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Em 10 de outubro, mencionamos no blog o lançamento de “Brasil – China - 20 anos de Cooperação Espacial: CBERS – O Satélite da Parceria Estratégica”, livro oficial sobre o programa do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS, sigla em inglês), e também dissemos que faríamos uma pequena resenha, apresentada a seguir.
A obra, de alta qualidade gráfica e em versão bilíngüe (português, inglês) é assinada por Fabíola de Oliveira, jornalista científica já experimentada no tema, e autora do livro "O Brasil chega ao espaço", sobre o primeiro satélite construído no País, o SCD-1 (o blog também irá resenhar esta obra em breve).
A obra está dividida em quatro capítulos principais, além da apresentação (feita pelo ministro Sérgio Resende), prefácio (do ministro Celso Amorim), impressões e momentos da história: “O Início da Cooperação”; “As Dificuldades e a Superação”; “O Lançamento do Primeiro Satélite”; e “A Consolidação do Programa”.
1. “O Início da Cooperação”
No primeiro capítulo do livro, é apresentado breve histórico sobre o surgimento das atividades espaciais no Brasil, com a criação do Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (GOCNAE) em agosto de 1961, e também sobre os acordos de cooperação científica firmados com o governo chinês, e que acabaram culminando no Programa CBERS, resumidos abaixo.
Em março de 1982, foi assinado um acordo de cooperação científica e tecnológica com a China, documento ajustado em maio de 1984, quando se passou a constar expressamente a área espacial como uma das áreas de interesse. Em dezembro de 1984, houve uma primeira aproximação para se discutir a cooperação específica em espaço, com uma visita de delegação brasileira à Beijing.
Em 1986, após reuniões iniciais entre representantes dos órgãos espaciais dos dois países, já estava estabelecida a intenção de se levar adiante um programa de desenvolvimento de satélites de observação terrestre. Em fevereiro de 1987, uma primeira visita técnica brasileira é enviada à China, ocasião em que representantes chineses apresentam aos brasileiros o projeto de um satélite de observação de recursos terrestres. O projeto então passa a ser discutido, tendo sido produzido um primeiro relatório de trabalho entre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a CAST definindo as linhas mestras do projeto, em março de 1988. Nesse mesmo ano, em julho, o projeto foi oficializado com a assinatura do "Protocolo sobre Aprovação de Pesquisa e Produção de Satélite de Recursos da Terra, entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China".
2. “As Dificuldades e a Superação”
Em agosto de 1988, um grupo de engenheiros e técnicos do INPE foi enviado à China para uma temporada de quase dois meses de início dos trabalhos técnicos. Fabíola de Oliveira relata as primeiras dificuldades, como o idioma e procedimentos. O idioma oficial escolhido foi o inglês, o que não foi fácil para os chineses, que tinham dificuldades com a língua.
Os procedimentos de trabalho da parte chinesa também surpreenderam os brasileiros. Toda a documentação era preparada em chinês e não seguiam os padrões internacionais, do Ocidente, aos quais os brasileiros estavam familiarizados (os engenheiros brasileiros participantes do início do projeto em sua maioria haviam estudado fora do País, onde fizeram mestrado ou doutorado, tendo, portanto, facilidade com a língua inglesa e também conhecimento dos padrões internacionais adotados pela NASA e ESA).
Uma “dificuldade” não relatada no livro, mas que o editor do blog já ouviu em rodas de conversas do pessoal envolvido no programa foi a comida, bastante diferente do padrão brasileiro. Qualquer dia, postaremos aqui a história das “small snakes”...
No início, o programa avançava relativamente bem, sem problemas de orçamento ou natureza política, mas já em 1989 começaram a surgir maiores dificuldades, como políticas e econômicas, e como consequência, desmotivação do pessoal envolvido. Mudanças na direção do INPE e no Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) afetaram sensivelmente o programa, situação que só passou a melhorar após o afastamento do presidente Fernando Collor, a partir do segundo semestre de 1992.
Do lado chinês, a truculenta ação contra as manifestações na Praça da Paz Celestial em 1989 foi um momento difícil. O Brasil se opôs às ações de força, mas não rompeu qualquer acordo com a China, o que fortaleceu a posição brasileira de parceiro confiável, contribuindo para a continuidade do projeto, apesar dos atrasos. Roberto Abdenur, na época embaixador do Brasil na China, revela no livro que, por duas vezes, os chineses expressaram intenção de afastar o Brasil do programa, em razão dos atrasos e de seus problemas internos.
A retomada do CBERS ocorreu de fato em 1993, quando da assinatura de protocolo tratando de pontos como os recursos para lançamento do primeiro satélite, integração e testes do segundo satélite da série no Brasil, controle em órbita compartilhado, entre outros.
3. “O Lançamento do Primeiro Satélite”
Em 1993, também foram assinados protocolos adicionais relacionados ao programa: um tratando do lançamento de microssatélite científico brasileiro como carga extra (“piggyback”) junto com o CBERS 1, e outro com escopo de ampliação da cooperação bilateral em matéria de espaço em itens como comunicações, lançamento de satélites, microgravidade, ciências atmosféricas e astrofísica, entre outros. Como escreveu Fabíola de Oliveira, “O tempo veio demonstrar que o programa de cooperação não seria tão abrangente como se imaginava naquele momento.”
Os dois países analisaram a viabilidade de desenvolver em conjunto um satélite de comunicações, mais complexo que o CBERS, tendo ocorrido viagens para a discussão da iniciativa, que não vingou por dificuldades políticas e econômicas.
No penúltimo capítulo, é mencionada a falência da Esca, indústria brasileira contratada para fornecer vários componentes para o CBERS, fato ocorrido no primeiro semestre de 1995. Este fato resultou em novos atrasos no programa.
O livro tem uma marcante frase de Roberto Abdenur, que estava na comitiva brasileira que assistiu ao lançamento do primeiro satélite da série, em 14 de outubro de 1999: “Nós, diplomatas, não vemos com freqüência a materialização de nosso trabalho diplomático. Assistir ao lançamento do satélite CBERS-1 foi uma das emoções mais fortes de minha vida.”
4. “A Consolidação do Programa”
O último capítulo do livro trata de história mais recente e, portanto, mais conhecida sobre o Programa CBERS: o protocolo complementar para a construção dos CBERS 3 e 4; lançamento do CBERS 2; acordo para a construção do CBERS 2B; distribuição gratuita de imagens; lançamento do CBERS 2; entre outros acontecimentos.
Nesse capítulo, é também mencionada a expectativa de continuidade do programa após os satélites da segunda série. Inclusive, Chen Duqing, Embaixador da República Popular da China no Brasil, em depoimento publicado no livro, diz (destaque do blog): “Com o forte apoio dos Governos e dignatários dos dois Países, a cooperação em torno do CBERS tem alcançado constantes avanços. Até o momento, já foram lançados três satélites (CBERS 1, 2 e 2b) para a órbita da Terra. Os trabalhos referentes à pesquisa e fabricação dos CBERS 3 e 4 estão sendo felizmente levados a efeito. E os CBERS 5 e 6 vão ser colocados na agenda.”
Algumas críticas
É louvável a iniciativa de publicar livros sobre projetos do Programa Espacial Brasileiro, e a qualidade da obra assinada por Fabíola de Oliveira é inquestionável. Isso não nos impede, porém, de fazer algumas críticas.
A bibliografia consultada é quase que unicamente oficial, como instrumentos diplomáticos e atas de reuniões do comitê conjunto. Existem hoje no Brasil estudos de grande qualidade sobre o CBERS, inclusive acadêmicos (da UNICAMP, o blog se recorda de ao menos três), que não foram consultados. Assim, o livro não pode ser considerado independente, o que é até lógico por ter sido patrocinado pelo MCT, AEB e INPE.
Alguns pontos críticos do programa não foram abordados, ou se foram, de forma muito superficial. Mencione-se, por exemplo, a questão das restrições dos EUA à importação de componentes para os satélites (legislação ITAR), o acordo de compensação industrial fechado (e não cumprido devidamente) pela parte chinesa, as dificuldades da indústria brasileira em cumprir alguns contratos, entre outros.
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2 comentários:
Com eu adquiro estes livros ?
Estes livros foram patrocinados pela AEB, INPE e MCT e/ou MCT e não estão disponíveis para venda. A tiragem, aliás, é relativamente pequena.
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