Mostrando postagens com marcador PMM. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador PMM. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Avanços do Amazônia-1

.
Concluído o modelo térmico do satélite Amazônia-1

Sexta-feira, 09 de Outubro de 2015

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) concluiu o modelo térmico do Amazônia-1. Destinado ao monitoramento de recursos naturais, o satélite é o primeiro construído a partir da Plataforma Multimissão (PMM), estrutura inovadora desenvolvida pela instituição brasileira, capaz de se adaptar aos propósitos de diferentes missões e, assim, reduzir custos de projetos espaciais.

Os ensaios térmicos acontecem nos próximos dois meses no Laboratório de Integração e Testes (LIT) do INPE, em São José dos Campos (SP). Durante os testes, são simuladas as condições em órbita enfrentadas pelo satélite, exposto a temperaturas extremas e radiação espacial.

“As partes mais expostas do satélite enfrentarão temperatura de aproximadamente -80ºC no período de eclipse e +80ºC no período iluminado. Uma importante etapa do desenvolvimento de um satélite é demonstrar que suas temperaturas são mantidas dentro dos limites especificados, garantindo seu funcionamento. Para isso, construímos um modelo representativo do satélite para passar por ciclos de teste que visam qualificar o Subsistema de Controle Térmico”, explica Adenilson Roberto da Silva, coordenador do Programa de Satélites baseados na Plataforma Multimissão do INPE.

O modelo térmico do primeiro satélite nacional de observação terrestre será colocado na câmara vácuo-térmica do LIT/INPE para a simulação, em várias etapas, das condições limites do ambiente térmico previstas em órbita terrestre.

O controle térmico do Amazônia-1 foi projetado por técnicos da Coordenação de Engenharia e Tecnologia Espacial (ETE) do INPE. Após a realização do Teste de Balanço Térmico, para qualificar o Subsistema de Controle Térmico do satélite, começam os preparativos para a integração e testes do modelo elétrico, que visa verificar e validar as funcionalidade e interfaces entre os subsistemas. Depois disso, será integrado e testado o modelo de voo do Amazônia-1.

Qualificação

Durante o processo de desenvolvimento, o projeto do satélite se tornou mais complexo pela introdução de novas técnicas e dispositivos. A utilização de mantas isolantes multicamadas foi intensiva e exigiu o aprimoramento do projeto e dos procedimentos de fabricação e implementação.

Um satélite exige a instalação de aquecedores em seus componentes mais sensíveis, como as baterias, elementos do sistema de propulsão e equipamentos da carga útil. Os aquecedores são controlados, em malha fechada, por um software instalado no computador de bordo.

Tintas, fitas de controle térmico, isolantes e acopladores condutivos e materiais de interface (folhas de índio e mantas a base de silicone) completam o arsenal utilizado para manter as temperaturas de todos os componentes do satélite dentro de seus limites operacionais, quando em órbita terrestre.

O Modelo Térmico foi construído a partir do Modelo Estrutural, já qualificado por testes mecânicos que simularam condições de vibração e de acústica. Para qualificar a estrutura mecânica, foram dimensionadas e caracterizadas as cargas que o satélite irá experimentar durante o lançamento.

Para os testes térmicos, os equipamentos eletrônicos, antes representados por “dummies” estruturais, foram adaptados para serem “dummies” térmicos. “Todos os elementos de controle térmico foram instalados conforme estabelecido no projeto, de forma a representar fielmente as funcionalidades térmicas do satélite”, conclui Issamu Muraoka, engenheiro do INPE responsável pela arquitetura térmica do satélite Amazônia-1.

Fonte: INPE


.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

XVII SBSR: CBERS, Amazônia-1 e Fundo Amazônia

.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou dois press releases destacando sua atuação e projetos em sensoriamento remoto durante o XVII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto (SBSR), que se encerrou ontem (29) em João Pessoa, Paraíba. Veja os principais trechos abaixo, com edição do blog.

Diretor ressalta sucesso do CBERS, aplicações de satélites e participação internacional no SBSR

Leonel Perondi, diretor do INPE, ressaltou a ampla participação de especialistas do mundo todo durante a solenidade de abertura do XVII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto (SBSR), na noite de domingo (26/4).

Em seu discurso de abertura, o diretor destacou o sucesso brasileiro no desenvolvimento de satélites de sensoriamento remoto e de suas aplicações. “O satélite CBERS-4 (realizado em parceria com a China) foi lançado com pleno êxito em dezembro e opera conforme as especificações. Imagens dos quatro sensores são disponibilizadas em operação rotineira pelo lado chinês desde a segunda quinzena deste mês e pelo lado brasileiro a partir de junho”, disse Perondi.

O Programa CBERS representa um grande avanço na capacitação da indústria nacional. “Além dos subsistemas completos de suprimento de energia e estrutura, foram projetados e fabricados no país os sensores MUX, com quatro bandas espectrais e 20 m de resolução, e WFI, com quatro bandas espectrais e resolução de 64 m. Com a operação em órbita destes sensores, o Brasil passa a integrar um seleto grupo de países com a capacidade de projetar e fabricar sensores para imageamento do planeta”, disse Perondi.

O diretor citou ainda o primeiro satélite desenvolvido a partir do projeto totalmente brasileiro Plataforma Multi-Missão (PMM), o Amazônia-1, que se encontra na fase de integração e tem lançamento previsto para 2017.


Fundo Amazônia vai aprimorar estudos e projetos do INPE

O INPE está aperfeiçoando seus sistemas que monitoram desmatamentos, degradação florestal e queimadas com recursos do projeto Monitoramento Ambiental por Satélites no Bioma Amazônia, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio do Fundo Amazônia.

"Após os três anos e meio previstos para a vigência deste projeto, os programas do INPE relacionados ao bioma Amazônia terão sido amplamente incrementados, proporcionando ao país, particularmente ao Ministério do Meio Ambiente, ferramentas ainda mais eficientes e eficazes para o monitoramento ambiental da Amazônia”, declarou Leonel Perondi.

O contrato na ordem de R$ 70 milhões foi firmado com o BNDES no final de 2014 e permitirá melhorias na recepção e distribuição de imagens de sensoriamento remoto. O projeto prevê ainda o aperfeiçoamento de métodos de estimativa de biomassa e de emissões, entre outras ações para o mapeamento do uso e cobertura da terra na Amazônia e modelagem de mudanças ambientais.

.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Satélites do INPE: o factível em 2016 - 2018

.
No início deste mês, entrevistamos por telefone o vice-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Oswaldo Duarte Miranda, que apresentou brevemente um panorama sobre os projetos de satélites em andamento no Instituto. A seguir, listamos os principais tópicos abordados na conversa:

- Indústria espacial: questionado pela reportagem, o dirigente falou sobre a necessidade de cadência de missões para gerar carga de trabalho à indústria, por meio de uma "política espacial de médio e longo prazo". "Hoje há uma lacuna efetiva [de contratos]", disse. Com o CBERS 4, lançado ao espaço em dezembro último, fechou-se um ciclo, e muito embora haja previsão de algumas contratações da indústria para o CBERS 4A, para retrabalho em sobressalentes, estas serão em escala bem menor.

- Amazônia-1 - Parte 1: para este ano está previsto o início das atividades de integração do modelo de voo do Amazônia-1, satélite de observação baseado na Plataforma Multimissão (PMM). Os contratos industriais estão todos em fase final, e espera-se para o 1º semestre os trabalhos, desenvolvidos pelo INPE e Agência Espacial Brasileira (AEB), visando à definição e contratação do lançamento. No ritmo atual, e se não houver surpresas, acredita-se num voo dentro de dois anos.

- Amazônia-1 - Parte 2: no final deste mês ou, no mais tardar no início de fevereiro, deve acontecer a entrega do sistema de controle de atitude e órbita contratado junto a argentina INVAP. Este será então submetido a testes de qualificação. Sobre o problemático subsistema de suprimento de energia, para muitos o grande gargalo da PMM, ainda existem discussões entre a AEB, INPE a indústria responsável por seu desenvolvimento e fabricação. Segundo Miranda, não está descartada a contratação de outra indústria para a conclusão do subsistema.

- Amazônia-1 - Parte 3: está sendo seriamente considerada possibilidade de que a carga útil principal do satélite, um sensor imageador, seja uma câmera WFI (Wide Field Imager) similar a do CBERS 4, e não a versão avançada (AWFI), cujo desenvolvimento tecnológico, a cargo da Opto Eletrônica, enfrenta dificuldades, sem expectativa de ser encerrado em menos de dois anos. Uma decisão definitiva deve ser tomada ainda no primeiro semestre, e caso vá adiante, o blog Panorama Espacial entende que deve resultar em nova encomenda junto a indústria (possivelmente um consórcio entre a Equatorial Sistemas e a Opto, que trabalharam juntas na segunda geração do CBERS, ou uma das duas isoladamente). A AWFI voaria no futuro Amazônia-2.

- Transpônder de Coleta de Dados: o INPE trabalha com a ideia de, sujeito ainda a uma análise de engenharia mais apurada, a partir do Amazônia-1, que todo satélite nacional leve a bordo um transpônder de coleta de dados (DCS, sigla em inglês) para atender o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCDA). A carga útil foi desenvolvido pela CRN/INPE, de Natal (RN). Também há certa expectativa com o SCD-Hidro, para atender uma necessidade da Agência Nacional de Águas (ANA), tendo o INPE participado de conversas no final de 2014.

- Missões científicas: até 2004/2005, o INPE considerava duas missões científicas com satélites distintos, o EQUARS (estudos dos efeitos da anomalia magnética no Atlântico Sul), e o MIRAX (imageador de raios X de gama). Em dado momento, ocorreu uma "fusão" de ambas as missões em uma única plataforma (PMM, de cerca de 500 kg), dando origem ao Lattes-1. Oswaldo Miranda revelou que a atual direção do INPE deseja retomar as missões satelitais científicas de pequeno porte, com estudos nesta direção. Destacou o "gap" hoje existente no programa de satélites brasileiros, com missões de cubesats, mas nada de menor porte (na faixa de 100 kg) até a PMM. O primeiro projeto na fila seria o EQUARS, com condições de voar de 3 a 4 anos.

- Sistemas de controle de atitude e órbita: trata-se de uma "ação prioritária" (aliás, ACDHs são uma das tecnologias consideradas críticas e não dominadas pelo Brasil), na opinião de Miranda. "O grande gargalo hoje é o software embarcado". O INPE faz parte do projeto SIA, tendo um laboratório conjunto com o Instituto de Aeronáutica e Espaço - IAE em São José dos Campos (SP), e trabalha junto com indústrias nacionais na busca de autonomia nessa área. Nos passos atuais, espera-se que um ACDH nacional esteja pronto em cerca de dois anos, para no futuro voar num segundo modelo de voo da PMM (Amazônia-2 ou Lattes-1/MIRAX). O vice-diretor citou a COMPSIS como uma parceira industrial importante nesse projeto, destacando também o papel do Instituto Mauá de Tecnologia. Aqui cabe uma observação do blog: quem também está bem interessado em desenvolvimentos locais desta tecnologia é a Visiona Tecnologia Espacial. Foi um dos assuntos destacados por seu presidente, Eduardo Bonini, em audiência no Senado Federal em novembro de 2014.

- Período 2016 - 2018: nos últimos minutos da conversa, resumindo a entrevista, Miranda ressaltou que o INPE hoje vê de forma factível a execução das seguintes missões no período de 2016 a 2018, a depender, é claro, de recursos: o CBERS 4A, o Amazônia-1, o EQUARS (plataforma de 100 kg) e o MIRAX (PMM).
.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Amazônia-1: qualificação dos propulsores

.
INPE qualifica propulsores para o Amazônia-1

Sexta-feira, 14 de Março de 2014

Os ensaios para aceitação dos propulsores com 5 N (newtons) de empuxo que serão utilizados no satélite Amazônia-1 foram realizados no Banco de Testes com Simulação de Altitude (BTSA) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), nos meses de janeiro e fevereiro. Propulsores são utilizados em várias manobras no espaço, necessárias para o posicionamento e manutenção das órbitas de satélites e plataformas espaciais.

Para a qualificação de dez propulsores, o tanque foi carregado com 45 Kg de hidrazina e pressurizado com nitrogênio a 22 bars. O subsistema completo de propulsão já havia sido qualificado no BTSA em 2012, quando foram executadas as operações de carregamento do tanque com hidrazina anidra e pressurização com nitrogênio ultrapuro.

Dos dez propulsores testados, seis equiparão o satélite Amazônia-1.

O subsistema de propulsão da PMM - a Plataforma Multimissão criada pelo INPE para satélites como o Amazônia-1 - foi desenvolvido pela empresa brasileira Fibraforte com a coordenação de engenheiros do Instituto.

Completo, o subsistema é composto por seis propulsores, o tanque de propelente e mais as válvulas para controle dos propulsores e para carregamento do tanque, com as respectivas tubulações e seus acessórios.

Todos os testes foram preparados e executados pela equipe técnica do BTSA, desde o recebimento dos propulsores, integração na célula de testes e realização das atividades. A análise química do propelente utilizado (hidrazina anidra) foi, também, realizada em laboratório próprio no BTSA.

O BTSA está instalado no Laboratório Associado de Combustão e Propulsão (LCP), localizado na unidade de Cachoeira Paulista do INPE. Está dimensionado para testar e qualificar propulsores de até 200 N de empuxo, em um ambiente que simula as condições do espaço. O BTSA possui ainda um Laboratório de Análise de Propelentes - hidrazina, mono-metil-hidrazina, dimetil-hidrazina assimétrica, tetróxido de nitrogênio, entre outros.

Amazônia-1

O INPE se prepara para as atividades de integração e testes do Amazônia-1, satélite com lançamento previsto para 2016 que conta com uma câmera óptica de visada larga capaz de gerar imagens do planeta a cada quatro dias. Sua característica de revisita rápida permitirá a melhora nos dados de alerta de desmatamento na Amazônia em tempo real. O Amazônia-1 também fornecerá imagens frequentes das áreas agrícolas brasileiras.

O satélite Amazônia-1 é baseado na Plataforma Multimissão (PMM), desenvolvida pelo INPE. A PMM é plataforma genérica para satélites na classe de 500 kg. Com massa de 250 kg, ela provê os recursos necessários, em termos de potência, controle, comunicação e outros, para operar, em órbita, uma carga útil de até 280 kg.

Fonte: INPE
.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Entrevistas: Leonel Perondi, diretor do INPE

.
Conforme revelado na última quinta-feira, damos início hoje à série "Entrevistas". O primeiro entrevistado foi Leonel Fernando Perondi, que desde maio de 2012 é diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), principal instituição executora dos programas de satélites nacionais.

A conversa foi centrada nos programas do Instituto no segmento espacial, isto é, satélites. Apresentamos a seguir os principais trechos. No final da entrevista, incluímos pequenos comentários elaborados pelo blog Panorama Espacial, identificados ao longo do texto (entre colchetes e destacados em itálico e grifados) analisando e dando algumas informações adicionais sobre os tópicos abordados.

CBERS e política industrial

A entrevista, realizada por telefone, começou abordando o principal projeto de satélite desenvolvido pelo INPE: o programa do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS). Perondi destacou a entrada do programa em sua segunda fase, com a expectativa para o lançamento do primeiro satélite da segunda geração, o CBERS 3, no próximo mês de dezembro. O CBERS 4 deverá ser lançado dois anos depois. Mencionou ainda o fato do satélite contar com quatro sensores óticos e também com um transpônder de coleta de dados, que reforçará o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCD). Deu também ênfase ao seu caráter industrial, enfatizando o fato de que os dois modelos foram contratados junto à indústria nacional, gerando ao todo cerca de R$370 milhões em contratos. "É essencialmente um programa de política industrial", destacou.

Questionado sobre a continuidade do programa, o diretor afirmou que existem discussões visando uma nova geração, e que esta é a posição do INPE, na qualidade de executor da missão. "Mas, tem que ter sempre o elemento de inovação". Em sua opinião, o CBERS trouxe visibilidade internacional, mas é preciso ir além. "[Hoje], são satélites de rotina para a China, e esta é a nossa ideia também".

Perondi entende que as próximas unidades, em caso de continuidade, podem ser inteiramente contratadas junto à indústria nacional, atendendo as necessidades nacionais em sensoriamento remoto e funcionando como um instrumento de política industrial. Desde 2005, existem propostas do lado chinês para uma extensão da cooperação espacial [Nota 1].

Amazônia-1

Após o CBERS, a pergunta natural foi sobre o projeto do satélite de observação Amazônia-1, baseado na Plataforma Multimissão (PMM). Perondi respondeu dando um panorama sobre a PMM e a sua primeira missão, ressaltando que o projeto da plataforma foi contratado na indústria em 2001 sem uma linha de base, com uma amplitude grande para aplicações multimissão. "São quase doze anos de desenvolvimento do projeto." "Nenhum subsistema tem herança de voo, o que é um desafio grande", disse.

O Amazônia-1, especificamente, está em revisão e pode ser lançado em dois anos, informou, revelando ainda que a forma de contratação gerou certas dificuldades de relacionamento com a indústria, algo que está em discussão no âmbito de direito administrativo. "O INPE está mobilizado em definir o cronograma de satélites."

Cubesats e nanossatélites

Perguntamos ao diretor do INPE sobre alguns projetos de cubesats e nanossatélites que têm sido desenvolvidos pelo Instituto. De acordo com ele, são missões ainda experimentais e em escala reduzida, envolvendo as unidades do Centro Regional do Nordeste (Conasat) e Centro Regional Sul (NanosatC-BR), com forte objetivo de aprendizagem. "Estamos aguardando os resultados, e temos que ver o lado de aplicações também", afirmou.

Satélites radar, meteorológico e Lattes

Perondi enfatizou que a prioridade do INPE é o CBERS e, em seguida, o Amazônia-1 (PMM). Mas, há também outros projetos e possibilidades no âmbito espacial. Um deles é o satélite radar, no passado, quando planejado em parceria com a Alemanha, denominado MAPSAR.

Em discussão desde 2003 e constante no Programa Espacial desde o PNAE 2005-2014, o diretor afirmou que o satélite radar teve como alternativa considerada apenas uma configuração com antena refletora, e não planar, dando indicativo de que sua configuração está sendo discutida. "A demanda para estas imagens continua existindo, e uma parceria internacional é possível".

Sobre uma missão meteorológica, afirmou que esta já consta do PNAE desde 2004 (período 2005-2014), e que é uma necessidade do País. "[Esta] já deveria estar no horizonte nos próximos dez anos". Há certa expectativa sobre o arranjo para a sua viabilização.

Em relação ao satélite Lattes, de aplicações científicas, Perondi revelou que deve ser repensada. "A missão é extremamente desafiadora em razão da integração da plataforma e das cargas úteis." Existe a possibilidade de que o Lattes, surgido a partir da "fusão" dos projetos de microssatélites EQUARS e MIRAX, venha a ser dividida em duas plataformas menores. Esta estratégia, aliás, estaria alinhada à ideia do INPE de retomar as missões de pequenas plataformas, que poderiam ainda incluir missões com transpônderes para atender o SBCD.

SGDC

A respeito da participação e/ou ganhos esperados pelo INPE com o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), Perondi foi sucinto, citando que o satélite atenderá demandas nacionais imediatas (banda larga e comunicações militares), e que o Instituto pode se beneficiar no futuro por meio do Laboratório de Integração e Testes (citou o caso de alguns satélites da série Brasilsat, que tiveram módulos testados no laboratório), e com oportunidades para a formação de pessoal no exterior.

Perspectivas de novos contratos para a indústria?

A entrevista foi encerrada com uma questão sobre a perspectiva de novos contratos em curto ou médio prazos para a indústria espacial brasileira, uma vez que os satélites CBERS e o Amazônia-1 já estão praticamente 100% contratados. O dirigente ressaltou que o papel do INPE é de executor e não de planejador do Programa Espacial, mas que o Instituto "olha com preocupação o futuro", respondendo ao comentário do entrevistador sobre a situação da indústria na atualidade [Nota 2].

O dirigente mencionou que nos últimos dez anos, o Instituto contratou mais de R$500 milhões com a indústria e que existem expectativas e novos contratos, sem, no entanto, indicar datas. Citou, como exemplo, o satélite em cooperação com a Argentina (SABIA-MAR), e também missões para coletas de dados [Nota 3].

Notas do blog:

Nota 1: entre os dias 4 e 9 de novembro, acontecerá na China a III Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), mecanismo de diálogo político de mais alto nível entre Brasil e China. Sua estrutura inclui onze subcomissões, inclusive uma espacial. A expectativa é que no encontro, cujo lado brasileiro será chefiado por Michel Temer, vice-presidente da República, seja aprovado o Plano Decenal de Cooperação Espacial entre os dois países.

Nota 2: ao questionarmos sobre novos contratos, destacamos os receios da indústria espacial, que tem passado por certas dificuldades (algumas, devemos dizer, de sua própria responsabilidade). Apesar da expectativa de que o SGDC possa de alguma forma beneficiar a indústria local, tais benefícios não serão imediatos, podem não ter efeitos financeiros diretos (transferência de tecnologia não necessariamente gera vendas) e serão sentidos apenas após vários anos. Ressalte-se, aliás, que o contrato para a construção do primeiro satélite ainda não foi assinado. Especificamente sobre a situação da indústria local, o blog tem conhecimento de ao menos duas empresas que estão demitindo pessoal ou prestes a demitir. Ainda, é fato amplamente conhecido no setor a gravíssima crise financeira por que passa uma das principais indústrias brasileiras do setor (abordaremos este caso, em detalhes, mais adiante).

Nota 3: de acordo com as informações apuradas pelo blog Panorama Espacial, há discussões no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e AEB para a contratação da missão SABIA-MAR, em conjunto com a Argentina. O modelo analisado envolveria um prime contractor industrial, no qual a Visiona Tecnologia Espacial, surgiria como mais forte candidata. Em relação aos satélites para atender o SBCD, é possível que haja a participação do Comando da Aeronáutica (Ministério da Defesa), e também da Agência Nacional de Águas (ANA), subordinada ao Ministério do Meio Ambiente.
.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Workshop industrial do SABIA-Mar


INDÚSTRIA NACIONAL REÚNE-SE COM GRUPO DE TRABALHO DA MISSÃO SABIA-MAR

Brasília, 21 de maio de 2013 – Representantes da indústria aeroespacial nacional se reuniram, no dia 17 de maio, no Parque Tecnológico de São José dos Campos, Workshop SABIA-Mar Indústrias Brasileiras. O encontro teve como objetivo compartilhar com a indústria nacional informações técnicas relevantes sobre a missão e discutir o modelo de industrialização a ser adotado, assim como as possíveis formas de financiamento. A reunião também serviu para coletar opiniões e recomendações da indústria, e conhecer suas expectativas para este projeto. A ação foi promovida pelo Grupo de Trabalho da Missão SABIA-Mar –  composto por membros da Agência Espacial Brasileira (AEB), da indústria, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Comissão Nacional de Atividades Espaciais da Argentina (CONAE).

A AEB está inovando na maneira de conceber suas missões satelitais. A indústria e os usuários devem estar envolvidas em todas as fases de desenvolvimento do satélite. “A Missão SABIA-Mar é a primeira a ser realizada a partir desta visão”, afirma o presidente da AEB, José Raimundo Coelho.

“O evento excedeu as expectativas. Os representantes da indústria obtiveram informações mais detalhadas dos satélites a serem desenvolvidos. No workshop, foi possível obter estimativas preliminares, por parte da indústria, do grau de complexidade dos artefatos, principalmente da câmera multiespectral”, contou o diretor da AEB e membro do Grupo de Trabalho do SABIA-Mar, Carlos Gurgel. A câmera a ser desenvolvida no Brasil terá que captar sinais em 18 bandas. Até agora, todas as construídas pela indústria nacional operam em poucas bandas. “O desenvolvimento dessa câmera será importante passo para a capacitação da indústria brasileira”, acredita Gurgel.O forte envolvimento da indústria espacial brasileira na concepção e desenvolvimento das missões de satélites é uma das diretrizes estratégicas do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE).

A Argentina realizou, em março deste ano, evento semelhante.

SABIA-Mar – A missão SABIA-Mar é um sistema completo de Observação da Terra dedicado ao sensoriamento remoto de sistemas aquáticos oceânicos e costeiros incluindo águas interiores, baseado em uma constelação de dois satélites e uma infraestrutura operacional, logística e de segmento solo desenvolvidos para alcançar os objetivos propostos pelo Brasil e pela Argentina. Além da missão primária, os artefatos poderão, também, observar águas interiores, e obter dados em escala global da cor dos oceanos.

Os satélites terão aproximadamente 500 kg. Cada um levará uma câmera multiespectral, mas há possibilidade de cargas úteis secundárias. A princípio, eles utilizarão como base a Plataforma Multimissão (PMM), que é uma plataforma genérica para satélites desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A partilha das tarefas no desenvolvimento dos satélites será igualitária entre os dois países.

Atualmente estão sendo desenvolvidas concomitantemente as Fases 0 (análise da missão e identificação das necessidades) e A (análise de viabilidade técnica e industrial) da missão.

As aplicações dos satélites poderão ser usadas na pesca e na aquicultura, no gerenciamento costeiro, no monitoramento de recifes de coral, de florações de algas nocivas e de derrames de óleo, na previsão do tempo, na análise da qualidade das águas, entre outras.

Entre agosto e setembro deste ano, o estudo em elaboração pelos grupos de trabalho brasileiro e argentino completará a denominada Fase A do projeto. Seu resultado trará de forma organizada os requisitos para a missão, o conceito de operação do sistema, os conceitos preliminares a serem adotados para o projeto dos satélites, os cronogramas de desenvolvimento e estimativas de custo, dentre outras informações.

Workshop SABIA-Mar Usuários Brasileiros – Nos dias 13 e 14 de maio, o Grupo de Trabalho da Missão SABIA-Mar reuniu os prováveis usuários brasileiros da missão na sede da Agência Espacial Brasileira (AEB). O encontro foi uma oportunidade para que as instituições nacionais que poderão se beneficiar com o SABIA-Mar apresentassem suas necessidades, expectativas e planos para utilização das imagens a serem geradas. O objetivo é que os dois satélites a serem desenvolvidos atendam ao maior número de demandas possível.
.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Visita de Raupp à Cachoeira Paulista


Ministro visita instalações do INPE em Cachoeira Paulista

Segunda-feira, 23 de Julho de 2012

Importante resultado da política industrial adotada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) foi apresentado ao ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, no dia 16 de julho. Durante visita à unidade de Cachoeira Paulista do INPE, ele conheceu o primeiro subsistema de propulsão para satélite desenvolvido no Brasil, em parceria com a empresa Fibraforte, de São José dos Campos. O equipamento, que estará a bordo do Amazônia-1, é necessário para correção de atitude e elevação de órbita durante a vida útil do satélite.

A política industrial do INPE é voltada ao estabelecimento, manutenção e aperfeiçoamento de empresas brasileiras para a área espacial, capacitando-as, também, para o desenvolvimento de produtos com maior valor agregado em outros setores. Equipamentos e subsistemas que compõem os projetos de plataformas e cargas úteis de satélites são, preferencialmente, desenvolvidos em parceria com o setor industrial brasileiro.

Além do envolvimento da indústria brasileira em projetos espaciais inovadores, a visita ministerial teve ainda como enfoque a prevenção a desastres naturais. Após a ida ao Laboratório de Combustão e Propulsão (LCP), onde foi recentemente testado o subsistema de propulsão para satélite, o ministro esteve no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), também do INPE, e nas novas instalações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Raupp esteve acompanhado do diretor do INPE, Leonel Perondi, do secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI, Carlos Nobre, pesquisadores e representantes da indústria nacional. A comitiva foi recepcionada pelo coordenador-geral do CPTEC/INPE, Osvaldo Moraes, que apresentou uma síntese das atividades e resultados do Centro.

O ministro falou sobre a excelência no serviço de previsão de tempo e de clima prestado pelo CPTEC/INPE a toda a sociedade, bem como a sua importância estratégica no apoio às ações do Governo para a prevenção de desastres naturais. O vídeo da reunião realizada no auditório do CPTEC/INPE está disponível em http://videosonline.cptec.inpe.br/video.php?tipo=e

Inovação

O Banco de Testes com Simulação de Altitude (BTSA), que é parte do LCP/INPE, foi o primeiro local visitado pelo ministro. Fernando Costa, chefe do LCP, e Aguinaldo Serra, responsável pelos ensaios do laboratório, falaram sobre os procedimentos envolvidos nos testes recentemente realizados, com sucesso, no subsistema de propulsão para satélite. Também participou da visita Demétrio Bastos Netto, um dos criadores do LCP.

O laboratório recebeu adaptações e melhorias para realizar pela primeira vez atividades em um subsistema de propulsão. O investimento é necessário porque a qualificação de todos os sistemas espaciais exige a prévia simulação das condições operacionais em órbita. No LCP/INPE também foi desenvolvido o catalisador que abastece os propulsores (onde o combustível sofre reação química gerando a propulsão nos motores) e todo processo de soldagem da tubulação que transporta o combustível entre o tanque e os propulsores.

Já a Fibraforte desenvolveu equipamentos como propulsores, válvulas de enchimento e dreno de combustível e gás pressurizante, tubulação e a própria estrutura e suportes do subsistema. Para isso, foram contratados direta e indiretamente dezenas de técnicos, engenheiros, mestres e doutores com formação multidisciplinar, como engenheiros mecânicos, eletrônicos e de materiais.

Novos desenvolvimentos e domínio de tecnologia foram necessários para a construção do subsistema de propulsão. É assim que os projetos de satélites do INPE atuam como importantes indutores da inovação no parque industrial brasileiro, que se qualifica e moderniza para atender aos desafios do programa espacial. O domínio da tecnologia de fabricação de propulsores e catalisadores de combustível para satélites, por exemplo, é privilégio de poucos países.

O subsistema de propulsão é parte da Plataforma Multimissão (PMM), um moderno conceito em termos de arquitetura de satélites criado pelo INPE e em construção por um consórcio nacional de empresas. Nessa plataforma ficam todos os equipamentos que desempenham as funções necessárias à sobrevivência e operação de um satélite.

A PMM pode ser reproduzida para atender a vários tipos de missões espaciais. Assim, a reutilização do projeto da plataforma permite reduzir custos recorrentes na fabricação de novos satélites e também o tempo de desenvolvimento dos mesmos. O primeiro satélite baseado na PMM é o Amazônia-1.

Cemaden

Antes de finalizar a visita ao INPE de Cachoeira Paulista, Raupp conheceu as novas instalações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Lá foi recebido pelo coordenador-geral de Operações e Modelagem Carlos Frederico Angelis, que apresentou o funcionamento dos alertas de desastres naturais e sua importância para a sociedade.

O Cemaden é ligado à Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Seped/MCTI) e está instalado em área do INPE de Cachoeira Paulista. O Instituto foi escolhido para sediar suas instalações por reunir especialistas em meteorologia, sensoriamento remoto, mudanças globais e modelagem computacional, áreas fundamentais para um monitoramento eficaz. Além disso, o INPE abriga o Tupã, um dos supercomputadores mais poderosos do mundo para aplicações meteorológicas, climáticas e ambientais. Mais informações sobre o centro em www.cemaden.gov.br

Fonte: INPE
.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Subsistema de propulsão da PMM


Primeiro subsistema de propulsão para satélite desenvolvido no Brasil é apresentado pelo INPE

13/07/2012

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, visita a unidade de Cachoeira Paulista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) na tarde de segunda-feira (16/7) para conhecer o primeiro subsistema de propulsão para satélite desenvolvido no Brasil que entrará em órbita, a bordo do Amazônia-1. O equipamento é necessário para correção de atitude e elevação de órbita durante a vida útil do satélite.

Além das instalações do Laboratório de Combustão e Propulsão (LCP), onde recentemente foi testado com sucesso o novo subsistema, o ministro visitará o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). Raupp estará acompanhado do diretor do INPE, Leonel Perondi, pesquisadores e representantes da indústria nacional.

O desenvolvimento de satélites é importante indutor da inovação no parque industrial brasileiro, que se qualifica e moderniza para atender aos desafios do programa espacial. O subsistema de propulsão foi desenvolvido em parceria com a empresa Fibraforte para a PMM, a Plataforma Multimissão criada pelo INPE para base de satélites como o Amazônia-1 e o Lattes.

Inovação

Sob a coordenação do INPE, a PMM está sendo construída por um consórcio de empresas como a Fibraforte, de São José dos Campos, responsável pelo subsistema de propulsão. São construídos dois modelos idênticos, um de qualificação e o outro para voo no satélite.

O modelo de qualificação do subsistema de propulsão da PMM foi submetido a uma sequência de testes severos, realizados em laboratórios do INPE, que reproduzem todo tipo de esforços e o ambiente hostil que o satélite terá desde o lançamento ao fim de sua vida útil no espaço.

No Laboratório de Integração e Testes (LIT), em São José dos Campos, foram realizados os testes de vibração, termovácuo, alinhamento e vazamento. Já no Banco de Testes com Simulação de Altitude (BTSA), em Cachoeira Paulista, aconteceu o teste de tiro real sob vácuo, que simula manobras em órbita. Todos os testes foram aprovados na etapa de qualificação.

“Como os testes foram realizados pela primeira vez em um subsistema de propulsão, os laboratórios tiveram adaptações em suas estruturas. O BTSA, que integra o Laboratório de Combustão e Propulsão, obteve investimentos para adaptações e melhorias”, conta Heitor Patire Júnior, pesquisador do INPE que é o responsável técnico do projeto. “Novos desenvolvimentos e domínio de tecnologia foram necessários para a construção do subsistema de propulsão, tanto do lado INPE como pela empresa contratada”.

Segundo o pesquisador do INPE, alguns equipamentos que fazem parte do subsistema de propulsão ainda foram importados por não haver produto similar no país, enquanto outros foram desenvolvidos pela Fibraforte, como propulsores, válvulas de enchimento e dreno de combustível e gás pressurizante, tubulação e a própria estrutura e suportes do subsistema.

“Pelo INPE está sendo desenvolvido o catalisador que abastece os propulsores (onde o combustível sofre reação química gerando a propulsão nos motores), todo processo de soldagem da tubulação que transporta o combustível entre o tanque e os propulsores, além do treinamento das equipes de vários laboratórios envolvidos nesse desenvolvimento”, explica Heitor Patire Júnior.

Na Fibraforte, a equipe reúne técnicos, engenheiros, mestres e doutores com formação multidisciplinar, como engenheiros mecânicos, eletrônicos e de materiais. Para a empresa, além do desenvolver de produtos com alto grau de inovação, outro resultado relevante de programa como esses é a formação de recursos humanos de alto nível.

Para os próximos satélites, a Fibraforte pretende desenvolver também o tanque de propelente. Com mais esse passo, sistemas de propulsão para controle de órbita e atitude de satélites estarão livres de barreiras de importação por sensibilidade tecnológica.

“Os novos desenvolvimentos relacionados ao subsistema de propulsão podem levar o país a ser autossuficiente em todos os equipamentos que hoje são importados, levando ao crescimento da nossa indústria aeroespacial”, conclui o pesquisador do INPE.

Fonte: INPE
.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Entrevista com Leonel Perondi, diretor do INPE - Parte II


Reproduzimos a seguir a segunda parte da entrevista com Leonel Perondi, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Para acessar a primeira parte da entrevista, clique aqui.

ACDH

Tema sensível ao Programa Espacial Brasileiro, pela polêmica e importância estratégica ao País, é a capacitação nacional em sistemas de controle de atitude e órbita (conhecido por ACDH, sigla em inglês). O blog Panorama Espacial questionou Leonel Perondi sobre as iniciativas do INPE nesse campo, que foi, aliás, um dos tópicos abordados por Perondi em seu discurso de posse.

Perondi destacou que hoje o Brasil possui domínio praticamente em todas as áreas básicas de satélites, como estrutura e instrumentação, com exceção da área de controle. "É a grande lacuna para produzir uma plataforma orbital". Daí, vem a tentativa do Instituto em estimular projetos e capacitação local nesse campo, através da montagem de laboratórios e equipes específicas. O dirigente também mencionou o projeto Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespacial (SIA), iniciativa desenvolvida em parceria com institutos do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e indústrias nacionais, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que já começa a produzir frutos. "Houve um grande avanço na área de satélites", destacou.

Segundo o diretor, o satélite científico Lattes, baseado na Plataforma Multimissão (PMM), deverá contar com um ACDH nacional, diferentemente do Amazônia-1, cujo ACDH foi adquirido, com dispensa de licitação, junto à fabricante argentina INVAP no final de 2008. Sobre o Lattes, a previsão pública mais atual de seu lançamento era 2016, mas Perondi afirmou que o cronograma de lançamento dos satélites do Instituto está pendente de discussão com a Agência Espacial Brasileira (AEB).

Quanto à compra do ACH argentino para o Amazônia-1, episódio sempre lembrado e duramente criticado pela indústria espacial brasileira, o dirigente afirmou que o INPE fará uma avaliação sobre os benefícios gerados. "Qual é o nível de transferência de tecnologia do ACDH argentino para o Brasil?", questionou. O blog questionou Perondi se o contrato previa algum tipo de transferência tecnológica, o que ele negou, dizendo que se trata do fornecimento do sistema, com capacitação de pessoal na Argentina, não havendo, portanto, a compra da tecnologia.

Recursos humanos

Sobre a realidade e necessidades do INPE em matéria de recursos humanos, ponto frequentemente citado como crítico aos avanços do Programa Espacial, Perondi lembrou que muitos funcionários se aposentarão nos próximos anos, mencionado ainda que a formação de um funcionário para atuar com certa autonomia dentro do Instituto leva de 4 a 5 anos. Assim, novas contratações são realmente necessárias. Dentro dos próximos meses, aliás, serão realizados concursos para 107 vagas de tecnologistas, analistas e técnicos, número insuficiente, mas que preenche algumas necessidades.

Integração com a AEB

Numa questão mais focada em Política Espacial, perguntamos a Perondi sobre a integração do INPE com a AEB, ou mesmo a fusão entre as duas instituições, algo bastante discutido em Brasília (DF), e com certas medidas sendo tomadas nesta direção pelo ministro Marco Antonio Raupp. O dirigente respondeu de forma bastante lacônica: "Está havendo discussões com a AEB. É algo que está em andamento".

Satélite Geoestacionário Brasileiro

Ainda que o INPE não esteja diretamente envolvido com as tratativas relacionadas ao Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB), Perondi fez alguns comentários acerca do projeto. Destacou que a demanda por um satélite geoestacionário próprio já é antiga, desde a privatização da Embratel, no final da década de noventa. Afirmou também que o INPE pode contribuir na especificação e compra desses satélites, comentário que, interpretado nas entrelinhas, dá a entender que o envolvimento da indústria nacional ainda é algo pouco claro mesmo em alguns setores do próprio governo.

O diretor mencionou que o Programa Espacial poderá se beneficiar de algumas formas, com oportunidades de formação de pessoal, entre outras. "[O Programa Espacial] pode se beneficiar via cláusulas de offsets", disse.

Perguntamos ao diretor sobre a criação do Centro de Desenvolvimento de Tecnologias Espaciais, em São José dos Campos (SP), paralelamente à constituição da Visiona Tecnologias Espaciais (joint-venture entre a Embraer e a Telebrás), no âmbito do programa do SGB. "Ainda não tenho muita clareza sobre essa iniciativa", acrescentando que esta é uma das pautas para discussão com a AEB.
.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Entrevista com Leonel Perondi, diretor do INPE - Parte I


No último dia 27, o blog Panorama Espacial entrevistou Leonel Fernando Perondi, novo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Empossado em 1º de junho, Perondi é graduado em engenharia mecânica pelo ITA (1980), com mestrado pelo INPE e doutorado pela Universidade de Oxford. Entre 2001 e 2005, foi diretor substituto do INPE, tendo atuado também em projetos de engenharia e tecnologia espaciais, como o programa CBERS (gerente-geral entre 2002 e 2005). 

CBERS

O primeiro tópico da entrevista, feita por telefone, foi o que hoje é o principal programa de satélites do Programa Espacial Brasileiro, o CBERS, sigla em inglês de Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, atualmente já na segunda geração.

Perondi apresentou um panorama sobre o programa, destacando questões industriais e orçamentárias. Entre os anos de 2004 e 2006, foram firmados vários contratos industriais relacionados aos CBERS 3 e 4. De acordo com ele, a expectativa é que o CBERS 3 seja lançado em novembro ou dezembro deste ano, a partir da China, enquanto que o CBERS 4 deve ser colocado em órbita em 2014. Em relação às questões orçamentárias, que costumeiramente assolam projetos do programa espacial, o dirigente afirmou que todas as demandas já foram atendidas.

O diretor mencionou a visita à China, que ocorre esta semana, integrando comitiva liderada pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp. "Teremos conversas ao longo das próximas semanas sobre a cooperação futura", indicando a possibilidade de extensão da cooperação sino-brasileira, iniciada em 1988.

Perondi lembrou que em 2002, quando o acordo com a China foi ampliado para o desenvolvimento e construção do CBERS 3 e 4, já havia intenção do lado brasileiro de estender novamente a parceria, com contratação direta na indústria dos satélites sucessores. Com a transferência para a indústria, a ideia era que a cooperação sino-brasileira focasse num campo de maior inovação, envolvendo o desenvolvimento de satélites geoestacionários e subsistemas espaciais.

Amazônia-1

Questionado sobre a previsão de lançamento do satélite de observação Amazônia-1, baseado na Plataforma Multimissão (PMM), o dirigente disse que está previsto para 2014, prazo, no entanto, que deve ser revisto junto à Agência Espacial Brasileira (AEB). Perondi destacou que se trata de um novo projeto que representa desafios ao País. "Será o primeiro satélite nacional estabilizado em três eixos, com subsistemas novos, sem recorrência", afirmou.

Segundo o diretor, sendo um projeto que apresenta grandes desafios, todos os subsistemas estão sendo revistos tecnicamente. "A confiabilidade dos sistemas é um ponto crítico".

Perondi também revelou que o INPE considera que o Amazônia-1 será um modelo protótipo para validação de tecnologias em órbita, que se seguiria de um segundo modelo, lançado um ou dois anos após o primeiro, este sim um modelo de missão. "O Amazônia-1 seria um projeto nessa linha, uma missão de validação em órbita". O dirigente ressaltou, no entanto, que este e outros aspectos do projeto, como a seleção do lançador, dependem de discussão e definição com a AEB.

Política industrial

Tema abordado em seu discurso de posse, Perondi destacou o caráter público e estratégico do programa espacial, que também serve como instrumento de política industrial e de domínio de tecnologias críticas. "É um desafio grande [para indústria], desafiada a atuar em novas áreas", disse, dando o indicativo de que buscará em sua gestão estimular o envolvimento da indústria nacional nos projetos do Instituto.

O diretor se referiu aos satélites CBERS 3 e 4 como modelos da política industrial adotada pelo INPE, projeto que envolveu a contratação junto à indústria de aproximadamente 270 milhões de reais em componentes e subsistemas.

Na próxima sexta-feira (06), será postada a a segunda e última parte da entrevista, tratando de temas como ACDH, recursos humanos, Satélite Geoestacionário Brasileiro, dentre outros.
.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Testes do sistema de propulsão do Amazônia-1


INPE testa o primeiro subsistema de propulsão nacional para satélite

Segunda-feira, 04 de Junho de 2012

O teste do subsistema de propulsão do satélite Amazônia-1 será realizado nos próximos dias pelo Laboratório Associado de Combustão e Propulsão (LCP) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em Cachoeira Paulista. Esse é o primeiro subsistema de propulsão para satélite inteiramente desenvolvido no Brasil que entrará em órbita.

A qualificação de sistemas espaciais exige a prévia simulação das condições operacionais em órbita. No Banco de Testes com Simulação de Altitude (BTSA), do LCP/INPE, o subsistema de propulsão contendo um tanque de 45 litros de hidrazina, o combustível utilizado pelos propulsores, será testado simulando os mesmos procedimentos que o computador de controle de atitude e órbita usará no satélite no espaço.

A área do BTSA é fechada durante todo o período de teste, que tem início previsto para 11 de junho e prosseguirá por alguns dias. Bombeiros acompanham os procedimentos e os técnicos usam máscaras e vestimentas especiais durante a operação dos equipamentos. No teste em câmara de vácuo, os gases da hidrazina utilizada na combustão passam por um grande sistema de neutralização para tratamento e liberação na atmosfera sem toxidade.

O subsistema de propulsão da PMM, a Plataforma Multimissão criada pelo INPE para base de satélites como o Amazônia-1 e o Lattes, foi desenvolvido pela empresa brasileira Fibraforte com a coordenação de engenheiros do Instituto.

BTSA

Inaugurado em 1999, o Banco de Testes com Simulação de Altitude (BTSA) tem por finalidade principal testar propulsores utilizados em várias manobras espaciais, necessárias para o posicionamento e manutenção das órbitas de satélites e plataformas espaciais. Está dimensionado para testar e qualificar propulsores de até 200 N de empuxo, em um ambiente que simule as condições do espaço. O BTSA possui ainda um Laboratório de Análise de Propelentes - hidrazina, mono-metil-hidrazina, dimetil-hidrazina assimétrica, tetróxido de nitrogênio, entre outros.

O banco de teste, inicialmente projetado para testar propulsores individualmente, foi adaptado com inovações para testar o subsistema de propulsão com quatro propulsores ao mesmo tempo.

Além da novidade do teste do próprio subsistema, um dos propulsores está sendo testado com o catalisador nacional (reagente da hidrazina) fabricado pelo LCP, visando a independência de importação desse produto.

O comando e o controle dos vários equipamentos do banco de teste são feitos a partir de uma sala de comando, através de sequenciadores automáticos programáveis gerenciados por software, que controla o conjunto de vácuo, o sistema de refrigeração e um exclusivamente instalado para monitorar os propulsores e programar as sequências de tiro. O BTSA possui um sistema de segurança para o monitoramento da pressão na câmara de vácuo e de possíveis vazamentos de hidrazina no ambiente de teste.

Um sistema de aquisição armazena os dados relativos aos ensaios da campanha para posterior tratamento e análise. Alguns parâmetros mais importantes dos testes podem ser observados em tempo real através de imagens e dados em monitores.

Fonte: INPE
.

domingo, 29 de abril de 2012

Ainda sobre a "polêmica" do ACDH



Na última quarta-feira (25), reproduzimos no blog uma reportagem publicada no Jornal do SindCT acerca da compra pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no final de 2008, do sistema de controle e atitude de órbita (ACDH, sigla em inglês) do satélite Amazônia-1 junto à companhia argentina INVAP ("Relembrando a polêmica do ACDH").


No final desta semana, recebemos uma mensagem de Mario Eugênio Saturno, tecnologista sênior do INPE, com comentários sobre a matéria, os quais reproduzimos abaixo:


Informações inexatas da polêmica do ACDH

O SindCT lamentavelmente desinforma a comunidade com esta matéria com objetivo aparente de desestabilizar o atual diretor do INPE. E, o pior, parece ser por motivação pessoal com mais de duas décadas. É muito tempo! 

Como na época dos fatos relatados no texto do sindicato fui vice-presidente da Comissão de Licitação do INPE e membro do grupo que analisaria as propostas das empresas, julgo-me bom conhecedor dos fatos em questão e gostaria de compartilhar a informação.

A seguir, pinço as partes do texto que não expressam a verdade dos fatos: 

1) Sistema de controle de atitude e órbita é comprado de empresa argentina por R$ 47,5 milhões, ignorando diretriz do PNAE.


R) Não é verdade, já que o PNAE diz que se deve “Contratar, primordialmente na indústria nacional, sistemas e subsistemas completos de satélites e lançadores”. Segundo o Aurélio, “primordialmente” significa “Aquilo que se organiza ou ordena primeiramente”, não significa exclusivamente, unicamente. Portanto, não foi ignorado nada!


2) A direção do INPE deve esta explicação à comunidade e à sociedade


R) Não deve porque já foi muito explicado anos atrás, quando da contratação. Inclusive por um artigo meu.


3) Um dos principais desafios ... na área espacial. Quem as produz não as transfere, e dificilmente as vende.

R) Também pensava isso, mas, curiosamente, tivemos 5 empresas líderes na área (além da INVAP) dispostas a transferir e ensinar.

4) Além de beneficiar economicamente o país ... a EMBRAER poderá ser beneficiada com a possibilidade do livre comércio de suas aeronaves.

R) Alhos com bugalhos! Que eu saiba, o produto “satélite” brasileiro sempre vai custar mais caro por causa da escala e a EMBRAER utiliza sistemas dos EUA por causa da certificação das aeronaves, nada a ver com equipamentos espaciais, e o sistema de controle de um avião é um “pouquinho” diferente de um satélite ou um foguete.

5) No final de 2008, o INPE fez uma dispensa de licitação para comprar o subsistema ... diretamente da empresa argentina INVAP ...

R) a) Complementando, inciso XIV - para a aquisição de bens ou serviços nos termos de acordo internacional específico aprovado pelo Congresso Nacional, quando as condições ofertadas forem manifestamente vantajosas para o Poder Público. b) A INVAP não é uma empresa privada, 100% Sociedad del Estado.


6) Teria sido esta uma solução acertada para o país e para o Programa Espacial Brasileiro?


R) Foi! Da primeira tentativa feita em 1996 até 2008 foram muitos anos perdidos.

7) O que teria motivado a compra desta tecnologia no exterior?

R) Veja-se o histórico ou leia-se meu artigo.

8) Por que uma empresa argentina, com pouca tradição na venda de sistemas inerciais, teria sido escolhida como fornecedora?

R) Era a que cabia no acordo internacional! Porém, cabe ressaltar, a INVAP forneceu o satélite ao acordo com o JPL (Aquarius) da NASA.

9) As primeiras experiências ... SCD-1 ... SCD-2 ... SACI-1 ... SACI-2 ... FBM.

R) Experiências importantes mas não suficientes para um satélite controlado em três eixos.

10) Em 2003, o CNES descontinuou o programa, mas repassou ao INPE os equipamentos ... praticamente completa, faltando o software embarcado de controle.

R) O CNES descontinuou porque a direção do INPE na época não exigiu dos franceses o cumprimento do acordo. O FBM não servia aos propósitos do INPE. E “só” faltou o software...


11) O MCT transferiu ao INPE, então, a responsabilidade por este subsistema ... Para apoiar esta atividade foi estruturado um laboratório, o LABSIM ... Foi, também, organizada uma equipe para se dedicar ao Projeto de Controle da PMM, que desenvolveu trabalhos de 2003 até o início de 2006.

R) O LABSIM é isso, somente para apoio. A equipe somava de 1,5 a 2 engenheiros-mês, e até eles próprios estimaram o final do projeto em 27 anos.

12) Finalmente, como resultado da revisão do PNAE, finalizada em 2004, o DCTA e o INPE propuseram um projeto conjunto aos Fundos Setoriais ... R$ 40 milhões (60% para o DCTA e 40% para o INPE), tendo como objetivo principal na área de satélites o desenvolvimento do subsistema de controle da PMM.


R) E quais são os resultados até agora em 2012?


13) Ainda desconsiderando as iniciativas anteriores, foi, então, articulada a compra do subsistema ... mas o processo foi descontinuado pelo INPE, em face de recurso judicial interposto por um dos grupos participantes.


R) Não é verdade, foi considerado plenamente as iniciativas anteriores!

14) Finalmente, no final de 2008, a direção do INPE, através de uma dispensa de licitação, adquiriu o subsistema ... da empresa estatal argentina INVAP.


R) Esse “Finalmente, no final de 2008” dá a entender que se passou um tempão, na verdade foram poucos dias.

15) Dados, no país, o grande esforço prévio ... A menos que ao final deste contrato se verifique a existência de fornecedor nacional qualificado, via transferência de tecnologia, terá ocorrido apenas a compra ...

R) O acordo não permitiria transferência total, por opção do INPE que queria o produto rapidamente; pelos argentinos, o desenvolvimento do ACDH seria total mas demoraria cinco anos. O INPE apostou e ainda aposta no desenvolvimento interno para o satélite Lattes-1. Aliás, já houve transferência de conhecimento com o treinamento de equipes na própria INVAP.

16) A estratégia colocada em prática no início da década parece ser uma alternativa melhor sintonizada com os objetivos de autonomia e capacitação industrial do PNAE.


R) Qual? A compra completa de 2001 que foi inviabilizada por ameaças jurídicas?
Porque já existe uma equipe desenvolvendo para o Lattes-1.


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Relembrando a polêmica do ACDH



PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO: Satélite Amazônia-1

Sistema de controle de atitude e órbita é comprado de empresa argentina por R$ 47,5 milhões, ignorando diretriz do PNAE

A direção do INPE deve esta explicação à comunidade e à sociedade


Por Shirley Marciano*


Um dos principais desafios para a construção de satélites e foguetes são as chamadas tecnologias críticas. O domínio de tais tecnologias é fundamental para qualquer país, organização pública ou empresa, que tenha como missão atuar na área espacial. Quem as produz não as transfere, e dificilmente as vende.

Adicionalmente, existe um tratado internacional que regula a venda dessas tecnologias, pelo potencial de uso não pacífico. É muito importante que o país desenvolva a tecnologia de Sistemas de Controle de Atitude e Órbita, pois proporcionará ao Programa Espacial Brasileiro autonomia, custos menores, economia de tempo e, consequentemente, maior agilidade nos processos de desenvolvimento, em especial dos satélites, além de possíveis spin-offs industriais.

EUA: poder de veto

Além de beneficiar economicamente o país, com a produção de tecnologia em território nacional, a EMBRAER poderá ser beneficiada com a possibilidade do livre comércio de suas aeronaves. Isto porque o governo dos EUA tem poder de veto nas vendas de qualquer equipamento militar que conte com tecnologia americana. Em janeiro de 2006, por exemplo, foi vetada a venda de 24 unidades do Super Tucano à Venezuela, fato este que coloca em xeque a autonomia nacional na venda de aviões.

No final de 2008, o INPE fez uma dispensa de licitação para comprar o subsistema de Controle de Atitude e Órbita para a Plataforma Multimissão (PMM), do satélite Amazônia 1, diretamente da empresa argentina INVAP, no valor de, aproximadamente, R$ 47,5 milhões.

Teria sido esta uma solução acertada para o país e para o Programa Espacial Brasileiro? O que teria motivado a compra desta tecnologia no exterior? Por que uma empresa argentina, com pouca tradição na venda de sistemas inerciais, teria sido escolhida como fornecedora?

Breve histórico da tentativa de dominar a tecnologia

PNAE: “Contratar, primordialmente na indústria nacional, sistemas e subsistemas completos de satélites
e lançadores.”

As primeiras experiências na área de controle de atitude se deram na Missão Espacial Completa Brasileira (MECB). O Satélite de Coleta de Dados (SCD-1) foi lançado em 1993 e o SCD-2 em 1998.

Já o SACI-1 apresentou falha em órbita e o SACI-2 foi destruído juntamente com o VLS-2, não sendo possível avaliar a tecnologia nacional nesta segunda experiência. A terceira experiência nacional se deu com o Programa French-Brazilian Microsatellite (FBM), em que Brasil e França desenvolveriam um satélite superior aos da série SCD e SACI.

Em 2003, o Centre National d’Études Spatiales – CNES descontinuou o programa, mas repassou ao INPE os equipamentos relativos à plataforma sob responsabilidade francesa, legando aos programas futuros do INPE uma plataforma orbital, estabilizada em três eixos, praticamente completa, faltando o software embarcado de controle.

Em 2001, foi contratado o projeto e a fabricação da PMM, pela Agência Espacial Brasileira (AEB). O subsistema de controle de atitude e órbita foi licitado internacionalmente, mas sua compra foi descontinuada devido a demandas judiciais dos contendores.

O Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) transferiu ao INPE, então, a responsabilidade por este subsistema, com o objetivo de desenvolver a tecnologia no Brasil. Para apoiar esta atividade foi estruturado um laboratório, o LABSIM, que ficou pronto em 2003. Foi, também, organizada uma equipe para se dedicar ao Projeto de Controle da PMM, que desenvolveu trabalhos de 2003 até o início de 2006.

Finalmente, como resultado da revisão do PNAE, finalizada em 2004, o DCTA e o INPE propuseram um projeto conjunto aos Fundos Setoriais, na área de controle, que foi aprovado em 2005, no valor da ordem de R$ 40 milhões (60% para o DCTA e 40% para o INPE), tendo como objetivo principal na área de satélites o desenvolvimento do subsistema de controle da PMM.

Nova mudança de rumo

Em 2006, a direção do INPE decidiu comprar o subsistema de controle de atitude e órbita da primeira PMM diretamente da indústria, via o mecanismo de subvenção econômica, deixando de lado as iniciativas anteriores. Por força de regras de concessão, nenhum dos projetos que a direção do INPE articulou foi aprovado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

Ainda desconsiderando as iniciativas anteriores, foi, então, articulada a compra do subsistema através de licitação pública. Empresas nacionais associadas a empresas estrangeiras apresentaram proposta, mas o processo foi descontinuado pelo INPE, em face de recurso judicial interposto por um dos grupos participantes.

Finalmente, no final de 2008, a direção do INPE, através de uma dispensa de licitação, adquiriu o subsistema de controle de atitude e órbita da empresa estatal argentina INVAP, em contrato no valor de R$ 47,52 milhões, com vigência no período de 31/12/2008 a 30/06/2012.

Dados, no país, o grande esforço prévio em sistemas inerciais e a importante questão da qualificação de fornecedores nacionais para o programa espacial, bem como a existência de projeto de capacitação na área, como o projeto Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespacial, financiado pelos Fundos Setoriais, torna-se difícil defender a ideia de compra deste subsistema de fornecedor estrangeiro. A menos que ao final deste contrato se verifique a existência de fornecedor nacional qualificado, via transferência de tecnologia, terá ocorrido apenas a compra internacional de um subsistema, não atendendo a premissa No.1 do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) “...Contratar, primordialmente na indústria nacional, sistemas e subsistemas completos de satélites e lançadores. ...”.

Os recursos do PNAE devem ser gastos no Brasil, a menos que haja uma forte justificativa para contratar no exterior. Cabe à direção do INPE apresentar a justificativa do porquê da contratação da INVAP, uma empresa sem tradição na comercialização de sistemas de controle de atitude e órbita para satélites.

Concluindo, à luz das informações disponíveis, há, ainda, a necessidade que se demonstre ter sido uma solução acertada, para o país e para o Programa Espacial Brasileiro, a compra do subsistema de controle de atitude e órbita da primeira PMM no exterior. A estratégia colocada em prática no início da década parece ser uma alternativa melhor sintonizada com os objetivos de autonomia e capacitação industrial do PNAE.

Sistema de Controle de Atitude e Órbita: o cérebro de um satélite

A câmera de um satélite precisa de auxílio para capturar imagens de uma região previamente definida sobre a Terra. Além disso, a órbita degrada com o tempo e o satélite tende a sair do lugar. Um satélite nas órbitas baixas (750km) pode cair até alguns metros por dia. Sendo assim, a posição orbital tem que ser corrigida sempre e, para isso, tem que existir um sistema que coloque o satélite de volta em sua posição e que o oriente em relação à Terra.

O sistema de Controle de Atitude e Órbita utiliza-se de sensores que identificam a referência (para onde se quer apontar) e o apontamento real do satélite, enviam as informações para o computador de bordo, o qual aciona atuadores para efetuar a correção. Este sistema é considerado o cérebro de um satélite, mas o Programa Espacial Brasileiro nunca fabricou um por não dominar sua tecnologia.

Shirley Marciano
Jornalista do SindCT - Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais
na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial


Texto originalmente publicado no Jornal do SindCT, edição de abril de 2012

domingo, 16 de outubro de 2011

O que esperar do novo PNAE

.
Durante o Congresso Latino-Americano de Satélites, realizado no Rio de Janeiro no início deste mês, Himilcon Carvalho, Diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da Agência Espacial Brasileira (AEB) apresentou em sua palestra alguns elementos que devem constar na nova versão do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), ora em discussão.

Carvalho listou as demandas concretas, já identificadas, do Programa Espacial Brasileiro, a saber: Sistema Nacional de Prevenção e Alerta de Desastres; Estratégia Nacional de Defesa; Monitoramento Ambiental; e Segurança alimentar e hídrica. Tais demandas justificariam o desenvolvimento de missões de observação terrestre, meteorologia e comunicações, além, é claro, de meios de acesso ao espaço (um requisito da Estratégia Nacional de Defesa).

Satélites

O novo PNAE propõe dezesseis missões satelitais no período de 2012 a 2020 (ver gráfico abaixo). Cumprindo-se o cronograma proposto, a partir de 2012, o Programa Espacial Brasileiro teria ao menos um lançamento anual, com um pico de quatro missões em 2018.

Seguindo o exemplo do CBERS 2B, construído principalmente com subsistemas usados como modelos de engenharia para os dois primeiros satélites da série, a AEB adotará a mesma estratégia para o CBERS de segunda geração (além do CBERS 3 e 4, será feito o CBERS 4B, com previsão de lançamento em 2016), e o Amazônia-1, que deverá contar também com o Amazônia-1B, com expectativa de lançamento em 2015.

A AEB planeja também uma missão científica, baseada na Plataforma Multimissão (PMM), para o estudo do espectro do solo e da vegetação (Flora Hiperespectral), chamada FLORA-1, com lançamento planejado para 2016. Segundo informações recebidas pelo blog, tal missão poderia ser desenvolvida em conjunto com os Estados Unidos. Chama atenção a não inclusão da missão GPM (Global Precipitation Measurement), muito importante para o Sistema Nacional de Prevenção e Alerta de Desastres, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Inicialmente, a proposta era que o projeto fosse feito em parceria com a França ou Estados Unidos.

A missão radar, essencial para o monitoramento da região amazônica, está prevista para 2018. Ao invés de ser baseado na PMM, como inicialmente considerado (MAPSAR, em colaboração com a Alemanha), a AEB agora apresenta o satélite como sendo da classe de 2500 kg, possivelmente utilizando-se da plataforma desenvolvida para o CBERS, o que indicaria a possibilidade de se desenvolvê-la em parceria com a China, como tem sido buscado pela AEB.

O novo PNAE terá ainda uma orientação para missões de microssatélites científicos. Seriam três, uma voltada para clima espacial (CLE-1, em 2018), e duas de astrofísica (AST-1 e AST-2, em 2019 e 2020, respectivamente), a serem lançadas pelo futuro Veículo Lançador de Microssatélites (VLM).

Foguetes de sondagem e lançadores

As iniciativas em foguetes de sondagem e lançadores, lideradas pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), de São José dos Campos (SP), devem continuar apostando fortemente na cooperação com a Alemanha, que este ano completa quarenta anos (mais sobre essa cooperação, em breve no blog Panorama Espacial). Muito embora não haja definição dentro do IAE sobre o caminho a ser seguido para o desenvolvimento do VLM, dentre as várias possibilidades (cooperação com França, Rússia, Ucrânia, Alemanha ou Itália), a AEB parece apostar na cooperação com os alemães, numa extensão do projeto SHEFEX (SHarp Edge Flight EXperiment).

.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Astrium se fortalece no Brasil

.
A Astrium, divisão espacial do grupo europeu EADS, está se fortalecendo no País. Em dezembro de 2010, a empresa fez um novo aporte de capital na indústria Equatorial Sistemas, de São José dos Campos (SP), da qual é acionista, em linha com sua estratégia de usá-la como plataforma industrial para novos projetos no Brasil e na América do Sul. Numa restruturação organizacional do grupo, o experiente executivo Jean-Noel Hardy, ex-presidente da Helibras, e que desde junho de 2009 respondia pelas atividades da Astrium no Brasil, teve seu escopo de atuação ampliado, passando a também responder por todo o mercado latino-americano.

No final de 2010, o grupo conquistou alguns sucessos junto ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Sua subsidiária SODERN fornecerá sensores de estrelas para o satélite de observação terrestre Amazônia-1, baseado na Plataforma Multimissão (PMM), e a Equatorial Sistemas foi selecionada para desenvolver e fabricar o gravador digital de dados do mesmo satélite.

Durante a LAAD 2011, a Astrium e a Equatorial Sistemas apresentaram a câmera HIRIS (Hyperspectral Imager for Remote Intelligence & Surveillance) (foto acima), desenvolvida no Brasil com recursos da FINEP, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O sensor pode ser usado numa variedade de plataformas, tais como aviões, helicópteros e veículos aéreos não tripulados (VANTs), em aplicações militares, como a detecção de alvos, camuflagens e minas terrestres, e civis, na identificação de materiais, monitoramento de meio ambiente, agricultura, mitigação de desastres e planejamento urbano.

Fonte: Coluna Defesa & Negócios, de André M. Mileski, publicada na edição nº 125 da revista Tecnologia & Defesa.

Comentário: em complemento a nota acima, importante mencionar a compra da Vizada, no início desta semana, pela Astrium (ver a postagem "EADS Astrium compra a Vizada"), que acabará por ampliar o escopo de atuação da empresa na região.
.

terça-feira, 31 de maio de 2011

INPE: Política espacial no setor de satélites

.
Uma apresentação feita no início de maio pelo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Gilberto Câmara, acerca da política espacial no setor de satélites traz algumas informações interessantes. A apresentação foi realizada numa das várias reuniões que têm sido promovidas para a revisão do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), sob responsabilidade da Agência Espacial Brasileira (AEB).

Num dos slides, Câmara destaca o total já contratado junto a indústria espacial nacional: R$ 450 milhões, sendo que destes, pouco mais de R$ 320 milhões se referem aos satélites construídos em parceria com a China, o CBERS 3 e 4. Na imagem abaixo, há indicações sobre o montante de cada contrato outorgado às indústrias brasileiras no caso do programa sino-brasileiro:

Outro slide conta com uma tabela que demonstra ganhos, tanto em preço como em prazo, com a assinatura de contratos recorrentes com as indústrias. Diga-se de passagem, esta é uma tendência que tem sido muito discutida no exterior, especialmente nos Estados Unidos. A estrutura do Lattes, por exemplo, baseado na Plataforma Multimissão (PMM), foi contratada pelo valor de R$ 1,98 milhão, com prazo de execução de 21 meses, tendo por paradigma o Amazônia-1, também baseado na PMM, cujo contrato assinado foi de R$ 3,9 milhões e prazo de 27 meses. Houve, portanto, um ganho de 49% em preço e de 6 meses em prazo.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Brasil - Argentina: Avanços no Sabia-Mar

.
Brasil e Argentina construirão dois satélites Sabiá-mar

23-05-2011

A cooperação Brasil-Argentina para a construção conjunta de dois satélites de observação oceanográfica, o Sabiá-mar 1 e 2, eleva-se a uma fase mais avançada, pois já conta com os recursos necessários para tornar-se realidade.

Na reunião do Mecanismo de Integração e Cooperação entre os dois países, realizada na Embaixada da Argentina, na última quinta-feira (19), o chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Monserrat Filho, relatou que o Brasil já dispõe dos recursos financeiros destinados ao desenvolvimento básico do projeto Sabiá-mar. O lado argentino, por sua parte, também está pronto para iniciar esse trabalho cooperativo, que, estima-se, terá forte impacto não apenas nos dois países, mas igualmente em toda a América Latina. “Será a primeira vez que dois países latino-americanos se unirão para construir satélites, usando tão somente suas competências e capacidades”, comentou Monserrat.

Segundo o coordenador-geral do Programa de Satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Marco Chamon, as áreas de engenharia dos dois países já aprofundaram o detalhamento técnico do projeto. Ao Brasil, caberá a Plataforma Multimissão para os dois satélites (de pequeno porte). E a Argentina responderá pelas cargas úteis. No entanto, cada parte poderá participar ativamente nos itens de responsabilidade da outra parte. As próximas tarefas a serem cumpridas serão definidas no encontro de Buenos Aires.

De parte da Argentina, a reunião do Mecanismo de Integração e Cooperação dos dois países foi conduzida pelo ministro Sérgio Pérez Gunella e contou com a presença de vários diplomadas argentinos.

O próximo passo será a realização de um seminário técnico, em Buenos Aires, nos dias 30 de junho e 1º de julho, com as equipes de engenheiros encarregadas de concretizar o projeto.

Fonte: AEB

Comentários: em sua palestra na LAAD 2011, em abril, o presidente da AEB, Marco Antonio Raupp, já havia revelado que o programa Sabia-MAR envolveria o desenvolvimento e construção de dois satélites, e não apenas um como inicialmente planejado. Interessante observar que o escopo de participação de cada país no projeto conjunto também parece ter mudado. Em entrevista concedida ao blog Panorama Espacial em novembro de 2010, Thyrso Villela Neto, diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da AEB, afirmou que ao Brasil caberia o fornecimento das cargas úteis, enquanto que a Argentina seria responsável pela plataforma. O blog acredita que esta mudança esteja relacionada à decisão de se construir dois satélites ao invés de um, adequando-se assim às dimensões e potência atendidas pela Plataforma Multimissão (PMM), desenvolvida pelo INPE em parceria com indústrias nacionais. Tão logo tenhamos mais informações sobre o racional desta mudança, divulgaremos aqui no blog.
.