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De tempos em tempos, surgem na imprensa não-especializada notícias sobre o interesse do Ministério da Defesa em contar com uma rede de satélites para vigilância das fronteiras.
A edição nº 5 da revista Espaço Brasileiro, editada pela Agência Espacial Brasileira (AEB), revela mais alguns detalhes sobre a iniciativa, que já teria inclusive nome: Sentinela. As informações estão na resposta de uma das questões feitas na entrevista com Carlos Ganem, presidente da Agência. Ontem (09), o blog também teve a oportunidade de rapidamente conversar com Ganem sobre esse assunto, tendo colhido informações adicionais.
Abaixo, reproduzimos o trecho da entrevista do Ganem publicada na Espaço Brasileiro:
"O monitoramento de áreas terrestres é um ponto importante para que um país consiga soberania. A única forma de observarmos grandes áreas é por meio de satélites. O Brasil, juntamente com a China, já lançou três satélites de imageamento - os CBERS - e lançará outro, em breve. Há algum projeto para a construção de satélites de monitoramente com tecnologia essencialmente brasileira?
Em primeiro lugar, podemos citar a capacidade nacional de desenvolvimento de câmeras ópticas, como as que estão sendo concluídas para os satélites Amazônia e CBERS-3 e 4, pela empresa Opto, de São Carlos (SP). Devemos, ainda, considerar a conclusão da Plataforma Multimissão, que, com as câmeras, comporão satélites de observação inteiramente nacionais.
Em paralelo, a AEB anseia por um satélite de monitoramento e vigilância de suas fronteiras e, sobretudo, das regiões inóspitas onde existem dificuldades de termos bases militares. Esse satélite, o Sentinela, ainda em fase de concepção, seria resultante de tecnologia desenvolvida por empresas da região de São José dos Campos (SP). Ele tem uma característica extremamente funcional, é pequeno, leve e pode dar conta de resolver problemas imediatos no que concerne à segurança e ao monitoramento do nosso território."
Ontem, Ganem informou no seminário que o projeto Sentinela deve ser estruturado por meio de Parceria Público Privada – PPP (mais informações em "Parcerias Público-Privadas para o Setor Espacial"), e também envolverá ao menos duas indústrias brasileiras do polo de São José dos Campos (SP), com transferência de tecnologia, sem revelar os nomes. O presidente da AEB acrescentou que o projeto está no momento em análise no Ministério da Defesa e depois será encaminhado à Agência. Questionado sobre uma data para a sua formalização, informou o ano de 2011.
Com o objetivo de evitar qualquer confusão, Ganem fez questão de frisar que o Sentinela brasileiro não tem relação com o “Sentinel”, da Agência Espacial Europeia, embora ambos os projetos sejam de constelações de observação terrestre.
Participação francesa
A participação francesa no projeto é tida como líquida e certa. Inclusive, em nota divulgada pelo Itamaraty quando da visita de Nicolas Sarkozy ao Brasil em 6 e 7 de setembro desse ano, um dos itens mencionados implicitamente tratava do Sentinela: "O Brasil e a França também concordaram em intensificar o intercâmbio bilateral com vistas a analisar a viabilidade de uma futura cooperação na área de monitoramento das fronteiras terrestres e marítimas do Brasil."
O lance mais curioso do envolvimento francês, no entanto, é que pelo que se tem ouvido nos bastidores, uma das indústrias mais envolvidas com o Sentinela não estava sediada na França, mas sim em outro país europeu.
Opto Eletrônica: imageador de meio metro
No seminário de ontem em Brasília, Jarbas Castro Neto, presidente da Opto Eletrônica, de São Carlos (SP), em dado momento de sua apresentação destacou que a empresa por ele presidida tem capacidade de construir sensores espaciais de imageamento com resolução de meio metro.
Não se sabe se a Opto está ou estará envolvida no projeto Sentinela, mas a informação dada, não provocada e voluntariamente colocada, chamou a atenção de alguns presentes.
Ainda que exista capacidade no País de desenvolver e construir sensores espaciais óticos de alta resolução, o fato é que a grande barreira para de desenvolver sofisticadas câmeras orbitais está no campo dos CCDs de aplicações espaciais, componente que tem poucos fabricantes mundiais.
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6 comentários:
Muito interessante Mileski! Parabéns pelas informações colhidas!
Agora, algumas dúvidas. Esse tal satélite "Sentinela" servirá apenas para monitoramento de fronteiras terrestres? E para monitoramento marítimo, será um outro "sentinela dos mares" ou será feito pelo SGB mesmo?
E quanto ao próprio Sentinela (disse que seria pequeno e leve, simples). Ele utilizará órbita geoestacionária ou convencional?
abraços
Obrigado, Raul. O bom desses seminários/eventos é sempre encontrar boas fontes. E o legal é que o Ganem deu as informações que eu pedi, felizmente. Quanto as suas perguntas, os satélites servirão para o monitoramento tanto terrestre como marítimo. O SGB, como concebido hoje, servirá apenas para comunicações, controle de tráfego aéreo e meteorologia. Aliás, normalmente satélites GEO não são usados para observação terrestre, pois estão bem distantes da Terra. Os satélites da constelação Sentinela serão de órbita baixa, leves. Segundo afirmou o Ganem (e isso eu acabei não colocando no texto), estes satélites terão dimensão para serem lançados por foguetes brasileiros (VLS ou alguma evolução dele). Abraço. André
Olá Mileski!
Endosso as palavras do Raul amigo, parabéns pelas informações colhidas. No entanto, fiquei com uma dúvida. O satélite para monitoramento marítimo não seria o Sabia-Mar? Projeto esse que será desenvolvido em parceria com os argentinos, não é isso?
Abs
Duda Falcão
Duda, o Sabia-Mar é projeto civil, a ser tocado pelo INPE. O Sentinela será um projeto de aplicações militares e também baseado em plataforma menor que a do Sabia-Mar (este último seria baseado na PMM, mas parece que será outra plataforma agora). Abraço. André
Olá Mileki!
É verdade amigo, tinha me passado esse detalhe. Então Vejamos: O Ministério da Defesa planeja o Sentinela, que é um microsatélite de órbita baixa para controle das fronteiras, um minisatélite radar de abertura sintética (SAR) para controle da Amazônia legal, que será desenvolvido em parceria com outro país ainda a ser definido e finalmente um outro minisatélite para monitoramento marítimo. Fora o Satélite SGB, que segundo constava também seria utilizado pelo militares para comunicações. Correto? Bom, me parece planos interessantes e audaciosos para a atual conjectura do PEB. No entanto, como são planos do MD e o mesmo tem sido o mais atuante dos órgãos (inclusive no levantamento de recursos financeiros) que integram o esforço do PEB e o Jobim demonstrar ser uma pessoa mais centrada do que o Carlos Ganem, pode ser que esse planos saiam do papel. Só espero e torço que os mesmos não levem mais de 20 anos como o exemplo civil do SSR-1/Amazônia-1.
Abs
Duda Falcão
Considero importantissimo para a defesa nacional o projeto sentinela. Uma das fragilidades das nossas FAA's são as comunicações. O uso de celular satelital para locais remotos ou alto mar se revela fragil na medida que podem ser monitorados pelos operadores dos satelites.
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