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No último dia 8, a Reuters divulgou uma reportagem, intitulada "Brasil quer melhores condições para caças da Boeing, diz fonte", afirmando que para a presidente Dilma Rousseff, o caça F-18 E/F Super Hornet, da Boeing, seria a melhor opção para o Programa F-X2, da Força Aérea Brasileira (FAB). O texto tem um parágrafo curioso, pois cita o campo de satélites como uma das áreas de possível cooperação caso os americanos ganhem a concorrência: "Ela [Marcia Costley, porta-voz da Boeing] acrescentou que, como parte de eventual negócio, a empresa norte-americana estaria disposta a fornecer ao Brasil também tecnologia e outros tipos de assistência em áreas como transportes, satélites e sistemas bélicos."
A esta reportagem, seguiram-se outras. Em 10 de fevereiro, no jornal "O Globo", o colunista Merval Pereira publicou um artigo ("Desconfianças") destacando a preocupação de Brasília quanto à transferência de tecnologia caso os americanos ganhassem. Num trecho, Pereira faz afirmações empíricas: "Houve problemas com os militares brasileiros nos últimos 30 anos, especialmente com a Aeronáutica, que teve projetos seus dificultados por embargos dos americanos a desenvolvimentos tecnológicos ligados a mísseis e satélites."
Merval Pereira não detalha as restrições americanas, fundamentadas numa legislação interna dos EUA, a International Traffic in Arms Regulations (ITAR), tema que eventualmente abordamos no blog.
Hoje (12), a "Folha de S. Paulo" publicou uma reportagem ("EUA acreditam ter assumido dianteira na venda dos caças") destacando o otimismo do governo norte-americano com a possível venda do Super Hornet para a FAB.
Em fevereiro de 2009, publicamos uma postagem com uma análise das consequências para o Brasil na hipótese da reforma da ITAR, assunto já há alguns anos em discussão em Washington. Além dessa mudança normativa, e talvez até mais importante do que ela, o possível comprometimento norte-americano com uma inédita transferência tecnológica, motivado pelo interesse na venda dos caças, tem o condão de trazer significativos benefícios para a indústria de defesa e o setor espacial brasileiro. A menção a satélites (comunicações?) é um claro indicativo disto.
Recentemente, o governo americano, numa linha pragmaticamente comercial (no setor de defesa, apenas para a Boeing, a perspectiva é de mais de 30 bilhões de dólares em negócios com a Índia nos próximos dez anos), levantou restrições de exportação de avançadas tecnologias a instituições de pesquisas indianas das áreas de defesa e espacial (dentre elas, a ISRO), num exemplo que demonstra até onde os EUA estão dispostos a chegar.
A oferta da Boeing também evidencia como um programa de aquisição de defesa pode ter reflexos significativos em outros setores não diretamente relacionados, como o espacial. Uma vitória americana poderia ter um efeito devastador nos esforços de governos e empresas, especialmente europeus, em parcerias com o Brasil no campo de satélites.
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sábado, 12 de fevereiro de 2011
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Um comentário:
Os caças americanos podem ser mais ágeis e baratos que o Rafale francês, mas e a tranferência de tecnologia?
Será que os americanos aceitarão?
Cabe lembrar que o brasil foi impedido de vender os super tucanos a um país andino (não me lembro qual), devido à presença de equipamentos de origem americana.
Mais que aviões, o Brasil precisa comprar tecnologia, assim como a China tem feito.
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