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terça-feira, 1 de novembro de 2016

T&D: "Satélites de Observação Terrestre na América do Sul"

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Satélites de Observação Terrestre na América do Sul

André M. Mileski

Nos últimos anos, o número de países que passaram a deter meios autônomos de observação terrestre a partir do espaço cresceu consideravelmente, seguindo uma tendência global de disseminação da tecnologia espacial entre os chamados emergentes. Na América do Sul, não tem sido diferente, com países que já têm tradição nesse campo, como Brasil e Argentina, lançando novas missões de observação, o Chile e a Venezuela se juntando ao clube, e outros como Peru e Bolívia prestes a integrá-lo.

A seguir, um panorama sobre os programas e projetos de satélites de observação terrestre na América do Sul, numa atualização de artigo similar publicado no final de 2013, na edição n.º 133 de T&D.

Argentina

O programa argentino de satélites de observação é hoje um dos mais avançados da América do Sul, ao lado do brasileiro, abrangendo missões tanto óticas como radar, geralmente implementadas em regime de parceria internacional. Seu primeiro sistema de sensoriamento remoto foi o SAC-C, lançado em 21 de novembro de 2000, e que contava com dois sensores óticos com resoluções nas faixas de 35 a 350 metros, destinados a produzir imagens multiespectrais para estudos da Terra, além de sensores científicos específicos. A missão foi realizada em cooperação com a agência espacial norte-americana (NASA), além de institutos de pesquisa da Europa e o Brasil, que executou os testes finais do artefato no Laboratório de Integração e Testes (LIT), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos (SP).

Passo seguinte foi dado com o SAC-D/Aquarius, uma parceria internacional, com participação de institutos dos Estados Unidos, França, Itália, Canadá e Brasil, e colocado em órbita em 10 de junho de 2011. Muito embora a missão tenha caráter mais científico (o sensor Aquarius, fornecido pela NASA, é um radiômetro em banda L para medição da salinidade dos oceanos), o satélite também foi equipado com uma câmera de alta sensibilidade (visualização de iluminação urbana, embarcações, tormentas elétricas, cobertura de neves), com 200/300 metros de resolução, e um sensor infravermelho (imageamento de incêndios e atividades vulcânicas), com resolução de 350 metros. Atualmente, a Argentina é o único país sul-americano a desenvolver de fato uma constelação de satélites com tecnologia de radar de abertura sintética (SAR, sigla em inglês), capaz de imagear a superfície terrestre independente de luz e cobertura de nuvens, no âmbito do projeto SAOCOM. O projeto, que integra o Plano Espacial Nacional e é tocado pela Comisión Nacional de Actividades Espaciales (CONAE) prevê a construção de duas constelações, a SAOCOM 1 e SAOCOM 2, cada uma sendo composta por dois satélites. Os artefatos da primeira constelação estão em desenvolvimento e devem ser lançados a partir de 2017, tendo vida útil estimada em cinco anos. Contarão com um sensor radar operando em banda L, com resolução espacial entre 10 e 100 metros e cobertura de 35 a 350 km, com diferentes ângulos de observação. Quando em operação, o SAOCOM integrará o Sistema Ítalo-Argentino de Satélites para a Gestão de Emergências (SIASGE), considerado único no mundo, que envolverá a integração dos satélites argentinos com a constelação italiana COSMO-SkyMed.

Outro projeto nos planos argentinos é o do Satélite Argentino-Brasileiro de Informações Ambientais Marítimas - SABIA-Mar (designado localmente como SAC-E), discutido desde o final de 1998 com o vizinho, mas que apenas recentemente recebeu um novo impulso para a sua viabilização.

Bolívia

Apesar de ser um dos países mais pobres da América do Sul, durante o governo de Evo Morales a Bolívia buscou estruturar um programa espacial, e seu primeiro projeto concretizado foi o de um satélite geoestacionário de comunicações, o Tupac Katari, adquirido na China em dezembro de 2010 e lançado ao espaço no final de 2013. Desde então, um sistema de observação também está nos planos do governo local, para aplicações como o monitoramento de recursos minerais, muito embora não existam indicativos claros sobre a negociação e mesmo disponibilização de recursos para a aquisição. O satélite já tem até um nome definido – Bartolina Sisa, esposa de Tupac Katari, uma liderança indígena da história boliviana, com especificações também já definidas pela Agência Boliviana Espacial (ABE).

Apesar do programa espacial ter se iniciado com apoio chinês, o caminho para a obtenção de seu satélite de observação não necessariamente passa por Pequim. Segundo declarações dadas por representantes da ABE, várias empresas demonstraram interesse em cooperar com a Bolívia na obtenção de seu próprio satélite, dentre as quais a China, França, Reino Unido, Espanha, Argentina, Rússia e Japão. Nota-se que o governo e empresas francesas, que nos últimos anos já fecharam negócios com a Bolívia envolvendo a venda de helicópteros e sistemas de radares, estão bastante empenhadas em participar.

As estimativas de custos do projeto oscilam entre US$ 100 e 200 milhões, a depender da especificação final do sistema, e aguarda-se para breve uma definição sobre a disponibilização de recursos e definição do fabricante.

[Nota do blog: após o fechamento do artigo (setembro de 2016), surgiram notícias na imprensa boliviana indicando que o governo teria decidido "atrasar" o projeto de seu satélite de observação, passando a priorizar a encomenda de um segundo satélite de comunicações, o Túpac Katari II, para lançamento em 2021. A alegada razão seria o fato de que o satélite de comunicações geraria receitas financeiras, enquanto que o sistema de observação exigiria investimentos públicos que não seriam facilmente recuperados, não sendo o momento atual o mais adequado para tal investimento.]

Brasil

O Brasil foi pioneiro no continente sul-americano na exploração espacial, inclusive em sensoriamento remoto a partir do espaço. Em abril de 1973, o País se tornou o terceiro no mundo – depois dos Estados Unidos e do Canadá – a dispor de uma estação terrena de imagens de satélite, no caso, o norte-americano ERTS-1 (que originou a família Landsat), instalada em Cuiabá (MT) e operada pelo INPE. A busca pelo desenvolvimento de alguma autonomia em imageamento a partir do espaço veio com a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), lançada pelo governo no final da década de 1970, objetivando capacitações nos segmentos de lançadores (programa VLS), satélites e infraestrutura terrestre (laboratórios e centros de lançamento). A MECB previu o desenvolvimento e construção de dois satélites de sensoriamento, começando-se pelo SSR-1, que mais tarde veio a ser conhecido como Amazônia-1.

Após uma série de dificuldades tecnológicas e administrativas, a conclusão do Amazônia-1 é aguardada para os próximos anos, em 2018, após investimentos de cerca de R$ 200 milhões, e que contou com extensa contratação junto à indústria nacional. Baseado na Plataforma Multimissão (PMM), desenvolvida pelo INPE em conjunto com a indústria nacional, será equipado com uma câmera de visada larga com 40 metros de resolução e faixa de cobertura superior a 700 km, que produzirá imagens da Terra para aplicações no agronegócio, meio-ambiente, monitoramento de recursos naturais e em outros fins. Após o lançamento do Amazônia-1, espera-se que outros dois artefatos sejam colocados em órbita nos anos seguintes, o Amazônia-1B e o Amazônia-2.

Quase dez anos após a MECB, os governos do Brasil e da China assinaram um acordo de cooperação tecnológica visando ao desenvolvimento de dois avançados satélites de sensoriamento emoto, dentro do programa denominado CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite), que desde então tem contribuído significativamente para a capacidade nacional em obter, processar e interpretar imagens geradas a partir do espaço.

O acordo assinado em 1988 contemplava o desenvolvimento e construção de dois satélites idênticos de sensoriamento remoto equipados com sensores óticos. Nos dois primeiros satélites, as responsabilidades não foram divididas igualitariamente: à China, caberia o desenvolvimento, fabricação e custeio do equivalente a 70% do projeto, enquanto que à parte brasileira os 30% restantes. O primeiro modelo, o CBERS 1, foi colocado em órbita heliossíncrona, a 778 km de altitude, em 14 de outubro de 1999, e operou até 2003, superando em quase 100% o tempo de sua vida útil estimada de dois anos. O segundo, por sua vez, subiu ao espaço em 21 de outubro de 2003. Em novembro de 2002, os dois governos firmaram um novo acordo prevendo a continuidade do CBERS com a construção de outras duas unidades - CBERS 3 e 4, maiores e mais sofi sticados, com sensores óticos com resoluções na faixa de 5 a 70 metros. Nesse novo acordo, definiu-se também uma nova divisão dos investimentos, agora igualitária, cada um respondendo por 50%.

Após a colocação em órbita do CBERS 2, e considerando que o CBERS 3 seria lançado apenas mais adiante, o INPE e sua contraparte chinesa decidiram construir um novo satélite idêntico aos de primeira geração, chamado CBERS 2B, de modo a cobrir o hiato da retirada de operação do último satélite da primeira série e a entrada de seu sucessor da segunda série. O CBERS 2B foi lançado em setembro de 2007.

O CBERS 3 foi perdido numa falha do lançador chinês no início de dezembro de 2013, o que levou a uma aceleração do cronograma para a colocação em órbita do CBERS 4, de forma a minimizar os danos causados pela ausência de um satélite da série em funcionamento. Na manhã de 7 de dezembro, a partir da base de Taiyuan, a cerca de 700 km de Pequim, o foguete Longa Marcha 4B decolou e, 12,5 minutos mais tarde, inseriu em órbita o CBERS 4.

Em razão da perda do CBERS 3 e considerando a vida útil estimada em três anos do CBERS 4, os governos do Brasil e da China optaram por construir um terceiro artefato da segunda geração da família, o CBERS 4A, que se aproveitará de componentes e subsistemas já contratados e construídos no processo de desenvolvimento dos modelos anteriores. O equipamento deve ser lançado ao espaço em setembro de 2018, e o desenvolvimento de uma terceira família, com mais dois satélites (CBERS-5 e 6) está em discussão no âmbito do Plano Decenal de Cooperação Espacial Brasil-China 2013-2022.

As imagens geradas pelo CBERS são utilizadas em programas de monitoramento do desmatamento na Amazônia, bem como em aplicações voltadas para a vegetação, a agricultura, o meio ambiente, o gerenciamento hídrico, a cartografia, a geologia, o gerenciamento de desastres naturais e a educação sobre temas ambientais.

O INPE tem também trabalhado há vários anos no conceito de um satélite radar (SAR), que inicialmente seria desenvolvido em conjunto com instituições da Alemanha, baseado na PMM. O sistema é tido como essencial para as necessidades brasileiras, em particular no monitoramento do desmatamento na Amazônia, tendo em vista sua capacidade de imageamento em quaisquer condições de tempo. No projeto atual, conforme previsto no Programa Nacional de Atividades Espaciais - PNAE 2012 - 2021, o SAR deverá dotado de um imageador radar de abertura sintética, operando em vários modos, com múltiplas resoluções na faixa de 5 a 30 metros, destinado a aplicações voltadas ao meio-ambiente, agricultura, defesa, entre outras. Seu lançamento é previsto para 2020, muito embora ainda faltem definições quanto a tecnologia a ser adotada e possível cooperação internacional.

Outra missão nos planos da Agência Espacial Brasileira (AEB) e INPE é a SABIA-Mar, desenvolvida em conjunto pelo Brasil e a Argentina. Trata-se de um sistema completo de observação da Terra dedicado ao sensoriamento remoto de sistemas aquáticos oceânicos e costeiros incluindo águas interiores, baseado em uma constelação de dois satélites. Junto à missão primária, os artefatos poderão, também, observar águas interiores, e obter dados em escala global da cor dos oceanos. Suas imagens poderão ser usadas em aplicações relacionadas à pesca e na aquicultura, no gerenciamento costeiro, no monitoramento de recifes de coral, de florações de algas nocivas e de derrames de óleo, na previsão do tempo, na análise da qualidade das águas, entre outras. A partilha das tarefas no desenvolvimento dos satélites será de 50% para cada país, sendo que o projeto se encontra em fase preliminar.

No campo militar, desde a aprovação pelo Comando da Aeronáutica das diretrizes para a aprovação do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), passou-se a ter um panorama mais claro sobre as demandas das Forças Armadas por dados gerados a partir do espaço, assim como as estratégias para o seu atendimento. O PESE considera a constituição de uma constelação própria de satélites para fins de observação terrestre – tanto óticos como radares, meteorologia, navegação e comunicações, dentre outras finalidades, cuja viabilização depende da disponibilização de recursos orçamentários. No rol de prioridades do PESE, meios de observação, em especial óticos, ocupam o topo, e acredita-se que uma concorrência possa ser iniciada dentro dos próximos anos.

Mais recentemente, embora ainda em fase muito embrionária, começou a ser discutido um projeto de pequeno satélite de observação para o atendimento de demandas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) quanto ao monitoramento de propriedades rurais. Um acordo de cooperação técnica foi assinado em maio entre o INCRA e a Agência Espacial Brasileira (AEB), e a depender da disponibilidade de orçamento e interação com outros projetos constantes do PNAE e PESE, poderia levar à operação de um pequeno satélite ótico, a ser denominado Incra Sat, a partir de 2021.

Colômbia

Um dos países do continente que mais tem crescido nos últimos anos - a previsão é de que nos próximos anos supere a Argentina, tornando-se a terceira maior economia da América Latina, atrás apenas do Brasil e México - a Colômbia também considera em seus planos estratégicos a obtenção de capacidade autônoma de observação terrestre a partir do espaço. Há gestões da Comisión Colombiana del Espacio (CCE), vinculada à Vice-Presidência da República, para o desenvolvimento de um programa satelital, iniciativa que deverá envolver parcerias com governos e indústrias estrangeiras.

Em setembro de 2015, os processos iniciais visando à aquisição de seu satélite foram interrompidos por orientação do vice-presidente, Gérman Vargas Llera, sob o argumento de que a compra de imagens diretamente por entidades governamentais apresentaria um custo inferior à aquisição de um sistema próprio, argumentação sujeita à críticas e questionamentos mesmo em seu país.

Chile

Em julho de 2008, após um processo de seleção que envolveu os principais fabricantes do mundo, o Chile se tornou o terceiro país do continente a contratar um sistema espacial de observação, encomendando um microssatélite junto à europeia Astrium, hoje parte da Airbus Defence and Space, num negócio avaliado em US$ 72 milhões.

Lançado no final de 2011, o SSOT (Sistema Satelital de Observación de la Tierra), também conhecido localmente como Fasat Charlie, é uma missão dual, com aplicações civis e militares, encomendado pelo Ministério da Defesa do Chile em julho de 2008. O satélite tem 117 kg de massa e conta com um sensor ótico capaz de produzir imagens com 1,45 metros de resolução, para aplicações como mapeamento, agricultura e gerenciamento de recursos e desastres naturais. Sua vida útil é estimada em cinco anos. A partir de uma estação terrestre em Santiago, o satélite é operado por uma equipe de engenheiros chilenos, treinados nas instalações da Airbus Defence and Space, em Toulouse, no sul da França, onde o sistema e o satélite foram desenvolvidos e construídos.

Com a proximidade do término da vida útil do SSOT, Santiago tem considerado alternativas para a manutenção e mesmo ampliação de sua capacidade de observação a partir do espaço, em nova concorrência que deverá atrair a participação dos principais fabricantes globais. O governo francês e a Airbus Defence and Space firmaram novos acordos e iniciativas de cooperação com entidades chilenas visando pavimentar o caminho para a continuidade da parceria iniciada com o Fasat Charlie, mas outros países e empresas interessadas, com destaque para a China e Israel também tem buscado se posicionar para fornecer suas tecnologias ao país andino.

Peru

Seguindo o exemplo de seus vizinhos, o Peru também avançou na busca dessa capacidade. As intenções peruanas datam de 2006, mas foram celeradas a partir do momento em que o Chile, um rival histórico, passou a contar com seu sistema próprio, em julho de 2008, culminando, em abril de 2014, com a contratação da Airbus Defence and Space para o desenvolvimento e construção de seu primeiro satélite, denominado PerúSAT-1. A contratação se deu após uma intensa concorrência promovida pelo Ministério da Defesa e pela Agência Espacial do Peru (CONIDA), da qual participaram fabricantes da França, Israel, Espanha e Coréia do Sul, entre outros.

A seleção da proposta da Airbus Defence and Space por parte do governo peruano foi fundamental para a consolidação de sua presença na região, um mercado que, embora pequeno, é considerado muito importante, segundo Christophe Roux, vice-presidente do grupo para a América Latina. A Airbus está atenta a outras possibilidades na América do Sul, como o Chile, Bolívia e Brasil, e tem seguido uma estratégia de oferecer treinamento, transferência de conhecimento e acesso a serviços de imagens, e em determinados casos, como no Brasil, industrialização local e transferência tecnológica.

O projeto peruano, estimado em cerca de US$ 200 milhões, inclui um satélite ótico de última geração dotado de um sensor de alta resolução (derivado da família Naomi), assim como um centro de controle, recepção e processamento de imagens, chamado Centro Nacional de Operaciones de Imágenes Satelitales del Perú (CNOIS), que abrigará o segmento terrestre de controle, recepção e processamento dos dados do satélite. Também abrange um pacote de absorção tecnológica por meio do treinamento de engenheiros e técnicos peruanos, além do fornecimento de imagens geradas por satélites óticos e radares da constelação própria da Airbus Defence and Space.

O PerúSAT-1 foi construído em torno de uma plataforma AstroBus-S, compacta e altamente flexível, utilizada em missões como as do Pléiades, SPOT 6 e 7, Ingenio (Espanha) e KazEOSat-1 (Cazaquistão). Contará com um sensor ótico com resolução de 70 centímetros, a mais avançada da América Latina. O modelo, que terá massa próxima de 400 kg e será posicionado a 694 km de altitude, foi construído em menos de dois anos, e produzirá dados para gestão de áreas terrestres, controle de fronteiras e combate ao tráfico de drogas. Suas imagens poderão também ser utilizadas para apoio e gestão de missões humanitárias e em casos de desastres naturais, como enchentes, incêndios florestais, deslizamentos e erosões.

No início de agosto, o PerúSAT-1 foi transportado de Toulouse para Kourou, na Guiana Francesa, de onde será lançado ao espaço em setembro, a bordo de um foguete Vega, operado pela Arianespace.

[Nota do blog: o PerúSAT-1 foi colocado em órbita com sucesso em 16 de setembro. No início de outubro, a Airbus divulgou publicamente a entrega de suas primeiras imagens, como a tela abaixo, da mina de cobre Cuajone, localizada no sul do Peru.]


Venezuela

Em seu governo, o falecido presidente Hugo Chávez buscou colocar a Venezuela em situações de independência em alguns setores considerados estratégicos, como comunicações e observação terrestre. O primeiro passo dado foi a aquisição de um satélite de comunicações, o Venesat-1, comprado da chinesa China Great Wall Industry Corporation (CWIC) e inserido em órbita no final de 2008. O passo seguinte, seguindo a tendência mundial, foi um satélite de observação terrestre, gozando da parceria espacial mantida com os chineses desde o Venesat-1, num investimento de US$ 140 milhões.

A contratação para a construção do satélite, chamado de Francisco Miranda, mas também designado como VRSS-1 (Venezuelan Remote Sensing Satellite) ocorreu em maio de 2011, e representou o segundo satélite desenvolvido pela estatal CGWIC para o governo venezuelano - o primeiro, lançado em outubro de 2008, foi o satélite de comunicações Venesat-1. O VRSS-1 também representa o primeiro satélite de observação exportado pela hina, que se busca firmar como player nesse segmento, a exemplo do que já acontece em comunicações.

O Francisco Miranda foi lançado ao espaço em outubro de 2011 por um foguete Longa Marcha 2D, a partir do centro espacial de Jiquan, no noroeste da China. O VRSS-1 é capaz de produzir imagens com 2,5 metros de resolução, gerando em torno de 350 imagens por dia. Seus dados têm sido utilizados para operações de planejamento urbano, monitoramento ambiental, de mineração ilegal e tráfico de drogas, além de aplicações em defesa. Sua operação está a cargo da Estação Terrena de Controle Satelital localizada na Base Aeroespacial Capitán Manel Rios (BAMARI), a cerca de 190 km de Caracas. Apesar da forte crise política e econômica, a Venezuela segue adiante com suas iniciativas em sensoriamento remoto com o satélite José Antonio de Sucre (VRSS-2), com lançamento previsto para setembro de 2017 e investimentos totais estimados em US$ 170 milhões. A exemplo dos modelos anteriores, o Sucre está sendo construído na China e recentemente teve concluída com êxito a fase de revisão crítica do projeto (CDR, sigla em inglês), conduzida por especialistas chineses e venezuelanos. De acordo com informações divulgadas na mídia local, o Sucre terá massa estimada em 1.000 kg, contando com um sensor ótico de alta resolução, apto a produzir imagens de até 1 metro com faixa de 30 km, e também com uma câmera infravermelha.

Fonte: Tecnologia & Defesa n.º 146 (setembro de 2016).
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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

INPE: Entrevista com Amauri Montes, coordenador da Engenharia e Tecnologia Espacial

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A mais recente edição do "INPE Informa", boletim editado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) dá sequência a sua série de entrevistas, desta vez com Amauri Montes, coordenador da Engenharia e Tecnologia Espacial (ETE), que este ano completa trinta anos de existência. O ETE responde pelo desenvolvimento dos satélites do Instituto, como os da família SCD na década de noventa, e os de observação terrestre da família CBERS e Amazônia.

Além de uma interessante abordagem histórica, temas como política industrial, programa CBERS, Amazônia-1, cooperação internacional, ACDH, PESE, licitações, Plano Diretor, apenas para citar alguns, são abordados. Para ler a entrevista, clique aqui.
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terça-feira, 13 de outubro de 2015

Avanços do Amazônia-1

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Concluído o modelo térmico do satélite Amazônia-1

Sexta-feira, 09 de Outubro de 2015

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) concluiu o modelo térmico do Amazônia-1. Destinado ao monitoramento de recursos naturais, o satélite é o primeiro construído a partir da Plataforma Multimissão (PMM), estrutura inovadora desenvolvida pela instituição brasileira, capaz de se adaptar aos propósitos de diferentes missões e, assim, reduzir custos de projetos espaciais.

Os ensaios térmicos acontecem nos próximos dois meses no Laboratório de Integração e Testes (LIT) do INPE, em São José dos Campos (SP). Durante os testes, são simuladas as condições em órbita enfrentadas pelo satélite, exposto a temperaturas extremas e radiação espacial.

“As partes mais expostas do satélite enfrentarão temperatura de aproximadamente -80ºC no período de eclipse e +80ºC no período iluminado. Uma importante etapa do desenvolvimento de um satélite é demonstrar que suas temperaturas são mantidas dentro dos limites especificados, garantindo seu funcionamento. Para isso, construímos um modelo representativo do satélite para passar por ciclos de teste que visam qualificar o Subsistema de Controle Térmico”, explica Adenilson Roberto da Silva, coordenador do Programa de Satélites baseados na Plataforma Multimissão do INPE.

O modelo térmico do primeiro satélite nacional de observação terrestre será colocado na câmara vácuo-térmica do LIT/INPE para a simulação, em várias etapas, das condições limites do ambiente térmico previstas em órbita terrestre.

O controle térmico do Amazônia-1 foi projetado por técnicos da Coordenação de Engenharia e Tecnologia Espacial (ETE) do INPE. Após a realização do Teste de Balanço Térmico, para qualificar o Subsistema de Controle Térmico do satélite, começam os preparativos para a integração e testes do modelo elétrico, que visa verificar e validar as funcionalidade e interfaces entre os subsistemas. Depois disso, será integrado e testado o modelo de voo do Amazônia-1.

Qualificação

Durante o processo de desenvolvimento, o projeto do satélite se tornou mais complexo pela introdução de novas técnicas e dispositivos. A utilização de mantas isolantes multicamadas foi intensiva e exigiu o aprimoramento do projeto e dos procedimentos de fabricação e implementação.

Um satélite exige a instalação de aquecedores em seus componentes mais sensíveis, como as baterias, elementos do sistema de propulsão e equipamentos da carga útil. Os aquecedores são controlados, em malha fechada, por um software instalado no computador de bordo.

Tintas, fitas de controle térmico, isolantes e acopladores condutivos e materiais de interface (folhas de índio e mantas a base de silicone) completam o arsenal utilizado para manter as temperaturas de todos os componentes do satélite dentro de seus limites operacionais, quando em órbita terrestre.

O Modelo Térmico foi construído a partir do Modelo Estrutural, já qualificado por testes mecânicos que simularam condições de vibração e de acústica. Para qualificar a estrutura mecânica, foram dimensionadas e caracterizadas as cargas que o satélite irá experimentar durante o lançamento.

Para os testes térmicos, os equipamentos eletrônicos, antes representados por “dummies” estruturais, foram adaptados para serem “dummies” térmicos. “Todos os elementos de controle térmico foram instalados conforme estabelecido no projeto, de forma a representar fielmente as funcionalidades térmicas do satélite”, conclui Issamu Muraoka, engenheiro do INPE responsável pela arquitetura térmica do satélite Amazônia-1.

Fonte: INPE


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quinta-feira, 30 de abril de 2015

XVII SBSR: CBERS, Amazônia-1 e Fundo Amazônia

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O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou dois press releases destacando sua atuação e projetos em sensoriamento remoto durante o XVII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto (SBSR), que se encerrou ontem (29) em João Pessoa, Paraíba. Veja os principais trechos abaixo, com edição do blog.

Diretor ressalta sucesso do CBERS, aplicações de satélites e participação internacional no SBSR

Leonel Perondi, diretor do INPE, ressaltou a ampla participação de especialistas do mundo todo durante a solenidade de abertura do XVII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto (SBSR), na noite de domingo (26/4).

Em seu discurso de abertura, o diretor destacou o sucesso brasileiro no desenvolvimento de satélites de sensoriamento remoto e de suas aplicações. “O satélite CBERS-4 (realizado em parceria com a China) foi lançado com pleno êxito em dezembro e opera conforme as especificações. Imagens dos quatro sensores são disponibilizadas em operação rotineira pelo lado chinês desde a segunda quinzena deste mês e pelo lado brasileiro a partir de junho”, disse Perondi.

O Programa CBERS representa um grande avanço na capacitação da indústria nacional. “Além dos subsistemas completos de suprimento de energia e estrutura, foram projetados e fabricados no país os sensores MUX, com quatro bandas espectrais e 20 m de resolução, e WFI, com quatro bandas espectrais e resolução de 64 m. Com a operação em órbita destes sensores, o Brasil passa a integrar um seleto grupo de países com a capacidade de projetar e fabricar sensores para imageamento do planeta”, disse Perondi.

O diretor citou ainda o primeiro satélite desenvolvido a partir do projeto totalmente brasileiro Plataforma Multi-Missão (PMM), o Amazônia-1, que se encontra na fase de integração e tem lançamento previsto para 2017.


Fundo Amazônia vai aprimorar estudos e projetos do INPE

O INPE está aperfeiçoando seus sistemas que monitoram desmatamentos, degradação florestal e queimadas com recursos do projeto Monitoramento Ambiental por Satélites no Bioma Amazônia, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio do Fundo Amazônia.

"Após os três anos e meio previstos para a vigência deste projeto, os programas do INPE relacionados ao bioma Amazônia terão sido amplamente incrementados, proporcionando ao país, particularmente ao Ministério do Meio Ambiente, ferramentas ainda mais eficientes e eficazes para o monitoramento ambiental da Amazônia”, declarou Leonel Perondi.

O contrato na ordem de R$ 70 milhões foi firmado com o BNDES no final de 2014 e permitirá melhorias na recepção e distribuição de imagens de sensoriamento remoto. O projeto prevê ainda o aperfeiçoamento de métodos de estimativa de biomassa e de emissões, entre outras ações para o mapeamento do uso e cobertura da terra na Amazônia e modelagem de mudanças ambientais.

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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Satélites do INPE: o factível em 2016 - 2018

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No início deste mês, entrevistamos por telefone o vice-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Oswaldo Duarte Miranda, que apresentou brevemente um panorama sobre os projetos de satélites em andamento no Instituto. A seguir, listamos os principais tópicos abordados na conversa:

- Indústria espacial: questionado pela reportagem, o dirigente falou sobre a necessidade de cadência de missões para gerar carga de trabalho à indústria, por meio de uma "política espacial de médio e longo prazo". "Hoje há uma lacuna efetiva [de contratos]", disse. Com o CBERS 4, lançado ao espaço em dezembro último, fechou-se um ciclo, e muito embora haja previsão de algumas contratações da indústria para o CBERS 4A, para retrabalho em sobressalentes, estas serão em escala bem menor.

- Amazônia-1 - Parte 1: para este ano está previsto o início das atividades de integração do modelo de voo do Amazônia-1, satélite de observação baseado na Plataforma Multimissão (PMM). Os contratos industriais estão todos em fase final, e espera-se para o 1º semestre os trabalhos, desenvolvidos pelo INPE e Agência Espacial Brasileira (AEB), visando à definição e contratação do lançamento. No ritmo atual, e se não houver surpresas, acredita-se num voo dentro de dois anos.

- Amazônia-1 - Parte 2: no final deste mês ou, no mais tardar no início de fevereiro, deve acontecer a entrega do sistema de controle de atitude e órbita contratado junto a argentina INVAP. Este será então submetido a testes de qualificação. Sobre o problemático subsistema de suprimento de energia, para muitos o grande gargalo da PMM, ainda existem discussões entre a AEB, INPE a indústria responsável por seu desenvolvimento e fabricação. Segundo Miranda, não está descartada a contratação de outra indústria para a conclusão do subsistema.

- Amazônia-1 - Parte 3: está sendo seriamente considerada possibilidade de que a carga útil principal do satélite, um sensor imageador, seja uma câmera WFI (Wide Field Imager) similar a do CBERS 4, e não a versão avançada (AWFI), cujo desenvolvimento tecnológico, a cargo da Opto Eletrônica, enfrenta dificuldades, sem expectativa de ser encerrado em menos de dois anos. Uma decisão definitiva deve ser tomada ainda no primeiro semestre, e caso vá adiante, o blog Panorama Espacial entende que deve resultar em nova encomenda junto a indústria (possivelmente um consórcio entre a Equatorial Sistemas e a Opto, que trabalharam juntas na segunda geração do CBERS, ou uma das duas isoladamente). A AWFI voaria no futuro Amazônia-2.

- Transpônder de Coleta de Dados: o INPE trabalha com a ideia de, sujeito ainda a uma análise de engenharia mais apurada, a partir do Amazônia-1, que todo satélite nacional leve a bordo um transpônder de coleta de dados (DCS, sigla em inglês) para atender o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCDA). A carga útil foi desenvolvido pela CRN/INPE, de Natal (RN). Também há certa expectativa com o SCD-Hidro, para atender uma necessidade da Agência Nacional de Águas (ANA), tendo o INPE participado de conversas no final de 2014.

- Missões científicas: até 2004/2005, o INPE considerava duas missões científicas com satélites distintos, o EQUARS (estudos dos efeitos da anomalia magnética no Atlântico Sul), e o MIRAX (imageador de raios X de gama). Em dado momento, ocorreu uma "fusão" de ambas as missões em uma única plataforma (PMM, de cerca de 500 kg), dando origem ao Lattes-1. Oswaldo Miranda revelou que a atual direção do INPE deseja retomar as missões satelitais científicas de pequeno porte, com estudos nesta direção. Destacou o "gap" hoje existente no programa de satélites brasileiros, com missões de cubesats, mas nada de menor porte (na faixa de 100 kg) até a PMM. O primeiro projeto na fila seria o EQUARS, com condições de voar de 3 a 4 anos.

- Sistemas de controle de atitude e órbita: trata-se de uma "ação prioritária" (aliás, ACDHs são uma das tecnologias consideradas críticas e não dominadas pelo Brasil), na opinião de Miranda. "O grande gargalo hoje é o software embarcado". O INPE faz parte do projeto SIA, tendo um laboratório conjunto com o Instituto de Aeronáutica e Espaço - IAE em São José dos Campos (SP), e trabalha junto com indústrias nacionais na busca de autonomia nessa área. Nos passos atuais, espera-se que um ACDH nacional esteja pronto em cerca de dois anos, para no futuro voar num segundo modelo de voo da PMM (Amazônia-2 ou Lattes-1/MIRAX). O vice-diretor citou a COMPSIS como uma parceira industrial importante nesse projeto, destacando também o papel do Instituto Mauá de Tecnologia. Aqui cabe uma observação do blog: quem também está bem interessado em desenvolvimentos locais desta tecnologia é a Visiona Tecnologia Espacial. Foi um dos assuntos destacados por seu presidente, Eduardo Bonini, em audiência no Senado Federal em novembro de 2014.

- Período 2016 - 2018: nos últimos minutos da conversa, resumindo a entrevista, Miranda ressaltou que o INPE hoje vê de forma factível a execução das seguintes missões no período de 2016 a 2018, a depender, é claro, de recursos: o CBERS 4A, o Amazônia-1, o EQUARS (plataforma de 100 kg) e o MIRAX (PMM).
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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Programa Espacial: orçamentos de 2014 e 2015

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Apresentamos a seguir algumas informações resumidas sobre a execução orçamentária da Agência Espacial Brasileira (AEB) ao longo deste ano, e também as expectativas para 2015.

Execução orçamentária em 2014

A lei orçamentária de 2014 fixou um limite para a AEB de R$ 295,8 milhões, montante que foi posteriormente reduzido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em R$ 40 milhões, o que teve consequências (negativas) nas ações planejadas. Foi descentralizado aos órgãos executores (INPE) um total de R$ 126,5 milhões, cabendo à AEB a execução interna de R$ 169,3 milhões. Até o momento, a Agência executou R$ 102,9 milhões, cifra que representa aproximadamente 40% do limite orçamentário autorizado.

Previsão para 2015

Embora ainda sujeitos à alterações, especialmente se considerarmos o cenário eleitoral, os números preliminares para o ano que vem não são muito animadores. A AEB deverá contar com R$ 255 milhões, o que representa uma redução de cerca de R$ 40 milhões em relação ao último ano.

Existe, porém, uma possibilidade concreta de expansão do valor em R$ 40,7 milhões, com a destinação específica para o Programa de Absorção e Transferência de Tecnologia, no âmbito do projeto do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). Vale mencionar que o pacote de transferência tecnológica associado ao SGDC, previsto em memorando de entendimentos assinado entre a AEB e a Thales Alenia Space em dezembro de 2013 é avaliado em cerca de US$ 80 milhões.

- Infraestrutura Espacial: a destinação prevista é de R$ 33,16 milhões, montante mínimo necessário para evitar a degradação da infraestrutura atual.

- Veículos Lançadores e Tecnologias Críticas: em matéria de lançadores, o projeto do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM-1) terá prioridade, buscando-se assegurar o seu voo de qualificação em 2016. A destinação prevista será de pouco menos de R$40 milhões. Os recursos necessários para a execução da missão do VLS-1 (VSISNAV) estão assegurados, no âmbito de um convênio firmado em 2012 entre a AEB e a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (FUNDEP) (recursos originários da FINEP). O projeto de desenvolvimento do L75, um motor a propulsão líquida, também mereceu prioridade, e junto com outras tecnologias críticas, deve receber R$ 51,27 milhões.

- Satélites: a previsão é de R$ 95,78 milhões para o início o desenvolvimento do CBERS 4A, dando continuidade à segunda geração do projeto sino-brasileiro, conclusão do Amazônia-1, de observação terrestre, e também para o SABIA-Mar, missão conjunta com a Argentina.

- Infraestrutura do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA): haverá redução nos investimentos em 2015 para algo em torno de R$ 15 milhões, em razão principalmente das indefinições que rondam a binacional Alcântara Cyclone Space. A estimativa atual é de que hoje sejam necessários ao menos US$ 180 milhões para a finalização da infraestruturada associada ao sítio de lançamento do Cyclone 4.
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sexta-feira, 14 de março de 2014

Amazônia-1: qualificação dos propulsores

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INPE qualifica propulsores para o Amazônia-1

Sexta-feira, 14 de Março de 2014

Os ensaios para aceitação dos propulsores com 5 N (newtons) de empuxo que serão utilizados no satélite Amazônia-1 foram realizados no Banco de Testes com Simulação de Altitude (BTSA) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), nos meses de janeiro e fevereiro. Propulsores são utilizados em várias manobras no espaço, necessárias para o posicionamento e manutenção das órbitas de satélites e plataformas espaciais.

Para a qualificação de dez propulsores, o tanque foi carregado com 45 Kg de hidrazina e pressurizado com nitrogênio a 22 bars. O subsistema completo de propulsão já havia sido qualificado no BTSA em 2012, quando foram executadas as operações de carregamento do tanque com hidrazina anidra e pressurização com nitrogênio ultrapuro.

Dos dez propulsores testados, seis equiparão o satélite Amazônia-1.

O subsistema de propulsão da PMM - a Plataforma Multimissão criada pelo INPE para satélites como o Amazônia-1 - foi desenvolvido pela empresa brasileira Fibraforte com a coordenação de engenheiros do Instituto.

Completo, o subsistema é composto por seis propulsores, o tanque de propelente e mais as válvulas para controle dos propulsores e para carregamento do tanque, com as respectivas tubulações e seus acessórios.

Todos os testes foram preparados e executados pela equipe técnica do BTSA, desde o recebimento dos propulsores, integração na célula de testes e realização das atividades. A análise química do propelente utilizado (hidrazina anidra) foi, também, realizada em laboratório próprio no BTSA.

O BTSA está instalado no Laboratório Associado de Combustão e Propulsão (LCP), localizado na unidade de Cachoeira Paulista do INPE. Está dimensionado para testar e qualificar propulsores de até 200 N de empuxo, em um ambiente que simula as condições do espaço. O BTSA possui ainda um Laboratório de Análise de Propelentes - hidrazina, mono-metil-hidrazina, dimetil-hidrazina assimétrica, tetróxido de nitrogênio, entre outros.

Amazônia-1

O INPE se prepara para as atividades de integração e testes do Amazônia-1, satélite com lançamento previsto para 2016 que conta com uma câmera óptica de visada larga capaz de gerar imagens do planeta a cada quatro dias. Sua característica de revisita rápida permitirá a melhora nos dados de alerta de desmatamento na Amazônia em tempo real. O Amazônia-1 também fornecerá imagens frequentes das áreas agrícolas brasileiras.

O satélite Amazônia-1 é baseado na Plataforma Multimissão (PMM), desenvolvida pelo INPE. A PMM é plataforma genérica para satélites na classe de 500 kg. Com massa de 250 kg, ela provê os recursos necessários, em termos de potência, controle, comunicação e outros, para operar, em órbita, uma carga útil de até 280 kg.

Fonte: INPE
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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Entrevistas: Leonel Perondi, diretor do INPE

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Conforme revelado na última quinta-feira, damos início hoje à série "Entrevistas". O primeiro entrevistado foi Leonel Fernando Perondi, que desde maio de 2012 é diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), principal instituição executora dos programas de satélites nacionais.

A conversa foi centrada nos programas do Instituto no segmento espacial, isto é, satélites. Apresentamos a seguir os principais trechos. No final da entrevista, incluímos pequenos comentários elaborados pelo blog Panorama Espacial, identificados ao longo do texto (entre colchetes e destacados em itálico e grifados) analisando e dando algumas informações adicionais sobre os tópicos abordados.

CBERS e política industrial

A entrevista, realizada por telefone, começou abordando o principal projeto de satélite desenvolvido pelo INPE: o programa do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS). Perondi destacou a entrada do programa em sua segunda fase, com a expectativa para o lançamento do primeiro satélite da segunda geração, o CBERS 3, no próximo mês de dezembro. O CBERS 4 deverá ser lançado dois anos depois. Mencionou ainda o fato do satélite contar com quatro sensores óticos e também com um transpônder de coleta de dados, que reforçará o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCD). Deu também ênfase ao seu caráter industrial, enfatizando o fato de que os dois modelos foram contratados junto à indústria nacional, gerando ao todo cerca de R$370 milhões em contratos. "É essencialmente um programa de política industrial", destacou.

Questionado sobre a continuidade do programa, o diretor afirmou que existem discussões visando uma nova geração, e que esta é a posição do INPE, na qualidade de executor da missão. "Mas, tem que ter sempre o elemento de inovação". Em sua opinião, o CBERS trouxe visibilidade internacional, mas é preciso ir além. "[Hoje], são satélites de rotina para a China, e esta é a nossa ideia também".

Perondi entende que as próximas unidades, em caso de continuidade, podem ser inteiramente contratadas junto à indústria nacional, atendendo as necessidades nacionais em sensoriamento remoto e funcionando como um instrumento de política industrial. Desde 2005, existem propostas do lado chinês para uma extensão da cooperação espacial [Nota 1].

Amazônia-1

Após o CBERS, a pergunta natural foi sobre o projeto do satélite de observação Amazônia-1, baseado na Plataforma Multimissão (PMM). Perondi respondeu dando um panorama sobre a PMM e a sua primeira missão, ressaltando que o projeto da plataforma foi contratado na indústria em 2001 sem uma linha de base, com uma amplitude grande para aplicações multimissão. "São quase doze anos de desenvolvimento do projeto." "Nenhum subsistema tem herança de voo, o que é um desafio grande", disse.

O Amazônia-1, especificamente, está em revisão e pode ser lançado em dois anos, informou, revelando ainda que a forma de contratação gerou certas dificuldades de relacionamento com a indústria, algo que está em discussão no âmbito de direito administrativo. "O INPE está mobilizado em definir o cronograma de satélites."

Cubesats e nanossatélites

Perguntamos ao diretor do INPE sobre alguns projetos de cubesats e nanossatélites que têm sido desenvolvidos pelo Instituto. De acordo com ele, são missões ainda experimentais e em escala reduzida, envolvendo as unidades do Centro Regional do Nordeste (Conasat) e Centro Regional Sul (NanosatC-BR), com forte objetivo de aprendizagem. "Estamos aguardando os resultados, e temos que ver o lado de aplicações também", afirmou.

Satélites radar, meteorológico e Lattes

Perondi enfatizou que a prioridade do INPE é o CBERS e, em seguida, o Amazônia-1 (PMM). Mas, há também outros projetos e possibilidades no âmbito espacial. Um deles é o satélite radar, no passado, quando planejado em parceria com a Alemanha, denominado MAPSAR.

Em discussão desde 2003 e constante no Programa Espacial desde o PNAE 2005-2014, o diretor afirmou que o satélite radar teve como alternativa considerada apenas uma configuração com antena refletora, e não planar, dando indicativo de que sua configuração está sendo discutida. "A demanda para estas imagens continua existindo, e uma parceria internacional é possível".

Sobre uma missão meteorológica, afirmou que esta já consta do PNAE desde 2004 (período 2005-2014), e que é uma necessidade do País. "[Esta] já deveria estar no horizonte nos próximos dez anos". Há certa expectativa sobre o arranjo para a sua viabilização.

Em relação ao satélite Lattes, de aplicações científicas, Perondi revelou que deve ser repensada. "A missão é extremamente desafiadora em razão da integração da plataforma e das cargas úteis." Existe a possibilidade de que o Lattes, surgido a partir da "fusão" dos projetos de microssatélites EQUARS e MIRAX, venha a ser dividida em duas plataformas menores. Esta estratégia, aliás, estaria alinhada à ideia do INPE de retomar as missões de pequenas plataformas, que poderiam ainda incluir missões com transpônderes para atender o SBCD.

SGDC

A respeito da participação e/ou ganhos esperados pelo INPE com o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), Perondi foi sucinto, citando que o satélite atenderá demandas nacionais imediatas (banda larga e comunicações militares), e que o Instituto pode se beneficiar no futuro por meio do Laboratório de Integração e Testes (citou o caso de alguns satélites da série Brasilsat, que tiveram módulos testados no laboratório), e com oportunidades para a formação de pessoal no exterior.

Perspectivas de novos contratos para a indústria?

A entrevista foi encerrada com uma questão sobre a perspectiva de novos contratos em curto ou médio prazos para a indústria espacial brasileira, uma vez que os satélites CBERS e o Amazônia-1 já estão praticamente 100% contratados. O dirigente ressaltou que o papel do INPE é de executor e não de planejador do Programa Espacial, mas que o Instituto "olha com preocupação o futuro", respondendo ao comentário do entrevistador sobre a situação da indústria na atualidade [Nota 2].

O dirigente mencionou que nos últimos dez anos, o Instituto contratou mais de R$500 milhões com a indústria e que existem expectativas e novos contratos, sem, no entanto, indicar datas. Citou, como exemplo, o satélite em cooperação com a Argentina (SABIA-MAR), e também missões para coletas de dados [Nota 3].

Notas do blog:

Nota 1: entre os dias 4 e 9 de novembro, acontecerá na China a III Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), mecanismo de diálogo político de mais alto nível entre Brasil e China. Sua estrutura inclui onze subcomissões, inclusive uma espacial. A expectativa é que no encontro, cujo lado brasileiro será chefiado por Michel Temer, vice-presidente da República, seja aprovado o Plano Decenal de Cooperação Espacial entre os dois países.

Nota 2: ao questionarmos sobre novos contratos, destacamos os receios da indústria espacial, que tem passado por certas dificuldades (algumas, devemos dizer, de sua própria responsabilidade). Apesar da expectativa de que o SGDC possa de alguma forma beneficiar a indústria local, tais benefícios não serão imediatos, podem não ter efeitos financeiros diretos (transferência de tecnologia não necessariamente gera vendas) e serão sentidos apenas após vários anos. Ressalte-se, aliás, que o contrato para a construção do primeiro satélite ainda não foi assinado. Especificamente sobre a situação da indústria local, o blog tem conhecimento de ao menos duas empresas que estão demitindo pessoal ou prestes a demitir. Ainda, é fato amplamente conhecido no setor a gravíssima crise financeira por que passa uma das principais indústrias brasileiras do setor (abordaremos este caso, em detalhes, mais adiante).

Nota 3: de acordo com as informações apuradas pelo blog Panorama Espacial, há discussões no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e AEB para a contratação da missão SABIA-MAR, em conjunto com a Argentina. O modelo analisado envolveria um prime contractor industrial, no qual a Visiona Tecnologia Espacial, surgiria como mais forte candidata. Em relação aos satélites para atender o SBCD, é possível que haja a participação do Comando da Aeronáutica (Ministério da Defesa), e também da Agência Nacional de Águas (ANA), subordinada ao Ministério do Meio Ambiente.
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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Satélites de observação na América do Sul

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Satélites de Observação Terrestre na América do Sul - Um panorama

André M. Mileski

Nos últimos anos, o número de países que passaram a deter meios autônomos de observação terrestre a partir do espaço cresceu consideravelmente. Na América do Sul, não tem sido diferente, com aqueles que já têm tradição em atividades espaciais, como Brasil e Argentina, lançando novas missões, o Chile e a Venezuela se juntando ao clube, e outros como Colômbia, Peru e Bolívia prestes a integrá-lo.

Argentina

O programa argentino de satélites de observação é hoje um dos mais avançados da América do Sul, ao lado do brasileiro, abrangendo missões tanto óticas como radar, geralmente implementadas em parceria internacional. Seu primeiro sistema de sensoriamento remoto foi o SAC-C, lançado em 21 de novembro de 2000, e que contava com dois sensores óticos com resoluções nas faixas de 35 a 350 metros, destinados a produzir imagens multiespectrais para estudos da Terra, além de sensores científicos específicos. A missão foi realizada em cooperação com a agência espacial norte-americana (NASA), e institutos de pesquisas da Europa e o Brasil, que executou os testes finais do artefato no Laboratório de Integração e Testes (LIT), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos (SP).

Passo seguinte foi dado com o SAC-D/Aquarius, desenvolvido em regime de cooperação internacional, com participação de institutos dos Estados Unidos, França, Itália, Canadá e Brasil, e colocado em órbita em 10 de junho de 2011. Muito embora tenha caráter mais científico (o sensor Aquarius, fornecido pela NASA, é um radiômetro em banda L para medição da salinidade dos oceanos), o satélite também foi equipado com uma câmera de alta sensibilidade (visualização de iluminação urbana, embarcações, tormentas elétricas, cobertura de neves), com 200/300 metros de resolução, e um sensor infravermelho (imageamento de incêndios e atividades vulcânicas), com resolução de 350 metros.

Atualmente, a Argentina é o único país sul-americano a desenvolver de fato uma constelação de satélites com tecnologia de radar de abertura sintética (SAR, sigla em inglês), capaz de imagear a superfície terrestre independente de luz e cobertura de nuvens, no âmbito do projeto SAOCOM. O projeto, que integra o Plano Espacial Nacional e é tocado pela Comisión Nacional de Actividades Espaciales (CONAE), prevê a construção de duas constelações, a SAOCOM 1 e SAOCOM 2, cada uma sendo composta por dois satélites. Os artefatos da primeira constelação estão em desenvolvimento e devem ser lançados a partir do ano que vem, tendo vida útil estimada em cinco anos. Contarão com um sensor radar operando em banda L, com resolução espacial entre 10 e 100 metros e cobertura de 35 a 350 km, com diferentes ângulos de observação. Quando em operação, o SAOCOM integrará o Sistema Ítalo-Argentino de Satélites para a Gestão de Emergências (SIASGE), considerado único no mundo, que envolverá a integração dos engenhos argentinos com a constelação italiana COSMO-SkyMed.

Outro plano é o do Satélite Argentino-Brasileiro de Informações Ambientais Marítimas - SABIA-Mar (designado localmente como SAC-E), discutido desde o final de 1998 com o vizinho, mas que apenas recentemente recebeu um novo impulso para a sua viabilização.

Brasil

O Brasil foi o sul-americano pioneiro na exploração espacial, inclusive em sensoriamento remoto a partir do espaço. Em abril de 1973, o País se tornou o terceiro no mundo – depois dos Estados Unidos e do Canadá – a dispor de uma estação terrena de imagens de satélite, no caso, o norte-americano ERTS-1 (que originou a família Landsat), instalada em Cuiabá (MT) e operada pelo INPE.

A busca pelo desenvolvimento de alguma autonomia em imageamento a partir do espaço veio com a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), lançada no final da década de 1970, objetivando capacitações nos segmentos de lançadores (programa VLS), satélites e infraestrutura terrestre (laboratórios e centros de lançamentos). A MECB previu o desenvolvimento e construção de dois satélites de sensoriamento, começando-se pelo SSR-1, que mais tarde veio a ser conhecido pelo nome Amazônia-1.

O Amazônia-1 ainda não teve seu projeto concluído, o que é aguardado para os próximos anos, em 2015. Baseado na Plataforma Multimissão (PMM), desenvolvida pelo INPE em conjunto com a indústria nacional, será equipado com uma câmera de 40 metros de resolução e faixa de cobertura de 750 quilômetros, que produzirá imagens da Terra para aplicações no agronegócio, meio-ambiente, monitoramento de recursos naturais e em outros fins. Após o lançamento do Amazônia-1, espera-se que outros dois modelos sejam colocados em órbita, o Amazônia-1B, em 2017, e o Amazônia-2, em 2019.

Quase dez anos após a MECB, os governos do Brasil e da China assinaram um acordo de cooperação tecnológica visando ao desenvolvimento de dois avançados satélites de sensoriamento remoto, dentro do programa CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite), que desde então tem contribuído significativamente para a capacidade nacional em obter, processar e interpretar imagens geradas a partir do espaço.

O acordo, assinado em 1988, contemplava o desenvolvimento e construção de dois satélites idênticos de sensoriamento remoto equipados com sensores óticos. Nos dois primeiros satélites, as responsabilidades não foram divididas igualitariamente: à China, caberia o desenvolvimento, fabricação e custeio do equivalente a 70% do total, enquanto que à parte brasileira, os 30% restantes. O CBERS 1 foi colocado em órbita heliossíncrona, a 778 km de altitude, em 14 de outubro de 1999, e operou até 2003, superando em quase 100% o tempo de sua vida útil estimada, de dois anos. O segundo, por sua vez, subiu ao espaço em 21 de outubro de 2003. Em novembro de 2002, os dois governos firmaram um novo acordo prevendo a continuidade do CBERS com a construção de outras duas unidades - CBERS 3 e 4, maiores e mais sofisticados, com sensores óticos com resoluções na faixa de 5 a 70 metros. Foi definida, também, uma nova divisão dos investimentos, agora igualitária, cada um respondendo por 50%.

Depois da entrada em órbita do CBERS 2, e considerando-se na época que o CBERS 3 o seria apenas em 2009 (este satélite ainda não foi lançado, com previsão para o final de 2013), o INPE e sua contraparte chinesa decidiram construir um novo, idêntico aos de primeira geração, chamado CBERS 2B, de modo a cobrir o hiato da retirada de operação do último exemplar da série inicial, e a entrada de seu sucessor da segunda série. O CBERS 2B foi lançado em setembro de 2007.

O INPE vem trabalhando há vários anos no conceito de um satélite radar (SAR) que, inicialmente, seria desenvolvido em conjunto com instituições da Alemanha, baseado na PMM [Nota do blog: na ilustração acima, no início da reportagem, o MAPSAR]. O sistema é tido como essencial para as necessidades brasileiras, em particular no monitoramento do desmatamento na Amazônia, tendo em vista a sua capacidade de imageamento em quaisquer condições de tempo. No projeto atual, conforme previsto no Programa Nacional de Atividades Espaciais - PNAE 2012 - 2021, o SAR deverá ser dotado de um imageador radar de abertura sintética, operando em vários modos, com múltiplas resoluções na faixa de 5 a 30 metros, destinado à aplicações voltadas ao meio-ambiente, agricultura, defesa, etc. Seu lançamento é previsto para 2020.

Das missões espaciais de observação terrestre, a mais recente é a SABIA-Mar, desenvolvida pelo Brasil e pela Argentina. Trata-se de um sistema completo de observação da Terra dedicado ao sensoriamento remoto de sistemas aquáticos oceânicos e costeiros, baseado em uma constelação de dois satélites. Além da missão primária, os artefatos poderão, também, observar águas interiores, e obter dados em escala global da cor dos oceanos. Suas imagens poderão ser usadas em aplicações relacionadas à pesca e na aquicultura, no gerenciamento costeiro, no monitoramento de recifes de coral, de florações de algas nocivas e de derrames de óleo, na previsão do tempo, na análise da qualidade das águas, entre outras.

Os artefatos terão cerca de 500 kg, baseados na PMM, e cada um levará uma câmera multiespectral, com possibilidade de cargas úteis secundárias. A partilha das tarefas será de 50% para cada país. Estão em desenvolvimento as Fases 0 (análise da missão e identificação das necessidades) e A (análise de viabilidade técnica e industrial) da missão, tocadas pelo INPE, do lado brasileiro, e pela CONAE, do argentino. O primeiro modelo deve estar em órbita em 2019.

Chile

Em julho de 2008, após um processo de seleção que envolveu os principais fabricantes mundiais, o Chile se tornou o terceiro país do subcontinente a contratar um sistema espacial de observação, encomendando um microssatélite junto à europeia Astrium, do grupo EADS, num negócio avaliado em US$ 72 milhões.

Lançado no final de 2011, o SSOT (Sistema Satelital de Observación de la Tierra) é dual, com aplicações civis e militares. O satélite tem 117 kg de massa e conta com um sensor ótico capaz de produzir imagens com 1,45 metros de resolução, para aplicações como mapeamento, agricultura e gerenciamento de recursos e desastres naturais. Sua vida útil é estimada em cinco anos. A partir de uma estação terrestre em Santiago, o satélite é operado por uma equipe de engenheiros chilenos, treinados nas instalações da Astrium, em Toulouse, no sul da França, onde o sistema e o satélite foram desenvolvidos e construídos. Segundo informações de bastidores, o governo chileno já considera alternativas para a manutenção e mesmo ampliação de sua capacidade de observação a partir do espaço.

Venezuela

Em seu governo, o falecido presidente Hugo Chávez buscou colocar a Venezuela em situação de independência em alguns setores considerados estratégicos, como comunicações e observação terrestre. Isso começou com a aquisição de um satélite de comunicações, o Venesat-1, comprado da fabricante chinesa China Great Wall Industry Corporation (CGWIC) e inserido em órbita no final de 2008. A seguir, conforme a tendência mundial, obteve um satélite de observação terrestre, gozando da parceria espacial mantida com os chineses desde o Venesat-1, num investimento de US$ 140 milhões.

A contratação para a construção do satélite, chamado de Francisco Miranda, mas também designado como VRSS-1 (Venezuelan Remote Sensing Satellite) ocorreu em maio de 2011, e foi o segundo feito pela estatal CGWIC para o governo venezuelano. O VRSS-1 também representou o primeiro satélite de observação exportado pela China, que busca firmar-se como player nesse segmento, a exemplo do que já acontece nas comunicações.

O Francisco Miranda foi ao espaço em outubro de 2011, através de um foguete Longa Marcha 2D, a partir do centro espacial de Jiquan, no noroeste da China. De acordo com informações creditadas pela imprensa internacional a Jorge Arreaza, ministro venezuelano da Ciência, Tecnologia e Inovação, por ocasião do lançamento, o VRSS-1 é capaz de produzir imagens com 2,5 metros de resolução, gerando em torno de 350 imagens por dia ao longo de cinco anos. Seus dados têm sido utilizados para operações de planejamento urbano, monitoramento ambiental, de combate à mineração ilegal e ao tráfico de drogas, junto a aplicações em defesa.

Colômbia

Um dos países da América Latina que mais tem crescido nos últimos anos - a previsão é de que nos próximos anos supere a Argentina, tornando-se a terceira maior economia da região, atrás apenas do Brasil e México - a Colômbia também considera em seus planos estratégicos a obtenção de capacidade autônoma de observação terrestre a partir do espaço. Há gestões da Comisión Colombiana del Espacio (CCE) para o desenvolvimento de um programa satelital, iniciativa que deverá envolver parcerias com governos e indústrias estrangeiras. Diversas notícias sobre possíveis parceiros chegaram a ser publicadas, com destaque para Israel - importante parceiro no setor de defesa, e França, e a expectativa é de que a definição sobre o caminho a ser trilhado para a concretização do projeto colombiano ocorra muito em breve.

Recentemente, em fevereiro de 2013, numa entrevista dada à imprensa local, o vice-presidente colombiano, Angelino Garzón, deu enfáticas declarações sobre a necessidade do país em dispor de capacidade própria de observação: “Não é justo que a Colômbia, hoje dispondo de uma Força Aérea como a que tem, um instituto geográfico como o Geográfico Agustín Codazzi, tenha que pedir a utilização de parte de satélites para observar nosso próprio território”.

Peru

O Peru também está próximo de concretizar seu programa satelital, segundo indicações dadas por notícias e declarações de autoridades. As intenções peruanas datam de 2006, mas foram aceleradas a partir do momento em que o Chile, um rival histórico, passou a contar com seu sistema próprio, em julho de 2008.

Reportagens e declarações dadas por membros do governo sinalizam que a pretensão é contar com um pequeno satélite de observação com sensores óticos de mesma resolução ou superiores (em torno de 1 metro) ao do SSOT chileno, a ser adquirido junto a fabricantes estrangeiros. Lima, por meio do Ministério da Defesa e da Agencia Espacial del Peru (CONIDA), tem mantido contato com governos e fabricantes interessados em fornecer o sistema satelital, como a França, Israel e Coréia do Sul, entre outros.

Na SITDEF 2013, feira sobre sistemas de defesa, segurança e desastres naturais realizada no último mês de maio em Lima, o projeto peruano foi um dos destaques, abordado em apresentações de entidades envolvidas e também de empresas interessadas em fornecê-lo.

Bolívia

Apesar de ser um dos países mais pobres da América do Sul, durante o governo de Evo Morales, a Bolívia buscou estruturar um programa espacial, e seu primeiro projeto concretizado foi o de um satélite geoestacionário de comunicações, o Tupac Katari, adquirido na China em dezembro de 2010, e previsto para ser colocado em órbita no final de 2013. Um sistema de observação também está nos planos de La Paz para aplicações como o monitoramento de recursos minerais, muito embora não existam indicativos claros sobre a negociação e mesmo disponibilização de recursos para a aquisição.

Fonte: Revista Tecnologia & Defesa n.º 133, julho de 2013.
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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Testes do satélite Amazônia-1


INPE realiza testes no modelo estrutural do Amazônia-1

Terça-feira, 09 de Outubro de 2012

Importante etapa para a qualificação do modelo estrutural do satélite Amazônia-1 foi concluída com sucesso pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). No Laboratório de Integração e Testes (LIT) do instituto, em São José dos Campos (SP), o modelo enfrentou, desde o dia 20 de setembro, uma bateria de ensaios de vibração para certificar que sua estrutura está apta a suportar os impactos do lançamento e manobras em órbita.

A partir de agora, começam as atividades para o teste acústico. Logo após, tem início a preparação para os testes térmicos no LIT/INPE, outro passo essencial para a qualificação do satélite.

O Amazônia-1é o primeiro satélite construído tendo como módulo de serviço a Plataforma Multimissão (PMM), um moderno conceito em termos de arquitetura de satélites criado pelo INPE. Nessa plataforma ficam todos os equipamentos que desempenham as funções necessárias à sobrevivência e operação de um satélite.

A PMM pode ser reproduzida para atender a vários tipos de missões espaciais. A reutilização do projeto da plataforma permite reduzir custos recorrentes na fabricação de novos satélites e também o tempo de desenvolvimento dos mesmos. Portanto, a qualificação do modelo estrutural do Amazônia-1 também beneficia os projetos de próximos satélites que serão montados a partir da PMM.

Fonte: INPE

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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Visita de Raupp à Cachoeira Paulista


Ministro visita instalações do INPE em Cachoeira Paulista

Segunda-feira, 23 de Julho de 2012

Importante resultado da política industrial adotada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) foi apresentado ao ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, no dia 16 de julho. Durante visita à unidade de Cachoeira Paulista do INPE, ele conheceu o primeiro subsistema de propulsão para satélite desenvolvido no Brasil, em parceria com a empresa Fibraforte, de São José dos Campos. O equipamento, que estará a bordo do Amazônia-1, é necessário para correção de atitude e elevação de órbita durante a vida útil do satélite.

A política industrial do INPE é voltada ao estabelecimento, manutenção e aperfeiçoamento de empresas brasileiras para a área espacial, capacitando-as, também, para o desenvolvimento de produtos com maior valor agregado em outros setores. Equipamentos e subsistemas que compõem os projetos de plataformas e cargas úteis de satélites são, preferencialmente, desenvolvidos em parceria com o setor industrial brasileiro.

Além do envolvimento da indústria brasileira em projetos espaciais inovadores, a visita ministerial teve ainda como enfoque a prevenção a desastres naturais. Após a ida ao Laboratório de Combustão e Propulsão (LCP), onde foi recentemente testado o subsistema de propulsão para satélite, o ministro esteve no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), também do INPE, e nas novas instalações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Raupp esteve acompanhado do diretor do INPE, Leonel Perondi, do secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI, Carlos Nobre, pesquisadores e representantes da indústria nacional. A comitiva foi recepcionada pelo coordenador-geral do CPTEC/INPE, Osvaldo Moraes, que apresentou uma síntese das atividades e resultados do Centro.

O ministro falou sobre a excelência no serviço de previsão de tempo e de clima prestado pelo CPTEC/INPE a toda a sociedade, bem como a sua importância estratégica no apoio às ações do Governo para a prevenção de desastres naturais. O vídeo da reunião realizada no auditório do CPTEC/INPE está disponível em http://videosonline.cptec.inpe.br/video.php?tipo=e

Inovação

O Banco de Testes com Simulação de Altitude (BTSA), que é parte do LCP/INPE, foi o primeiro local visitado pelo ministro. Fernando Costa, chefe do LCP, e Aguinaldo Serra, responsável pelos ensaios do laboratório, falaram sobre os procedimentos envolvidos nos testes recentemente realizados, com sucesso, no subsistema de propulsão para satélite. Também participou da visita Demétrio Bastos Netto, um dos criadores do LCP.

O laboratório recebeu adaptações e melhorias para realizar pela primeira vez atividades em um subsistema de propulsão. O investimento é necessário porque a qualificação de todos os sistemas espaciais exige a prévia simulação das condições operacionais em órbita. No LCP/INPE também foi desenvolvido o catalisador que abastece os propulsores (onde o combustível sofre reação química gerando a propulsão nos motores) e todo processo de soldagem da tubulação que transporta o combustível entre o tanque e os propulsores.

Já a Fibraforte desenvolveu equipamentos como propulsores, válvulas de enchimento e dreno de combustível e gás pressurizante, tubulação e a própria estrutura e suportes do subsistema. Para isso, foram contratados direta e indiretamente dezenas de técnicos, engenheiros, mestres e doutores com formação multidisciplinar, como engenheiros mecânicos, eletrônicos e de materiais.

Novos desenvolvimentos e domínio de tecnologia foram necessários para a construção do subsistema de propulsão. É assim que os projetos de satélites do INPE atuam como importantes indutores da inovação no parque industrial brasileiro, que se qualifica e moderniza para atender aos desafios do programa espacial. O domínio da tecnologia de fabricação de propulsores e catalisadores de combustível para satélites, por exemplo, é privilégio de poucos países.

O subsistema de propulsão é parte da Plataforma Multimissão (PMM), um moderno conceito em termos de arquitetura de satélites criado pelo INPE e em construção por um consórcio nacional de empresas. Nessa plataforma ficam todos os equipamentos que desempenham as funções necessárias à sobrevivência e operação de um satélite.

A PMM pode ser reproduzida para atender a vários tipos de missões espaciais. Assim, a reutilização do projeto da plataforma permite reduzir custos recorrentes na fabricação de novos satélites e também o tempo de desenvolvimento dos mesmos. O primeiro satélite baseado na PMM é o Amazônia-1.

Cemaden

Antes de finalizar a visita ao INPE de Cachoeira Paulista, Raupp conheceu as novas instalações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Lá foi recebido pelo coordenador-geral de Operações e Modelagem Carlos Frederico Angelis, que apresentou o funcionamento dos alertas de desastres naturais e sua importância para a sociedade.

O Cemaden é ligado à Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Seped/MCTI) e está instalado em área do INPE de Cachoeira Paulista. O Instituto foi escolhido para sediar suas instalações por reunir especialistas em meteorologia, sensoriamento remoto, mudanças globais e modelagem computacional, áreas fundamentais para um monitoramento eficaz. Além disso, o INPE abriga o Tupã, um dos supercomputadores mais poderosos do mundo para aplicações meteorológicas, climáticas e ambientais. Mais informações sobre o centro em www.cemaden.gov.br

Fonte: INPE
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segunda-feira, 9 de julho de 2012

Entrevista com Leonel Perondi, diretor do INPE - Parte II


Reproduzimos a seguir a segunda parte da entrevista com Leonel Perondi, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Para acessar a primeira parte da entrevista, clique aqui.

ACDH

Tema sensível ao Programa Espacial Brasileiro, pela polêmica e importância estratégica ao País, é a capacitação nacional em sistemas de controle de atitude e órbita (conhecido por ACDH, sigla em inglês). O blog Panorama Espacial questionou Leonel Perondi sobre as iniciativas do INPE nesse campo, que foi, aliás, um dos tópicos abordados por Perondi em seu discurso de posse.

Perondi destacou que hoje o Brasil possui domínio praticamente em todas as áreas básicas de satélites, como estrutura e instrumentação, com exceção da área de controle. "É a grande lacuna para produzir uma plataforma orbital". Daí, vem a tentativa do Instituto em estimular projetos e capacitação local nesse campo, através da montagem de laboratórios e equipes específicas. O dirigente também mencionou o projeto Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespacial (SIA), iniciativa desenvolvida em parceria com institutos do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e indústrias nacionais, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que já começa a produzir frutos. "Houve um grande avanço na área de satélites", destacou.

Segundo o diretor, o satélite científico Lattes, baseado na Plataforma Multimissão (PMM), deverá contar com um ACDH nacional, diferentemente do Amazônia-1, cujo ACDH foi adquirido, com dispensa de licitação, junto à fabricante argentina INVAP no final de 2008. Sobre o Lattes, a previsão pública mais atual de seu lançamento era 2016, mas Perondi afirmou que o cronograma de lançamento dos satélites do Instituto está pendente de discussão com a Agência Espacial Brasileira (AEB).

Quanto à compra do ACH argentino para o Amazônia-1, episódio sempre lembrado e duramente criticado pela indústria espacial brasileira, o dirigente afirmou que o INPE fará uma avaliação sobre os benefícios gerados. "Qual é o nível de transferência de tecnologia do ACDH argentino para o Brasil?", questionou. O blog questionou Perondi se o contrato previa algum tipo de transferência tecnológica, o que ele negou, dizendo que se trata do fornecimento do sistema, com capacitação de pessoal na Argentina, não havendo, portanto, a compra da tecnologia.

Recursos humanos

Sobre a realidade e necessidades do INPE em matéria de recursos humanos, ponto frequentemente citado como crítico aos avanços do Programa Espacial, Perondi lembrou que muitos funcionários se aposentarão nos próximos anos, mencionado ainda que a formação de um funcionário para atuar com certa autonomia dentro do Instituto leva de 4 a 5 anos. Assim, novas contratações são realmente necessárias. Dentro dos próximos meses, aliás, serão realizados concursos para 107 vagas de tecnologistas, analistas e técnicos, número insuficiente, mas que preenche algumas necessidades.

Integração com a AEB

Numa questão mais focada em Política Espacial, perguntamos a Perondi sobre a integração do INPE com a AEB, ou mesmo a fusão entre as duas instituições, algo bastante discutido em Brasília (DF), e com certas medidas sendo tomadas nesta direção pelo ministro Marco Antonio Raupp. O dirigente respondeu de forma bastante lacônica: "Está havendo discussões com a AEB. É algo que está em andamento".

Satélite Geoestacionário Brasileiro

Ainda que o INPE não esteja diretamente envolvido com as tratativas relacionadas ao Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB), Perondi fez alguns comentários acerca do projeto. Destacou que a demanda por um satélite geoestacionário próprio já é antiga, desde a privatização da Embratel, no final da década de noventa. Afirmou também que o INPE pode contribuir na especificação e compra desses satélites, comentário que, interpretado nas entrelinhas, dá a entender que o envolvimento da indústria nacional ainda é algo pouco claro mesmo em alguns setores do próprio governo.

O diretor mencionou que o Programa Espacial poderá se beneficiar de algumas formas, com oportunidades de formação de pessoal, entre outras. "[O Programa Espacial] pode se beneficiar via cláusulas de offsets", disse.

Perguntamos ao diretor sobre a criação do Centro de Desenvolvimento de Tecnologias Espaciais, em São José dos Campos (SP), paralelamente à constituição da Visiona Tecnologias Espaciais (joint-venture entre a Embraer e a Telebrás), no âmbito do programa do SGB. "Ainda não tenho muita clareza sobre essa iniciativa", acrescentando que esta é uma das pautas para discussão com a AEB.
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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Entrevista com Leonel Perondi, diretor do INPE - Parte I


No último dia 27, o blog Panorama Espacial entrevistou Leonel Fernando Perondi, novo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Empossado em 1º de junho, Perondi é graduado em engenharia mecânica pelo ITA (1980), com mestrado pelo INPE e doutorado pela Universidade de Oxford. Entre 2001 e 2005, foi diretor substituto do INPE, tendo atuado também em projetos de engenharia e tecnologia espaciais, como o programa CBERS (gerente-geral entre 2002 e 2005). 

CBERS

O primeiro tópico da entrevista, feita por telefone, foi o que hoje é o principal programa de satélites do Programa Espacial Brasileiro, o CBERS, sigla em inglês de Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, atualmente já na segunda geração.

Perondi apresentou um panorama sobre o programa, destacando questões industriais e orçamentárias. Entre os anos de 2004 e 2006, foram firmados vários contratos industriais relacionados aos CBERS 3 e 4. De acordo com ele, a expectativa é que o CBERS 3 seja lançado em novembro ou dezembro deste ano, a partir da China, enquanto que o CBERS 4 deve ser colocado em órbita em 2014. Em relação às questões orçamentárias, que costumeiramente assolam projetos do programa espacial, o dirigente afirmou que todas as demandas já foram atendidas.

O diretor mencionou a visita à China, que ocorre esta semana, integrando comitiva liderada pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp. "Teremos conversas ao longo das próximas semanas sobre a cooperação futura", indicando a possibilidade de extensão da cooperação sino-brasileira, iniciada em 1988.

Perondi lembrou que em 2002, quando o acordo com a China foi ampliado para o desenvolvimento e construção do CBERS 3 e 4, já havia intenção do lado brasileiro de estender novamente a parceria, com contratação direta na indústria dos satélites sucessores. Com a transferência para a indústria, a ideia era que a cooperação sino-brasileira focasse num campo de maior inovação, envolvendo o desenvolvimento de satélites geoestacionários e subsistemas espaciais.

Amazônia-1

Questionado sobre a previsão de lançamento do satélite de observação Amazônia-1, baseado na Plataforma Multimissão (PMM), o dirigente disse que está previsto para 2014, prazo, no entanto, que deve ser revisto junto à Agência Espacial Brasileira (AEB). Perondi destacou que se trata de um novo projeto que representa desafios ao País. "Será o primeiro satélite nacional estabilizado em três eixos, com subsistemas novos, sem recorrência", afirmou.

Segundo o diretor, sendo um projeto que apresenta grandes desafios, todos os subsistemas estão sendo revistos tecnicamente. "A confiabilidade dos sistemas é um ponto crítico".

Perondi também revelou que o INPE considera que o Amazônia-1 será um modelo protótipo para validação de tecnologias em órbita, que se seguiria de um segundo modelo, lançado um ou dois anos após o primeiro, este sim um modelo de missão. "O Amazônia-1 seria um projeto nessa linha, uma missão de validação em órbita". O dirigente ressaltou, no entanto, que este e outros aspectos do projeto, como a seleção do lançador, dependem de discussão e definição com a AEB.

Política industrial

Tema abordado em seu discurso de posse, Perondi destacou o caráter público e estratégico do programa espacial, que também serve como instrumento de política industrial e de domínio de tecnologias críticas. "É um desafio grande [para indústria], desafiada a atuar em novas áreas", disse, dando o indicativo de que buscará em sua gestão estimular o envolvimento da indústria nacional nos projetos do Instituto.

O diretor se referiu aos satélites CBERS 3 e 4 como modelos da política industrial adotada pelo INPE, projeto que envolveu a contratação junto à indústria de aproximadamente 270 milhões de reais em componentes e subsistemas.

Na próxima sexta-feira (06), será postada a a segunda e última parte da entrevista, tratando de temas como ACDH, recursos humanos, Satélite Geoestacionário Brasileiro, dentre outros.
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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Perondi no INPE: o discurso de posse


O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) disponibilizou o discurso de Leonel Perondi, novo diretor do Instituto, empossado na última sexta-feira (1º/6). Dentre os grandes desafios a serem enfrentados pelo Instituto, Perondi destacou o aprimoramento e ampliação de programas de pesquisa e desenvolvimento, o cronograma de execução do programa CBERS, política industrial, articulação com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), dentre outros.

Um desafio em especial chama mais a atenção: capacitação do INPE (e do Programa Espacial como um todo) em controle de atitude e órbita de satélites. "Consideramos que  o desenvolvimento de competência nacional em sistemas inerciais constitui-se, presentemente, no maior desafio tecnológico do programa espacial brasileiro", afirmou.

Nesse campo, o principal projeto em desenvolvimento é o Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespacial (SIA), iniciativa na qual já foram investidos mais de R$40 milhões desde 2006, e da qual participam vários órgãos, como o próprio INPE, Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), Instituto de Estudos Avançados (IEAv), indústrias, dentre outros. No final de 2008, o INPE contratou o desenvolvimento de um sistema de controle de atitude e órbita para o satélite Amazônia-1 junto à empresa argentina INVAP, o que gerou muitas críticas de vários setores no Brasil, em especial da indústria nacional.

Para acessar o discurso na íntegra, de leitura recomendável, clique aqui.
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Testes do sistema de propulsão do Amazônia-1


INPE testa o primeiro subsistema de propulsão nacional para satélite

Segunda-feira, 04 de Junho de 2012

O teste do subsistema de propulsão do satélite Amazônia-1 será realizado nos próximos dias pelo Laboratório Associado de Combustão e Propulsão (LCP) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em Cachoeira Paulista. Esse é o primeiro subsistema de propulsão para satélite inteiramente desenvolvido no Brasil que entrará em órbita.

A qualificação de sistemas espaciais exige a prévia simulação das condições operacionais em órbita. No Banco de Testes com Simulação de Altitude (BTSA), do LCP/INPE, o subsistema de propulsão contendo um tanque de 45 litros de hidrazina, o combustível utilizado pelos propulsores, será testado simulando os mesmos procedimentos que o computador de controle de atitude e órbita usará no satélite no espaço.

A área do BTSA é fechada durante todo o período de teste, que tem início previsto para 11 de junho e prosseguirá por alguns dias. Bombeiros acompanham os procedimentos e os técnicos usam máscaras e vestimentas especiais durante a operação dos equipamentos. No teste em câmara de vácuo, os gases da hidrazina utilizada na combustão passam por um grande sistema de neutralização para tratamento e liberação na atmosfera sem toxidade.

O subsistema de propulsão da PMM, a Plataforma Multimissão criada pelo INPE para base de satélites como o Amazônia-1 e o Lattes, foi desenvolvido pela empresa brasileira Fibraforte com a coordenação de engenheiros do Instituto.

BTSA

Inaugurado em 1999, o Banco de Testes com Simulação de Altitude (BTSA) tem por finalidade principal testar propulsores utilizados em várias manobras espaciais, necessárias para o posicionamento e manutenção das órbitas de satélites e plataformas espaciais. Está dimensionado para testar e qualificar propulsores de até 200 N de empuxo, em um ambiente que simule as condições do espaço. O BTSA possui ainda um Laboratório de Análise de Propelentes - hidrazina, mono-metil-hidrazina, dimetil-hidrazina assimétrica, tetróxido de nitrogênio, entre outros.

O banco de teste, inicialmente projetado para testar propulsores individualmente, foi adaptado com inovações para testar o subsistema de propulsão com quatro propulsores ao mesmo tempo.

Além da novidade do teste do próprio subsistema, um dos propulsores está sendo testado com o catalisador nacional (reagente da hidrazina) fabricado pelo LCP, visando a independência de importação desse produto.

O comando e o controle dos vários equipamentos do banco de teste são feitos a partir de uma sala de comando, através de sequenciadores automáticos programáveis gerenciados por software, que controla o conjunto de vácuo, o sistema de refrigeração e um exclusivamente instalado para monitorar os propulsores e programar as sequências de tiro. O BTSA possui um sistema de segurança para o monitoramento da pressão na câmara de vácuo e de possíveis vazamentos de hidrazina no ambiente de teste.

Um sistema de aquisição armazena os dados relativos aos ensaios da campanha para posterior tratamento e análise. Alguns parâmetros mais importantes dos testes podem ser observados em tempo real através de imagens e dados em monitores.

Fonte: INPE
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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Preparativos para controle do Amazônia-1


CRC/INPE se prepara para controlar o satélite Amazônia-1

Sexta-feira, 01 de Junho de 2012

Nesta semana foi testado com sucesso o protocolo Space Link Extension (SLE), instalado no Centro de Controle e Rastreio (CRC) de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos.

O protocolo de padronização é necessário para o apoio internacional no controle de satélites e irá beneficiar as operações do Amazônia-1, em desenvolvimento pelo INPE. Para realizar o teste SLE, comandos foram enviados para o SCD-1, o satélite de coleta ambientais do INPE em órbita desde 1993.

O SLE é um protocolo definido pelo Consultative Committee for Space Data Systems (CCSDS), organização internacional criada em 1982 e que reúne as principais agências espaciais do mundo para definição de recomendações sobre operação, interoperabilidade e suporte mútuo de sistemas espaciais. O INPE é membro fundador do CCSDS.

Com esse protocolo, o INPE poderá contar com o apoio de outras estações de rastreio distribuídas pelo mundo para rastrear seus próprios satélites, como é o caso do Amazônia-1, e, da mesma forma, poderá prover serviços de rastreio para outras agências internacionais. Nas próximas semanas será testada a integração entre o CRC e a estação de Svalbard, na Noruega.

CRC/INPE

O Centro de Rastreio e Controle de Satélites (CRC) realiza a operação em órbita dos satélites desenvolvidos pelo INPE ou em cooperação com instituições estrangeiras. O Centro está capacitado, ainda, a dar suporte a missões espaciais de terceiros. É composto pelo Centro de Controle de Satélites (CCS) em São José dos Campos (SP), pela Estação Terrena de Cuiabá (MT), pela Estação Terrena de Alcântara (MA), bem como pela rede de comunicação de dados e voz que conecta os três locais.

Fonte: INPE
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domingo, 29 de abril de 2012

Ainda sobre a "polêmica" do ACDH



Na última quarta-feira (25), reproduzimos no blog uma reportagem publicada no Jornal do SindCT acerca da compra pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no final de 2008, do sistema de controle e atitude de órbita (ACDH, sigla em inglês) do satélite Amazônia-1 junto à companhia argentina INVAP ("Relembrando a polêmica do ACDH").


No final desta semana, recebemos uma mensagem de Mario Eugênio Saturno, tecnologista sênior do INPE, com comentários sobre a matéria, os quais reproduzimos abaixo:


Informações inexatas da polêmica do ACDH

O SindCT lamentavelmente desinforma a comunidade com esta matéria com objetivo aparente de desestabilizar o atual diretor do INPE. E, o pior, parece ser por motivação pessoal com mais de duas décadas. É muito tempo! 

Como na época dos fatos relatados no texto do sindicato fui vice-presidente da Comissão de Licitação do INPE e membro do grupo que analisaria as propostas das empresas, julgo-me bom conhecedor dos fatos em questão e gostaria de compartilhar a informação.

A seguir, pinço as partes do texto que não expressam a verdade dos fatos: 

1) Sistema de controle de atitude e órbita é comprado de empresa argentina por R$ 47,5 milhões, ignorando diretriz do PNAE.


R) Não é verdade, já que o PNAE diz que se deve “Contratar, primordialmente na indústria nacional, sistemas e subsistemas completos de satélites e lançadores”. Segundo o Aurélio, “primordialmente” significa “Aquilo que se organiza ou ordena primeiramente”, não significa exclusivamente, unicamente. Portanto, não foi ignorado nada!


2) A direção do INPE deve esta explicação à comunidade e à sociedade


R) Não deve porque já foi muito explicado anos atrás, quando da contratação. Inclusive por um artigo meu.


3) Um dos principais desafios ... na área espacial. Quem as produz não as transfere, e dificilmente as vende.

R) Também pensava isso, mas, curiosamente, tivemos 5 empresas líderes na área (além da INVAP) dispostas a transferir e ensinar.

4) Além de beneficiar economicamente o país ... a EMBRAER poderá ser beneficiada com a possibilidade do livre comércio de suas aeronaves.

R) Alhos com bugalhos! Que eu saiba, o produto “satélite” brasileiro sempre vai custar mais caro por causa da escala e a EMBRAER utiliza sistemas dos EUA por causa da certificação das aeronaves, nada a ver com equipamentos espaciais, e o sistema de controle de um avião é um “pouquinho” diferente de um satélite ou um foguete.

5) No final de 2008, o INPE fez uma dispensa de licitação para comprar o subsistema ... diretamente da empresa argentina INVAP ...

R) a) Complementando, inciso XIV - para a aquisição de bens ou serviços nos termos de acordo internacional específico aprovado pelo Congresso Nacional, quando as condições ofertadas forem manifestamente vantajosas para o Poder Público. b) A INVAP não é uma empresa privada, 100% Sociedad del Estado.


6) Teria sido esta uma solução acertada para o país e para o Programa Espacial Brasileiro?


R) Foi! Da primeira tentativa feita em 1996 até 2008 foram muitos anos perdidos.

7) O que teria motivado a compra desta tecnologia no exterior?

R) Veja-se o histórico ou leia-se meu artigo.

8) Por que uma empresa argentina, com pouca tradição na venda de sistemas inerciais, teria sido escolhida como fornecedora?

R) Era a que cabia no acordo internacional! Porém, cabe ressaltar, a INVAP forneceu o satélite ao acordo com o JPL (Aquarius) da NASA.

9) As primeiras experiências ... SCD-1 ... SCD-2 ... SACI-1 ... SACI-2 ... FBM.

R) Experiências importantes mas não suficientes para um satélite controlado em três eixos.

10) Em 2003, o CNES descontinuou o programa, mas repassou ao INPE os equipamentos ... praticamente completa, faltando o software embarcado de controle.

R) O CNES descontinuou porque a direção do INPE na época não exigiu dos franceses o cumprimento do acordo. O FBM não servia aos propósitos do INPE. E “só” faltou o software...


11) O MCT transferiu ao INPE, então, a responsabilidade por este subsistema ... Para apoiar esta atividade foi estruturado um laboratório, o LABSIM ... Foi, também, organizada uma equipe para se dedicar ao Projeto de Controle da PMM, que desenvolveu trabalhos de 2003 até o início de 2006.

R) O LABSIM é isso, somente para apoio. A equipe somava de 1,5 a 2 engenheiros-mês, e até eles próprios estimaram o final do projeto em 27 anos.

12) Finalmente, como resultado da revisão do PNAE, finalizada em 2004, o DCTA e o INPE propuseram um projeto conjunto aos Fundos Setoriais ... R$ 40 milhões (60% para o DCTA e 40% para o INPE), tendo como objetivo principal na área de satélites o desenvolvimento do subsistema de controle da PMM.


R) E quais são os resultados até agora em 2012?


13) Ainda desconsiderando as iniciativas anteriores, foi, então, articulada a compra do subsistema ... mas o processo foi descontinuado pelo INPE, em face de recurso judicial interposto por um dos grupos participantes.


R) Não é verdade, foi considerado plenamente as iniciativas anteriores!

14) Finalmente, no final de 2008, a direção do INPE, através de uma dispensa de licitação, adquiriu o subsistema ... da empresa estatal argentina INVAP.


R) Esse “Finalmente, no final de 2008” dá a entender que se passou um tempão, na verdade foram poucos dias.

15) Dados, no país, o grande esforço prévio ... A menos que ao final deste contrato se verifique a existência de fornecedor nacional qualificado, via transferência de tecnologia, terá ocorrido apenas a compra ...

R) O acordo não permitiria transferência total, por opção do INPE que queria o produto rapidamente; pelos argentinos, o desenvolvimento do ACDH seria total mas demoraria cinco anos. O INPE apostou e ainda aposta no desenvolvimento interno para o satélite Lattes-1. Aliás, já houve transferência de conhecimento com o treinamento de equipes na própria INVAP.

16) A estratégia colocada em prática no início da década parece ser uma alternativa melhor sintonizada com os objetivos de autonomia e capacitação industrial do PNAE.


R) Qual? A compra completa de 2001 que foi inviabilizada por ameaças jurídicas?
Porque já existe uma equipe desenvolvendo para o Lattes-1.