terça-feira, 31 de março de 2009

Projeto de materiais de carbono do IAE/CTA

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IAE conclui projeto de planta de Carbono-Carbono

30/03/2009

A Vice Direção de Espaço do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/AVE) viabiliza a continuidade do projeto Materiais Carbonosos Estruturais, iniciado no final da década de 1980 pela Divisão de Materiais do instituto (IAE/AMR), para a manufatura de gargantas de tubeiras de foguete.

O projeto, oriundo do antecessor Materiais Carbonosos e Grafíticos, ambos desenvolvidos pelo IAE/AMR, tinha por premissa levar à produção de um objeto de uso no Programa Espacial Brasileiro. Os primeiros resultados surgiram em 1996, com o teste em banco de prova de uma garganta de tubeira do motor foguete S-20.

Entretanto, tendo em vista a dissolução da equipe com o término oficial do projeto, em 1999, e a ausência de recursos específicos, o risco da perda de conhecimento fundamental tornava-se iminente. O bom termo surgiu com a continuidade dos trabalhos transformados em linha de pesquisa.

Assim, após longo trabalho, e de pouca visibilidade, foi concluída a etapa prevista na primeira tarefa de planejamento em 1989, que foi o projeto detalhado da construção de uma unidade para produção de compósitos Carbono-Carbono, utilizados em gargantas de tubeiras de foguete.

A unidade é constituída de um vaso de alta pressão, denominado de hiperclave para operação até 800 MPa e 1000ºC, para o processo de impregnação e pirólise, e uma unidade de grafitização do tipo Castner, para operação até 2500ºC.

O projeto foi concebido para processamento simultâneo de dois blocos de compósito Carbono. O custo de produção nessa unidade será menor que US$500/kg. No mercado internacional o material tem sido adquirido a cotações acima de US$1500/kg. Mesmo a custo equivalente, o ganho que o projeto veio agregar é referente a independência tecnológica na produção desses itens estratégicos no país.

Até o presente momento foram adquiridos cerca de 70% dos insumos referentes à unidade da hiperclave. A unidade vai atender inúmeros projetos em andamento no Programa Espacial Brasileiro.

Fonte: IAE/CTA
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domingo, 29 de março de 2009

A face comercial da ITAR

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As últimas semanas foram de polêmica no setor espacial francês, polarizada entre a principal provedora mundial de lançamentos espaciais, a europeia Arianespace, e a gigante de telecomunicações via satélite Eutelsat. A polêmica começou com uma carta de Jean-Yves Le Gall, presidente da Arianespace, enviada ao presidente francês Nicolas Sarkozy, criticando a contratação da China para a execução da colocação em órbita de um satélite de telecomunicações da Eutelsat.

Na semana passada, durante o evento Satellite 2009, realizado em Washington, nos Estados Unidos, a polêmica atingiu seu ápice, com Le Gall acentuando suas críticas. "Vários governos - mais notavelmente o dos Estados Unidos - têm boas razões para desejar que não haja transferência de tecnologia para a China". Sob o seu ponto de vista, a decisão da Eutelsat de contratar um lançador chinês poderia ser interpretada como um ato "hostil aos EUA." "Nós estamos chocados com isto (a política) ter sido colocado em prática", concluiu.

Jean-Paul Brillaud, executivo da Eutelsat, não deixou por menos. Alegou que a escolha do lançador chinês Longa Marcha foi baseada em preço e cronograma. "A garantia da data do lançamento foi fator principal na escolha que fizemos". Houve também uma "questão de preço", afirmou, acrescentando que a Arianespace "aumentou significativamente os seus preços".

O satélite geoestacionário W3C, a ser lançado por um foguete Longa Marcha chinês, foi construído pela europeia Thales Alenia Space e é considerado “ITAR-free”, isto é, não possui componentes de origem norte-americana. Isso não evitou, porém, a crítica de Le Gall, que alegou que o W3C possui componentes europeus igualmente sensíveis, desrespeitando o “espírito da regulação ITAR”.

O discurso de Le Gall conquistou apoiadores nos EUA, particularmente políticos. Dana Rohrabacher, congressista, disse em audiência no congresso americano que Washington deveria exercer pressão econômica sobre a Eutelsat para fazê-la reverter a decisão de contratar um lançador chinês. "A Eutelsat vende dezenas de milhões de dólares em serviços de satélites para o governo dos EUA," afirmou.

Le Gall usou argumentos de natureza política (ITAR) para uma briga eminentemente comercial. É pouco provável que o lançamento de um satélite estrangeiro por um lançador chinês possibilite algum tipo de acesso a tecnologias ou conhecimentos sensíveis que a China já não detenha. A situação é, portanto, diferente do escândalo de transferência “involuntária” à China de tecnologia de lançadores por companhias americanas como a Loral Space & Communications, Hugues Electronics e Lockheed Martin, em meados da década de noventa, o que levou, inclusive, a uma maior restrição pelo governo das regras da ITAR (International Traffic in Arms Regulations).

Ao falar em “espírito da regulação ITAR”, o presidente da Arianespace inovou. Estaria a França pensando em aplicar uma legislação estrangeira aos seus negócios? Imagina-se que não. O argumento de Le Gall é, aliás, contraditório com as práticas comerciais francesas nos setores Aeroespacial e de Defesa, inclusive de empresas que integram a própria estrutura societária da Arianespace, que largamente oferecem ao mercado global soluções “ITAR-free”.

Essa polêmica mostra que a ITAR também está sendo usada para disputas comerciais. Se por um lado a indústria norte-americana lamenta a considerável perda de mercado em decorrência da legislação, a Arianespace a utiliza conforme os seus interesses.

Como o Brasil deseja se tornar um player em lançamentos espaciais (Alcântara Cyclone Space - ACS), essas disputas, nas suas mais variadas vertentes, farão parte do negócio. Resta saber como a ACS e o governo brasileiro irão atuar nesse ambiente.
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sábado, 28 de março de 2009

ACS: reunião na Ucrânia

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Deputado do MA participa de reunião na Ucrânia sobre base aérea de Alcântara

28 de março de 2009 às 08:43

O presidente da Frente Parlamentar em Defesa de Alcântara, deputado federal Ribamar Alves, chegou nesta quinta, 25, da Ucrânia, onde esteve integrando a delegação brasileira na terceira reunião ordinária do Conselho de Administração da empresa binacional Alcântara Cyclone Space.

Alves foi o único parlamentar na visita que contou com a participação de representantes da Agência Espacial Brasileira, Carlos Ganem; do Ministério da Ciência e Tecnologia, Alexandre Navarro; e do Diretor Geral no Brasil da Alcântara Cyclone Space, Roberto Amaral.

Durante a visita foram analisados os avanços técnicos e políticos do projeto da empresa. A reunião aprovou ainda o orçamento 2009, o regimento interno do Conselho de Administração, a demonstração financeira do exercício de 2008 da empresa, e a criação, em Alcântara, de um escritório da empresa.

O deputado destacou os pontos positivos da reunião no sentido de reforçar o compromisso dos dois países, principalmente do empenho do governo brasileiro, com o acordo de implantação do Centro de Lançamento: “mais do que isso, o projeto é de grande importância para os dois países. Para o Brasil, que entrará num grupo restrito das nações que detém tecnologia para as pesquisas aeroespaciais, e a Ucrânia, que neste momento de crise, consegue diminuir os custos com o lançamento de foguetes”, avalia o deputado.

A cidade de Alcântara é um lugar privilegiado devido sua proximidade com a linha do Equador, podendo gerar no lançamento de foguetes e satélites uma economia de cerca de 30% de combustível. No entanto, o Brasil ainda é um país dependente de tecnologia. O acordo, além de impulsionar o domínio das pesquisas aeroespaciais, deverá gerar emprego e impulsionar a economia.

O acordo prevê os lançamentos dos primeiros foguetes para 2010, mas o cronograma está atrasado em virtude dos entraves na discussão com as comunidades quilombolas centenárias que habitam a região. A missão da Frente Parlamentar criada ano passado é debater a questão e tentar conciliar os interesses do Programa Espacial do Governo Brasileiro e das comunidades que habitam o território e dependem dele para sobreviver.

Fonte: Jornal Pequeno
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quinta-feira, 26 de março de 2009

Super-resolução de imagens de satélites

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Software melhora em 50% imagem de satélite

25/03/2009 18:52:23

Com técnica desenvolvida na UnB, é possível enxergar detalhes da fotografia. Inovação pode auxiliar governo e empresários.

Fabiana Vasconcelos
Da Secretaria de Comunicação da UnB

Imagine uma imagem de satélite que traga riqueza de detalhes suficiente para que se calcule a arrecadação do IPTU de uma cidade, por exemplo. Ou então a foto de uma plantação que permita o cálculo de quantas colheitadeiras serão usadas em trechos com pontos diferentes de amadurecimento. Prático, não? É isso que a Universidade de Brasília fez com imagens de satélite.

Com a ajuda da técnica de super-resolução, o pesquisador Miguel Archanjo Telles Jr. desenvolveu ferramenta que eleva o nível de detalhamento das fotografias em 50%, sem perda da qualidade.

Telles Jr. usou imagens de 20 metros de resolução, que alcançaram 10 metros a mais de qualidade após a aplicação da técnica. Em imagens de satélite, o padrão de média resolução é 20 metros, o que significa que cada pixel da foto corresponde a uma área de 400 metros quadrados. Na prática, a imagem que se vê na tela é 50 mil vezes menor do que o real.

O pesquisador analisou também imagens de 30, 15, 2,5 e 0,6 metros. O conjunto foi obtido de produtos dos satélites Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), dos norte-americanos Landsat-7, Ikonos, Quickbird, do francês Spot e do indiano ResourceSat.

INVESTIMENTO - O software desenvolvido por Telles Jr. ainda é um protótipo, mas pode gerar economia para os usuários desse tipo de produto dentro de alguns anos. “Um pesquisador que precise de uma imagem de satélite mais detalhada poderá optar pela imagem de super-resolução ao invés de comprá-la das empresas”, diz o pesquisador. Esse mercado é atendido hoje por equipamentos espaciais norte-americanos ou franceses.

O governo brasileiro já distribui gratuitamente imagens coloridas de 20 metros do CBERS para outros órgãos, universidades e empresas e de 2,7 metros em preto e branco. Porém, quem precisa de cenas atualizadas e coloridas abaixo de 1 metro paga pelo menos R$ 1 mil em imagens disponíveis em banco de dados, ou até R$ 3 mil se o satélite tiver de ser programado para realizá-la.

Gustavo Mello, geólogo e consultor de uma empresa em Brasília, acredita no barateamento do produto e destaca outro benefício. “No nosso caso, a principal vantagem em aumentar a resolução é ter um produto de melhor qualidade para o cliente tomar decisões com informações detalhadas.”

Para a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Leila Maria Fonseca, a tecnologia pode ser útil a quem usa sistemas de informação geográfica, ou seja, softwares que unem mapas com dados econômicos ou sociais de uma região. “É uma técnica que ajuda a ampliar a imagem sem perda de resolução e pode evitar a perda de dados na reamostragem [integrar informações de diferentes satélites]”.

COMPUTAÇÃO – A metodologia de Telles Jr. baseia-se na super-resolução, uma tecnologia já utilizada em câmeras filmadoras, máquinas fotográficas, mas pouco estudada para satélites. Consiste em pegar a imagem e criar, a partir dela, outra imagem defasada em alguns pixels.

O processo deve ser aplicado em todas as camadas que se unem para compor a imagem, fornecidas por cada banda de um satélite. Cada uma traz algum tipo de dado, como, por exemplo, sobre temperatura ou cores captadas pelo sensor do artefato espacial. “Desloca-se a imagem no domínio da frequência. É lá que será obtida a nova informação”, diz.

O professor do Instituto de Geociências Antônio Nuno de Castro Santa Rosa, que orientou a tese, afirma que a técnica permite, ainda, fundir uma imagem colorida (espectral) de baixa resolução, por exemplo de 20 metros, com outra preto e branco (pancromática) de 2,5 metros e obter uma imagem de 2,5 metros em cores. “A parte colorida se encaixa perfeitamente na cena de alta resolução, como se tivesse sido obtida de um sensor colorido.”

LINGUAGEM – A chegada da tecnologia ao mercado ainda depende de pesquisas para aperfeiçoar o sistema. Telles Jr. cita, entre as necessidades, a criação de um software mais veloz. Por isso, a idéia do pesquisador é levar o programa do Matlab para a linguagem de programação C++. A mudança vai reduzir o tempo de processamento da fotografia, que hoje é de dois minutos para cada camada de uma imagem de 1.024 por 1.024 pixels.

Embora a tecnologia ainda não seja comercializada, potenciais usuários vislumbram novas aplicações. “Seria interessante testar esse algoritmo com imagens aéreas, pois teríamos meios de avaliar se o grau de distorção gerado é inferior ao acréscimo de qualidade devido ao aumento da resolução geométrica”, diz o diretor técnico de uma empresa de topografia em Brasília, Lúcio Mario Rodrigues.

Para o estudioso, a consolidação da técnica só depende de mais produção científica. “O caminho está aberto.”

O satélite francês Spot-5 já utiliza a super-resolução, mas de outra forma. O equipamento tem duas câmeras de 5 metros de resolução, deslocadas, que pegam duas imagens do mesmo local. A partir dessas duas fotografias, é possível obter outra com resolução de 2,5 metros por intermédio de processamentos realizados em terra. A super-resolução é utilizada também pelos satélites Ikonos e pelo israelense Eros.

CONTATO
Miguel Archanjo Telles Jr pelo e-mail archanjo@unb.br

Fonte: UnB, via web-site da AEB.
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quarta-feira, 25 de março de 2009

Consultoria para modelagem de PPP do SGB

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A iniciativa conjunta da Agência Espacial Brasileira (AEB) e do Ministério do Planejamento de estudar o modelo de Parcerias Público Privadas (PPPs) para o projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB) parece estar avançando. Em 18 de março, foi divulgado o "Aviso de Solicitação de Manifestação de Interesse n° 5547/2009", do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID / Fundo Multilateral de Investimentos - FUMIN.

Os estudos e serviços de consultoria sobre uma possível PPP para o SGB serão financiados com recursos não-reembolsáveis oriundos do BID/FUMIN. De acordo com o Aviso, o escopo do trabalho será o seguinte:

"Os serviços objeto desta Manifestação de Interesse compreendem a análise do marco regulatório, o levantamento de experiências internacionais de PPPs no setor, a elaboração de estudo de demanda, a especificação técnica do produto, avaliação econômica, avaliação financeira e Modelagem Jurídica para implementação do Sistema Geoestacionário Brasileiro."

As empresas e/ou instituições interessadas em prestar o serviço devem encaminhar proposta até o dia 17 de abril.
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terça-feira, 24 de março de 2009

Transferência de tecnologia no setor espacial

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Programas de parceria alavancam transferência de tecnologia?

23/03/2009

Por que será que é tão difícil comer arroz feito pela cozinha ocidental com hashi (pauzinhos)? A tecnologia hashi foi desenvolvida numa cultura tecnológica que utiliza arroz feito pela cozinha oriental. Caso fôssemos transferir a tecnologia hashi para o ocidente, haveria a necessidade de adaptarmos o arroz solto para um arroz mais “grudado”. Assim, tanto a cultura tecnológica ocidental (conhecimentos de como se preparar o arroz solto) quanto a nova tecnologia (hashi) precisariam adequar-se mutuamente para o sucesso da transferência da tecnologia.

O tema transferência de tecnologia tem sido discutido há algumas décadas por especialistas devido à dificuldade no sucesso da sua utilização plena por parte do usuário. Nesse sentido, o servidor Roberto Roma de Vasconcellos, da Divisão de Eletrônica do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/AEL), defendeu a tese de doutorado “Barreiras e facilitadores na transferência de tecnologia no setor espacial: estudo de caso de programas de parceria das agências espaciais do Brasil (AEB) e dos EUA (NASA)”. Essa pesquisa foi desenvolvida no Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, com estágio no Space Policy Institute, da Elliott School of International Affairs, da George Washington University, sob orientação do professor titutar João Amato Neto (USP) e co-orientação do professor John M. Logsdon (GWU).

O estudo objetivou identificar os fatores críticos entre atores sociais (universidades, institutos de P&D, empresas privadas e agências governamentais – NASA e AEB) no processo de transferência de tecnologia no setor espacial, utilizando como objeto de estudo cinco projetos de parceria do programa Uniespaço da AEB e do programa de parceria inovativa (PPI) da NASA.

A metodologia de pesquisa envolveu três instituições de ensino superior e dois institutos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), como fornecedoras da tecnologia, sendo clientes o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Instituto de Aeronática e Espaço (IAE).

O resultado principal foi a elaboração de dois modelos conceituais. O primeiro, representando a transferência de tecnologia entre fornecedor e cliente, levando em consideração fatores críticos, dentre eles o Nível de Maturidade Tecnológica (TRL - Technology Readiness Level da NASA), a Transferência Parcial de Tecnologia (TPT) e a Transferência Total de Tecnologia (TTT).

O segundo modelo detalha o papel da parceria entre diferentes organizações e suas respectivas competências essenciais (conjunto de conhecimentos que diferenciam uma organização da outra) no sistema nacional de inovação e produção espacial. O modelo demonstra ainda que o desenvolvimento de um produto para a sociedade é mais eficaz e eficiente a partir do trabalho em parceria entre organizações nos diferentes níveis de conhecimento; a empresa, ao transferir conhecimentos mercadológicos, proporciona conhecimentos à universidade e aos institutos de P&D, possibilitando a concretização do desenvolvimento do produto; a inovação.

Finalmente, a tese conclui que, dentre outros fatores, devido à complexidade tecnológica dos projetos espaciais não há espaço para o trabalho solitário e de organizações com baixa interatividade, tanto internamente quanto com o ambiente que as cercam. Nesse sentido, o processo de transferência de tecnologia realizado em redes de cooperação organizacional é o novo paradigma atual; ou seja, cada organização complementando a sua competência com diferentes parceiros é o diferencial para sua sobrevivência no presente e no futuro.

“A transferência de tecnologia não é um processo que acontece ou não, ele ocorre em função do que o cliente (usuário) deseja”, explica Roberto. “Portanto, o cuidado gira em torno de se definir muito bem como você quer que o seu arroz seja preparado (cultura tecnológica) e como adaptar a nova tecnologia (hashi) para atendê-lo. De nada adianta comer arroz `solto` com hashi; pode-se até comer, após um grande esforço e tempo, mas dificilmente o cliente ficará satisfeito!”, completa o pesquisador.

Veja a seguir os modelos desenvolvidos durante o trabalho e o link para acesso à tese completa, disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP:

Modelo de Transferência total de tecnologia

Modelo Orbital de Parceria

Tese

Fonte: IAE
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sexta-feira, 20 de março de 2009

Visita do Câmara à Câmara

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Conselho de Altos Estudos da Câmara recebe diretor do INPE

20/03/2009

Em Brasília, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Gilberto Câmara, falou sobre o programa de satélites CBERS e o monitoramento de clima e meio ambiente durante reunião do Conselho de Altos Estudos da Câmara, na última quarta-feira (18/3). Os parlamentares mostraram-se interessados na atuação do INPE frente às mudanças climáticas, especialmente na adaptação e prevenção dos efeitos de desastres naturais.

O assunto está na pauta da Câmara desde a tragédia provocada pelas enchentes em Santa Catarina em novembro do ano passado, o que motivou, inclusive, a criação de uma comissão externa de deputados. O diretor do INPE sugeriu a realização de outra reunião para que possa apresentar os estudos e conclusões do Instituto em relação às questões climáticas, especialmente o relatório que está sendo elaborado sobre as enchentes em Santa Catarina.

Gilberto Câmara destacou que, especificamente sobre esse desastre, o INPE fez a previsão, na quinta-feira anterior ao final de semana das chuvas, de que cairia uma quantidade de água acima do normal. “Mas não conseguimos prever o volume correto. Previmos que poderia chover 150 milímetros nos três dias, mas choveu 450”, informou.

O diretor do INPE pediu ajuda aos deputados para recuperar R$ 45 milhões do orçamento de 2009 previstos para o instituto e que foram cortados pelo governo federal. Os recursos destinam-se à construção dos satélites CBERS 3 e 4. Ele também agradeceu o apoio no repasse de R$ 120 milhões para a compra de um novo supercomputador, que aumentará em 50 vezes a capacidade de previsão climática do INPE.

Segundo Câmara, com esse supercomputador teria sido possível prever corretamente o volume de chuvas que atingiu Santa Catarina em novembro de 2008, e a Defesa Civil poderia ter tomado providências para evitar grande parte das mortes e dos prejuízos que atingiram o estado.

Imagens de satélite

Além das questões climáticas, o monitoramento do INPE é utilizado no controle do desmatamento na Amazônia e em estudos sobre a produção agrícola. Por ser o Brasil um país continental, o monitoramento por satélite é a única forma viável de controle do território e de aspectos ambientais, como o desmatamento.

Com os primeiros satélites da série CBERS, produzidos em parceria com a China, o INPE já distribuiu mais de 500 mil imagens do território nacional desde 2004, 50% delas para empresas e 25% para universidades e centros de pesquisa. As imagens são distribuídas gratuitamente, pela internet, também para os demais órgãos de governo. Segundo Gilberto Câmara, Argentina, México e Indonésia têm interesse no sistema de monitoramento brasileiro, o único no mundo especializado em florestas tropicais.

Com custo de produção de 150 milhões de dólares – o Brasil paga a metade do valor, enquanto a China assume os outros 50% -, cada satélite tem vida útil de quatro anos. Apesar do preço aparentemente alto, a fabricação dos satélites gera empregos de alto nível no Brasil. Segundo o diretor do INPE, a instituição fechou contratos de R$ 320 milhões com empresas brasileiras para a construção dos equipamentos.

(Com informações e fotos da Agência Câmara)

Fonte: INPE
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Seminário sobre satélites: SGB

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Não houve repercussão na imprensa sobre o seminário "Satélites impulsionando o Desenvolvimento do País", organizado pela Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) e a Associação Brasileira de Telecomunicações (Telecom), no Rio de Janeiro, no último dia 13. O foco era comunicação via satélite, seja privada, seja governamental. O projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB), como de praxe, foi objeto de discussões.

Além do press release divulgado pela Agência Espacial Brasileira (cliquem aqui), a ACRJ (aqui) e a Telecom (aqui) divulgaram notas sobre o seminário. Vejam alguns trechos abaixo:

ACRJ:

"O Brasil não possui um satélite próprio com fins militares, apenas satélites comerciais. Hoje, o país tem nove satélites de operadoras instaladas no país e 31 posições orbitais ocupadas por empresas estrangeiras. Dentro de dois anos, o governo brasileiro deverá ter o primeiro de três satélites geoestacionários que deverão ser lançados ao espaço até 2013. O presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos Ganem, alertou para o risco de o país não ter o primeiro satélite geoestacionário pronto em 2010. "Para garantir a ocupação das três posições orbitais a que tem direito, o Brasil poderá recorrer ao aluguel de um satélite estrangeiro ou a parceria com outros países".

Ganem se queixou das dificuldades enfrentadas pela Agência para o desenvolvimento do Programa Nacional de Atividades Espaciais, entre eles, o corte no orçamento da AEB e os problemas com comunidades quilombolas no Centro Espacial de Alcântara (MA), que limitaram a área destinada ao lançamento de foguetes para transportar satélites até a órbita."


Telecom:

“Se o Brasil não enviar os satélites ao espaço até 2013 correrá o risco de perder importantes posições orbitais de interesse da Pátria. Com isso, teria que utilizar satélites estrangeiros, caracterizando uma dependência externa para sua soberania e defesa.

[...]

No final do encontro, será produzido um documento com propostas a serem encaminhadas ao ministro das Comunicações Hélio Costa e ao Grupo de Trabalho nomeado através da Portaria do MCT nº 91, de 10 de setembro de 2008, que visa dar continuidade ao processo de implementação do Projeto Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB), constante do Programa Nacional de Atividades Espaciais.”


As informações que chegam sobre o SGB são desencontradas. Há quem afirme que o projeto é considerado como uma das prioridades da atual gestão da AEB (o blog soube que haveria inclusive discussões em andamento com o BNDES para a obtenção de recursos ao projeto). Do outro lado, pessoas também envolvidas com o Programa Espacial dizem que a AEB já se convenceu de que o projeto não será lançado em curto ou médio prazo. As conversas de bastidores, no entanto, continuam. “Há ainda muito jogo político”, afirmou ao blog uma pessoa bastante familiarizada com o assunto.
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quinta-feira, 19 de março de 2009

Interferência em satélites militares americanos

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PF COMBATE USO CLANDESTINO DE SATÉLITES MILITARES AMERICANOS

18/03/2009

BELO HORIZONTE /MG - A Polícia Federal deflagra nesta quarta-feira, dia 18 de março, a operação “Satélite” que visa interromper o uso ilícito de satélites militares americanos para comunicação a partir de pontos do território nacional.

A investigação contou com a participação da ANATEL que ratificou as coordenadas geográficas dos pontos indicados pelo Departamento de Defesa Americana, controlador dos satélites FLEETSAT-8 e UFO. O sistema utilizado é resultado da fabricação caseira de transceptores e antenas que trabalham na freqüência e direção dos indigitados Satélites.

Ao todo serão cumpridos 20 mandados de busca e apreensão nas cidades abaixo relacionadas que foram expedidos pela 2ª Vara Federal de Florianópolis/SC.

Os infratores identificados responderão pelo crime inscrito no artigo 183 da Lei 9472/97, a Lei Geral das Telecomunicações, e estarão sujeitos às penas que variam de 02 a 04 anos de detenção e multa.

Relação de cidades onde há cumprimento de mandados:

Minas Gerais: Caratinga (06), Uberlândia (1), Governador Valadares (2) e Ubaporanga (1)
Goiás: Goiânia (3)
Mato Grosso: Barra do Garça (1)
Tocantins: Palmas (1) e Araguaina (2)
Mato Grosso do Sul: Campo Grande (2)
Santa Catarina: São José (1)

Comentários: pelo que foi comentado na imprensa, ao que tudo indica os criminosos entravam na frequência usada pelos satélites americanos para interferir na comunicação. Não houve acesso ao conteúdo das mensagens, pois a comunicação era criptografada. Interessante observar a aparente vulnerabilidade do sistema de comunicação militar em questão. Embora os dados não tenham sido violados, o propósito do sistema (comunicação) foi prejudicado.
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terça-feira, 17 de março de 2009

"Alcântara: Um programa bloqueado"

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Alcântara: Um programa bloqueado, artigo de Roberto Amaral

“Em um ano e dois meses de obras paralisadas, já jogamos pelo ralo cerca de R$ 37 milhões, sendo 60% com a implantação do sítio de lançamento, e o restante com despesas operacionais”

Roberto Amaral foi ministro da Ciência e Tecnologia e é diretor-geral da Alcântara Cyclone Space. Artigo publicado em “O Globo”:

A Alcântara Cyclone Space (ACS) resulta de tratado firmado entre o Brasil e a Ucrânia. Seu objetivo é integrar-nos no disputado clube dos países que dominam o espaço aéreo, mediante a construção de base de lançamentos, e a operação de foguetes ucranianos.

Nossos trabalhos, porém, estão bloqueados, desde fevereiro de 2008, por pessoas que se dizem quilombolas, cujos direitos, gritam seus representantes, estariam sendo violados. Esses direitos não são explicitados, mas podemos destacar pelo menos um, exatamente aquele que ninguém menciona: o direito de falar e ouvir. Até esta data, não nos foi possível conversar com os quilombolas, nem aqui, nem ali, nem acolá, pois intermediários de todo jaez se interpõem e falam por aqueles brasileiros.

Na verdade, esses “líderes” não estão interessados nos quilombolas, pois exibi-los no “parque antropológico” de que nos fala o mestre Hélio Jaguaribe é um verdadeiro crime contra a cidadania. O que essa gente quer, mesmo, é impedir o desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro.

Por isso se omite das comunidades que não pretendemos instalarmo-nos em área dita quilombola. Como já afirmado, até em autos de ação judicial e em notificação do Ministério Público Federal, nossa base estará localizada no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), área militar, pertencente ao Comando da Aeronáutica desde 1983, e que não é reivindicada por ninguém.

Ocorre que “se instalar no atual CLA” se traduz também por fazer obras e, para fazer obras, o Ibama, brandindo leis, nos exige pesquisas e coletas de material (solo, fauna e flora) em terras hoje reivindicadas pelos quilombolas. É essa pesquisa que está sendo impedida. Se ela não é feita, não obtemos a Licença do Ibama, se não temos a Licença, não podemos construir.

Como explicar tudo isso aos nossos sócios ucranianos? Essa pesquisa não agride um só direito, de quem quer que seja; o único agente coagido é a ACS, impedida de cumprir a lei.

Queremos, simplesmente, explicar tudo isso aos quilombolas e reiterar nossa decisão de respeitar sua cultura e seus direitos. Mas queremos conversar diretamente com as comunidades, as quais, afirmamos, estão sendo manipuladas, isto é, dispensamos intermediários. O MPF do Maranhão diz que precisamos dialogar com os quilombolas.

Quando procuramos os quilombolas, esses nos dizem que só conversam com autorização do MPF. No meio, seus “protetores”, entidades de vida pouco conhecida, agentes de Estado cumprindo o papel de militantes sociais. Nosso projeto, que tem data para lançar o primeiro foguete (2010), depende do humor da burocracia de 11 ministérios!

É assim que neste país se trata um projeto de Estado fundamental para a nação de hoje e de amanhã. Depois, os ingênuos e os muito sabidos perguntarão por que em 20 anos fomos sucessivamente superados pela Coreia do Sul, pelo Japão, pela China e, agora, pasme o leitor, pelo Irã e pela Coreia do Norte.

Além do atraso tecnológico, há o prejuízo financeiro, pago pelo distinto público. Em um ano e dois meses de obras paralisadas, já jogamos pelo ralo cerca de R$ 37 milhões, sendo 60% com a implantação do sítio de lançamento, e o restante com despesas operacionais.

Cada ano que perdemos de operação corresponde a uma perda de faturamento de US$ 300 milhões. De quem cobrar tanto desserviço ao país?

Fonte: JC E-mail, 17/03/2009.
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sábado, 14 de março de 2009

Optovac: de imageador termal a sensor de estrelas

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Ainda que com muitas dificuldades, várias indústrias brasileiras de pequeno porte atuantes nos setores de alta-tecnologia têm desenvolvido com sucesso projetos inovadores em áreas consideradas estratégicas. Esse é o caso, por exemplo, da Optovac, pequena indústria do setor de optoeletrônica com sede em Osasco, na região metropolitana de São Paulo.

A Optovac desenvolveu uma câmera de imageamento termal, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que destinou ao projeto R$ 2,5 milhões por meio do Programa de Subvenção Econômica à Inovação. Essa tecnologia foi abordada em matéria publicada (para lê-la, clique aqui) na edição de março de 2007 da revista Pesquisa FAPESP. No final de dezembro de 2008, disponibilizamos no web-site da revista Tecnologia & Defesa uma pequena notícia com os vídeos da câmera termal: "Vídeos da primeira câmera de imagem termal desenvolvida no Brasil".

A matéria da revista da FAPESP também menciona o projeto de sensor de estrelas desenvolvido pela Optovac, qualificado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Leiam o parágrafo abaixo:

"Sensor de estrelas - Criada em 1986, a Optovac iniciou sua atuação criando válvulas para alto-vácuo e controle de fluxo para hexafluoreto de urânio utilizadas no desenvolvimento do ciclo do combustível nuclear brasileiro. Em seguida, passou a projetar e construir equipamentos especiais para universidades e centros de pesquisa. Mais recentemente desenvolveu e produziu kits para ensino de ciência em escolas de nível médio e fabricou telescópios para astrônomos amadores. No ano passado, a empresa foi qualificada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para desenvolver e fabricar uma lente objetiva com nove elementos de vidro óptico de alta qualidade e resistentes à radiação cósmica para ser utilizada em sensores de estrelas para satélites. Esses sensores são equipamentos que, apontados para as estrelas, permitem que os computadores dos satélites definam com exatidão a posição em que ele – o satélite – se encontra no espaço."

A Optovac participou, em consórcio com a Equatorial Sistemas, de São José dos Campos (SP), da concorrência do INPE para o fornecimento do imageador AWFI (Advanced Wide Field Imaging) para o satélite brasileiro Amazônia 1. A concorrência foi, porém, conquistada pela Optoetrônica, de São Carlos (SP).
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Satélites de telecomunicações no Brasil

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Presidente da AEB faz pronunciamento sobre o uso de satélites em evento no Rio de Janeiro

13/03/2009 17:59:50

O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem, participou, hoje, pela manhã, no Rio de Janeiro, do seminário: Satélites Impulsionando o Desenvolvimento do País.

O evento promovido pela Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) em parceria com a Associação Brasileira de Telecomunicações (Telecom) teve como objetivo fornecer subsídios atualizados sobre a situação atual e sobre o futuro das comunicações via satélite no Brasil, discutir os avanços das comunicações no Brasil e no mundo, motivar estudos e reflexões sobre a realidade e planos de países latino-americanos na área de satélites e estimular novos projetos nessa área.

Estiveram presentes representantes das Agências Reguladoras, do Ministério da Defesa, do Ministério da Educação, do Ministério das Comunicações, das TVs por assinatura e de outros segmentos. O presidente da Agência Espacial Brasileira falou sobre o Programa Espacial Brasileiro (PNAE): Situação Atual e Cenário Futuro.

Os Satélites e o Brasil

Vale lembrar que os negócios na área de comunicações via satélite estão em alta no mercado brasileiro. O País possui aproximadamente 34 satélites geoestacionários cobrindo o território brasileiro, em sua maioria, ocupados com a demanda do mercado.

O estado do Rio de Janeiro, onde aconteceu o evento, foi o pioneiro no uso de comunicações via satélite. Foi numa estação terrena instalada em Jacarepaguá, que o Brasil, em 1962, teve a primeira experiência com essa tecnologia, por meio de comunicação telefônica intercontinental através de satélites. Tratou-se à época de um programa experimental e pioneiro da Agência Espacial Norte-Americana (NASA), com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e uso do satélite Relay, lançado de Cabo Canaveral, na Flórida (USA).

Em 1969, foi ativada a primeira estação terrena para exploração comercial de serviços de comunicação via satélite, na cidade de Tanguá (RJ). Desde então, muita coisa mudou no que se refere a tecnologia espacial no Brasil.

Atualmente, as principais operadoras de satélites são a Eutelsat, Hispamar, Intelsat/Panamsat, Star One, Telesat e os maiores usuários dos serviços são a Rede Globo de Televisão, a Globosat e a Petrobrás.

No dia 11 de setembro de 2008 a portaria nº 91 do Ministério da Ciência e Tecnologia nomeou um grupo de trabalho (GT) para dar continuidade ao processo de implementação do Projeto Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB) que consta do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE).

Caberá ao grupo realizar um estudo de viabilidade do Projeto SGB.

Fonte: AEB
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quinta-feira, 12 de março de 2009

Contrato do ACDH: alguns pontos interessantes

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Conforme prometido já há algumas semanas, seguem abaixo alguns dos principais e mais interessantes pontos do contrato de compra do subsistema de controle de atitude e órbita (ACDH, sigla em inglês) da indústria argentina INVAP pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), para uso no satélite de observação terrestre Amazônia-1, baseado na Plataforma Multimissão (PMM).

Preço

Alguns trechos das razões pela opção pelo subsistema argentino:

"3. De fato, o INPE realizou, no segundo semestre de 2006, um processo de RFI (Request for Information - Solicitação de Informações) para avaliar a capacidade do mercado nacional para o fornecimento de um Subsistema de ACDH compatível com a PMM. Foram admitidas a formação de consórcio de empresas e a participação internacional.

[...]

5. Objetivou-se fazer um estudo prospectivo de mercado bem como avaliar a capacidade da indústria nacional em estabelecer parcerias externas com ganho de conhecimento tecnológico. Observou-se participação minoritária das empresas nacionais, com as atividades estratégicas sendo executadas por empresas externas.

6. Como resultado do processo de RFI, cinco consórcios apresentaram seus retornos ao pedido de informações, com propostas de fornecimento. Foi solicitada reserva com relação ao conteúdo, pela própria natureza do objeto, com concordância por parte do INPE. A documentação entregue foi, dessa forma, convenientemente arquivada de forma a garantir a confidencialidade e está mantida sob guarda do INPE.

7. Os valores apresentados nas diferentes propostas foram:

Proposta # 1: Preço: US$ 38 milhões
Proposta # 2: Preço: US$ 28 milhões
Proposta # 3: Preço: US$ 26 milhões
Proposta # 4 Preço: US$ 32 milhões
Proposta # 5: Preço: US$ 22 milhões"


A proposta apresentada pela INVAP no final do ano passado, de US$ 19,8 milhões foi inferior ao valor de todas as propostas de 2006.

Motivação

Abaixo, síntese das motivações do INPE para a contratação da proposta argentina:

"Esse subsistema de controle de atitude e supervisão de bordo corresponde ao grande desafio tecnológico do programa de satélites hoje. O sistema de controle do satélite sino-brasileiro de recursos terrestres (CBERS - China Brazil Earth Resources Satellite) trabalha com uma filosofia de separação do ACDH em dois subsistemas distintos (AOCS + OBDH) e é de inteira responsabilidade da China. O sistema de controle dos satélites brasileiros SCD-1 e SCD-2 é um sistema passivo, baseado em estabilização por rotação (spin) e amortecimento de perturbações. Um sistema estabilizado em três eixos (que é usado, por exemplo, em satélites para imageamento da Terra) nunca foi desenvolvido no país."

Transferência de tecnologia

O contrato prevê a recepção nas dependências da INVAP de até 6 engenheiros do INPE durante toda a vigência do contrato, acesso ao desenvolvimento e validação de software e hardware de voo, aos algoritmos e códigos fonte do software, e a toda a documentação técnica envolvida.

Cronograma Físico-Financeiro

Teoricamente, o contrato assinado entre o INPE e a INVAP terá o prazo de cumprimento máximo de 43 meses. Observem a tabela abaixo, que detalha os eventos e prazos:


Com o prazo de execução de 43 meses, e considerando que as atividades contratadas tenham sido iniciadas já em janeiro de 2009, a aceitação final do subsistema ACDH já integrado ao satélite Amazônia-1 ocorreria apenas no segundo semestre de 2012. Uma fonte de dentro do INPE ouvida pelo blog disse, no entanto, que o Instituto considera a data do lançamento em 2011. Essa data seria “imexível”, afirma a fonte.

Em entrevista concedida ao blog (leia aqui), Gilberto Câmara afirmou que o adiantamento da execução das fases do contrato do ACDH dependerá de recursos orçamentários.

Justificativa para a dispensa de licitação

Em dezembro de 2008, dias antes da contratação da INVAP, foi assinado entra a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Comision Nacional de Actividades Espaciales (CONAE), da Argentina, um acordo de cooperação entre os dois para "Desenvolvimento de Atividades Conjuntas nas Áreas de Controle de Atitude e Órbita, Câmaras de Imageamento de Varredura Larga, e Processamento de Dados de Sensores Orbitais", com base no "Acordo-Quadro sobre Cooperação em Aplicações Pacíficas de Ciência e Tecnologia Espaciais", celebrado entre os dois países em 9 de abril de 1996. Esse acordo, específico, respaldou a contratação da empresa argentina pelo INPE, com dispensa de licitação. O referido acordo tem como escopo principal:

"ARTIGO 1º - CONAE e AEB concordam em realizar um programa de cooperação para desenvolver tecnologias espaciais para os seguintes subsistemas e instrumentos críticos para a missão conjunta SABIA-MAR e para a missão brasileira de interesse mútuo Amazônia-1, com possível adaptação para as missões brasileiras Lattes-1, MAPSAR e GPM-Br:

a) Tecnologia de sistemas de controle de atitude e órbita, em consonância com as especificações próprias às missões SABIA-MAR e Amazônia-1, a ser acordado entre as Partes ou seus representantes designados antes dos 90 dias a partir da segunda assinatura do presente acordo.

b) Tecnologia de câmaras (sic) ópticas, de acordo com as especificações definidas para as missões SABIA-MAR e Amazônia-1, a ser acordado entre as Partes ou seus representantes designados antes dos 120 dias a partir da segunda assinatura do presente acordo.

c) Tecnologia de estações de recepção, ingestão, e produção de imagens, de acordo com as especificações das missões SABIA-MAR e Amazônia-1, a ser acordado entre as Partes ou seus representantes designados antes dos 120 dias a partir da segunda assinatura do presente acordo.”


Basicamente, da leitura e interpretação do acordo subsume-se que o Brasil contribuirá com tecnologia em sensores óticos (INPE) e de recepção, ingestão e produção de imagens. Ao lado argentino, caberiam também sensores óticos, e o subsistema de controle de atitude e órbita.

O acordo tem ainda um dispositivo interessante. Caso a CONAE ou INPE necessite adquirir sistemas, equipamentos ou serviços que não possam ser fornecidos por seus países de origem, concedem ao país parceiro o direito prioritário para o fornecimento dos referidos elementos.
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terça-feira, 10 de março de 2009

Tecnologia & Defesa n° 116

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A edição n° 116 da revista Tecnologia & Defesa começou a circular há duas semanas. Não há nesse número nenhuma matéria específica sobre Espaço, mas o assunto é abordado em três momentos. Numa entrevista com Laurent Mourre, diretor-geral da Thales International no Brasil, na qual, entre outros temas, abordamos a presença do grupo no País, e também suas perspectivas na área espacial. A Thales, por meio de sua controlada brasileira Omnisys, já participa do programa CBERS, mas pretende ampliar sua participação no Programa Espacial, em projetos como o da Plataforma Multimissão (PMM) e do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB). O grupo também já vendeu dois satélites de comunicações para a Star One, subsidiária da Embratel, e está negociando mais um, o Star One C3.

Na matéria "Acordos entre Brasil e França tomam forma", de minha autoria, abordei brevemente algumas das perspectivas de futuros negócios entre os governos e empresas do Brasil e da França, inclusive em tecnologia espacial. É o caso do SGB.

Por último, em minha coluna "Defesa & Negócios" há uma nota sobre o satélite Amazônia 1, e a compra do subsistema de controle de atitude e órbita da INVAP, da Argentina, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Em parte da nota, escrevi: "No final de 2007, o INPE já havia adotado prática similar a do ACDH em relação a componentes para os satélites sino-brasileiros de recursos terrestres CBERS 3 e 4, que poderiam ter sido licitados junto à indústria nacional. Os componentes, avaliados em mais de 23 milhões de reais foram adquiridos sem licitação na China. Representantes da indústria nacional até tentaram interferir no processo, sem sucesso."

Ainda esse ano, teremos muitas novidades sobre Espaço na Tecnologia & Defesa. Aguardem.
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domingo, 8 de março de 2009

INPE devolve peça de lançador Atlas

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INPE devolve peça de veículo lançador norte americano

04/03/2009

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) realiza amanhã, 5 de março, às 14h, a cerimônia de devolução ao governo americano da peça componente do veículo lançador norteamericano Atlas, encontrada no dia 25 de março de 2008 em uma fazenda na cidade de Montividiu, no Estado de Goiás. A restituição da peça atende ao Artigo 5 do Acordo Internacional sobre Resgate de Astronautas, Retorno de Astronautas e Retorno de Objetos Lançados ao Espaço Exterior, em vigor desde 03/12/1968, e à Nota Diplomática nº 383, de 25/08/2008.

Depois de examinado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que constatou não haver nenhuma carga radioativa, o artefato foi enviado para o Laboratório Associado de Combustão e Propulsão (LCP) do INPE, em Cachoeira Paulista (SP).

A análise técnica revelou que o objeto é um tanque de nitrogênio de alta pressão utilizado em sistemas auxiliares de propulsão líquida, comum em foguetes e satélites. Em uma de suas extremidades havia um dispositivo com características de um aquecedor, utilizado neste tipo de tanque para compensar a diminuição da pressão interna que ocorre na medida em que o nitrogênio é consumido.

Com formato esférico, o objeto estava envolto em fibras de carbono. Segundo os técnicos, esta cobertura de fibra de carbono estava se descolando, sob a forma de pó, porque foi afetada na reentrada do objeto na atmosfera. Foram realizados testes de níveis de concentração de substâncias tóxicas ou inflamáveis, como hidrazina, monometil-hidrazina, dimetil-hidrazina assimétrica, entre outras, todos com resultados negativos. Apenas nitrogênio foi observado em maior concentração.

O tanque ficou sob responsabilidade do INPE, órgão ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, aguardando sua eventual entrega ao seu proprietário, segundo as convenções internacionais das quais o Brasil é signatário.

Fonte: INPE
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quinta-feira, 5 de março de 2009

Torre do VLS em Alcântara

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IAE assina termo aditivo ao contrato da obra de construção da plataforma de lançamento do VLS em Alcântara

04/03/2009

No dia 26 de fevereiro foi assinado, entre o Instituto de Aeronáutica e Espaço e o consórcio Jaraguá /Lavitta o termo aditivo ao contrato da obra de construção do novo sistema plataforma de lançamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS). Estiveram presentes no evento de assinatura, o sub-diretor de funções do CTA, brigadeiro Pazini, o diretor do IAE, coronel Pantoja, o co-presidente da Jaraguá Cristian Jaty e o diretor-presidente da Jaraguá Nazareno das Neves, além de oficiais e engenheiros envolvidos no projeto. Cristian declarou que o resultado deste trabalho trará visibilidade à Jaraguá e será gerador de futuros negócios com a Aeronáutica. O engenheiro Nazareno também se pronunciou dizendo que este é o resultado de um caminho de quatro anos, já que este processo começou em 2005 e que acima de tudo é uma oportunidade de participar do desenvolvimento do projeto VLS. Ressaltou ainda, que o grupo de trabalho alocado para este projeto se manteve atuando de diferentes formas e que agora irá contar com a sinergia da engenharia do IAE.

Durante a solenidade de aniversário do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), ocorrida nesta segunda-feira, 2 de março, o major brigadeiro Salamone, comandante do CTA, comunicou oficialmente à sociedade de Alcântara a assinatura deste aditivo ao contrato e ressaltou a importância do início das obras da torre de lançamento do VLS. No evento, autoridades locais e imprensa puderam conhecer detalhes do novo projeto. O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), professor Carlos Ganem, esteve presente no evento e foi convidado pelo comandante do CTA a falar ao público presente.

Em sua declaração, Ganem declarou que a capacidade de lançar satélites, entre importantes benefícios à região, permitirá ao país fornecer informações adequadas sobre o clima, beneficiando o agronegócio brasileiro e favorecendo um maior controle sobre as comunicações no país, além de reduzir a dependência do setor

Fonte: IAE/CTA

Comentário: curiosamente, a nota não informa qual é a natureza do aditivo assinado com o consórcio Jaraguá / Lavitta.
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quarta-feira, 4 de março de 2009

ACS: aumento do capital social

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Foi publicado na edição de hoje (4) do Diário Oficial da União um decreto federal determinando o aumento do capital social da binacional ucraniano-brasileira Alcântara Cyclone Space (ACS), em 100 milhões de reais. Desse montante, 50 milhões de reais serão aumentados mediante crédito aberto em favor do Ministério da Ciência e Tecnologia, e o restante através de transferência intergovernamental realizada pelo governo da Ucrânia.

Aos poucos, o projeto da binacional vai avançando. Segundo uma fonte ouvida pelo blog, a ACS também discute com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiamento ao projeto. Publicamente, a empresa afirma pretender lançar o primeiro foguete Cyclone 4, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, até o final de 2010.

Para ler o decreto na íntegra, clique aqui.
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Cooperação em meteorologia

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AEB e ANA assinam acordo de cooperação técnica

04/03/2009 17:11:26

A Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Agência Nacional de Águas (ANA) assinaram, ontem, acordo de cooperação técnica com objetivo de juntar esforços para o desenvolvimento de atividades de suporte a medidas de precipitação efetuadas por satélites ambientais.

O Programa de Medida Global da Precipitação (Global Precipitation Measurement) - GPM é uma iniciativa conjunta da NASA e da agência espacial japonesa (JAXA), visando estabelecer e operar uma constelação de aproximadamente 30 satélites que, em seu conjunto, poderá oferecer medidas dos diversos tipos de precipitação no planeta, com um alto grau de resolução temporal.

O monitoramento da precipitação em alta resolução espacial e temporal é requisitos básicos para a mitigação de desastres naturais e ao desenvolvimento do país nas áreas de agricultura, energia, recursos hídricos.

As informações obtidas permitirão melhorias significativas no gerenciamento de recursos hídricos, no planejamento das atividades do agronegócio, nos alertas de tempestades severas, inundações e riscos de deslizamento, nas previsões do tempo, no entendimento do ciclo hidrológico regional e global e nas análises de mudanças climáticas globais.

Desta forma os resultados obtidos contribuirão significativamente para a melhoria e sucesso de quaisquer projetos ou iniciativas no âmbito das áreas beneficiadas pelo GPM, assim como os projetos voltados ao entendimento das mudanças climáticas.

O conhecimento da distribuição da precipitação é ferramenta básica para o correto gerenciamento dos recursos hídricos, do planejamento das atividades do agronegócio e para a segurança da população diante de eventos extremos de precipitação com perdas materiais e de vidas humanas.

A informação fornecida por satélites é, atualmente, imprescindível, quer para a previsão meteorológica, quer para estudos climatológicos. Assim, como consta no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), o segmento de meteorologia por satélites deve ser uma das aplicações privilegiadas.

A Comissão de Coordenação do Programa estabeleceu, mais recentemente, como uma das atividades prioritárias do GPM-Br a implantação de uma Rede Nacional de Validação de Dados GPM no Brasil, que oportunamente, será utilizada para distribuição de dados GPM.

Para implantação dessa rede será necessário contar com a cooperação de instituições interessadas em participar do Programa GPM, tais como, universidades e instituições que atuem na área de meteorologia, com as quais pretende-se estabelecer Acordo de Cooperação Técnica, tendo em vista a conjugação de esforços para desenvolvimento de atividades de suporte à medidas de precipitação efetuadas por satélites ambientais e, futuramente, ao processamento destas informações.

Inicialmente, foram contatadas oito instituições: Agência Nacional de Águas (ANA); Instituto Tecnológico Simepar; Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme); Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet); Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa); Instituto Astronômico e Geofísico/Universidade de São Paulo (IAG/USP); Universidade do Estado de São Paulo (USP) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Fonte: AEB

Comentário: o envolvimento do Brasil no Programa GPM deverá no futuro resultar na construção de um satélite dedicado, baseado na Plataforma Multimissão (PMM) desenvolvida pelo INPE, em conjunto com a indústria espacial nacional.
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Rastreio da Operação Ariane V187

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CLBI atua no rastreio da Operação Ariane V187

25/02/2009 - 17h41

O Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, unidade sediada em Natal/RN, iniciou suas atividades de 2009 com o rastreio do foguete Ariane V187, que foi lançado da Guiana Francesa, com satélites geoestacionários.

O CLBI atuou durante aproximadamente sete minutos, na parte que lhe coube dos 47 minutos de lançamento.

Devido à curvatura da Terra, é necessário que o foguete seja rastreado por diferentes bases pelo mundo. O foguete atravessou o continente sul americano, o oceano Atlântico e o continente africano, terminando sua missão ao colocar em órbita satélites geoestacionários.

A estação em terras brasileiras é gerenciada pelo CLBI, que há 32 anos assegura o rastreio do foguete Ariane, com seus registros precisos tornando permanente a presença do Brasil neste seleto clube do domínio espacial.

Satélites passageiros do V187 - HOTBIRD 10, é um satélite geoestacionário, dedicado aos serviços de telecomunicações, televisão de alta definição . Zona de cobertura é Europa, norte da África e Oriente Médio.

Outras informações:

Massa no lançamento : 4900 kg
Vida média: 15 anos.
NSS-9, é um satélite geoestacionário, dedicado aos serviços de telecomunicações.
Zona de cobertura: Austrália, Indonésia, Filipinas Japão, China, Coréia e ilhas do Pacífico, Estados Unidos, Havaí e Polinésia.
Massa no lançamento: 2240 kg
Vida média: 15 anos.

Fonte: CLBI
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terça-feira, 3 de março de 2009

"O ACDH já era..."

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Hoje (3), teve início na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o "Seminário de Interesse Econômico para Indústria de Defesa Brasil - França", evento que tem o envolvimento da Rafale International, um consórcio de três empresas francesas lideradas pela Dassault Aviation que disputa no Brasil uma concorrência para o fornecimento de aviões de combate para a Força Aérea, dentro do chamado Programa F-X2. Até aí, nada diretamente relacionado à indústria espacial (embora seja um fato: a linha que separa os setores espacial e de defesa é bastante tênue, tanto é que cubro na revista Tecnologia & Defesa as duas áreas).

Nesses eventos, porém, é sempre comum encontrar gente também envolvida com Espaço. No seminário de hoje, náo havia muita gente da área, mas encontrei e conversei rapidamente com uma pessoa fortemente ligada à indústria espacial brasileira. Não perdi e tempo e fui direto ao tema que, nas últimas semanas, tomou boa parte do meu tempo. Perguntei: "E o ACDH? (referia-me ao sistema de controle e atitude em órbita, já abordado aqui, talvez até em excesso, em várias postagens)" A pessoa respondeu: "O ACDH já era... Tá na Argentina..." Mais direito e objetivo, impossível.

Não querendo adotar nenhuma posição, mas parece que a turma que reclama, mas na "hora do vamos ver" fica, com todo o respeito, "quietinha", já se conformou.

Farei ao menos mais uma postagem a respeito do ACDH argentino: revelações e comentários sobre o contrato assinado com a INVAP. Em breve.
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domingo, 1 de março de 2009

Entrevista com Gilberto Câmara – Parte II

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Começamos o mês de março com a segunda parte da entrevista com o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Gilberto Câmara. A segunda parte é mais extensa e densa, mas revela informações interessantes sobre projetos e possibilidades na área de satélites. Para acessar a primeira parte da entrevista, clique aqui.

Compra de ACDH argentino

O blog questionou Gilberto Câmara sobre aquele que é considerado um dos mais polêmicos negócios do setor espacial brasileiro nos últimos anos: a compra do projeto de subsistema de atitude e controle de órbita (ACDH, sigla em inglês) da indústria argentina INVAP, para a Plataforma Multimissão (PMM). Câmara logo esclareceu que não existe complicação na aquisição. Segundo ele, várias concorrências já haviam sido realizadas visando a aquisição do subsistema, todas mal sucedidas, com complicações na justiça, entre outras razões.

De acordo com o diretor do INPE, a indústria espacial brasileira se caracterizou pela especialização em diferentes áreas – câmeras, estruturas, etc. No entanto, não haveria hoje no País indústria capaz de desenvolver a tecnologia de ACDH, o que decorreria, segundo explicou, “de falha na formação da mão-de-obra aeroespacial brasileira”, focada no ensino de desenvolvimento de hardware, e não software.

Na opinião de Gilberto Câmara, se o INPE tivesse optado por contratar uma empresa brasileira consorciada com alguma companhia estrangeira, como era a realidade de todos os consórcios participantes da concorrência nacional cancelada no ano passado, a companhia estrangeira integrante do consórcio acabaria por ter uma participação maior no projeto, dada a falta de conhecimento da indústria nacional sobre a tecnologia. A participação nacional seria reduzida, com geração de menos empregos. A transferência de tecnologia seria também mais demorada, afirmou. “Iríamos receber uma caixa-preta, agora receberemos uma caixa-branca”, argumentou. “A INVAP fornecerá o código-fonte”, complementou Câmara.

Gilberto reconheceu que a compra do ACDH argentino era o “Plano B” do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. A proposta do país vizinho foi apresentada por representantes da INVAP que foram a São José dos Campos (SP) especialmente com esse propósito. O INPE não buscou a proposta argentina, foi convencido de que era a melhor alternativa diante dos problemas que ocorriam com a concorrência nacional (nota do blog: recurso judicial de um dos consórcios participantes, a Aeroeletrônica e a italiana Carlo Gavazzi Space). “A melhor solução foi a da INVAP.” “A PMM não pode virar um projeto sem fim”, alegou. Poderia ainda comprar um ACDH da China, mas isso não foi seriamente considerado, afirmou.

Dando continuidade ao assunto, o blog argumentou sobre o longo prazo de entrega do subsistema argentino (43 meses), o que viabilizaria o lançamento do satélite Amazônia-1, o primeiro que utilizará a PMM apenas para o final de 2012 ou início de 2013, considerando-se que não ocorram atrasos no cronograma contratado. Câmara afirmou que o prazo de entrega do ACDH da INVAP poderá ser reduzido, a depender da liberação de recursos orçamentários. A razão do prazo contratado de 43 meses foi meramente por razões orçamentárias, explicou.

Ao abordarmos a questão do desconforto da indústria espacial brasileira com a contratação de solução estrangeira, tratada por alguns industriais como um “golpe” ao setor nacional, Câmara categoricamente afirmou: “não houve golpe”. Ressaltou que a indústria nacional tem cerca de 400 milhões de reais em contratos, e que é natural que reclamações e desconfortos surjam. Fez questão de frisar que o INPE espera que a INVAP subcontrate indústrias brasileiras para o projeto, embora não exista essa previsão no contrato assinado (nota do blog: tivemos acesso ao contrato. Em breve, divulgaremos mais detalhes sobre o seu conteúdo).

Um ponto levantado pelo blog foi a possibilidade de subcontratação pela indústria argentina de determinada empresa brasileira que está com dificuldades técnicas para a entrega de um dos subsistemas da PMM (nota do blog: preferimos omitir o nome da empresa para preservá-la). Câmara esclareceu que não vê isso como um grande risco, uma vez que a contratada é a INVAP, de tal modo que a empresa não se comprometeria subcontratando outras empresas com problemas. Câmara também afirmou haver no INPE conforto quanto à maturidade tecnológica da solução argentina.

Quanto ao preço do ACDH argentino – 47,5 milhões de reais, Câmara informou que este foi determinado pelo INPE, que apresentou à INVAP o valor que poderia pagar. Perguntado sobre a hipótese de no futuro ter que se aditar o contrato por insuficiência de recursos, Câmara respondeu que por entendimento legal do governo federal, não se admite a celebração de aditivos a contratos assinados com dispensa de licitação.

Encerrando o tópico, o blog perguntou se a compra do subsistema argentino tinha alguma relação com a possível contratação da binacional ucraniano-brasileira Alcântara Cyclone Space (ACS) para o lançamento ao espaço do satélite SAOCOM, da CONAE, numa espécie de contrapartida, como se chegou a especular nos bastidores (nota do blog: a ACS participa da concorrência aberta pela CONAE para o lançamento do SAOCOM, que ainda não teve uma definição). Câmara foi direto ao afirmar não existir relação entre os dois negócios. A escolha da proposta argentina, além dos critérios técnicos, tem forte razão geopolítica, pois é do interesse do Brasil uma aproximação com o país vizinho na área espacial, revelou.

Política industrial

Gilberto Câmara foi questionado sobre a necessidade ou não de uma indústria brasileira que atue como contratante principal (“prime contractor”), a exemplo do modelo argentino, com a INVAP. Respondeu que não falta um “prime contractor” no País, pois, antes disso, haveria um “dever de casa” para se fazer.

Segundo explicou, não existe volume no Brasil que justifique a existência de um “prime contractor”. O volume deveria, portanto, crescer. Câmara afirmou ainda que o INPE realizou um estudo levando-se em consideração a possível existência de um contratante principal no País, no qual se constatou que os custos dos projetos contratados aumentariam em 40%.

Observação da Amazônia

O blog perguntou ao diretor do INPE a sua opinião sobre os sistemas de observação da Amazônia hoje disponíveis. Câmara alegou ser “suspeito” para falar a respeito, afinal, esteve envolvido com os seus desenvolvimentos desde o início. De qualquer modo, afirmou: “o nosso sistema (DETER e PRODES) é o melhor que existe e ainda assim insuficiente.” Falta, em sua opinião, um satélite radar (SAR, sigla em inglês).

O projeto do satélite MAPSAR, que envolveria o INPE e a agência espacial alemã (DLR) seria o elemento para se preencher a lacuna existente. Gilberto Câmara informou que o projeto ainda está indefinido, aguardando-se uma definição do governo alemão sobre a sua continuidade. A data limite para que a Alemanha dê uma resposta é setembro ou outubro desse ano. De qualquer modo, o INPE já estuda alternativas, como a construção de um satélite radar com a Argentina, que está construindo o SAOCOM com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ou com a China, que já demonstrou interesse em desenvolver com o Brasil um satélite com sensor SAR embarcado.

Comentários finais

O blog encerrou a entrevista com a seguinte pergunta: desde 1998, portanto, há mais de dez anos, o Brasil não lança ao espaço um satélite 100% nacional. Quando teremos o próximo satélite 100% brasileiro?

Câmara respondeu que tem trabalhado para lançar o Amazônia 1 o quanto antes, embora o orçamento e a contratação do ACDH prevejam a sua disponibilização apenas no final de 2012 ou início de 2013. Não quis arriscar nenhum palpite sobre um possível adiantamento da missão, pois prefere aguardar a definição do orçamento de 2010. Quanto ao possível lançador a ser utilizado, também não quis aprofundar, afirmando apenas que a preferência é o Cyclone 4, da ACS.

Em relação ao Sistema de Coleta de Dados, integrado pelos satélites da série SCD-1 e 2, e pôr transpônderes a bordo do CBERS, Câmara esclareceu haver dificuldades para o lançamento de satélites totalmente dedicados por falta de lançadores para a órbita equatorial. De fato, existem lançadores, porém, o custo é proibitivo quando se leva em consideração que a construção de um novo satélite custaria algo em torno de 3 a 4 milhões de dólares, enquanto que o frete do foguete seria da ordem de 10 milhões de dólares. “Não tenho como lançá-los”, disse. Com a conclusão do projeto do VLS-1B, do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), isso deve mudar, sendo possível o lançamento de satélites totalmente dedicados. Enquanto isso, o sistema é mantido com a rede Argos, das agências espaciais da França (CNES), dos EUA (NASA), e NOAA (EUA).

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Mais uma vez, o blog agradece Gilberto Câmara, Marjorie Xavier e Ana Paula Soares por terem tornado possível essa entrevista.
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