ariane 5 e Soyuz. Ao ser questionado sobre tendências quanto às dimensões dos satélites geoestacionários, Le Gall afirmou que não vê um aumento de massa para muito além de 6 toneladas, que é a capacidade máxima do Proton, principal concorrente do Ariane 5, ficando, portanto, entre os satélites menores (2 a 3 toneladas) e de 6 toneladas. [Nota do blog: o foguete russo, ao contrário do Ariane, é capaz de lançar apenas uma carga útil em cada missão, possivelmente daí o motivo de ter sido usado como paradigma]
Sobre as iniciativas relacionadas ao Next Generation Launcher (NGL) ora em discussão na Europa, também chamado de Ariane 6 e que futuramente substituirá o seu "irmão" mais velho, Jean-Yves Le Gall afirmou ser ainda muito cedo para indicar tendências relacionadas à capacidade e características do lançador, mas que isto ficará mais claro em dois anos, até a uma decisão.
Competição: ILS, Cyclone 4, China e ITAR
Fizemos algumas questões sobre competidores, tanto atuais como futuros, e é nesse campo que a entrevista talvez tenha ficado mais interessante. De acordo com Le Gall, o único competidor atual da Arianespace é a ILS. Após nosso questionamento sobre o projeto da ILS de desenvolver uma versão do Proton, conhecida como Duo, capaz de lançar dois satélites num único voo, o executivo revelou que o projeto foi paralisado por razões técnicas. Foi feita outra pergunta sobre a possível competição com o Falcon 9, da norte-americana SpaceX, que busca revolucionar o mercado de transporte espacial com fretes de baixo custo. Mas, para o presidente da Arianespace, o lançador americano não tem performance, não vendo nele um competidor no momento.
Sobre a iniciativa ucraniano-brasileira para operar o Cyclone 4 a partir de Alcântara, no Maranhão, Le Gall afirmou: "O Cyclone 4, por agora, é apenas um projeto." Comentamos que a infraestrutura do centro de Alcântara para a operação do foguete já havia sido contratada, no que o executivo emendou: "Nesse mercado, apenas lançamentos contam."
O tópico sobre competidores foi encerrado com questões sobre a China, que tem buscado ocupar algum espaço no mercado. Para o chairman europeu, a China é um caso interessante, com muitos avanços no programa espacial governamental, mencionando a ambição chinesa de ir até à Lua, mas ele não vê a mesma evolução no âmbito espacial comercial. Em contrapartida à sua resposta, comentamos sobre os contratos conquistados pelos chineses na América do Sul, para a construção e lançamento de satélites para a Venezuela e Bolívia, e Le Gall respondeu que o que se comenta no mercado é que o satélite venezuelano não estaria funcionando apropriadamente.
No campo de lançamento de cargas comerciais, ele entende que os satélites ITAR-free, isto é, livres de componentes de origem norte-americana e, por esta razão, passíveis de serem lançados por foguetes chineses, não existirão mais no futuro por dificuldades técnicas no desenvolvimento e construção. Mencionou o caso, embora não tenha citado o nome, de um satélite ITAR-free que teve falha logo após o lançamento. [Nota do blog: o satélite em questão é o Eutelsat W3B, que teve sua perda total declarada no final de outubro de 2010, motivada por um grave vazamento no tanque de propelentes]
Brasil e América do Sul
O presidente da Arianespace destacou que a empresa tem sido muito bem sucedida com sua presença no Brasil, tendo sido responsável pelo lançamento até hoje de todos os satélites de comunicações da Embratel e de sua subsidiária, a Star One. A provedora europeia, aliás, foi contratada para a colocação em órbita do Star One C3, que está em construção. O executivo vê o mercado nacional de satélites comerciais de comunicações com um lançamento a cada um ou dois anos.
Indo além do Brasil, para outros países do continente sul-americano, o presidente mencionou que a Arianespace lançará também o SSOT, um satélite chileno de observação terrestre, e foi contratada este ano para lançar o satélite de comunicações Arsat-1, da Argentina.
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